O ataque israelense a membros do Hamas no Catar acarretaria a formação de um exército árabe unificado em situações de ataque a um dos países membros, ao estilo OTAN?
Muitos dizem que sim, e que países do Golfo já estariam se preparando para isso e que um sinal forte seria o pacto recém firmado entre a árabe Arábia Saudita e o não árabe Paquistão.
O que une os países árabes é, em parte, o povo, de etnia majoritariamente árabe, mas politicamente são muito divididos, prevalecendo os interesses pessoais locais de cada político reinante.
Estão próximos desses países o Egito (também árabe), a Turquia e o Paquistão. Israel, depois do bombardeio ao Catar, passou a ser visto com enorme preocupação. Os Estados Unidos, que possuem bases em quase todos esses países, é visto com enorme desconfiança.
Enquanto isso ocorre, a China cresce econômica e militarmente e o Irã, persa e não árabe, se aproxima de grande parte dos seus países vizinhos e próximos. Esses dois países, na minha concepção, são as peças-chaves para a criação de um interesse comum entre os países árabes e até entre os países de maioria islâmica. Explico.
O Iraque, a Líbia e a Síria foram atacadas pelos Estados Unidos, membros da OTAN, e por forças terroristas, a Síria especialmente, com a o apoio (no ataque à soberania e integridade territorial de alguns desses países), direta ou indiretamente, como a Jordânia, Catar, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Kwait.
Os países árabes laicos, agora, são poucos, como a Tunísia, a Argélia, o Líbano, o Egito e talvez um outro a mais. A grande maioria dos países árabes têm o Estado mesclado com a religião, o Islã.
E foi com a religião, principalmente a divisão em wahabitas, xiitas e sunitas, basicamente, que o ocidente manteve a divisão política nos países árabes e no mundo muçulmano.
A China, ao contrário, aproximou antigos rivais, como Arábia Saudita (wahabita) e Irã (persa xiita), e ainda tentou integra-los, junto a outros países islâmicos nos BRICS.
Os árabes já perceberam que a China atua diferentemente dos EUA e que o interesse dela não é a repartição, a guerra e a apropriação do petróleo alheio, mas a união pelo comércio, o que é facilmente compreendido pelos árabes, turcos e persas, povos igualmente comerciantes, com DNA no comércio há milênios.
Dessa forma, é previsível que o aumento da importância da China na região, como vem ocorrendo, aumentará as chances de união, inclusive militar, mas isso depende de um impulso externo, que pode ser o medo a Israel, a desconfiança em relação aos EUA, ou a iniciativa de um terceiro país, como a Turquia, o Paquistão e até mesmo o Irã, ou de todos esses juntos, o que acho possível, considerando-se o risco que todos eles correm com os sionistas radicais que governam Israel.
O acordo entre a Arábia Saudita e o Paquistão, países distantes e não próximos territorialmente, mais que acordo militar propriamente dito, embora assim tenha sido denominado, parece esconder, na minha percepção pessoal, trocas não reveladas, portanto secretas, de conhecimento militar na área nuclear, seja para os desafios com Israel, seja até mesmo com o próprio Irã.
Nessa análise, não se pode esquecer que o Paquistão é um parceiro do Irã e um aliado muito próximo e fiel da China.
O fato é que as alianças no Oriente Médio estão sendo remodeladas gradativamente, sob os ritmos árabe, persa, turco e chinês, muito diferente do ritmo alucinante ocidental e de Israel.
Enquanto isso, porém, os palestinos continuam sendo massacrados em um genocídio transmitido em tempo real e Israel continua impune, assim como os seus líderes políticos.
Talvez a situação dos palestinos seja resolvida, se o for, conjuntamente com a questão política e militar dos países da região, mas será que até lá sobreviverão palestinos na terra que lhes pertence por direito, como reconhecido pela ONU?