quarta-feira, 31 de março de 2010

Avós recuperam 101° neto sequestrado pela ditadura

Essa matéria não poderia deixar de ser publicada e tem muito a ver com esse dia 31 de março, dia do golpe aqui no Brasil e que teve reflexos em toda a América do Sul e nos posteriores desmandos, como deposição ou assassinato de presidentes, torturas, silêncio imposto a intelectuais e imprensa. Época que não deixa saudade, mas deixou marcas.
Esse filho e esse pai, retratados pela câmara de algum fotógrafo da imprensa argentina, são exemplos vivos de que as ditaduras deixaram marcas, presentes e vivas não na imaginação, mas na vida real, no dia-a-dia de muitos brasileiros e também latino-americanos.
À sorte desse jovem de ter descoberto o seu verdadeiro pai e à sorte desse pai de ver o fruto do seu amor com a falecida mãe aparecer sorridente e feliz, posto essa matéria, em homenagem, sim, a esses homens simples e idealistas, que um dia sonharam e agora têm mais motivos para sonhar.

Página 12 (com Redação Carta Maior)

Sequestrada por militares argentinos, Silvia Mónica Quintela deu à luz no cativeiro e acabou assassinada no centro clandestino de detenção Campo de Maio. Seu marido, Abel Pedro Madariaga, conseguiu sobreviver à ditadura militar e, ao voltar do exílio, incorporou-se ao movimento das Avós da Praça de Maio para procurar seu filho. Encontrou-o há poucos dias. O 101° neto encontrado chama-se Francisco Madariaga Quintela. O responsável pela "adoção" da criança sequestrada, o capitão aposentado e ex-carapintada Victor Alejandro Gallo, foi preso sexta-feira.


 
A Associação das Avós da Praça de Maio apresentou nesta terça-feira (23) numa coletiva de imprensa, todos os detalhes que permitiram recuperar o neto 101, que durante mais de trinta anos foi privado de sua identidade por seus apropriadores. Francisco Madariaga Quintela é filho de Silvia Mónica Quintela, sequestrada e assassinada no centro clandestino de detenção Campo de Maio. Seu pai, Abel Pedro Madariaga, conseguiu sobreviver e, depois de voltar do exílio, uniu-se à Associação das Avós para iniciar pessoalmente a busca de seu filho, no que constitui um caso inédito neste tipo de investigação. Enquanto isso, o responsável pela "adoção", o capitão aposentado e ex carapintada Victor Alejandro Gallo foi detido na última sexta-feira.

Silvia Quintela foi sequestrada pela ditadura militar na manhã de 17 de janeiro de 1977, em Florida, província de Buenos Aires, quando estava grávida de 4 meses. Às 9 e meia da manhã, enquanto caminhava pela rua Hipólito Yrigoyen em direção à estação de trem para encontrar-se com uma amiga, foi rodeada por três veículos. Um grupo à paisana que pertencia ao Primeiro Corpo do Exército jogou-a-a num dos Ford Falcon e levou-a para um local desconhecido. Silvia era médica e tinha nesse momento 28 anos; dedicava parte de seu tempo à militância na Juventude Peronista e a cuidar de pessoas carentes numa clínica em Beccar, em Buenos Aires. Seu companheiro, Abel Madariaga, secretário de imprensa e difusão da organização Montoneros, foi testemunha, mas conseguiu escapar. Nessa mesma tarde, outro grupo invadiu a casa da mãe de Silvia e lá a comunicaram que ela tinha sido detida.

Exilado primeiro na Suécia, em 1980, e depois no México, Madariaga regressou temporariamente a Argentina em 1983, onde entrevistou vários sobreviventes do centro clandestino de detenção Campo de Mayo. Quando regressou permanentemente, uniu-se às Avós, ocupando o cargo de secretário, para encabeçar pessoalmente a busca pelo local de detenção de sua companheira.

Testemunhas forneceram informações sobre esse local e sobre a data de nascimento de seu filho, que depois foi "adotado". Beatriz Castiglione, sobrevivente do El Campito e companheira de detenção de Silvia, junto a outras grávidas, ratificou que a viu presa no Campo de Maio e lembrou que seu pseudônimo no centro clandestino era “Maria”. Então ela já estava no seu sétimo mês de gestação.

Outro testemunho chave foi o de Juan Carlos Scapati, com quem Quintela esteve detida. Na sua declaração, Scarpati afirmou que foi atendido pela médica numa lugar chamado Las Casitas – dentro do CCD Campo de Maio -, em virtude das feridas que lhe haviam causado quando o detiveram. O mesmo testemunho assegurou que Quintela deu à luz fora da sala de partos do El Campito, quando os partos começaram a se realizar com cesárias programadas no Hospital Militar do Campo de Maio. “Pude ficar algumas horas com ele”, comentou Silvia, ao reincorporar-se no dia seguinte, já sem seu bebê e com a promessa de seus raptores de entregá-lo a sua família.

O capitão do exército aposentado e ex-carapintada Victor Alejandro Gallo foi preso na sexta-feira passada, quando tomava conhecimento do resultado dos exames de DNA. Gallo é acusado agora de apropriação ilegal de um menor de idade; ele também tinha sido condenado a dez anos de prisão, em 1997, pela Câmara Penal de San Martin. Neste caso, foi julgado culpado dos delitos de roubo qualificado, porte de arma de guerra, privação ilegal da liberdade e coação, junto a outras duas pessoas que a Justiça condenou pelo chamado Massacre de Benavidez, ocorrido em 6 de setembro de 1994.

