sábado, 31 de dezembro de 2011

BRASIL, A 6ª ECONOMIA MUNDIAL.

Muito me preocupa esse ufanismo em apregoar aos sete cantos que somos a 6ª maior economia do planeta terra, como se isso nos tornasse mais importantes ou resolvesse os problemas brasileiros.

O Brasil começou a industrializar-se, de fato, nos anos 30, com Getúlio Vargas. Foi a época em que o Estado investiu maciçamente na economia, criando grandes indústrias estatais, dentre elas a Petrobrás, nos anos 50. Com Juscelino, ainda nos anos 50, o Brasil captou mais investimento de indústrias internacionais. João Goulart, o último presidente do antigo PTB, continuou a investir na industrialização nacional, mas paralelamente pretendia resolver a questão da desigualdade social, investindo em educação, saúde, reforma agrária, e foi derrubado por um golpe articulado pela direita nacional, militares formados em escolas de guerra de viés estadunidense e pelo próprio governo dos Estados Unidos. Os militares que sucederam João Goulart se perderam na questão econômica. Embora o Brasil tivesse alcançado a condição de 8ª economia mundial àquela época, o bolo do crescimento inflava, mas não era dividido equitativamente entre todos os brasileiros. Surgiam mais favelas e aumentava a desigualdade social. A dívida externa alcançou índices assustadores. Após 1985, os governos civis voltaram ao poder, mas a questão econômica não era tratada de forma eficiente. Almejava-se apenas o dinheiro que ingressaria no país, mas não a solução da questão econômica propriamente dita. Disso resulta que qualquer crise internacional afetava de pronto o Brasil, e o desemprego aumentava. A inflação atingia índices alarmantes no final dos anos 80 e início dos anos 90. O presidente que sucedeu Collor de Melo, Itamar Franco, e o seu ministro da economia, Fernando Henrique Cardoso, instituíram o Plano Real, o que permitiu que a inflação ficasse praticamente estagnada. Por outro lado, empresas vitais, ocorreu uma privatização como nunca fora vista até então. O Estado pararia de fomentar a industrialização nacional e tornar-se-ia um espectador. A política econômica de Fernando Henrique seguia essa atuação. Lula modificou-a, fazendo com que o Estado fosse um grande investidor, seja pelas grandes empresas, como Petrobrás, seja pelos bancos comerciais, como Banco do Brasil, seja através dos bancos fomentadores, como o BNDES. Isso permitiu um grande investimento no comércio e na indústria. Ao assumir, Dilma deu continuidade à política econômica de Lula.

O fomento dos bancos estatais não propiciaram a industrialização necessária. O Brasil continua a ser um grande comprador de bens supérfluos e tecnológicos. Compra quase tudo da China. E se você reparar, a pasta de dente, a goma de mascar e tantas outras coisas simples são fabricadas em outros países da América Latina. Ou seja, o Brasil parou de produzir bens que consome e exporta apenas o que se chama de commodities, ou seja, matéria prima.

A economia européia e estadunidense está em crise e pode alcançar o tigre chinês. E se a China diminuir o ritmo de crescimento, as exportações de minério brasileiro diminuirão drasticamente, acarretando o recrudescimento do setor de serviços nacional e o conseqüente desemprego, além do arrocho salarial.

Para evitar isso e permitir a sobrevivência e até o pequeno crescimento nacional, se faz imprescindível investir na industrialização. Se isso ocorrer, haverá a geração de empregos e a conseqüente atração do trabalhador informal para o emprego com certos benefícios ou garantias. E a crise internacional não afetaria o Brasil, que continuaria a comercializar, mas agora produtos para a sua classe menos abastada, que passaria a consumir mais e assim fomentar a economia nacional.

E a industrialização nacional implicaria na automática responsabilidade do governo pela melhoria da educação básica (ensino fundamental), a fim de possibilitar mão de obra qualificada para as empresas brasileiras.

Assim, ser a 6ª economia mundial do jeito em que o Brasil atualmente se encontra não é vantagem alguma, ao contrário. Ter dinheiro e ver a maioria da sua população pobre, sem educação, saúde e dignidade adequadas, é no mínimo vergonhoso.

O Brasil tem saída. Basta a classe política e financeira dirigente querer!

Chega de dois Brasis, um do interior, pobre, e outro do litoral, à imagem das grandes potências européias e estadunidense, o que se perpetua desde o Brasil colônia.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

SANGUE LATINO

Uma das mais belas entrevistas que já assisti. Trata-se do vídeo SANGUE LATINO, com o escritor uruguaio EDUARDO GALEANO. Imperdível.


quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Chávez diz estranhar casos de câncer entre líderes latino-americanos

O presidente venezuelano lembrou outros casos na região
 
 
CaracasChávez diz estranhar casos de câncer entre líderes latino-americanosO presidente venezuelano lembrou outros casos na região

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, qualificou nesta quarta-feira (28/12) como "muito estranha" a sucessão de diagnósticos de câncer de vários líderes e ex-presidentes da América Latina e levantou a possibilidade de alguém ter desenvolvido "uma tecnologia para induzir" esta doença.

Em um ato de promoção de militares transmitido em cadeia nacional de rádio e televisão, Chávez inclusive recomendou cuidados extras a Evo Morales, presidente da Bolívia, e Rafael Correa, do Equador.

Depois que nesta terça-feira foi divulgado que sua colega argentina, Cristina Kirchner, tem um tumor na glândula tireóide, Chávez, que está se recuperando de um câncer, considerou que "é muito difícil explicar" o que está acontecendo. O venezuelano frisou que não quer "lançar nenhuma acusação temerária", mas questionou: "Seria estranho que tivessem desenvolvido uma tecnologia para induzir o câncer e ninguém saiba até agora e se descubra isto apenas dentro de 50 anos?".

Nesse contexto, Chávez lembrou o caso de centenas de guatemaltecos submetidos a experimentos com sífilis por parte dos Estados Unidos nos anos 1940. "Não sei, só deixo a reflexão, mas isto é muito, muito, muito estranho", sustentou o presidente, que foi operado de um tumor na região pélvica no último dia 20 de junho.

Chávez lembrou que, com o diagnóstico de Cristina, já são vários os líderes da região que passaram por esta situação, como a presidente Dilma Rousseff e seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente do Paraguai, Fernando Lugo. O venezuelano também mencionou o líder cubano Fidel Castro, que se afastou do poder em 2006 por uma doença não confirmada oficialmente, mas que acredita-se também possa ser câncer.

"Fidel sempre me disse: Chávez, tome cuidado, esta gente desenvolveu tecnologias, cuidado com o que come, cuidado com uma pequena agulha e te injetam não sei o quê", relatou ao lembrar uma conversa com o cubano. "Em todo caso, repito, eu não estou acusando ninguém, só estou fazendo uso da minha liberdade para refletir e emitir comentários perante fatos muito estranhos e difíceis de explicar", concluiu.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A DOUTRINA DO CHOQUE - documentário

Imperdível. Uma aula sobre economia, história e humanismo! Campos de concentração existiram até dias atrás e a economia vale mais que vidas humanas para algumas mentes doentias.

A Doutrina do Choque from Muito Aterrorizado on Vimeo.


Clique aqui para ir à página ou clique no link http://vimeo.com/26773488
A Doutrina do Choque from Muito Aterrorizado on Vimeo.

domingo, 25 de dezembro de 2011

UM PAPAI NOEL DAS ARÁBIAS

O espírito de Natal talvez tenha sido esquecido em alguns cantos do mundo, mas não aonde ele se originou. E para quem acha que o Natal teve início e possui sede na Finlândia ou no Polo Norte, tenho que advertir que está redondamente (que nem o famoso gorducho barbudo) enganado.

O Natal representa o nascimento de Jesus Cristo, considerado o filho de Deus para os cristãos e profeta para algumas outras religiões, dentre as quais os muçulmanos. E Jesus nasceu na cidade de Belém, na atual Palestina, localizada lá no Oriente Médio, um lugar muito diferente e distante do Polo Norte.

Já o Papai Noel, apelido dado a São Nicolau, nasceu na Turquia, que se situa entre a Europa e a Ásia. Lá ele é conhecido como “Noel Baba”. E a Turquia também não é nada próxima do Polo Norte.

Portanto, esse velhinho gorducho e de roupas vermelhas, que vive em regiões geladas e entra na casa das pessoas pela Chaminé, é mera ficção, um verdadeiro ideal daqueles que idolatram o consumismo e daquelas indústrias que ganham muito dinheiro com o desejo fantasioso das crianças.
Bem, como os brasileiros sempre confundiram árabes e turcos, me dou o direito de dar a este texto o título de “Um Papai Noel das Arábias”, quando o correto seria Um Papai Noel Turco.

Explico. Como o mundo árabe se expandiu entre os séculos VII e XV para vários países da África, Europa e Ásia, incluindo a Turquia, e os turcos ocuparam o lugar dos árabes em parte desses territórios, ocupando os Bálcãs, inclusive, entre os séculos XV e XX, muitos confundem árabes e turcos, etnias diversas, que têm em comum alguns hábitos e o próprio islamismo, que é predominante em suas populações. Mas muitos turcos e árabes são cristãos também.

