O oportunismo eleitoreiro está
cada vez mais execrável.
Antes, anônimos apelavam com
apelidos engraçados ou frases de efeito para serem percebidos e lembrados pelo
eleitor. Depois, políticos entraram nessa, como o já falecido Enéas, utilizando
a chamada “Meu nome é Enéas” para o pouquíssimo tempo que tinha na televisão, e
o artista Tiririca satirizou e marcou com a frase “Pior que está não fica”. Mas
o que já estava ruim, piorou e muito.
Hoje, não só artistas já apagados
e apresentadores de televisão que entram na política costumam se eleger. YouTubers
que têm centenas de milhares de seguidores também conseguem esse feito.
A diferença é que na tevê aberta,
por pior que seja, ainda tem alguma espécie de filtro. Já no YouTube, o caráter
apelativo traz muitas visualizações e, por consequência, fama e sucesso. O “Mamãe
Falei” é um youtuber de sucesso que entrou na política, primeiramente filiado
ao MBL e depois como deputado estadual e nunca, em nenhum momento, deixou a
polêmica de lado. A última delas, sabemos bem qual é, de uma infelicidade
total, de que as ucranianas são pobres e, por isso, fáceis. Lamentável para quem diz ter feito uma viagem
humanitária a um país em guerra.
Mas lamentável não são apenas os
nossos políticos e a política brasileira, mas os eleitores que colocam esses
candidatos no poder.
O Brasil, por mais que não
queiramos assumir, é a nossa casa e a de nossos filhos e dos filhos dos nossos
filhos e por aí vai. Se não colocarmos gente séria na política, o que poderemos
esperar do futuro?
O único candidato que tem
proposta e projeto para o país e larga e prestigiada experiência administrativa
oscila entre o terceiro e o quarto lugares e não alcançou 10 pontos, estando
atrás de um fiasco, o despreparado e descomprometido Bolsonaro, e de um político
articulado, mas que não fez o que prometeu, Lula.
Se permitirmos que oportunistas
se aventurem e ocupem cargos no executivo e legislativo, pouco sobrará do país.
Toda a organização administrativa
do Estado brasileiro, sob o princípio republicano da igualdade, está sendo
enterrado, abrindo-se espaço cada vez mais para que apadrinhados e empresas que
contratam apadrinhados de políticos sejam chamadas a prestar serviço, em
detrimento do concurso público.
Os “grupos articulados”, pode-se
dizer assim, ocupam a máquina pública direta e indiretamente. O partido coloca
membros sem que tenham passado em concurso público, para trabalhar em áreas
chaves. É o que já está sendo feito e que se pretende aprimorar através da
famigerada reforma administrativa.
A Constituição e a lei estão
sendo pisoteadas, sob a conivência de juristas, muitos advogados públicos e
juízes e promotores, além dos congressistas.
A leitura que esse grupo dá ao
direito administrativo não é moderna, mas execrável, pois permite que, em
detrimento de cargos a serem preenchidos por concurso público, se permita serem
preenchidos por indicação de políticos a empresas que teriam supostamente
ganhado as licitações, afrontando princípios basilares, como o da
transparência, da igualdade ou isonomia e da legalidade e moralidade administrativa.
Enquanto as instituições não cumprirem o seu
papel legal e constitucional, o Brasil continuará a ser um país para poucos, de
oportunistas e antissociais e de oportunistas eleitoreiros.