A coletiva de imprensa em que pai e filho se apresentaram juntos pela primeira vez ocorreu nesta terça. As Avós revelaram de que modo conseguiram recuperar a identidade do neto número 101, e a rede de cumplicidades que permitiu sua apropriação.

Leia abaixo o informe das Avós sobre o encontro de Francisco:

“Buenos Aires, 23 de fevereiro de 2010
Encontramos outro neto, o filho do Secretário das Avós da Praça de Maio
As Avós da Praça de Maio queremos comunicar que encontramos outro neto que durante mais de 32 ano viveu privado de sua identidade. Francisco Madariaga Quintela é filho de Silvia Mónica Quintela e Abel Pedro Madariaga, ambos militantes da organização Montoneros. Silvia foi sequestrada em 17 de janeiro de 1977 em Florida, Província de Buenos Aires, grávida de quatro meses. Seu companheiro Abel sobreviveu e partiu para o exílio. Em 1983, de volta a Argentina, empreendeu pessoalmente a busca de seu filho e se incorporou à Associação.
Silvia nasceu em 27 de novembro de 1948, na localidade de Punta Chica, comarca de San Fernando. Estudou medicina na Universidade de Buenos Aires (UBA) e, no momento de seu sequestro, estava terminando sua residência como cirurgiã no Hospital Municipal de Tigre. Foi detida em Florida, zona norte da Grande Buenos Aires, na interseção das ruas Hipólito Yrigoyen e as vias do Ferrocarril Mitre. Militava na Montoneros. Seus companheiros a conheciam como “Maria”.
Segundo testemunhos de sobreviventes, Silvia permaneceu no Centro Clandestino de Detenção “El Campito”, no Campo de Maio, e em julho de 1977 passou por uma cesária no Hospital Militar da dita guarnição. Silvia, de 28 anos, deu a luz a um menino, a quem – como desejava com seu companheiro – chamou de Francisco.
O caso de Silvia Quintela se soma aos de Norma Tato de Casariego e Beatriz Recchia de Garcia, desaparecidas grávidas do CCD “El Campito”, que também deram a luz no Hospital Militar e cujos filhos foram apropriados por repressores. Felizmente, os três casos foram resolvidos pelas Avós e a Justiça determinou a restituição da identidade dos jovens.
Abel nasceu em 7 de fevereiro de 1951, na cidade de Panamá, província de Entre Rios. Cursou agronomia na UBA até que foi expulso, com a intervenção do exército na Universidade. E, assim como Silvia, militava na coluna norte de Montoneros. Pouco depois do sequestro de sua companheira, exilou-se na Suécia, mais tarde no México, até que regressou ao país, em 1983. Desde então, integrou-se às Avós e com os anos se tornou coordenador das equipes técnicas, sendo atualmente secretário da instituição.

A busca familiar

As avós Sara Elena de Madariaga e Ernestina “Tina” Dallasta de Quintela se dedicaram à busca de Francisco durante a ditadura. As avós, junto a suas companheiras, escreveram e se aproximaram do Ministério Público o quanto puderam, mas, como em todos os casos, lhes fecharam as portas. Em 1983, de volta do exílio, Abel empreendeu a busca pessoalmente, então se incorporou ativamente às avós e foi encarregado de desenvolver grande parte das estratégicas de difusão das Avós para convocar os jovens que, como seu filho, tivessem dúvidas sobre sua identidade.

A Busca de Francisco

Francisco se aproximou das avós em 3 de fevereiro último, com o nome de Alejandro Ramiro Gallo, dizendo que acreditava ser filho de desaparecidos. Desde há muito tempo tinha dúvidas sobre sua identidade, e por isso decidiu perguntar à mulher que dizia ser “sua mãe” se tinha informações sobre sua origem. Foi então que a senhora Inés Susana Colombo confessou que o tinham trazido do Campo de Maio e que havia a possibilidade de ele ser filho de desaparecidos.
Com essa informação, Francisco decidiu aproximar-se das Avós para começar a sua busca. O jovem se apresentou acompanhado por Colombo, que disse que seu ex-marido, chamado Victor Alejandro Gallo, era oficial da inteligência do Exército argentino e que, no ano de 1977, lhe disse que havia um bebê abandonado no Hospital Militar do Campo de Maio, ao que ela teria respondido: “como ia deixar um bebê abandonado, que o tragam “(sic).
Colombo relatou que finalmente Gallo levou o bebê para a sua casa em 10 de julho de 1977, e acrescentou que o bebê ainda tinha o cordão umbilical, o que indicava que tinha nascido havia muito poucos dias.
Tanto Francisco como Colombo indicaram que Victor Gallo dispensava um trato violento a ambos, relatando minuciosamente diversas agressões físicas e psicológicas. Gallo, que trabalhava como oficial do exército durante a última ditadura, também conta na sua história ter sido membro do batalhão 601. Já na democracia participou do roubo de uma empresa financeira, na década de 80, e de um ato criminoso, no qual assassinou a uma família, que ficou conhecido como “O Massacre de Benavidez”, pelos quais foi condenado e esteve preso. A ficha corrida desse homem traz também sua participação nos “levantes carapintadas” ocorridos nos anos 80, entre outras coisas. Atualmente, até a sua detenção na última sexta-feira, trabalhava como empresário de uma empresa de segurança privada, sendo “dono” da empresa Lince Seguridad”.