Voltando àquilo que nos propomos, vou tratar aqui do Noel Baba, que não se veste de vermelho, não tem carruagem nem trenó e pouco menos renas, mas apenas um camelo, muito velho e nada bonito ou charmoso, por sinal.

Noel Baba era um velhinho barbudo e magro, muito simpático e extremamente religioso, que vivia nas Arábias e professava o cristianismo ortodoxo. Embora rico, ele não era apegado às coisas materiais. Largou sua família e foi morar com os pobres, na periferia de uma grande cidade, em uma habitação que muito se assemelha às nossas favelas aqui do Brasil.

Mas Noel Baba era muito engraçado. Não tinha bicicleta ou carro, mas um camelo velho que adotou quando o viu largado no deserto. E era com esse camelo que ele realizava as suas boas ações. Afinal, o Noel Baba era, sim, o bom velhinho. Porém, ele tinha diferenças cruciais em relação a esse Papai Noel que nos ensinaram a adorar.

Noel Baba ia à casa das crianças de famílias desassistidas, que são muitas lá nas Arábias. Ao chegar na casa de cada criança, ele batia na porta, pedia licença à mãe e ao pai, ou à própria criança se ela não tinha responsável, e dava a elas um livro. Era usado, mas não deixava de reunir todo o encanto de um livro infantil.

Olha, se você perguntou se o nosso Papai Noel dava o livro das Mil e Uma Noites às crianças, não posso negar que algumas vezes ele entregava esse livro, sim. Para alguns infantes, inclusive, ele chegava a narrar algumas das históricas daquele conto magnífico, com toda a paciência e magia que só ele reunia. E as crianças, nessa simplicidade, se maravilhavam e sorriam, esquecendo as dores, a fome e muitas vezes o abandono decorrente da morte de seus familiares pelas seguidas e constantes guerras.

Noel Baba não era gordo, não tinha a famosa risada do Oh-oh-oh, mas era uma pessoa afetuosa, simpática e atenciosa com todos. E contava histórias como ninguém. Ah, se um dia você pudesse ouvir uma das histórias do bom velhinho, jamais esqueceria...

E era o seu velho camelo, todo desajeitado, mas forte, um tanto rabugento, até, que carregava as várias toneladas de livros usados que eram recolhidos através de doação de pessoas mais afortunadas.

Esses personagens simples, mas importantes, o camelo e o seu adotante, continuam vivendo lá nas Arábias, naquele lugar distante, que imaginamos ser repleto de desertos, e realmente é. Mas é justamente lá que o bom velhinho promove o verdadeiro espírito de Natal, com a ajuda do seu fiel Camelo.

Se você pedir para eu apresentar uma foto do Noel Baba ou do seu camelo, eu me recuso. Esse Papai Noel não gosta de aparecer em shoppings ou em fotos, mas sim em estar na imaginação de cada criança que não tem condições de sonhar com uma vida melhor. E ele acha que é assim que cultivará sempre o hábito das crianças sonharem com algo, muito melhor que a vida sofrida de infantes de todas as idades.

Ah, não duvido que se o Noel Baba viesse para o ocidente, talvez ele fosse chamado de charlatão. Justo ele, todo preocupado com as pessoas...

Você quer saber mais sobre o Noel Baba e o seu fiel camelo? Talvez eu conte mais a respeito dele em um próximo texto. Aguarde!

(foto extraída da internet)

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

FOTO DE JAKE LANGE

foto: Jake Lange
Um forma diferente de enxergar pode significar arte. Nos fazer enxergar o diferente é um dos exemplos mais puros de arte. http://www.flickr.com/photos/jakelange/

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A PRIMAVERA ÁRABE VIVE O SEU INVERNO

O povo árabe vive reprimido há mais de 500 anos. E, agora, ainda que sob o mando de governantes árabes, continua a sofrer.
Com a decadência dos sultanatos árabes ao final da idade média, os turcos dominaram grande parte do antigo império árabe-islâmico, incluindo diversos países de etnia árabe. E no início do século passado, muitos países que estavam sob o jugo do império turco-otomano, passaram a ser colonizados por outras forças imperiais, como da França, Inglaterra, Itália e Espanha.
A independência da maioria dos países árabes data de menos de 70 anos. É algo extremamente recente. E parece que a vida do povo não melhorou em nada nos últimos tempos. Ao contrário. Parece que a liberdade continua sendo cerceada.
Ditaduras dominam a enorme parte dos países de cultura árabe. E essa maioria ditatorial, como Egito, Arábia Saudita, Iemen e outros países do golfo pérsico, conta com a simpatia dos países ocidentais, em sua maior parte devido a questões estratégicas ou econômicas (petróleo e gás).
O Egito vem massacrando o seu povo e o vídeo abaixo demonstra a truculência dos guardas ditatoriais frente aos jovens. No vídeo abaixo, você perceberá que, mesmo detidos, os jovens continuavam a apanhar. E uma moça árabe-muçulmana, com véu, teve a parte de cima do seu corpo desnuda por militares, que não a respeitaram. Apenas um soldado teve a coragem de vestí-la, após ser deveras agredida, e quando já não oferecia qualquer resistência. Humilhação e tortura continua sendo algo comum mesmo após a queda do ditador Mubarack. A primavera árabe iniciada há um ano vivencia um rigoroso inverno nos direitos civis. E é necessário que a população se mobilize com mais intensidade para que a liberdade afinal se avizinhe daquele sofrido povo egípcio.
Na Síria os ocidentais clamam pelo enfraquecimento da força militar daquele país, a fim de que um eventual governo extremista não possa se utilizar de armamentos de vanguarda, e isso para a "segurança" de Israel. E o ocidente vem conseguindo êxito, inclusive no futuro desmembramento daquele país. Os militares sírios não pensaram na difícil situação em que se encontram, com o descrédito em relação à população, e continuam a massacrar os divergentes, em sua grande maioria desarmados. Os poucos vídeos divulgados no ocidente demonstram os assassinatos havidos. Se há uma coisa que unia os sírios era o seu forte exército, símbolo de liberdade e de autodeterminação conseguida há apenas 70 anos. Agora, o exército corre o risco de não simbolizar autonomia nenhuma, mas tão somente truculência de uma ditadura às vésperas da morte. E a Síria corre o risco de ser repartida, assim como o Iraque e a Líbia. As divisões religiosas nada mais servem de interesse a potências ocidentais que pretendem garantir o seu amplo acesso ao petróleo e ao gás, desunir ainda mais os diversos membros da nação árabe e fomentar o expansionismo territorial clamado pela direita sionista israelense.
O povo árabe conta com o apoio das multidões que saem nas ruas nos mais diversos países como o Brasil, Estados Unidos, Israel, Espanha, Portugal, Grécia, Chile... As mulheres árabes contam com o apoio e a simpatia mundial. E é chegada a hora de mudança definitiva em todos os governos árabes, para que se permita o renascimento da liberdade, das ideias e do progresso de um povo que foi tão importante para trazer luz à escuridão vivenciada pelos povos europeus.
Talvez em um futuro próximo os povos do mundo possam se unir e demonstrar força perante os governos desmedidos, ou até mesmo desmerecidos de qualquer respeito, onde quer que se encontrem neste vasto planeta.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

PENELOPE CRUZ (pausa rápida para um entretenimento)

Uma das atrizes mais talentosas da atualidade no cinema mundial e um exemplo da beleza da mulher espanhola. Assista.

domingo, 18 de dezembro de 2011

A GELADEIRA!

Entrei numa fria. E quem me colocou nisso? A minha geladeira. Depois dizem que ela não funciona. Ah, isso é a mais pura inverdade.

Essa minha geladeira, o meu xodó, tem mais de 17 anos, é boa, funciona direitinho, mas tem uns detalhes a serem consertados: está enferrujada, a lâmpada está queimada e muitas grades estão quebradas. Ah, mas ela funciona e ainda economiza eletricidade, mesmo sendo antiga. E o que é melhor: gela e congela. Afinal, geladeira não foi feita para gelar e congelar? Se querem uma obra de arte na cozinha, que coloquem um quadro de um artista renomado, como Picasso, Van Gogh ou outro, dependurado sobre a geladeira. A minha tem o meu toque. Não que eu seja um artista, muito pelo contrário. Na verdae, eu tentei pintar a porta, para esconder as ferrugens e ficou algo surreal. Está bem... confesso... ficou horrendo! É, mas ela está lá, escondida na cozinha, que eu sempre deixo com a porta fechada. Assim, ninguém a vê e, por consequência, não me enche! É, mas não é bem assim.

A minha geladeira já presenciou uma porção de namoradas. E sobreviveu a elas e até a mim. Eu sei que algumas das minhas exs não gostavam, mas não que dissessem algo, mas pela cara que faziam. Parecia faltar palavras a elas... Como eram gentis, não tinham coragem de falar para mim que a geladeira era algo medonho. Mas eu sei que é, mas funciona!

