Hoje o Irã vive graves confrontos entre estudantes e policiais e entre estudantes e paramilitares. Aqueles que inicialmente foram os grandes incentivadores da revolução de 1979, hoje colocam-se nas ruas por mais liberdade e menos opressão política.
A realidade do Irã não é de fácil entendimento. De sessenta anos para cá, aquele país sofreu golpes, graças à intervenção da Grã -Bretanha e dos Estados Unidos, que sempre invejaram as fontes petrolíferas do país persa. As sete irmãs, as conhecidíssimas companhias petrolíferas, não aceitavam a nacionalização do petróleo ocorrida nos anos 50.
Além do mais, o Irã enfrentava de perto todo o potencial bélico e imperialista da ex-União Soviética.
Em 1979, a união dos religiosos, estudantes, intelectuais, comunistas e militares derrubou o corrupto e truculento reinado do Xá Reza Pahlevi. Pode parecer brincadeira, mas à época do reinado daquele déspota, o Irã era o país mais bem armado do Oriente Médio e um forte aliado de Israel. O Irã era até então um grande inimigo dos governos árabes e anti-palestino.
Em 1979 aquela realidade absurda foi modificada. Hoje, o Irã é o maior inimigo de Israel, é pró-palestino e aproxima-se dos países árabes mais à esquerda.
Todo o armamento poderosíssimo do Xá hoje sofreu adaptações tecnológicas e torna o Irã um país respeitado no aspecto militar.
Os religiosos afastaram os comunistas do poder, inclusive com perseguições e assassinatos.
E, hoje, de maneira menos truculenta e mais lenta, os militares minam parte dos imensos poderes dos Aiatolás e fortalecem-se politicamente, com o apoio dos mais miseráveis, beneficiados com as campanhas sociais do atual governo.
Na verdade, o cerne da briga não é entre os intelectuais e os religiosos, mas entre os militares, ainda que de forma discreta, e a população que não aguenta mais a opressão política.
Os militares, neste instante, têm um importante papel: manter o poder iraniano longe dos interesses ocidentais, fomentar a nacionalização e o nacionalismo, fortalecer as fronteiras do país contra eventuais ataques de terroristas e de nações inimigas e permitir o conhecimento do enriquecimento do urânio.
A Europa, Israel e os Estados Unidos têm medo de um Irã conhecedor da tecnologia da bomba-atômica. Afinal, dessa forma, o país persa seria o primeiro grande exportador de petróleo com potencial nuclear. Essa conjunção fere de frente os interesses econômicos das sete-irmãs e do expansionismo israelense.
Por isso é sempre bom ver o confronto existente naquele país com a devida cautela. Aquele povo já sofreu como poucos os efeitos das intervenções indiretas das grandes potências ocidentais. Hoje, respira liberdade em relação ao imperialismo, mas quer liberdade política maior do que as autoridades hoje permitem.
Quem está com a razão? Na questão de direitos humanos, claramente a oposição. Na questão geopolítica, o atual governo centralizador, pois o momento político é extremamente delicado com a provável intervenção bélica israelense.
Bem, se vc tiver interesse em saber um pouco mais sobre o Irã na antiguidade, aqui vai uma matéria que postei anteriormente.
A Pérsia, cerca de 500 anos antes de Cristo, tornou-se um forte império e o primeiro a conquistar terras em outros continentes. Depois de várias gerações de imperadores e após 200 anos, sucumbiu perante Alexandre Magno.Amante de história que sou, não podia deixar de relatar um pouco da fantástica história dos persas, os quais, sob o comando de um grande líder, respeitaram etnias e religiões, em uma época em que a barbárie corria solta. Ciro de Ansan, o primeiro grande imperador persa, foi um líder admirado por Alexandre, o macedônio.A pérsia foi formada por tribos de origem indo-européias que, por volta do ano 1000 AC, migraram para o que hoje é o Irã. Essas tribos são da raça ariana, aquela que ficou famosa pelos discursos racistas e inflamados de Hitler. Foi lá que surgiu a primeira religião monoteísta, o Zoroastrismo, existente e praticada até hoje no Irã.Em 600 AC, os povos aquemênida e medo se uniram e, sob a liderança de Ciro, formaram o maior império até então conhecido. Em apenas 25 anos, conquistaram a Ásia menor e Mesopotâmia inteira. Os imperadores que sucederam o primeiro líder, conquistaram a palestina, a Síria, o Egito e chegaram a tomar muitas ilhas gregas, mas não tiveram o mesmo carismo daquele.Ciro era descendente dos medos e dos aquemênidas, o que assegurou o reconhecimento de sua liderança pelos dois povos persas. Dizem que ele tinha os olhos azuis e os cabelos loiros, como os arianos.Desenho que retrata Ciro morenoRespeitado pelos gregos e admirado por Alexandre Magno, Ciro era um notável estrategista militar, um bom administrador e estadista, além de uma figura humana notável.Dizem que esse grande líder tinha visões, o que é crível, já que os imperadores persas sempre foram místicos e rodeados de magos ou bruxos e também de conselheiros.Ao conquistar territórios, o primeiro grande imperador persa construía fortalezas e estradas, e impunha a cobrança de tributos, mas permitia ao povo a livre prática religiosa e o uso da língua e dos costumes locais. Com isso, o comércio e o intercâmbio cultural eram intensos.Ele não se dispunha a ser sanguinário e se curvava aos deuses dos povos conquistados, o que o tornava popular, simpático e admirado. Muitas vezes, era visto como um verdadeiro libertador, pois vez e outra punha fim à tirania então existente, como na Babilônia. E foi lá que permitiu a libertação dos judeus escravizados, para que rumassem à sua terra natal. E 40 mil rumaram para o solo sagrado.Mas, como todo imperador, ele era megalomaníaco, o que pode ser percebido pela seguinte frase: "Eu sou Ciro, rei do mundo, grande rei, rei legítimo, rei da Babilônia, rei da Suméria e da Acádia, rei das quatro extremidades".Dizem que Ciro morreu em combate, lutando contra nômades vindos das estepes da Ásia Central, mas também há a versão de que teria morrido tranquilamente, já com idade avançada.Os imperadores que o sucederam não eram necessariamente descendentes diretos, de primeiro ou segundo grau. O primeiro a ocupar o seu lugar foi Cambises, seu filho, um déspota odiado por muitos. A ele se seguiram Dario I, Xerxes, Artaxerxes, Dario II, e Dario III.O império persa deixou como lição a necessidade de se respeitar as diferenças e de tolerar credos e culturas distintas.