Não é segredo para ninguém que o governo federal brasileiro cria rupturas com instituições responsáveis pela garantia democrática, como o STF, TSE e Congresso Nacional, e aparelha algumas outras instituições.
Não é segredo, também, que o Brasil já esteve próximo do golpe por algumas vezes. Vozes corajosas do STF alardearam o país e conseguiram evitar a ruptura democrática.
Mas o projeto do golpe se avizinha, como já alerta o consagrado jornalista Luis Nassif, mas creio que com o oportunismo criado pelo caos social e econômico que poderá ser trazido ao Brasil em razão da guerra entre Ucrânia e Rússia. Explico mais abaixo.
Não vivemos momentos fáceis.
Calor e frio excessivos,
catástrofes naturais, aumento da fome e da miséria, além de surgimentos
periódicos de focos de refugiados de guerras, econômicos e do clima.
A sociedade humana, repleta de musicalidade,
poesia e arte, caminha lado a lado com a morte e a execração do que realmente
simboliza o humano.
A guerra na Ucrânia divide o
mundo entre pró Ucrânia e pró Rússia, como se fosse um jogo de videogame, imagem
já utilizada até por canais de televisão para ilustrar a narração de um
conflito que mata crianças, jovens, mulheres e idosos. A artificialidade com
que se assiste à guerra não condiz com
dureza de quem a sofre na pele.
Não bastassem todas as restrições
econômicas normalmente advindas com todas as guerras, as fortes sanções
impostas pela União Europeia e pelos Estados Unidos à Rússia atordoarão países
e pessoas no mundo afora, aprofundando a crise já vivida pelo globo, fruto do
enorme crack de 2008 e da pandemia do covid-19. Combustíveis aumentarão,
alimentos também, assim como produtos industriais. A recessão mundial se
avizinha.
A Rússia fala em 300 dólares o
barril do petróleo, algo descomunal e capaz de levar países e grupos econômicos
à ruína, sem falar nas dificuldades criadas à população em geral.
Os Estados Unidos pensaram que com
as sanções aplicadas quebrariam e retalhariam a Rússia em pequenas
republiquetas, mas o tiro pode sair pela culatra. A Rússia, embora seja
fortemente atingida pelas sanções, já evita a utilização do dólar e do euro, e,
por outro lado, é importante fornecedora de petróleo e gás para a Europa. Sem a
energia russa, Alemanha e França quebram. A Rússia também é grande exportadora
de trigo, com o que se faz o pãozinho do dia a dia, base da alimentação de
quase todos os povos. Além disso, o Brasil depende dos fertilizantes russos,
sem os quais a nossa produção agrícola cairá drasticamente.
Quase todos os países têm
interesses econômicos na pacificação, incluindo aí a Alemanha, França, China e
Brasil, dentre muitos outros. Interesses humanitários na pacificação, no entanto,
parecem não ser do interesse dos países do globo, que pouco fazem para reunir
Rússia e Ucrânia na mesa de negociações, com propostas efetivas e concretas. Mais
uma vez as pessoas, no caso a população ucraniana, são desprezadas pelas
potências, interessadas apenas no jogo geopolítico com repercussão econômica.
O Brasil, enquanto isso, já vive
uma grave crise, com um enorme número de desempregados e de miseráveis, muitos
deles sem acesso a alimentos e moradia.
Ainda que pelo caráter econômico,
quando deveria ser também e primordialmente pelo aspecto humanitário, o Brasil
deveria ser um grande interlocutor no processo de paz. O silêncio do governo
brasileiro não só envergonha o país e apaga o passado glorioso de nossa
diplomacia, mas nos leva ao agravamento da ruína econômica vivenciada. Se nada
mudar, o caos social, em um país acostumado ao silêncio frente às graves
injustiças econômicas e sociais, se avizinha.
Pensado ou não como salvação de
um governo em frangalhos, através de um golpe, o caos social não interessa a
nenhum empresário ou cidadão, nacionalista ou não.
O caos só interessa àqueles que o
cavaram e nada fazem para mudar, pensando em sua sobrevivência política através
da adoção de medidas extremas.