Tive uma namorada que odiava a geladeira. Todo dia fazia questão de criticá-la. Ah, aquilo me irritava. Ela vivia dizendo para eu comprar uma nova, que estava barata e coisa e tal. Aí eu falava a ela: você está velhinha e me faz feliz. Mesmo assim teria que trocá-la? Ela ficava com ódio, me olhava feio. Dava a enten der que iria me xingar, mas não retrucava. Foi isso durante dois anos.

Quando achei que estaria livre das críticas, minha mãe e minha irmã começaram a falar da geladeira. Mal, obviamente. Foi só eu deixar a chave de casa com os meus pais, durante uma viagem que fiz, que a minha mãe e a minha irmã já aproveitaram para xeretar a casa de um homem solteiro e aproveitaram para ficar criticando o que qualquer homem do mundo faz, o que inclui quase que necessariamente ter uma geladeira velha.

Cheguei de viagem e o meu pai me avisou: "filho, a sua irmã e a sua mãe implicaram com a sua geladeira. Falaram que ela não funciona e ela esquenta, até".  "Quanta inverdade", pensei!

O tempo passou, até que... no Natal, a minha irmã me disse: "está na hora de se dar um presente. Que tal uma geladeira?" Eu disse a ela que estava feliz com a minha geladeira e que não precisava gastar dinheiro a toa. Aí ela veio com o sermão da montanha: "a geladeira está velha, enferrujada, não funciona e até esquenta". "Esquenta?", eu perguntei. Obviamente a minha geladeira não é um fogão. Ela fica com o lado externo quente, eu sei, mas por dentro está toda geladinha, refrescante, convidativa... Ah, qual homem não gosta de ter uma... geladeira convidativa?

Bem, essa história deu pano pra manga e até hoje não nos falamos. Não admito que falem mal da minha geladeira. Um dia olharão a pintura que fiz na porta e avaliarão esse artista escondido sob as vestes de um advogado.Talvez avaliem mal, mas vou me preparar para pintar a minha nova geladeira, quando tiver uns 70 anos.

Vindo para os dias atuais, o bairro em que moro ficou 24 horas sem luz, devido às chuvas e suas consequencias. Foi uma época difícil. Ao chegar do trabalho tive que subir toda a escadaria a pé e na manhã seguinte ainda tive que tomar banho gelado. Obviamente não na geladeira, mas no chuveiro do banheiro, oras! Desci as escadas a pé e fui trabalhar. Ao voltar, vi que a luz já havia voltado. Abri o congelador e não é que tudo estava bonitinho e congelado? E ainda tem gente que tem coragem de falar mal de uma geladeira que nem a minha. Aposto que as delas, no lugar da minha idosinha, estariam encharcadas com a água do gelo descongelado e, o que é melhor para a minha vingança, ainda teriam perdido tudo o que congelaram.

O que importa na geladeira, não é a idade, a aparência, se a porta está quente, se a parte externa e as grades estão enferrujadas e se a lâmpara interna não funciona, mas sim se ela gela e congela. Se faz isso, muito bom. Hoje em dia, as geladeiras são bonitas, têm até as de aço escovado, e custam uma pequena fortuna, mas na hora de gelar, tudo vira uma novela, coisa típica do Brasil. A minha, não. Lembra a Betty, a feia, de baixa audiência, mas que agrada quem dela precisa. É, as dos outros parecem-se com as novelas da Record, SBT, Bandeirantes e Globo, cheias de recursos de iluminação, atores famosos e publicidade por todos os cantos, apenas isso.

Um viva à geladeira das antigas, que faz o que dela se espera: gelar e congelar!

sábado, 17 de dezembro de 2011

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

REALIDADE

É a vida real, que não é fruto de sonho, imaginações ou devaneios. É o que há de bom e ruim.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

NOITES PORTENHAS

Quer saber o que rola na noite Portenha desde a época da discoteca até hoje? Veja o vídeo da TAL.










terça-feira, 13 de dezembro de 2011

WASHINGTON NOVAES, O AMBIENTALISTA

Há um jornalista, formado em direito, que há décadas milita na área ambiental. Já foi ganhador de diversos prêmios, nacionais e internacionais. Um brasileiro digno e batalhador. Vale a pena conferir o site de Washington Novaes, um jornalista que, sem agredir, não se cala. Clique aqui para ler os artigos escritos por esse ambientalista.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

ERA REFUNDADO O TRABALHISMO BRASILEIRO

Em 1979 era fundado o PDT, Partido Democrático Trabalhista, sucessor do antigo PTB de Vargas. Era o símbolo da união da esquerda democrática e nacionalista, sob a batuta do estadista Leonel Brizola. Para quem não conhece esse político ou tem uma visão fornecida pelas organizações globo, deve refundar os seus conhecimentos e descobrir a sua importância pela conquista de um Brasil mais justo, mais democrático e mais independente. Era um aquariano que deve permanecer a sonhar com um Brasil livre do peso das botas do imperialismo.

 

domingo, 11 de dezembro de 2011

ENYA

Você se lembra das músicas suaves e zens do Enya? Pois é, no youtube há uma página oficial com diversas músicas acessíveis aos ouvintes brasileiros.

sábado, 10 de dezembro de 2011

MATILHA CULTURAL

Há um novo espaço para cultura e lazer em São Paulo. Se você não conhece a MATILHA CULTURAL (clique aqui para ir ao site), localizada na rua Rêgo Freitas, 542, Centro, São Paulo, S.P., saiba que está perdendo muita coisa.

A MATILHA CULTURAL tem espaço para Cinema, Exposições, Música, Debates, Cursos e Eventos. Tem muita coisa boa rolando lá. Vá ao site e veja a programação desta semana.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A GUERRA SECRETA DA OTAN EM PORTUGAL

A guerra secreta em Portugal


por Daniele Ganser [*]

O Gladio dispunha de uma base eficaz em Portugal, no tempo do Salazar. Embora só conheçamos indirectamente o seu funcionamento, através de estudos italianos, o historiador Daniele Ganser conseguiu identificar o seu papel em Portugal e nas suas colónias africanas. Graças a esse dispositivo, a NATO não se contentou em assassinar oponentes a Salazar, mas também líderes revolucionários africanos de primeiro plano, como Amílcar Cabral.

Em Maio de 1926, o general Gomes da Costa assumiu o poder em Portugal através de um golpe de estado, aboliu a Constituição e o Parlamento e instaurou a ditadura. Uns anos mais tarde, o ditador Salazar assumiu as rédeas do país. Durante a guerra civil espanhola, apoiou o general Franco a quem forneceu tropas e material. Os dois homens aliaram-se para garantir a Hitler e a Mussolini a neutralidade de toda a península ibérica, facilitando assim consideravelmente a sua tarefa na frente ocidental. Os quatro ditadores entraram em acordo quanto à necessidade de combater e de aniquilar o comunismo na União Soviética e nos seus países respectivos.

Mas, como a URSS saiu vitoriosa da segunda guerra mundial e Hitler e Mussolini foram derrotados, Salazar e Franco ficaram numa posição delicada em 1945. No entanto, como os Estados Unidos do Presidente Truman se envolveram numa guerra mundial contra o comunismo, os dois ditadores da península puderam beneficiar do apoio silencioso de Washington e de Londres. Apesar do apoio de Salazar ao golpe de Franco e da sua aliança com as potências do Eixo, Portugal foi autorizado a figurar, para surpresa de muita gente, entre o número dos membros fundadores da NATO em 1949. Seguiu-se um reinado praticamente sem oposição de quase 40 anos até que a morte de Salazar, em 1970, permitiu enfim que Portugal entrasse numa transição democrática e integrasse a União Europeia.

À imagem do que se pôde observar nas ditaduras de extrema direita da América Latina e sob o regime autoritário de Franco, o povo português era vigiado permanentemente por um aparelho de segurança que funcionava na sombra e fora de qualquer enquadramento legal definido pelo Parlamento. Os golpes sujos visando a oposição política e os comunistas multiplicaram-se durante o regime de Salazar. Essas operações eram efectuadas por diversos serviços e órgãos, entre os quais a tristemente célebre Polícia Internacional e de Defesa do Estado, ou PIDE, e os serviços secretos militares portugueses.