Na entrevista, Colombo assinalou que, apesar de estar divorciada e de não guardar vínculo com Gallo, antes de ir às Avós da Praça de Maio ela o chamou para que lhe dizer que “Ramiro” estava duvidando de sua identidade. Casualmente, depois disso Francisco sofreu dois incidentes que vinculou às circunstâncias de que Gallo tinha se inteirado da busca iniciada.

O relato de Francisco e de Colombo fazia com que se suspeitasse de que se tratava de um filho de desaparecidos, pelo que, de imediato solicitaram à Comissão Nacional pelo Direito à Identidade (CONADI) que lhes concedessem uma agenda para a realização do exame de DNA. No dia seguinte, 4 de fevereiro, Francisco foi ao Banco Nacional de Dados Genéticos para deixar as primeiras mostras que lhe devolveram sua verdadeira identidade.
O Encontro
Na quarta-feira, 17 de fevereiro, a juíza Sandra Arroyo, do Juizado Federal N° 1 de San Isidro, chamou a Associação para que comunicasse ao secretário da instituição que tinham encontrado seu filho. Abel não se encontrava na capital, de modo que fomos atrás dele para contar-lhe; neste mesmo dia companheiros e pessoas queridas o esperavam na sede das Avós para abraçá-lo e acompanhá-lo neste momento que ele esperou por mais de 30 anos. Enquanto isso, Francisco se encontrava com integrantes das Avós, com quem desde que se aproximou da organização esteve em contato, para contê-lo e acompanhá-lo. Nesse momento, comunicaram-lhes o resultado e Francisco quis conhecer seu pai nas Avós.
Desde então, pai e ilho não deixam de estar juntos, compensando os anos roubados de vida e emocionando a todos os que participaram dessa luta. “Não podiam”, disse Francisco quando abraçou seu pai pela primeira vez. Esse é o ensinamento que nos traz cada restituição e nos enche de energia e esperanças para encontrar a todos os que faltam”.

Tradução: Katarina Peixoto

terça-feira, 30 de março de 2010

UM ESCRITOR EXIGENTE PARA LEITORES EXIGENTES

CAROS AMIGOS

Por Hamilton Octavio de Souza, Lúcia Rodrigues, Renato Pompeu e Tatiana Merlino. Fotos: Jesus Carlos.

O escritor Milton Hatoum é um fenômeno na literatura brasileira contemporânea: seus livros conquistam o grande público e o mercado, mas ele não faz parte do círculo de escritores de auto-ajuda ou baixa literatura. Autor de quatro romances sérios, densos, e de um livro de contos, Hatoum escreve devagar, faz inúmeras versões e revisões antes de lançá-los, revela que não gosta de publicá-los. Lançou Relato de um certo Oriente em 1989, que recebeu o Prêmio Jabuti. Dez anos depois, em 2000, lançou Dois Irmãos, que recebeu outro Jabuti e foi traduzido em oito idiomas. Em 2005, lançou Cinzas do Norte, que recebeu o terceiro Jabuti e vários outros prêmios. Em 2008 publicou Órfãos do Eldorado e, em 2009, lançou o livro de contos A cidade ilhada. Todos cairam no agrado do público, especialmente dos professores de português, letras e literatura, e dos leitores mais exigentes. Para muitos, a sua escrita lembra um clássico da literatura brasileira. Veja o que diz o escritor.

Renato Pompeu - Você levou 10 anos entre o primeiro e o segundo romance, né?

Milton Hatoum - 10 anos, estava encalhando no “Relato de um certo Oriente”.

Renato Pompeu - E como foi essa experiência?

Eu tentei escrever outras coisas e depois de ter publicado o Relato..., em 89, eu fiz uma tradução. Entre elas, um livro do Edward Said, Representações do Intelectual. Traduzi um livrinho do Marcel Schwob, que é um escritor francês desconhecido. Escrevi também alguns contos que depois foram reunidos nesse livro e trabalhei durante anos em um romance que não publiquei porque se tornou um texto enorme, de mais de 800 páginas. Eu achei indecoroso publicar um texto que sofria de elefantíase. Não que eu não tenha gostado, é que naquele momento eu não tinha fôlego para reescrever e cortar muitas coisas. E foi um momento complicado, por que a universidade nos solicitava muito e eu não tinha muito tempo para ler e para escrever.

Renato Pompeu - A impressão que dá é que tendo em vista o sucesso imediato que o primeiro livro teve, aumentou a sua responsabilidade em relação ao segundo. A impressão que dá é que você criou uma expectativa em corresponder, não foi isso?

Não. Eu não sou muito ligado em sucesso. Eu considero a literatura uma parte da minha vida, e eu acho a vida muito mais complexa do que a literatura. É claro que quando você é elogiado por críticos, bons críticos, bons leitores, você fica contente e depois, de fato, se empenha em escrever alguma coisa que valha a pena. Mas eu não me senti inibido, tanto que eu escrevi uma coisa com muito pouca inibição, aliás, me soltei tanto, fui tão caudaloso que disse a mim mesmo que isso não podia ser publicado, pelo menos como está. Aí eu guardei, até porque eu não gosto de publicar muito, não sei dizer por quê.

