O Brasil, inicialmente colonizado por povos africanos (Luiza), asiáticos e da oceania (povos indígenas - segundo pesquisas), foi invadido por europeus a partir de 1500, que matavam ou escravizavam os indígenas que por aqui encontravam. Logo em seguida, a fim de garantir o mercado negreiro, trouxeram os africanos à força, escravizados, para trabalhar nas fazendas e nas casas da elite, sendo largados à própria sorte e não integrados após o fim da escravidão.
Durante o período colonial, e mesmo do Brasil-Império, já independente de Portugal, foram inúmeras as guerras, sendo a mais sangrenta a do Paraguai, onde o Exército praticou um verdadeiro massacre contra o povo paraguaio.
Já na República, as guerras continuaram, tendo o Brasil participado da segunda guerra mundial (anos 40) e até na da Coreia (anos 50), mas foi no início, logo após a proclamação, que o Exército praticou o maior massacre contra civis, na guerra de Canudos (1897).
Ao lado das guerras, o Exército interveio por inúmeras vezes na política nacional, a começar pela retirada forçada do imperador Pedro II do Poder, através daquilo que foi denominado de Proclamação da República, que teve início como ditadura militar. E os golpes foram sucessivos ao longo do tempo.
Hoje, causa espanto um presidente eleito tentar continuar no poder através de atos contra a democracia, ou seja, por meio de golpe, com o apoio de parte de nossas Forças Armadas.
A articulação para o golpe teve início já no início do mandato de Bolsonaro, com o armamento desmedido de civis, bom a busca de apoio de policiais militares, com o envolvimento das perigosas milícias cariocas e com a cessão de 8 mil cargos civis a militares. O discurso da divisão do país entre nós e os outros também faz parte da articulação para o racha na sociedade civil e a permanência no poder. O ataque inicial ao congresso e a posterior cooptação pelo orçamento secreto, com as permanentes afrontas ao Supremo Tribunal Federal e ao Tribunal Superior Eleitoral também visam minar os freios dos demais poderes da República.
Esse golpe, se houver, não será um golpe como os demais, mas mais truculento, com cooptação descarada dos demais poderes, e com capacidade de grande intervenção na máquina pública e na sociedade civil como um todo, o que nenhum golpe anteriormente foi capaz de fazê-lo.
Quando se diz que a democracia está em risco, ela de fato está, mas há muito mais em risco, a começar pela sociedade como a conhecemos.
Por isso me causa estranheza quando algum profissional do direito, estudante, empresário, religioso, maçom ou qualquer outro diz apoiar o atual governante. O atual governo é antidemocrático, pratica atos que minam a solidariedade e a fraternidade no seio social, não traz qualquer segurança na ordem econômica para os nacionais (priorizando a venda de estatais aos poucos grandes grupos nacionais ou a estrangeiros).
O que está em jogo não é apenas a democracia. Vai muito além. As classes sociais como hoje conhecemos, já estão se modificando com estratificação social, menores salários e a ampliação da concentração de renda em poucos grupos privados nacionais e estrangeiros. Parte da elite dos militares, assim como ocorre no Irã e no Egito, tendem a concentrar o domínio de parte da produção industrial, como já ocorre com a direção de muitas empresas estatais.
A articulação contra o funcionalismo público e a ampliação da terceirização desses serviços, para indicação de apadrinhados, também faz parte do controle da máquina pública e do enfraquecimento da fiscalização dos atos administrativos.
Não se trata de mero golpe. É muito pior e bem articulado, que já está a se infiltrar profunda e rapidamente nas estruturas administrativas e sociais.
O Brasil da 6ª maior economia do globo já caiu para a 13ª posição em pouquíssimos anos e tende a recuar mais, com a dilapidação do patrimônio público e repartição entre os reduzidos grandes grupos nacionais, empresas estrangeiras e uma elite escolhida de militares.
De um país respeitado no mundo afora, seremos vistos como uma Venezuela, Irã ou Egito, mas sem pirâmides ou grandes belezas que interessem aos turistas, receosos com a ampliação do crime organizado.
A democracia e a estrutura política e social do Brasil estão em risco. Só não vê quem já foi intelectualmente cooptado pelo massivo discurso segregacionista, repleto de engrandecimento do personagem líder através de bombardeios de fake news. O mal que se faz e fará ao Brasil será pior que as muitas guerras que já enfrentamos ao longo da história. Não podemos permitir. Defendamos nossas instituições republicanas enquanto pudermos. O Brasil depende de nós, de cada um de nós. Alertemos aqueles que ainda não foram integralmente cooptados pelas mentiras e pelo discurso de ódio. Juntos haveremos de derrotar esse mal no seio de nossa terra. Sim, trata-se de mal, de um golpe não apenas político, mas contra a essência do Brasil, nossa formação, democracia e participação social.