Como não foi feito nenhum estudo aprofundado sobre as organizações de extrema-direita e as operações especiais que decorreram durante a ditadura de Salazar, os laços com a rede anticomunista secreta da NATO não são muito claros. A existência em Portugal de exércitos secretos próximos da CIA e da NATO foi revelada pela primeira vez em 1990, no seguimento da descoberta do Gladio italiano. " Em Portugal, uma rádio lisboeta noticiou que tinham sido utilizadas células duma rede associada à Operação Gladio durante os anos cinquenta para apoiar a ditadura de extrema-direita do Dr. Salazar " pôde ler-se na imprensa internacional. [1] Cinco anos depois, o autor americano Michael Parenti escreveu, sem todavia revelar as suas fontes, que agentes do Gladio tinham " ajudado a consolidar o regime fascista em Portugal ". [2]

Mais precisamente, a imprensa local revelou em 1990 que o exército secreto de Portugal existia com o nome de código "Aginter Press". Com o título " O 'Gladio' funcionava em Portugal ", o semanário português O Jornal anunciou a uma população estupefacta que: "A rede stay-behind, concebida no próprio seio da NATO e financiada pela CIA cuja existência acaba de ser revelada por Giulio Andreotti, dispunha de um ramo em Portugal, activo nos anos sessenta e setenta. Tinha o nome de 'Aginter Press'" e esteve sem dúvida implicada nos assassínios em território nacional assim como nas colónias portuguesas em África. [3]

A Aginter Press não tinha rigorosamente nada a ver com a imprensa. Essa agência não imprimia nem livros nem brochuras de propaganda anticomunista, mas treinava terroristas de extrema-direita e efectuava golpes sujos e operações clandestinas no interior e no exterior das fronteiras de Portugal. Essa organização, tão misteriosa como violenta, era sustentada pela CIA e comandada por quadros de extrema-direita europeus que, com a ajuda da PIDE, recrutavam militantes fascistas. O inquérito feito pelo Senado italiano sobre o Gladio e o terrorismo permitiu determinar que certos extremistas italianos tinham sido formados pela Aginter Press. Enquanto que em Portugal se ficava a saber que uma subdivisão da Aginter Press, baptizada de " Organização Armada contra o Comunismo Internacional " também tinha operado na Itália, os senadores italianos descobriram que a organização Aginter Press tinha recebido o apoio da CIA e que era dirigida pelo capitão Yves Guillon, mais conhecido pelo pseudónimo de Yves Guérain-Sérac, especialista das operações de guerra clandestina a quem os Estados Unidos tinham atribuído várias medalhas militares entre as quais a Estrela de Bronze Americana por se ter distinguido na guerra da Coreia. "Segundo indicam os resultados do inquérito criminal", concluía o relatório do inquérito italiano, "a Aginter Press era uma central de informações próxima da CIA e dos serviços secretos portugueses e especializada em operações de provocação". [4]

Enquanto o governo português hesitava em abrir um inquérito sobre a história sombria da Aginter Press e da guerra secreta, a Comissão senatorial italiana prosseguia as suas pesquisas e, em 1997, ouviu o juiz Guido Salvini. Um verdadeiro especialista em questões de terrorismo de extrema-direita, o magistrado tinha examinado com minúcia os documentos disponíveis sobre a Aginter Press. O senador Manca interrogou-o: " A CIA americana, segundo o senhor, é directamente responsável pela operações efectuadas pela Aginter Press?", a que o juiz respondeu: " Senador Manca, está a fazer uma pergunta muito importante " e pediu, dada a natureza delicada da resposta, para ser ouvido em privado. Foi autorizado e a partir daí todos os documentos foram classificados como confidenciais. [5]

Em público, o juiz Salvini explicou que era " difícil dar uma definição exacta do que é a Aginter Press ", mas mesmo assim tentou dar uma descrição: " É uma organização que, em muitos países, nomeadamente na Itália, inspira e apoia os planos de grupos cuidadosamente escolhidos que agem segundo protocolos definidos contra uma situação que decidiram combater ". O exército anticomunista secreto da CIA, Aginter Press, funciona, continuou ele, " em função dos seus objectivos e dos seus valores, que são essencialmente a defesa do Ocidente contra uma invasão provável e iminente da Europa pelas tropas da URSS e dos países comunistas ". [6] Sempre segundo o juiz italiano, o exército secreto português garantia, como a maior parte das outras redes da Europa do Ocidente, uma dupla função. A rede stay-behind treinava-se secretamente para uma eventual invasão soviética e, na expectativa dessa invasão, perseguia os movimentos políticos de esquerda, seguindo estratégias de guerra clandestina praticadas em vários países da Europa ocidental.

Embora uma boa parte dos seus membros já tivessem prestado serviços em diversos grupúsculos anticomunistas no decurso dos anos anteriores, a Aginter Press só foi oficialmente fundada em Lisboa em Setembro de 1966. Parece que os seus fundadores e a CIA foram guiados menos pelo receio duma invasão soviética do que pelas possibilidades de acção interna. Com efeito, esse período foi marcado pelas manifestações da esquerda que denunciava a guerra do Vietname e o apoio dado pelos Estados Unidos às ditaduras de extrema-direita na América Latina e na Europa, nomeadamente em Portugal. O ditador Salazar e a sua polícia, a PIDE, temiam especialmente as consequências desse movimento social susceptível de desestabilizar o regime e, portanto, apelaram à Aginter Press para que o submetesse.

A maior parte dos soldados de sombra que foram recrutados pela CIA para engrossar as fileiras deste exército secreto já tinham combatido em África e na Ásia do sudeste onde tinham tentado em vão impedir o acesso à independência das antigas colónias europeias. O director da Aginter Press, o próprio capitão Yves Guérain-Sérac, católico fervoroso e ardente anticomunista recrutado pela CIA, era um antigo oficial do exército francês que tinha assistido à derrota da França frente ao Reich durante a segunda guerra mundial. Também tinha combatido na guerra da Indochina (1946-1954), na guerra da Coreia (1950-1953) e na guerra da Argélia (1954-1962). Tinha prestado serviço na famosa 11ª Semi-Brigada Pára-quedista de Choque, a unidade encarregada de golpes sujos sob as ordens do SDECE, o serviço francês de informações externas, também ele próximo da rede stay-behind Rosa dos Ventos. Em 1961, Guérain-Sérac tinha fundado, juntamente com outros oficiais aguerridos do 11º Choque, a Organização do Exército Secreto, ou OAS, que lutou por uma Argélia francesa e tentou derrubar o governo do general de Gaulle para instaurar um regime autoritário anticomunista.

Depois de a Argélia ter acedido à independência em 1962, e de o general de Gaulle ter dissolvido a OAS, os antigos oficiais do exército secreto, entre os quais Guérain-Sérac, correram grande perigo. Fugiram da Argélia e ofereceram aos ditadores da América Latina e da Europa a sua valiosa experiência da guerra secreta, das operações clandestinas, do terrorismo e do contra-terrorismo, em troca do direito de asilo. [7] Esta diáspora da OAS veio reforçar as organizações de activistas de extrema-direita em numerosos países. Em Junho de 1962, Franco apelou aos talentos de Yves Guérain-Sérac, a fim de ele se juntar ao combate do exército secreto espanhol contra a oposição. De Espanha, Guérain-Sérac passou a seguir para Portugal, que aos olhos dele era o último império colonial e, sobretudo, o último bastião contra o comunismo e o ateísmo. Como um perfeito soldado da guerra-fria, ofereceu os seus serviços a Salazar: " Os outros depuseram as armas, mas eu não. Depois da AOS, fugi para Portugal para continuar o combate e travá-lo à sua verdadeira escala – ou seja, à escala planetária ". [8] Em Portugal, Guérain-Sérac associou-se a extremistas franceses e a renegados da OAS. O antigo pétainista Jacques Ploncard d'Assac apresentou-o nos meios fascistas e aos membros da PIDE. Dada a sua grande experiência, Guérain-Sérac foi recrutado como instrutor no seio da Legião Portuguesa e das unidades de contra-guerrilha do exército português. Foi neste contexto que ele criou, com a ajuda da PIDE e da CIA, a Aginter Press, um exército anticomunista ultra-secreto. A organização constituiu os seus próprios campos de treino nos quais mercenários e terroristas seguiam um programa de três semanas de formação em operações secretas que incluíam nomeadamente as técnicas de atentados à bomba, assassínios silenciosos, métodos de subversão, comunicações clandestinas, infiltração e guerra colonial.

Ao lado de Guérain-Sérac, o terrorista de extrema-direita Stefano Delle Chiaie participou também na fundação da Aginter Press. " Agíamos contra os comunistas, contra a burguesia estabelecida e contra a democracia que nos tinha privado da nossa liberdade. Fomos portanto forçados a recorrer à violência ", explicou mais tarde Delle Chiaie. " Consideravam-nos como criminosos mas na realidade éramos as vítimas de um movimento liberal antifascista. Queríamos espalhar as nossas ideias, queríamos ser ouvidos pelo mundo inteiro ". Por alturas de meados dos anos sessenta, Delle Chiaie, que na altura tinha 30 anos, fundou com Guérain-Sérac, e com o apoio da CIA, o exército secreto Aginter. " Com um dos meus amigos francês [Guérain-Sérac], decidi então [em 1965] fundar a agência de imprensa Aginter Press a fim de termos os meios de defender as nossas opiniões políticas ". [9] No decurso dos anos que se seguiram, Delle Chiaie tornou-se talvez no combatente mais sanguinário da guerra secreta. Em Itália, tomou parte em golpes de estado e em atentados, entre os quais o da Piazza Fontana em 1969 e, com o nazi Klaus Barbie, chamado o " Carniceiro de Lyon ", contribuiu para consolidar o poder de ditadores sul-americanos. [10]