Renato Pompeu - Quantos livros publicados você tem?

Então, eu tenho cinco livros em 20 anos. O “Relato” fez 20 anos em 2009, não é muito...

Tatiana Merlino - São quatro romances e um livro de contos, né?

Sim, é isso.

Lúcia Rodrigues - O senhor disse que as pessoas não têm poder, por exemplo, de publicar um livro por ano. Por que o senhor acha que acontece isso?

Porque muita gente publica qualquer coisa. Muitas vezes as pessoas não são exigentes consigo mesmas... Talvez a literatura, o que os americanos chamam de entertainment, de entretenimento, de uma mera diversão seja vitoriosa e também a literatura, vamos dizer, comercial tenha uma importância hoje muito maior do que uma literatura mais elaborada, e num país como o Brasil é difícil você encontrar um público leitor mais exigente, embora eu não possa reclamar disso porque os meus livros, sobretudo o Dois irmãos e o Cinzas do Norte alcançaram um público considerável para os padrões brasileiros, muitíssimo além das minhas expectativas. Mas literatura hoje é feita por qualquer pessoa que publique seus diários na internet, um blog. Acabam publicando um livro e nomeando isso de literatura. Eu acho que há aí uma falta de julgamento ético e estético sobre a obra literária, a obra de arte.

Lúcia Rodrigues - O que precisaria ocorrer para que a literatura fosse de fato uma literatura e não meramente um jogo de informações? O que poderia ser feito para mudar esse tipo de coisa?

A pressão do mercado cresceu exponencialmente nos últimos 20 anos, eu lembro que quando eu publiquei o Relato em 89, ninguém me pediu para publicar outro livro em um determinado tempo, você não se sentia pressionado. O mundo era um pouco diferente. Eu acho que hoje essa relação do sucesso com a venda é uma relação... é só você ver o caso da auto-ajuda, do Paulo Coelho ou de vários outros escritores de auto-ajuda. Eles são considerados escritores e alguns são até mesmo da Academia Brasileira de Letras. Acho que faltam critérios críticos.

Lúcia Rodrigues - Como é que você vê os livros do Paulo Coelho?

Eu nunca li, não posso julgar porque eu nunca li.

Lúcia Rodrigues - Você considera literatura?

Eu não sei, eu desconheço a obra dele, mas certamente não seria um autor preferido para mim. Talvez porque a literatura brasileira já tenha uma tradição. A meu ver, o romance mais inventivo da língua portuguesa é o “Grande Sertão Veredas”. Foi um grande acontecimento para a literatura de língua portuguesa, mas só os portugueses sabem disso. Então um Graciliano Ramos, um Machado de Assis, Clarice Lispector.. Acho que há uns seis ou oito escritores- do Machado até os anos 70 - que estão dizendo para você que está escrevendo hoje: ‘Olha, existe aí alguma coisa a ser feita e isso não pode ser ignorado’.

Lúcia Rodrigues - Por quê?

Basta ligar a TV. Tudo que a gente consome do ponto de vista “cultural”, essa cultura massificada, ela é uma cultura totalmente sem conteúdo, totalmente alienante. O que a gente importa dos Estados Unidos? Eu não sou antiamericano, porque eu gosto da literatura, da cultura popular americana, gosto do jazz, do blues, gosto dos grandes músicos americanos. Mas o que chega no mundo como cultura americana? O que há de pior! Se a cultura americana for Madonna ou Beyoncé eu to fora. Ou se forem os grandes romances que são escritos para serem filmados sem nenhuma … Então essa cultura é uma cultura que sequestrou o lugar que a literatura tinha até os anos 70.

Tatiana Merlino - Eu queria voltar um pouco e perguntar como foi que começou a sua relação com a literatura. Você tinha 37 anos quando lançou o seu primeiro livro. Antes disso como é que se iniciou a sua relação com a literatura? Você já escrevia?

Eu comecei escrevendo uns artigos em um jornal estudantil no Colégio Pedro II, em Manaus, colégio estadual do Amazonas. Um jornal chamado “Elemento tempo feio”, que protestava contra o golpe militar, contra a ditadura, aliás este jornal é citado no “Cinzas do Norte”. Um jornal estudantil, né? Lá eu publiquei o meu primeiro artigo e depois, acho que quando eu tinha 15 anos, fui morar em Brasília sozinho, com mais dois amigos que por coincidência fundaram este jornal. O Aurélio Michilis e o Enéas Valle. Em Brasília eu estudei em um colégio de aplicação, que foi criado pelo Darcy Ribeiro, pelo Anysio Teixeira, era o Centro Integrado de Ensino Médio que pertencia à Universidade de Brasília (UnB). E em Brasília eu publiquei um poema no Correio Brasiliense contra a guerra do Vietnã, um poema muito panfletário. Assim eu comecei a escrever, eu tive bons professores na escola pública, então eu li alguns livros importantes.

Tatiana Merlino - Quais são as suas referências na literatura brasileira?

