Os ataques dos Estados Unidos às usinas nucleares subterrâneas do Irã evidenciam diversas coisas, dentre elas o xeque-mate não só ao Irã, mas à Rússia e à China, em especial.
Logo após ser atacado pelos Estados Unidos, o Irã reagiu contra Israel e, segundo a mídia chinesa, Israel e Estados Unidos teriam, então, atacado outras posições iranianas, o que não condiz com o perfil de Trump, que costuma abandonar novos ataques antes de sua escalada. Foi assim no Iêmen.
Sem a ajuda de aliados poderosos, o Irã não terá como sobreviver por muito tempo a pesados ataques dos Estados Unidos.
Se a queda do Irã interessa a Israel, principalmente para assegurar a tomada de territórios palestinos, se apropriar das reservas de gás da Faixa de Gaza, se tornar uma linha importante de exportação de gás e, principalmente, para a retomada dos acordos de Abraão com países do Golfo, o mesmo não se pode dizer à China e Rússia. Para essa última, o Irã é um parceiro leal que forneceu armas e tecnologias de drones na guerra contra a Ucrânia, além de ser um parceiro estratégico para a segurança no sul caucasiano da Rússia. Para a China, o Irã representa o maior fornecedor de petróleo, uma fonte energética bem barata, um local de pesados investimentos chineses, um parceiro vital na chamada Nova Rota da Seda, e também um parceiro estratégico em diversos organismos comerciais e de posição estratégica importante para a garantia da segurança militar da China.
A queda do Irã, assim, enfraquece diretamente a China e a Rússia, propiciando a essa um possível aumento de atividades terroristas próximas de suas fronteiras e até mesmo dentro de seu território. A China, por sua vez, está cada vez mais acuada, com os Estados Unidos sendo capaz de cerca-la militarmente.
A Rússia perdeu importantes aliados, como a Líbia, o Iraque, mais recentemente a Síria e, agora, corre o sério risco de perder o Irã. A inação de Putin custará caro à Rússia. A China, que evita confrontos militares, preferindo resolver os impasses por negociações, inclusive comerciais, vê que sua opção por não entrar em guerras está provocando a perda de países estratégicos à sua segurança.
China e Rússia poderiam falar mais alto, mas o farão?
A inação desses países com o prosseguimento da guerra contra o Irã pode significar o adiamento do mundo multipolar, o enfraquecimento dos BRICS e uma grande jogada de xadrez contra a China, quase emparedando militarmente a segunda maior potência econômica do globo. O próximo passo do império, se nada for feito por Rússia e China, será provocar, mediante ataque de falsa bandeira, o agravamento nas tensões e consequente confronto militar prolongado entre Índia e Paquistão, sendo este outro importante aliado militar, econômico e estratégico para a China, bem como entre Azerbaijão e Armênia.
A questão nuclear nunca foi, de fato, importante para os ataques israelenses e estadunidense. Se o Irã pretendesse desenvolver artefatos nucleares militares já poderia te-lo feito há 20 anos. Nunca o fez porque há um decreto religioso em vigor proibindo a produção de bombas nucleares.
A questão é econômica e geo estratégica.