" Os nossos efectivos são formados por dois tipos de homens: (1) oficiais que se juntaram a nós depois de terem combatido na Indochina e na Argélia e alguns que se alistaram depois da batalha da Coreia ", explicou o director da Aginter, Guérain-Sérac em pessoa, "(2) intelectuais que, durante esse mesmo período, se interessaram pelo estudo das técnicas de subversão marxista ". Esses intelectuais, como fez questão de observar, formaram grupos de estudo e partilhavam as suas experiências " para tentar dissecar as técnicas de subversão marxista e lançar as bases duma contra-técnica ". A batalha, não tinha qualquer dúvida quanto a isso, devia ser travada em numerosos países: " No decurso desse período, estabelecemos contactos sistemáticos com grupos de ideias próximas das nossas que surgiram na Itália, na Bélgica, na Alemanha, em Espanha e em Portugal, na óptica de constituir um núcleo duma verdadeira Liga Ocidental de Luta contra o Marxismo ". [11]

Saídos directamente de teatros de operações, muitos dos combatentes de sombra, e sobretudo os seus instrutores, entre os quais Guérain-Sérac, tinham pouca simpatia ou conhecimento pelos métodos de resolução pacífica de conflitos. O próprio director da Aginter estava convencido, como muitos outros, que a luta contra o comunismo na Europa ocidental implicava obrigatoriamente o recurso ao terrorismo: " Na primeira fase da nossa actividade política, devemos instaurar o caos em todas as estruturas do regime ", declarou sem esclarecer a que país se referia. " Há duas formas de terrorismo que permitem obter esse resultado: o terrorismo cego (através de atentados visando um grande número de civis) e o terrorismo selectivo (através da eliminação de personalidades marcadas) ". Tanto num caso como noutro, o atentado secretamente perpetrado pela extrema-direita devia ser imputado à esquerda, conforme sublinhou o paladino e ideólogo do terrorismo anticomunista: " Esses ataques contra o Estado devem, tanto quanto possível, passar por 'actividades comunistas' ". Os atentados terroristas dos exércitos secretos eram concebidos como um meio de desacreditar o regime em vigor e de obrigá-lo a pender para a direita: " A seguir, devemos intervir no coração do aparelho militar, do poder judicial e da Igreja, a fim de influenciar a opinião pública, de propor uma solução e de demonstrar claramente a fraqueza do arsenal jurídico actual (…) A opinião pública deve ser polarizada de maneira tal que nós apareçamos como o único instrumento capaz de salvar a nação. Parece óbvio que teremos necessidade de meios financeiros consideráveis para levar a bom termo essas operações ". [12]

Humberto Delgado, o "general sem medo", apresenta-se nas eleições presidenciais portuguesas de 1958. É derrotado graças a uma gigantesca fraude eleitoral e tem de se exilar. É assassinado em 1965 por um comando da PIDE preparado pelo Gládio, sob o comando de Rosa Casaco.

A CIA e a PIDE, os serviços secretos militares de Salazar, encarregaram-se de fornecer os fundos necessários para o empreendimento terrorista do capitão Guérain-Sérac. É num documento interno da Aginter, intitulado " A Nossa Actividade Política ", datado de Novembro de 1969 e que foi descoberto em 1974, que ele descreve como um país pode ser alvo duma guerra secreta: " A nossa convicção é que a primeira fase da actividade política deve consistir em criar as condições favoráveis à instauração do caos em todas as estruturas do regime ". Elemento essencial desta estratégia, as violências perpetradas deviam ser atiradas para cima dos comunistas e, bem entendido, todos os indícios deviam levar a essa conclusão. " Pensamos que é necessário, num primeiro tempo, destruir a própria estrutura do Estado democrático a coberto de actividades comunistas ou pró-chinesas ". O documento insistia seguidamente na necessidade de infiltrar os grupos de militantes de esquerda a fim de melhor os manipular: " Além disso, dispomos de homens infiltrados nesses grupos e que nos permitirão agir sobre a própria ideologia do meio – através de acções de propaganda e outras, realizadas de tal maneira que parecerão ser obra dos nossos adversários comunistas ". Essas operações realizadas sob falsa bandeira, concluía esse plano de acção, " criarão um sentimento de hostilidade para com os que ameaçam a paz de cada um dos nossos países ", ou seja, os comunistas. [13]

No decurso da primeira fase do seu plano, os oficiais, mercenários e terroristas da Aginter Press dedicaram-se a enfraquecer e aniquilar as facções de guerrilheiros que lutavam pela independência das colónias portuguesas. Por volta de meados dos anos sessenta, o primeiro teatro de operações da organização não foi pois a Europa, mas a África onde o exército português enfrentava os movimentos independentistas. A Aginter colocou os seus responsáveis de operações nos países limítrofes da África portuguesa. " Os seus objectivos englobavam a eliminação dos líderes dos movimentos de libertação, a infiltração, o estabelecimento de redes de informadores e de agentes provocadores e a utilização de falsos movimentos de libertação ". [14] Essas guerras secretas eram travadas em coordenação com a PIDE e outros serviços do governo português. " A Aginter correspondia-se por escrito com a PIDE no quadro das suas operações especiais e das suas missões de espionagem ". [15]

Entre as personalidades mais importantes, que foram vítimas dos assassínios orquestrados pela Aginter em Portugal e nas colónias, figuram sem dúvida Humberto Delgado, líder da oposição portuguesa, Amílcar Cabral, uma das figuras emblemáticas da revolução africana, e Eduardo Mondlane, líder e presidente do partido de libertação de Moçambique, a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), que foi morto em Fevereiro de 1969. [16] Apesar da violência dos métodos utilizados, Portugal não conseguiu impedir que as suas colónias acedessem à independência. Goa foi absorvida pela Índia em 1961. A Guiné-Bissau tornou-se independente em 1974, Angola e Moçambique em 1975, enquanto, nesse mesmo ano, Timor Leste foi invadido pela Indonésia.

Paralelamente a essas guerras coloniais, a Aginter Press desempenhou também um papel importante nas guerras secretas travadas contra os comunistas da Europa ocidental. Os documentos disponíveis sobre os exércitos stay-behind da NATO e a guerra clandestina parecem indicar que a organização lisboeta foi responsável por mais violências e assassínios do que qualquer outro exército secreto do velho continente. Os seus soldados de sombra agiam com uma mentalidade aparte. Contrariamente aos seus homólogos do P26 suíço ou do ROC norueguês, participavam em verdadeiras guerras abertas nas colónias e matavam em cadeia, sob o comando de um capitão que, seguro duma experiência adquirida na Indochina, na Coreia e na Argélia, não concebia outro meio de acção que não fosse a violência.

A operação realizada pelos combatentes de sombra em nome da luta contra o comunismo sobre a qual estamos mais bem informados é provavelmente o atentado da Piazza Fontana que atingiu as capitais políticas e industriais da Itália, Roma e Milão, pouco antes do Natal, a 12 de Dezembro de 1969. Nesse dia, quatro bombas explodiram nas duas cidades, matando às cegas 16 civis, na sua maioria camponeses que se dirigiam ao Banca Nazionale Dell'Agricultura de Milan para depositar as suas modestas receitas de um dia de mercado. Ficaram feridas ou mutiladas mais oitenta pessoas. Uma das bombas colocadas na Piazza Fontana não explodiu por causa do mau funcionamento do temporizador, mas quando os agentes do SID e a polícia chegaram ao local, apressaram-se a destruir os indícios comprometedores, fazendo explodir a bomba. A execução desse atentado obedecia estritamente às estratégias de guerra secreta definidas por Guérain-Sérac. Os serviços secretos italianos atribuíram esse acto à extrema-esquerda, chegando ao ponto de colocar os componentes de um engenho explosivo na casa do editor Giangiacomo Feltrinelli, conhecido pelas suas ideias de esquerda e aproveitaram para prender numerosos comunistas. [17]

Um relatório interno do SID, classificado como confidencial, e datado de 16 de Dezembro de 1969, suspeitava já que os atentados de Roma e Milão podiam ter sido feitos pela extrema-direita com o apoio da CIA. [18] No entanto, a opinião pública italiana foi alimentada pela ideia de que os comunistas italianos, na altura muito influentes, tinham decidido recorrer à violência para conquistar o poder. Na realidade, a paternidade desses actos recaía muito obviamente nas organizações fascistas Ordine Nuovo e Avanguardia Nazionale que agiam em estreita colaboração com os exércitos stay-behind. O militante de extrema-direita, Guido Giannettini, que foi directamente implicado nos atentados, era colaborador próximo da organização portuguesa Aginter Press. " O inquérito confirmou que existiam mesmo entre a Aginter Press, a Ordine Nuovo e a Avanguardia Nazionale ", anunciou o juiz Salvini aos membros da comissão de inquérito senatorial. " Ressalta claramente que Guido Giannettini estava em contacto com Guérain-Sérac em Portugal desde 1964. Ficou estabelecido que instrutores da Aginter Press (…) se deslocaram a Roma entre 1967 e 1968 e treinaram membros da Avanguardia Nazionale no manejamento de explosivos". O juiz Salvini concluiu, com base nos documentos disponíveis e nos testemunhos recolhidos, que a Aginter Press, uma fachada da CIA, tinha desempenhado um papel decisivo nas operações de guerra clandestina realizadas na Europa ocidental e tinha executado uma série de atentados sangrentos a fim de desacreditar os comunistas italianos. [19]