Um livro que me impressionou foi Capitães de areia e os contos do Machado, que eu li quando a minha mãe me deu as obras completas do Machado. Eu comecei pelos contos, ainda bem, porque com 13 anos...

Lúcia Rodrigues - Quantos anos você tinha quando leu as obras completas do Machado?

Eu tinha 13 anos, mas eu comecei pelos contos, com o “Histórias da Meia-Noite”. Eu achei o título misterioso e adorei o conto. Foi bom porque se eu tivesse começado pelos romances, com essa idade seria mais difícil.

Lúcia Rodrigues - Alguém orientou você a começar por esse ou por aquele?

Não, eu li na lombada Histórias da Meia-Noite e achei que isso tinha alguma coisa de misteriosa. Minha mãe tinha mania de língua, de querer que eu aprendesse línguas. A minha professora de francês tinha uns 83 anos e eu tinha 12. Ela era casada com o cônsul da França em Manaus. Era amazonense, tinha vivido por muito tempo fora, na França, e foi na casa dela que eu vi uma biblioteca que me impressionou. Ela tinha os clássicos franceses encadernados em couro, uma coisa linda, era uma casa antiga com um quintal também exuberante. E ela leu os contos do Flaubert também para mim, traduziu, e Um Coração Simples foi fundamental pra mim tanto que uma personagem de Dois Irmãos, a Domingas, é inspirada nesta Felicité do Coração Simples. E isso me tocou tanto que 35 anos depois eu traduzi esse livro com um amigo, estão lá três contos. Então esses livros foram importantes na minha formação, o Continente do Érico Veríssimo, Vidas Secas também me tocou muito. No colégio estadual eu li trechos, mas isso foi uma leitura obrigatória, uma leitura punitiva, eu li trechos de Os Sertões também, de Euclides da Cunha. Li e fichei e isso foi muito difícil, mas foi fruto de um castigo, de uma bomba que explodiu e a classe toda foi punida.

Renato Pompeu - A bomba explodiu por motivos políticos?

Não, puro vandalismo...

Lucia Rodrigues - E você estava envolvido?

Não, eu não era um santo. Nunca fui, aliás. Mas como não houve delação e era um professor severo, ele puniu a sala toda.

Hamilton Octávio de Souza - A sua formação superior é em que?

Então, aí eu sai de Brasília no fim de 79, não aguentei aquela cidade por causa da repressão. Era uma cidade muito policiada, a nossa escola foi invadida, a UnB foi invadida, o Honestino Guimarães era de lá. Eu sabia quem ele era, participei do movimento estudantil em Brasília e o Honestino depois foi assassinado aqui em São Paulo; ele é um dos desaparecidos, e eu não aguentei aquilo.
Lúcia Rodrigues – Você acompanhou a invasão da UnB?

Eu estava lá na UnB. Foi muito barra-pesada. Aquilo ali era de uma truculência enorme. Os meus amigos ficaram lá e eu vim para São Paulo, em 70. Depois eu entrei na FAU e cursei arquitetura, mas enquanto eu estudava arquitetura eu fui aluno ouvinte no curso de letras. Até o livro do Renato Pompeu, Quatro Olhos, era muito lido naquela época, era muito estudado, ainda é, mas foi lançado quando?

Renato Pompeu – 1976.

Exatamente. Era um dos livros, vamos dizer, mais lidos e estudados. E eu fui aluno do Davi Arrigucci Jr., um grande crítico, do Lafetá, fui amigo do saudoso João Luiz Lafetá, e até o Davi depois assinou a orelha do “Relato”. E aí eu quis sair do Brasil, eu trabalhei um pouco como arquiteto, dei aula de arquitetura no interior, em Taubaté.

Renato Pompeu - Trabalhou como arquiteto? O que você arquitetou?

Coisas horríveis, tudo o que eu fiz eu acho horrível. Eu trabalhei no começo como desenhista, como projetista em escritório. Depois ainda fiz alguns projetos e projetei uma casa, um centro comercial, aí parei totalmente. Naquela época eu colaborei com a revista Istoé, na época do Mino Carta. Aí eu queria sair do Brasil, ganhei uma bolsa e fui morar em Madri. Aí eu já comecei a me desinteressar pela arquitetura, não queria ser arquiteto mesmo e fiquei como bolsista em Madri durante três meses.

Tatiana Merlino – A bolsa era ligada à literatura?

Era uma bolsa do Instituto Ibero-americano de Cooperação, que era muito austero naquela época, era uma bolsa para estudar língua e literatura, mas o meu sonho era ir para Barcelona. Desde jovem eu tinha esse sonho de morar em Barcelona. Fiquei lá uns sete ou oito meses, tanto que no meu livro de contos há o conto “A Cidade Ilhada” que se passa em Barcelona, e é sobre um jovem professor de português. É um pouco auto-biográfico. Eu dava aula particular para as catalãs, fazia umas traduções também. Quando se é jovem, a gente faz tudo... Tudo mesmo, um monte de trabalho. Até cantar eu cantei.

Tatiana Merlino - Como assim? Até cantar você cantou?

