Há um tema polêmico, repleto de falsos moralismos e falsas liberdades. Estou falando das drogas denominadas ilícitas.
O tema é extremamente vasto e por isso terei que me ater àquelas drogas naturais e sintéticas que a lei considera ilegais, abstendo-me de tratar de drogas tão perigosas quanto, como o álcool e os remédios faixa preta que criam dependência.
Há um século as drogas eram liberadas e o consumo ocorria nos grandes centros. Hoje, essas mesmas drogas (com exceção ao álcool) são proibidas em nosso país e o consumo ocorre em todos os cantos, desde as grandes cidades até as áreas mais afastadas dos centros urbanos e rurais. É um mal a que o governo fecha os olhos, enquanto a riqueza e o poder do crime organizado, que também trafica interna e externamente essas drogas, cresce.
O Brasil adota a política estadunidense de combate às drogas e prevê o tratamento dos dependentes. Enquanto o combate às drogas aumenta, com compra de aviões, helicópteros e armas pelo Estado, por outro lado a corrupção alcança alcança alguns membros das forças armadas, da polícia, do Ministério Público, do Judiciário, dos legislativos municipais, estaduais e federal e até os Chefes do Executivo. A droga cria pequenas e grandes fissuras nos organismos estatais.
O crime organizado não apenas comanda jogos ilegais, o tráfico e redes de prostituição. Ele atua onde a sociedade civil e o Estado falham, seja na segurança de determinadas áreas, no fornecimento de gás e também de tevê e internet (o famoso "gatonet"). Para esquentar o dinheiro ilícito, abrem restaurantes, postos de gasolina e até lotéricas.
O crime organizado está em todas as esferas e áreas de nossa sociedade, inclusive no comercio dito legal, além do ilegal.. E o combate às drogas, além de não diminuir o poder dessas enormes organizações criminosas, não tem diminuído o consumo das drogas. Ao contrário, o crime organizado tem se fortalecido e se expandido para áreas anteriormente inimagináveis, enquanto o consumo de drogas alcança todas as classes sociais.
Os mais ricos utilizam drogas mais caras e também aquelas que a sociedade glamouriza. Os pobres utilizam as drogas naturais e sintéticas mais baratas. Todas elas, sem exceção, são perigosas, criam rede de crianças e adultos que, em troca do uso de armas e uns trocados, trabalham para os pequenos e grandes traficantes e põem a sua vida em risco. Os usuários, seja o rico ou o pobre, quando não é dependente, está a um passo de sê-lo, e a história de mal menor apregoada por parte da imprensa é balela, pois droga é droga e cria dependência que deveria ser sanada de imediato, com o apoio da família, da sociedade e do Estado.
Há os meros usuários e os dependentes. Os primeiros conseguem levar sua vida, trabalhando e estudando, com o uso eventual de entorpecentes. Grande parte dos dependentes não consegue viver sem o uso frequente de suas drogas e põe sua vida em risco.
Obviamente, tanto um quanto outro fomentam o crime organizado, o trabalho infantil da pior espécie nas favelas (erroneamente pincelada como comunidades). e crimes relacionados, como tráfico de armas, corrupção ativa e assassinatos. É a consequência do chamado "uso recreativo" que os usuários não conseguem enxergar.
Aos usuários chamados recreativos deveria haver uma conscientização e campanha educacional com propostas de trabalho comunitário. A responsabilização é uma chave na correção de rumo.
Não estamos em um Uruguai ou na Europa. Aqui o tráfico que abastece o mercado chamado recreativo corrompe famílias e crianças das periferias e de nossas comunidades (Favelas), e por isso há a necessidade de conscientização dessa população que usa tais substâncias, enquanto a sociedade, como um todo, apodrece.
Aos dependentes, o tratamento voluntário do vício é a grande saída. Mas há aqueles que de tão dependentes da droga já perderam a capacidade volitiva, e o seu único prazer é a droga, normalmente o crack ou a cocaína, aqui no Brasil. A esses, alguns técnicos e estudiosos dizem que eles é que devem escolher o tratamento, face ao princípio da liberdade.
Como assim escolher se muitos deles já perderam a capacidade volitiva? Em razão da vida ser o princípio e o bem maior previsto pela nossa Constituição, em seu artigo 5º, "caput", tanto a sociedade, como a família e o Estado têm a responsabilidade e o dever de tentar salvar a vida, única coisa, ainda que extremamente fragilizada, que resta do dependente que já não se expressa. O silêncio da sociedade, da família e do Estado, nesses casos, deveria implicar em responsabilização, pois se está silenciando e omitindo frente a um verdadeiro suicídio homeopático, visível a todos, e digo isso em relação ao dependente que já não se expressa coerentemente e perdeu a capacidade volitiva de escolha frente à droga.
A ação, o cuidado e a responsabilidade é que deveriam permear e ser prioridades nas ações que envolvem os drogaditos, inclusive nas cracolândias espalhadas pelo Brasil afora. Assim, aos dependentes que já não conseguem exprimir vontade outra que não o uso do entorpecente, a internação mediante a intervenção e fiscalização do órgão do Ministério Público deveria ser de rigor.
O Brasil não pode fechar os olhos aos dependentes que já não conseguem se exprimir. O resultado dessa omissão todos veem: morte precoce dessa população, envolvimento dessa população em crimes contra o patrimônio, crescimento do crime organizado e formação de enormes cracolândias pelo Brasil afora, assustando a sociedade civil e atrapalhando o comércio de rua.
Quando o tratamento da saúde, com política social conexa, e a responsabilização dos usuários recreativos e dos agentes públicos omissos será uma realidade?
O que verdadeiramente importa é o tratamento da saúde, que inclui políticas sociais, englobando o drogadito e a sua família, com apoio psicológico e social, incluindo aí a profissionalização e emprego. O resto é papo furado, dinheiro jogado fora, perda de tempo e de vidas humanas, além de facilitação para o crescimento do tráfico.
Lembre-se que a prisão ou morte de um traficante não implica na debilitação do crime organizado. Eles cooptam um substituto ou um número maior para substituir. É o poder do dinheiro e político dessas organizações criminosas que deveria preocupar as autoridades policiais.
Do jeito que está, as vidas humanas, as grandes e médias cidades, a sociedade civil e o Estado brasileiro correm sério risco!