Estes factos foram confirmados em Março de 2001 pelo general Giandelio Maletti, antigo patrono da contra-espionagem italiana, que testemunhou no quadro do processo de militantes de extrema-direita, acusados de ter provocado a morte de 16 pessoas nos atentados da Piazza Fontana. Perante o tribunal de Milão, Maletti declarou que: " A CIA, seguindo as directrizes do seu governo, queria fazer nascer um nacionalismo italiano capaz de combater o pendor para a esquerda do país e, nesta óptica, não é impossível que se tenha socorrido de terroristas de extrema-direita ". Este depoimento crucial comparava a CIA a uma organização terrorista. " Não se esqueçam que era Nixon que se encontrava na altura à frente do país ", lembrou o general, " e Nixon não era um homem vulgar, um político muito apurado, mas um homem de métodos pouco ortodoxos ". [20] O juiz italiano Guido Salvini confirmou que todas as pistas levavam a "um serviço de informações estrangeiro". " Quando diz 'serviço de informações estrangeiro' está a referir-se à CIA ?", insistiram os jornalistas italianos, ao que Salvini respondeu prudentemente: " Estamos em condições de afirmar que sabemos pertinentemente quem participou na preparação dos atentados e quem estava sentado à mesa quando foram dadas as ordens. Isso é incontestável ". [21]

Não contente por lutar contra o comunismo na Itália, o capitão Guérain-Sérac estava firmemente disposto a travar o combate à escala mundial. Com esse objectivo, agentes da Aginter, entre os quais o americano Jay Sablonsky, participaram ao lado da CIA e dos Boinas Verdes na tristemente célebre contra-guerrilha da Guatemala que fez, entre 1968 e 1971, cerca de 50 mil mortos, na sua maioria civis. Os homens da Aginter estiveram também presentes no Chile em 1973 onde participaram no golpe de estado em que a CIA substituiu o presidente socialista democraticamente eleito, Salvador Allende, pelo ditador Augusto Pinochet. [22] A partir do refúgio que era a ditadura de extrema-direita de Salazar, a Aginter Press podia assim enviar os seus soldados de sombra para combaterem em muitos países do mundo inteiro.

Esta situação perdurou até à " Revolução dos cravos " de Maio de 1974 que pôs termo à ditadura e abriu caminho ao restabelecimento da democracia em Portugal. Os combatentes de sombra sabiam que a sobrevivência da sua organização estava estreitamente ligada à do regime totalitário. Quando souberam que oficiais de esquerda do exército português preparavam um golpe que iria iniciar a Revolução dos cravos, os agentes da Aginter conspiraram com o general Spínola a fim de eliminar os centristas portugueses. Previam invadir o arquipélago dos Açores a fim de o tornarem num território independente e de o utilizarem como uma base de retaguarda para lançamento das suas operações no continente.

Como este projecto falhou, a Aginter foi varrida ao mesmo tempo que a ditadura quando no dia 1 de Maio os oficiais de esquerda assumiram o poder, pondo assim fim a cerca de 50 anos de totalitarismo. Três semanas depois, a 22 de Maio, por ordem dos novos dirigentes do país, unidades especiais da polícia portuguesa investiram no quartel-general da Aginter Press da Rua das Praças em Lisboa a fim de fechar a sinistra agência e de apreender todo o material. Mas, quando chegaram ao local, já estava tudo vazio. Graças aos seus contactos no seio dos serviços de informações, os agentes da organização tinham sido prevenidos a tempo e desapareceram, sem que nenhum deles fosse preso. Porém, na sua precipitação, esqueceram alguns documentos. As forças policiais acabaram por recolher grande número de provas que documentavam a responsabilidade da filial da CIA, a Aginter Press, em numerosos actos de terrorismo.

Como a jovem democracia tentava acabar com o antigo aparelho de segurança herdado da ditadura, a PIDE, os serviços secretos militares e a Legião Portuguesa foram dissolvidos. A " Comissão de Extinção da PIDE e da Legião Portuguesa " em breve descobriu que a PIDE, com a conivência da CIA, tinha dirigido um exército secreto baptizado de Aginter Press; exigiu consultar os dossiers reunidos sobre a Agência na sequência da busca aos locais e que continham todas as provas necessárias. Pela primeira vez, a história do exército secreto português ia ser objecto de um inquérito. Mas, subitamente, todos os dossiers se volatilizaram. " O dossier 'Aginter Press' foi subtraído à Comissão de Extinção da PIDE e da Legião Portuguesa e desapareceu definitivamente ", lamentava o diário português O Jornal uns anos mais tarde num artigo consagrado à rede Gladio. [23]

Como é que isso pôde acontecer? Porque é que a comissão foi tão negligente perante informações tão essenciais? O italiano Barbachetto que trabalha para a revista política milanesa L'Europeo escreveu a este propósito: " Estavam presentes três dos meus colegas quando foram apreendidos os arquivos da Aginter. Só puderam fotografar alguns fragmentos da quantidade considerável de dados recolhidos naquele dia ". Sob os títulos de " Máfia " ou " Contribuidores financeiros alemães ", os documentos revelavam os nomes de código dos parceiros da Aginter. " Os documentos foram destruídos pelo exército português ", indicava Barbachetto, "que procurou evidentemente evitar incidentes diplomáticos com os governos italiano, francês e alemão, incidentes que não teriam deixado de surgir se as actividades da Aginter nesses países tivessem sido desvendados ". [24]

A PIDE foi substituída por outro serviço de informações português, o SDCI, que pesquisou a Aginter e chegou à conclusão de que a sinistra organização tivera quatro missões. Primeiro que tudo, tinha servido como " gabinete de espionagem dirigido pela polícia portuguesa e, através dela, pela CIA, pelo BND da Alemanha ocidental ou "Organização Gehlen", pela Direccion General de Seguridad espanhola, pelo BOSS sul-africano e, mas tarde, pelo KYP grego. Paralelamente a esta função de recolha de informações, a Aginter Press tinha igualmente servido de gabinete de " centro de recrutamento e de treino de mercenários e de terroristas especializados em sabotagens e assassínios ". Segundo o relatório do SDCI, a Agência também tinha sido um "centro estratégico para operações de doutrinamento de extrema-direita e neo-fascista na África subsaariana, na América do Sul e na Europa, realizadas em colaboração com regimes fascistas ou assimilados, figuras bem conhecidas da extrema-direita e grupos neo-fascistas activos a nível internacional". Finalmente, a Aginter era a capa dum exército secreto anticomunista, uma " organização fascista internacional baptizada "Ordem e Tradição" com o seu braço militar, a OACI, 'Organização Armada contra o Comunismo Internacional ". [25]

Depois da queda da ditadura, Guérain-Sérac e os seus activistas anticomunistas fugiram de Portugal para a Espanha onde, sob a protecção de Franco, instalaram o seu novo quartel-general em Madrid. Em troca do asilo político, os combatentes da Aginter, fiéis ao seu compromisso, puseram-se à disposição dos serviços secretos espanhóis para procurar e eliminar os dirigentes do movimento separatista basco ETA. Prosseguiram com as suas operações clandestinas no estrangeiro e trataram especialmente de desacreditar a Frente de Libertação Nacional argelina. " Posso citar-vos outro exemplo particularmente interessante ", declarou o juiz Salvini aos senadores italianos e revelou-lhes como, em 1975, a partir da sua base espanhola, os homens de Guérain-Sérac assistidos pelo americano Salby e por extremistas franceses, italianos e espanhóis, tinham organizado uma série de atentados que assinavam SOA, a fim de comprometer os Soldados da Oposição Argelina.

" As bombas foram colocadas nas embaixadas argelinas em França, na Alemanha, na Itália e na Grã-Bretanha " e deterioraram a imagem da oposição argelina quando na realidade " os atentados eram obra do grupo de Guérain-Sérac, o que dá uma ideia das suas capacidades de dissimulação e de infiltração ". A bomba colocada diante da embaixada argelina em Francfort não explodiu e foi cuidadosamente examinada pela polícia alemã. " Para compreender os laços que ligavam Guérain-Sérac à Aginter Press, basta observar a complexidade do engenho explosivo ", sublinhou o juiz Salvini. " Continha C4, um explosivo utilizado exclusivamente no exército americano de que não se encontra rasto em nenhum atentado efectuado por anarquistas. Repito, era uma bomba muito sofisticada. Ora a Aginter possuía C4, podemos pois facilmente deduzir os apoios de que beneficiava ". [26]

Quando o regime ditatorial se desmoronou com a morte de Franco, a 20 de Novembro de 1975, Guérain-Sérac e o seu exército secreto foram mais uma vez obrigados a fugir. A polícia espanhola levou tempo a investigar os vestígios que a Aginter deixou para trás e foi apenas em Fevereiro de 1977 que fez uma busca ao número 39 da rua Pelayo, o quartel-general da organização e descobriu um verdadeiro arsenal composto por espingardas e explosivos. Mas Delle Chiaie, Guérain-Sérac e os seus soldados já tinham fugido há muito de Espanha para a América Latina onde muitos deles escolheram o Chile como nova base para as suas operações. Guérain-Sérac foi visto pela última vez em Espanha em 1997. [27]