Porque eu fui crooner em Manaus, eu tinha uma banda, tocava de tudo, era bossa nova, ieieie, a gente tocava em tudo que era lugar, clube, bordel, serenata. Era diversão, eu era garoto. E lá na Espanha conheci uma ex-Montonera (grupo da esquerda peronista que defendia a luta armada na Argentina) que cantava também e ela me disse: “Por que a gente não canta?” Eu não tocava nada e ela tocava, nós cantávamos, ela tocava nos bares de lá.

Renato Pompeu - Tocavam o que?

Ela tango e eu música brasileira.

Renato Pompeu - Você acredita que estar longe do Brasil, na Europa, te permitiu avaliar melhor a vida aqui?

No meu caso sim, eu acho que essa distância foi fundamental, porque aqui eu estava muito envolvido com tudo, né? Eu não tinha sossego, tanto que foi o tema do Cinzas do Norte. É possível ser artista neste país?

Lúcia Rodrigues - Por causa da ditadura militar?

Do romance, sim, mas acho que a pergunta transcende o período, a história do mundo no romance é essa história, né? É possível escrever neste país? Ou é possível ser artista neste país? Naquele momento, eu intui que eu devia ir embora. E para mim foi muito bom, apesar de não ter sido fácil. Mas você olha para o lado, os imigrantes, eles sofrem muito mais, infinitamente mais. Muitos deles chegam sem falar a língua, são de famílias paupérrimas, não têm os privilégios que a classe média tem. Eu não conhecia ninguém, mas enfim, falava espanhol, falava francês, podia frequentar um certo meio que um imigrante dificilmente frequentaria.

Lúcia Rodrigues - Quando você fala de imigrantes também coloca uma experiência que foi vivenciada na sua família, a partir da sua ótica dentro de casa, né?

Claro. As histórias que o meu pai contava eram histórias de penúria, de extrema escassez. O meu pai viveu nove anos no Acre, de 1939 até pouco depois da Segunda Guerra. O imigrante chega paupérrimo, leva uma vida na qual a preocupação dele é criar os filhos, garantir que os filhos deles frequentem as escolas, dar aos filhos uma oportunidade que eles não tiveram. Isso é clássico em qualquer imigração. Eu não falo árabe porque a minha mãe é brasileira, filha de libaneses. Mas ela já é de uma geração brasileira, não transmitiu a língua materna, a língua da mãe dela. Essa é uma das frustrações da minha vida, eu tenho muitas, mas essa é uma delas. É difícil, porque o árabe é uma língua complicada, como qualquer língua, mas por ser uma língua 100% fonética pra nós é uma língua muito difícil. Meu pai falava muito bem o português, e penso em como deve ter sido difícil para ele aprender a língua. As histórias de imigrantes são histórias de adaptação, de uma luta mesmo para você se fixar no lugar que você elegeu para viver. A imigração também, por causa disso, dá outra visão do teu país. Quer dizer, saber que o Brasil é também um país de imigração. Na minha infância eu ouvi outras línguas, minha avó materna era uma cristã casada com um mulçumano. Então, para ela, o francês era a segunda língua e eu ouvia ela falar também em francês, rezar em francês. Essas três línguas habitaram a minha infância, e acho que foi importante do ponto de vista afetivo e cultural. Ter nascido também em Manaus faz com que se olhe o Brasil de uma outra perspectiva. O Brasil desconhece o Brasil, pouca gente conhece a Amazônia, acha que a Amazônia é uma coisa só, quando a Amazônia são tantas.
Lúcia Rodrigues - Por que seus pais escolheram o Amazonas, Manaus para viver? Por que os árabes em geral vieram para a Grande São Paulo, enfim...

Foram para todo o Brasil, do extremo sul ao Acre. A imigração da parte do meu pai começou no Acre. O meu avô paterno chegou no começo do século 20 durante a revolução acreana, ficou lá durante uns 10 anos e voltou para o Líbano, e o meu pai cresceu ouvindo essas histórias do pai dele e veio depois com um primo.
Lúcia Rodrigues - E veio pra fazer o quê?

Ele veio se aventurar, ganhar... O Líbano é muito pequeno, é como Portugal, são países pequenos. Aí quando chega um cara, um imigrante que voltou e fala: ‘Olha o Brasil não tem fim’, eles ficam enlouquecidos... A Amazônia é metade da Europa, quase a Europa Ocidental. Meu pai veio para tentar a vida. Ele era um burocrata, um funcionário do Ministério do Interior. Ele não foi um imigrante do sentido mais clássico, mas ele penou muito quando chegou, pois o que ele foi fazer? Comércio, que a gente chama lá de regatão, que é a mesma coisa que o avô do Adib Jatene fez. Todos eles fizeram. Depois o meu avô não voltou mais para o Brasil. Meu pai ficou, casou com a minha mãe. Ela morou no Acre ainda um tempo, tanto que a minha irmã é acriana. Por muito pouco eu não sou acriano. Depois ele foi para Manaus e morreu lá.

Renato Pompeu - Você poderia dizer que você já nasceu no real maravilhoso?

De certo modo sim, porque o exótico para o brasileiro do sudeste ou para o estrangeiro não é exótico para mim. Para mim, exótico é essa São Paulo. A primeira visão de São Paulo foi a coisa mais exótica da minha vida. Eu achava que estava

em outro planeta quando eu vim para esta cidade. A escala de São Paulo é impressionante, isso é muito exótico.

