Não podemos atacar a
extrema direita dos Estados Unidos e fingir que no Brasil a extrema direita não
existe. Ela está aí, firme e forte, se municiando de páginas de notícias,
espalhando fake news e se armando (sim, de armas de fogo) como nunca.
A direita estadunidense
acredita em um mito, o de que Trump seria um guerreiro contra comunistas e pedófilos,
e o apoia.
A direita brasileira
acredita também em um mito, o de que Bolsonaro é um predestinado e perseguido
pela mídia tradicional e pelo sistema político, mas esse mito, ao contrário do
que ocorreu nos Estados Unidos, foi criado pelo próprio Bolsonaro. Lá, Trump
abraçou a extrema direita para ganhar espaço e independência em relação aos
tradicionais eleitores do Partido Republicano. Aqui, Bolsonaro fomentou o
extremismo, com discursos de ódio a comunistas, chineses, negros, indígenas,
feministas, homossexuais, petistas, TV Globo, Folha de São Paulo, e assim foi
ganhando a simpatia daqueles que não votaram por amor a uma ideia, mas por ódio
àquilo que rechaçavam, no caso o que julgavam o que o PT representava.
A extrema direita
estadunidense odeia latinos, negros, judeus, árabes e islâmicos. Rechaça a
globalização e culturas diferentes. Quer a volta dos Estados Unidos ao topo do
poder econômico mundial e dos valores que julga tradicionais, mesmo que datem
de séculos e prega que o indivíduo é o herói da pátria que deve estar armado.
Bolsonaro tenta copiar
essa ideia nada compatível com a realidade brasileira e deseja fomentar o
armamentismo dos radicais que o idolatram e o apoio das policiais civil,
militar e federal, além das Forças Armadas. Ele deseja assegurar o poder, ainda
que ilegítimo, através da força das armas.
Hoje, mesmo com mais de
207 mil mortos por covid-19, grande parte em razão de uma política inexistente
do governo federal no combate efetivo ao novo corona vírus, mas com a persistente
proliferação do negacionismo, alardeando que máscaras não evitam a pandemia,
que vacinas não são a solução e que pegar o sars-cov-2 é a melhor arma para
sairmos da pandemia, muitos eleitores ainda continuam a dar crédito a tudo o
que o seu mito diz e faz.
O ódio com que muitos votaram
contra o PT criou o monstro que vemos hoje, que espalha o ódio condensado nos
60% de votos recebidos, pregando sempre o desvalor à vida humana, representado
inclusive na forma de “combate” à pandemia.
Bolsonaro, hoje, já não
tem mais 60% de apoio popular. As pesquisas apontam 40%. Ou seja, ele já perdeu
pouco mais de 30% do seu eleitorado, e perderá mais. Ele aplica, como populista
que é, mas muito rusticamente, uma teatral e triste política do pão e do circo.
Os discursos de ódio
duram por certo tempo, mas nunca por todo o tempo. As pessoas, como é comum, esperam
realizações que lhes tragam esperança, e isso o mito delas não será capaz de
fazer, pois ele só é capaz de criar fantasias, desesperanças e ódios. Ele nada constrói
e nada construirá. Ele rompe a secular história de nossa diplomacia, rompe
nossa tradição científica, rompe as relações harmônicas com nossos vizinhos, a
China e a Europa. E os eleitores, salvo cerca de 15 ou 17%, também romperão com
ele, não agora, mas muito provavelmente já ao longo deste ano. Por isso, afirmo
com segurança que ele, se não sofrer processo de impeachment antes, e for
candidato à reeleição, não chegará ao segundo turno e que dificilmente passará
do 4º lugar.
Agora ele ainda consegue
persuadir, enganar e criar falsos enredos, mas isso está com os dias ou meses
contados.
Após a pandemia, com a
vacina, a realidade começará a se assentar e o ódio propagado por Bolsonaro se
voltará contra ele próprio.
Independentemente dos
escândalos de corrupção que venham a ocorrer, e surgirão, com ou sem a presença
do “centrão”, Bolsonaro perderá rapidamente a popularidade.
Quando empresários e a
população em geral perceberem que o ódio não traz a segurança e o dinheiro que
esperam, e que a pandemia não é única culpada pela crise econômica que devasta
o Brasil, se voltarão contra o Bolsonaro. Permanecerão com ele apenas os que
realmente são de extrema direita e que, independentemente de condenação por
corrupção ou por crime de responsabilidade, permanecerão fieis ao mito do
extremismo e da pregação contra a vida.
A eugenia representada
pela pandemia, que mata os mais vulneráveis, principalmente os idosos e os que
apresentam doenças preexistentes, é a bandeira de toda extrema direita, e por
isso não a combatem com eficiência. Para eles a pandemia é uma dádiva que assegurará
que apenas os mais fortes sobrevivam. Não é de se estranhar que os 4 primeiros
colocados em morte e contágio pelo covid-19 sejam países, hoje, sob o comando
de uma direita extremada (Estados Unidos, Brasil, Índia e Rússia).
A extrema direita que já
votou em Enéas e Maluf, continuará a existir, sem que os brasileiros a
compreendam e adotem medidas para evitar que ela chegue ao poder, devastando o
pouco que resta de nosso sofrido país.
O discurso nacionalista
fica só no discurso. A extrema direita é entreguista. Sempre foi. Sempre se
aliou aos Estados Unidos para dar a eles nossas empresas, terras e riquezas.
A extrema direita odeia a
democracia e sempre pregou a defesa das armas. Para ela, o poder tem que
pertencer aos eleitos e odeia as minorias e muitas das maiorias.
A extrema direita
brasileira é oportunista e se aproveita das circunstâncias para sempre voltar
ao poder. Foi assim em 1964 e em 2018.
A extrema direita
brasileira é uma vergonha mundial. Nem a extrema direita europeia consegue
conviver com uma extrema direita burra e anacrônica como é a nossa.
Mas quantas mortes de nossos compatriotas ainda
precisarão ocorrer para que o nosso povo enxergue o perigo da extrema direita brasileira,
o que ela representa e o que ela realmente quer?