O exército secreto anticomunista português tornou a fazer-se notado em 1990, quando o primeiro-ministro Giulio Andreotti revelou que existiam em Itália e noutros países exércitos stay-behind montados pela NATO. A 17 de Novembro de 1990, a vaga atingiu Lisboa onde o diário Expresso noticiou com o título " Gladio. Os Soldados da guerra fria " que " o escândalo atravessou as fronteiras da Itália visto que a existência de redes secretas Gladio foi confirmada oficialmente na Bélgica, em França, nos Países-Baixos, no Luxemburgo, na Alemanha e semi-oficialmente na Suécia, na Noruega, na Dinamarca, na Áustria, na Suíça, na Grécia, na Turquia, em Espanha, no Reino Unido e em Portugal ". [28]

Muito preocupado, o ministro português da Defesa, Fernando Nogueira, declarou publicamente a 16 de Novembro de 1990 que não tinha conhecimento da existência dum ramo da rede stay-behind em Portugal e afirmou que nem o seu ministério nem o Estado-maior das forças armadas portuguesas dispunham " de informações, quaisquer que fossem, relativas à existência ou à actividade duma 'estrutura Gladio' em Portugal ". [29] O jornal português Diário de Notícias lamentou que: " as declarações lacónicas de Fernando Nogueira sejam corroboradas, duma maneira ou de outra, por antigos ministros da Defesa, como Eurico de Melo e Rui Machete, assim como por o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros] Franco Nogueira e pelo marechal Costa Gomes, que nos confirmaram não saberem absolutamente nada sobre essa questão. A mesma posição foi adoptada por parlamentares da oposição, membros da Comissão parlamentar da Defesa ". [30]

Costa Gomes, que fora oficial de ligação junto da NATO, insistiu que nunca tivera conhecimento duma rede clandestina embora tenha " assistido entre 1953 e 1959 a todas as reuniões da Aliança ". Ao mesmo tempo reconheceu que não era impossível que tenha existido um Gladio português, com o apoio da PIDE e de certas pessoas estranhas ao governo. " Essas ligações ", explicou Costa Gomes, " se é que existiram de facto, não poderiam ter funcionado a não ser paralelamente às estruturas oficiais " e portanto ser-lhe-iam totalmente desconhecidas. Do mesmo modo, Franco Nogueira, que fora ministro dos Negócios Estrangeiros no tempo de Salazar, declarou: " Nunca suspeitei da existência dessa organização. Nem quando estive nos Negócios Estrangeiros e me dava amiúde com responsáveis da NATO nem mais tarde ". Afirmou que, se a Gladio tivesse operado em Portugal, " essa actividade certamente seria do conhecimento do Dr. Salazar ". Como Nogueira deu a entender, Salazar teria certamente comunicado essa informação ao chefe da diplomacia: " Tenho muita dificuldade em acreditar que essa rede tenha tido ligações com a PIDE ou com a Legião Portuguesa. É por isso que estou convencido de que a Gladio nunca existiu no nosso país embora, claro, na vida nada seja impossível ". [31]

Enquanto os representantes do governo se recusavam a divulgar quaisquer informações sobre a guerra secreta, a imprensa portuguesa não podia senão constatar a evidência e deplorar que " visivelmente, vários governos europeus [tinham] perdido do controlo dos seus serviços secretos ", denunciando ao mesmo tempo, a " doutrina de confiança limitada " adoptada pela NATO. " Uma doutrina destas implica que alguns governos não teriam feito o que deviam para combater o comunismo e que portanto não era necessário mantê-los informados sobre as actividades do exército secreto da NATO ". [32] Apenas um alto graduado do exército português consentiu revelar alguns pormenores do segredo, a coberto do anonimato. Um general, que tinha sido chefe do Estado-maior português, confirmou a um jornalista de O Jornal que " havia existido de facto em Portugal e nas colónias um serviço de informações paralelo, cujo financiamento e controlo não pertenciam ao domínio das forças armadas, mas dependia do Ministério da Defesa, do Ministério do Interior e do Ministério do Utramar. Além do mais, esse serviço paralelo estava directamente ligado à PIDE e à Legião Portuguesa ". [33] Não houve nenhuma investigação oficial sobre este assunto, quando muito um simples relatório parlamentar. Por conseguinte, mantém-se o mistério aflorado por estas vagas confirmações.

Notas

[1] John Palmer, "Undercover NATO Group 'may have had terror links' " no diário britânico The Guardian de 10 Novembro 1990.

[2] Michael Parenti, Against Empire (City Light Books, San Francisco, 1995), p.143.

[3] João Paulo Guerra, "'Gladio' actuou em Portugal" no diário português O Jornal de 16 Novembro 1990.

[4] Senato della Repubblica. Commissione parlamentare d'inchiesta sul terrorismo in Italia e sulle cause della mancata individuazione dei responsabiliy delle stragi : Il terrorismo, le stragi ed il contesto storico politico . Redatta dal presidente della Commissione, sénateur Giovanni Pellegrino. Roma 1995, p.204 e 241.

[5] Commissione parlamentare d'inchiesta sul terrorismo in Italia e sulle cause della mancata individuazione dei responsabili delle stragi. 12ª sessão , 20 Março 1997

[6] Commissione parlamentare d'inchiesta sul terrorismo in Italia e sulle cause della mancata individuazione dei responsabili delle stragi. 9ª sessão , 12 Fevereiro 1997

[7] Jeffrey M. Bale, "Right wing Terrorists and the Extraparliamentary Left in Post World War 2 Europe : Collusion or Manipulation ?" No periódico britânico Lobster Magazine , n°2, Outubro 1989, p.6.

[8] Semanário francês Paris Match , Novembro 1974. Citado em Stuart Christie, Stefano delle Chiaie (Anarchy Publications, Londres, 1984), p.27.

[9] Egmont Koch e Oliver Schröm, Deckname Aginter. Die Geschichte einer faschistischen Terror Organisation , p.4. (Ensaio não publicado de 17 páginas. Sem data, por volta de 1998).

[10] Ver Christie, delle Chiaie, passim.

[11] Ibid ., p.29.

[12] Este documento parece ter sido descoberto no antigo gabinete de Guérain-Sérac depois da revolução portuguesa. Figura no dicionário do terrorismo na Bélgica de Manuel Abramowicz.

[13] Extracto de Christie, delle Chiaie , p.32. Igualmente em Lobster , Outubro 1989, p.18.

[14] Ibid. , p.30.

[15] João Paulo Guerra, "'Gladio' actuou em Portugal" no diário português O Jornal de 16 Novembro 1990.

[16] Ibid . E Christie, delle Chiaie, p.30.

[17] Senato della Repubblica. Commissione parlamentare d'inchiesta sul terrorismo in Italia e sulle cause della mancata individuazione dei responsabiliy delle stragi : Il terrorismo, le stragi ed il contesto storico politico. Redatta dal presidente della Commissione , senador Giovanni Pellegrino. Roma 1995, p.157.

[18] Os investigadores Fabrizio Calvi e Frédéric Laurent, especialistas dos serviços secretos, realizaram provavelmente o melhor documentário sobre o atentado da Piazza Fontana: Piazza Fontana : Storia di un Complotto difundido a 11 Dezembro 1997 às 20 h 50 no canal público Rai Due . Uma adaptação em francês intitulada: L'Orchestre Noir : La Stratégie de la tension foi difundida em duas partes no canal franco-alemão Arte quarta-feira 13 e quinta-feira 14 de Janeiro de 1998, às 20h 45. Nesse filme, interrogam uma grande quantidade de testemunhas incluindo juízes que investigaram o assunto durante anos, Guido Salvini e Gerardo d'Ambrosio. Activistas fascistas como Stefano Delle Chiaie, Amos Spiazzi, Guido Giannettini, Vincenzo Vinciguerra e o capitão Labruna, o antigo primeiro-ministro Giulio Andreotti, assim como Victor Marchetti e Marc Wyatt da CIA.

[19] Commissione parlamentare d'inchiesta sul terrorismo in Italia e sulle cause della mancata individuazione dei responsabili delle stragi. 9ª sessão , 12 Fevereiro 1997

[20] Philip Willan, " Terrorists 'helped by CIA' to Stop Rise of Left in Italy " no quotidiano britânico The Guardian de 26 Março 2001. Willan é um especialista das intervenções secretas norte-americanas em Itália. Assinou o muito interessante Puppetmasters. The Political Use of Terrorism in Italy (Constable, Londres, 1991).

[21] Diário italiano La Stampa de 22 Junho 1996.

[22] Peter Dale Scott, "Transnational Repression : Parafascism and the US" no periódico britânico Lobster Magazine , n°12, 1986, p.16.

[23] João Paulo Guerra, "'Gladio' actuou em Portugal" no diário português O Jornal de 16 Novembro 1990.

[24] Koch e Schröm, Aginter , p.8.

[25] Extracto de Christie, delle Chiaie , p.28.