Hamilton Octávio de Souza - Você mora em São Paulo desde quando?

Eu morei toda a década de 70 e estou aqui desde outubro de 98. Eu fui passar quatro meses na Europa em 80 e fiquei quatro anos. Morei na França e depois voltei para Manaus. Quando eu comecei a escrever o “Relato” comecei a sonhar em francês. E aí quando isso começou eu tive que voltar, porque eu não queria escrever em francês, isso pra mim estava muito claro. Mesmo que nessa época eu já estivesse bem adaptado à França. Naquela época eu estava casado com uma francesa, já podia trabalhar lá.
Tatiana Merlino - Você fez doutorado lá?

Não fiz lá, ia fazer aqui, mas acabei abandonando tudo e depois eu abandonei a universidade... Quando eu voltei para Manaus eu ingressei na Universidade Federal do Amazonas para dar aula de francês, o que fiz até 98. Nesse tempo eu dei aula também nos Estados Unidos, na Califórnia, passei umas temporadas lá e em 98 eu decidi sair da universidade.

Para ler a entrevista completa e outras matérias confira a edição de março da revista Caros Amigos, já nas bancas, ou clique aqui e compre a versão digital da Caros Amigos.

segunda-feira, 29 de março de 2010

ODEBRECHT

Empreiteira baiana terá controle acionário sobre 51% da nova empresa. Acordo firmado com a Petrobras, e que sela a fusão entre a Braskem e Quattor, deve ser aprovado pelo Cade ainda neste semestre.


