Do mundo bipolar, da guerra fria,
entre o bloco ocidental, liderado pelos Estados Unidos, e o comunista, liderado
pela então União Soviética, ao mundo binário, de apenas duas peças, duas
identidades ou dois elementos, adotado não apenas pelos humanos, mas até pelo
sistema computacional, que tem ditado as regras da suposta modernidade.
O mundo, tão repleto de
diversidade, de multiplicidade de vidas, formas, cheiros, cores e existências,
têm-se limitado com as sociedades humanas, principalmente a do último século.
Deixamos de viver um mundo
cultural, política e economicamente dividido em dois grandes polos adversos,
para viver um mundo único, dividido em apenas duas supostas possibilidades: dois
números, nós e os outros, o bem e o mal, direita e esquerda...
Deixamos de lado a realidade universal
da diversidade e multiplicidade para vivenciar abstrações humanas irracionais e
que têm conduzido a nossa espécie a um estilo de vida incompatível com a
sobrevivência de nossa raça e de todos os outros tipos de vida do nosso
planeta.
Embora 4% da população brasileira
e talvez mundial diga-se transexual e “não binária” (que não se limita à
identidade masculina e feminina), o assassinato de homossexuais e transexuais é
crescente. O Brasil é recordista e responsável por mais de 3% desses
assassinatos no mundo todo.
A economia e as grandes riquezas
crescem, concentrando-se cada vez mais em poucas pessoas, ao mesmo tempo em que
não se estancam as guerras, a crescente fome, o crescente número de refugiados,
o crescente número de dependentes de drogas, o crescente número de moradores de
rua e o crescente número de desempregados.
A economia não tem servido ao homem,
mas, ao contrário, o tem desumanizado.
O comércio sempre existiu entre
os humanos, desde a mera troca de comida. Mas não se pode confundir as relações
comerciais existentes na antiguidade com o capitalismo predatório que vemos
hoje.
O Estado, inclusive o brasileiro,
ao invés e servir às pessoas, têm servido aos modelos econômicos, enriquecendo
não a sua população, mas poucas dezenas de pessoas, a quase totalidade de
estrangeiros.
Mesmo com a crise social
demonstrada parágrafos acima, como com a crise ambiental, ambas escancaradas e
amplamente perceptíveis, a economia trafega da mesma forma, como se nada de
anormal houvesse.
E nesse sistema de
irracionalidade, que domina os cenários políticos mundiais, apenas são eleitos
os políticos que se curvem a este cenário. E é nessa realidade que têm surgido
a extrema direita que, anacronicamente, ao invés de se rebelar contra o modelo
econômico, revolta-se contra os avanços sociais.
A extrema direita tem crescido
não como adversária do sistema econômico, mas como adversária do pouco avanço social
que tivemos, de integração de minorias e de legislações mais modernas.
O sistema e o mercado ditam as
regras e quem manda nos países.
A direita cede espaço à extrema
direita, enquanto a esquerda, que deveria contestar amplamente o modelo
econômico, se limita a defender valores também importantes ligados a aspectos
sociais, mas que sozinhos não resolverão o problema criado pelo sistema
econômico, a razão maior de nosso regresso civilizacional.
A esquerda se limita e por isso
se faz importante uma nova esquerda, como bem lembra Ciro Gomes.
E enquanto a esquerda não
desperta, a extrema direita mundial cresce, trazendo o risco de novos conflitos
internos e de grandes guerras mundiais, com possibilidade de uso de armas atômicas.