[26] Commissione parlamentare d'inchiesta sul terrorismo in Italia e sulle cause della mancata individuazione dei responsabili delle stragi. 9ª sessão , 12 Fevereiro 1997.

[27] Koch e Schröm, Aginter , p.11–12.

[28] Semanário português Expresso de 17 Novembro 1990.

[29] Diário português Diário de Noticias de 17 Novembro 1990.

[30] Sem autor especificado, "Ministro nega conhecimento da rede Gladio. Franco Nogueira disse ao DN que nem Salazar saberia da organização" no diário português Diário de Noticias, de 17 Novembro 1990.

[31] Ibid.

[32] Sem autor especificado, "Manfred Woerner explica Gladio. Investigadas ligações a extrema-direita" no diário português Expresso de 24 Novembro 1990.

[33] João Paulo Guerra, "'Gladio' actuou em Portugal" no semanário português O Jornal de 16 Novembro 1990.

[*] Historiador suíço, especialista em relações internacionais contemporâneas. É professor na Universidade da Basileia.

O original encontra-se em http://www.voltairenet.org/article169872.html . Tradução de Margarida Ferreira.
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

FENÍCIOS NO BRASIL?

Pedra do Ingá, na Paraíba, pode ter sido obra dos fenícios. Segundo muitos piauienses, os fenícios também teriam andado por lá, principalmente em 7 cidades.

Os fenícios foram grandes comerciantes e navegadores, tendo fundado cidades em quase todo o mediterrâneo. São originários do território que hoje denomina-se Líbano.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

GUERRAS SECRETAS, A ARMA DA POLÍTICA EXTERIOR ESTADUNIDENSE

Leia o interessante artigo do historiador suíço e especialista em relações internacionais contemporâneas, Daniele Ganser (foto) a respeito das GUERRAS SECRETAS COMO ATIVIDADES CENTRAIS DA POLÍTICA EXTERNA ESTADUNIDENSE (clique aqui para acessar), publicado no site RESISTIR.INFO e VOLTAIRENET.ORG

O texto está em francês.



terça-feira, 6 de dezembro de 2011

FAÇA UMA BOA AÇÃO: NÃO COMPRE CACHORRO. ADOTE!

NÃO COMPRE CACHORROS. SE VOCÊ LEMBRAR QUE HÁ MUITOS DELES PASSANDO FRIO E FOME NA RUA, SE SENTIRÁ INJUSTO EM FOMENTAR O COMÉRCIO DE BICHOS COM TANTOS ANIMAIS PRECISANDO DE CARINHO, ATENÇÃO UM LAR SIMPLES E COMIDA TAMBÉM SIMPLES, E ISSO O DINHEIRO NÃO COMPRA.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

APELIDO REAL

Vale a pena ir ao site da revista Super Interessante e ver os apelidos de alguns monarcas pelo mundo afora... É, o apelido pode ser agressivo ou apenas dizer muito a respeito da personalidade do rei ou da rainha. A história explica!

domingo, 4 de dezembro de 2011

VIRGINIE LEDOYEN

Este é um momento de entretenimento puro e de reconhecimento da importância da beleza.

Virginie Ledoyen é o nome artístico da atriz francesa Virginie Fernandez, que é considerada uma das atrizes mais lindas de todos os tempos.

Alguém duvida?

Ai, ai... Até a seriedade tem limites...

sábado, 3 de dezembro de 2011

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

GRANMA

GRANMA, um jornal que também possui site na internet e disponibiliza as notícias sob uma outra ótica, capaz de ampliar os nossos horizontes. Clique aqui para acessar.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

CUSTE O QUE CUSTAR - O MOMENTO SOCIAL BRASILEIRO

Estamos em um país que tem um futuro econômico aparentemente próspero, mas que precisa de rearranjos, e que pode ter um futuro social para lá de perigoso.
Somos um país que visa incluir as pessoas apenas pelo aspecto econômico e esquece do importante papel da educação, que propicia, antes de tudo, a real sensação de ser  um único grupo nacional.
Linchamentos, furtos de mercadorias ou valores de pessoas envolvias em acidentes, assassinatos, atropelamentos por alcoolismo, corrupção ativa e passiva, sonegação de impostos e tantas outras ações absurdas representam não apenas o descaso com a cidadania, com o outro, mas o querer se dar bem, custe o que custar... Aliás, esse programa CQC - Custe o Que Custar tem um nome que calha bem com esse texto. Esse individualismo representado pelo lema Custe o Que Custar (para se dar bem) é o maior sinal de que não há uma sensação de pertencer a um mesmo grupo nacional, um claro descaso com os outros, uma irresponsabilidade com o grupo e o local em que se vive, enfim.
Esse país precisa investir urgentemente na melhoria de condições de transporte e de lazer dos mais humildes, no respeito de todos pelas leis e pelas regras de convivência pacífica, numa campanha massiva de respeito pela cidadania e em uma imprensa livre e, acima de tudo, responsável. Sem isso, ficará difícil reverter o quadro que se desenha do nosso futuro social...
E não se trata apenas da luta dos pobres contra os ricos, não. Trata-se da luta de pequenos grupos ou indivíduos contra todos. É o querer se dar bem, pensando apenas em si, com alienação política, histórica e social. É o maior desarranjo organizacional de um Estado. E estamos rumando a isso...
Os Estados Unidos lutaram por muito tempo pela inclusão social, mas mesmo hoje enfrenta sérios problemas. E nós, o que fizemos e o que estamos fazendo? Então, façamos, antes que seja tarde demais e sejamos colhidos pelos oportunistas de plantão, que certamente lucrarão com o desfazimento da Nação e do Estado brasileiro.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

CINE BELAS ARTES E LEON CAKOFF SE FORAM. SÃO PAULO PERDEU.

2011 não foi um ano bom para o cinema de São Paulo.
O Cine Belas Artes saiu de sua casa e rumou a uma UTI, no começo de 2011, sem previsão de retorno para a vida em comum. Os cinéfilos perderam um templo, mas não a fé.
Leon Cakoff, o mestre dos jovens cineastas brasileiros, deixou a vida em outubro de 2011, e em algum lugar já está bolando uma Mostra Universal de um tipo de cinema ou imagem que ainda somos incapazes de captar e compreender, mas que fará sucesso, pois, se com insensíveis como os "humanos", a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo foi um sucesso absoluto, imagine com seres indubitavelmente superiores em sensibilidade. O tema, como sempre foi na Mostra de Cinema de S. Paulo, será sobre humanidades, a visão de humanos sobre humanos, algo que muitos de nós ainda se recusa a ver, sentir e perceber. E não tenho dúvida de que o Universo irá gostar dessa Mostra de afeto pelos outros seres, pouco importando o nome, a cor, o formato, a religião e o viés partidário que tiverem ou que lhes foram impostos. Nós perdemos o Mestre em trazer o melhor da mágica em compreensão, mas o Universo já ganhou com o novo integrante do espaço sem limites.

sábado, 26 de novembro de 2011

Ontem (25/11) foi um dia especial para mim, o de exibição do vídeo COCOROBÓ na sala BNDES da CINEMATECA BRASILEIRA, em São Paulo.
Com 31 minutos de duração, o vídeo foi apresentado juntamente com outros curta-metragens, numa primeira mostra coletiva.
Embora tenha sido produzido em 2005, o documentário COCOROBÓ não perde a sua atualidade.
Muitos amigos queridos e especiais estiveram presentes, mas a maior emoção ainda não tinha sido alcançada. O final, com aplausos de todo o público, emocionou. Apenas dois foram ovacionados. Um deles era Cocorobó.
Veja o trailer do vídeo logo abaixo.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

GASTRONOMIA. QUANTAS ALTERNATIVAS!

Uma dica interessante para quem busca variedade em gastronomia na metrópole paulistana, conhecida mundialmente pela farta oferta de bons restaurantes, é a página do guiasp na internet. Clique e acesse.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

HUMANISTA DEVE TER CORAGEM DE DIZER NÃO.

Ser humanista é não ter medo de apontar os erros, não importando quem seja o errante.
Ser humanista é ver humanidade ainda que a versão histórica ou a imprensa mal informada ou mal intencionada não aponte para a existência de pessoas em um conflito, seja ele verbal, físico, econômico ou bélico.
Ser humanista é dizer não.
Humanistas já tentaram barrar diversos conflitos e atos desumanos.
O fascismo poderia ter sido barrado, assim como as ditaduras e o nazismo. Mais, o colonialismo, o imperialismo e a escravidão poderiam ter sido detidos. A miséria e a mendicância um dia também poderão ser compreendidos, trazendo todas as pessoas a uma vida que não requer luxo, mas dignidade.
O humanismo ainda pode fazer muito pela humanidade.
Assim é ser humanista, aquele que age não em prol de "a" ou "b", ciclano ou fulano, mas em benefício da dignidade humana. Direitos Humanos não pertencem a um ou outro, mas a todos. Agora, uma pergunta: quem se coloca contra os direitos humanos ou é por que se sente superior a um grupo ou grupos ou por que não tem noção do que significa humanidade?

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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