A estratégia definida pelo governo federal de fortalecimento de grupos empresariais nacionais está direcionando a economia brasileira para a formação de monopólios e oligopólios privados em vários setores. Para os defensores dessa tese, a disputa por mercados deixou de estar circunscrita ao âmbito nacional e passou a ser definida no plano internacional. O objetivo, portanto, é consolidar e robustecer alguns grupos privados para atuarem nessa arena do capitalismo mundial.
A formação de uma gigante na área petroquímica é o exemplo mais recente da linha traçada pelo Planalto. O acordo firmado entre Petrobras e Odebrecht para a aquisição da Quattor pela Braskem, empresa em que as duas companhias já atuam como sócias, alavanca a empreiteira baiana à liderança do setor petroquímico na América Latina. O sinal verde para a efetivação da BRK, nome da nova empresa, deve ser dado pelo Cade, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Ao que tudo indica o órgão vai chancelar a decisão ainda neste semestre.
O aporte financeiro feito pela estatal para a consolidação da gigante petroquímica é de R$ 2,5 bilhões, a Odebrecht entra com uma contrapartida de R$ 1 bilhão. Mesmo assim, o capital acionário majoritário de 51% ficará nas mãos da empreiteira. Sob controle da Petrobras ficam 49% das ações da holding. A Odebrecht também terá o maior número de assentos no Conselho de Administração da nova empresa: seis contra quatro da estatal e um independente.
O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli de Azevedo, explica à reportagem de Caros Amigos que a Petrobras está se reposicionando dentro do setor petroquímico brasileiro depois das privatizações que ocorreram ao longo dos anos 90. O processo de privatização das centrais petroquímicas esfacelou a atuação da estatal na área. Só a partir de 2003 é que o cenário começa a se inverter e a Petrobras passa a ter uma intervenção mais efetiva na área petroquímica.
O movimento de reorientação da estatal ao retornar ao setor funciona como instrumento para o financiamento e consolidação da indústria petroquímica, segundo o economista do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) e do Sindicato dos Químicos do ABC, Thomaz Jensen, “O ator relevante para a aquisição da Quattor pela Braskem é a Petrobras”, frisa o economista.
Gabrielli reconhece que a atuação da Petrobras é decisiva para a consolidação da nova empresa que colocará a Odebrecht à frente do setor. “A nossa visão neste momento é que compartilhar a gestão, compartilhar o investimento, é a melhor alternativa.” Ele está atento, no entanto, aos riscos que a parceria representa na definição dos rumos da indústria petroquímica nacional, capitaneada pela empreiteira. “Corremos esse risco. Vamos ter eternamente um conflito entre as duas empresas.”
O presidente da Petrobras considera a indústria petroquímica estratégica para o desenvolvimento do país. “O futuro do petróleo não vai estar no combustível do automóvel, mas sim na indústria petroquímica.” Ele sabe que a integração entre as indústrias petroleira e petroquímica é fundamental para agregar valor ao produto final. A Petrobras é fornecedora da nafta, insumo básico das centrais petroquímicas.
“Para a Petrobras é fundamental estar na indústria petroquímica. Neste momento, como acionista importante, compartilhando decisões com a Odebrecht. Se o futuro vai ser assim, eu não sei. Há dois anos pensávamos que seriam duas empresas, mas uma não sobreviveu. Agora vai ter uma privada. Se ela vai sobreviver, não sabemos. Como diz o casamento religioso: até que a morte os separe”, brinca.
Para o professor de economia da Unicamp Wilson Cano, o processo de concentração do capital que está ocorrendo no Brasil faz parte da lógica do capitalismo. “Marx explica isso em O Capital. O mais forte absorve o mais fraco.” O docente, que tem livre docência na área de concentração industrial, explica que esse tipo de atividade não admite pequenos. “A indústria química necessita de escala”, ressalta.
Cano afirma que o financiamento de grupos privados pelo Estado é uma rotina na história brasileira. A indústria petroquímica começou na década de 70 e foi financiada pelo modelo tripartite (capitais estatal, privado nacional e internacional). “Vivemos quase que uma réplica desse período, com a diferença que agora não há o capital internacional.”
Ele conta que os bancos privados brasileiros não querem emprestar dinheiro a longo prazo. “O longo prazo causa alergia no sistema bancário brasileiro”, alfineta. O Bndes (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) acaba tomando, na maioria dos casos, para si a tarefa de agir como agente financiador do capital privado.
“Isso sempre aconteceu e continua acontecendo. Como o Gerdau está comprando coisas lá fora? Com o dinheiro do Bndes. Como a Friboi está comprando coisas lá fora? Com o dinheiro do Bndes. Como o Steinbruck compra coisas lá fora? Com dinheiro do Bndes. E o Antonio Ermírio de Moraes? A mesma coisa.”
O banco de desenvolvimento participou do processo de fusão entre as empresas de telefonia Oi e BrT (Brasil Telecom), com um aporte de R$ 2,57 bilhões. Na operação de fusão entre a Aracruz e a Votorantim, que consolidou a Fibria, como gigante da área de celulose, o braço de participações do banco, Bndespar, entrou com R$ 2,4 bilhões. O Bndes também apoiou com R$ 3,48 bilhões o processo de incorporação da Bertin e Pilgrim´s Pride, pela JBS, gigante do setor de carnes industrializadas e in natura.
“A noção de mercado relevante é muito importante para se compreender o que é um monopólio. A concorrência não se dá no mercado interno. Nós não temos grupos econômicos brasileiros do porte de seus concorrentes internacionais, com exceção de um ou dois, como a Vale. O que nós estamos assistindo é à consolidação de grandes grupos nacionais”, argumenta o diretor de Planejamento do Bndes, João Carlos Ferraz, para justificar o papel que o banco desempenha como agente financiador do capital privado.
“Não interessa se a empresa é estatal ou não. Do ponto de vista de um banco público, interessa que os agentes econômicos gerem mais e melhores emprego. A propriedade sobre os meios de produção é secundária. Não estou interessado em quem é o dono do negócio. Há uma orientação para que sejam fortalecidas empresas que tenham capacidade produtiva e de investimento”, frisa Ferraz.
O dirigente do Bndes não concorda com a hipótese de destinar recursos do banco para o fortalecimento estatal na economia. “Será que o Estado brasileiro está preparado para ter a propriedade sobre um conjunto extenso de empresas? Será que essas empresas teriam capacidade de ser tão dinâmicas quanto às do setor privado? Não há nenhuma prova factual de que isso seja possível”, teoriza.
O exemplo de empresa bem administrada e lucrativa, como é o caso da Petrobras, não demove Ferraz do argumento. “Não se pode projetar que o que acontece na Petrobras ocorra em qualquer situação. Não se sabe se o Estado está preparado para ser executivo, se é tecnicamente preparado.”
“A Vale do Rio Doce era uma das maiores empresas do mundo antes de ser privatizada. A privataria causou males muito grandes a este país”, desabafa o professor da Unicamp, que considera que o processo de desenvolvimento levado a cabo pelo governo só fortalece os empresários.
Para Cano, “essa visão não tem nada a ver com a questão social brasileira, com distribuição de renda, de emprego. Acreditam que ajudando a constituir empresas de grande porte, elas poderão brigar lá fora (no exterior)”, lamenta. “O capital privado não entra sozinho para roer o osso, só entra onde tem carne. Se não tiver carne, não entra. Sempre foi assim. Capitalismo é isso”.
Ele não acredita em uma guinada estatizante por parte do governo Lula. “O governo age dessa forma porque não é um governo socialista. Não pretende nacionalizar nenhum setor. Acredita na política de fortalecimento das empresas privadas nacionais”.
A preocupação do docente é semelhante a dos sindicalistas da área. Os trabalhadores também estão preocupados com as conseqüências do fortalecimento da Odebrecht. O secretário de Organização da CNQ (Confederação Nacio nal dos Químicos), Carlos Itaparica, questiona o financiamento de grupos empresariais privados com recursos públicos.
“Muitos empresários brasileiros se tornaram donos de petroquímicas sem ter nenhum capital. Naquela época, quem financiou foi o Bndes, hoje é a Petrobras.” Itaparica é funcionário da Braskem desde 2000, mas trabalha como operador de processo há mais de 20 anos no Pólo Petroquímico de Camaçari, na Bahia.
O sindicalista diz que os trabalhadores são favoráveis à Petrobras ter um braço petroquímico e questionam o capital privado majoritário na nova empresa. “Acho um equívoco a Petrobras entrar como fornecedora do capital e não como administradora da planta.”
Ele teme que a relevância conferida a Odebrecht no processo de fusão prejudique a população. “Se a gente olhar ao nosso redor, praticamente tudo possui derivados da indústria petroquímica: televisão, geladeira, carro... E isso vai estar na mão de uma empresa só. A sociedade vai ficar refém de uma empresa privada.”
Os temores de Cano e Itaparica são compartilhados pelo professor de sociologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Carlos Bello. O docente, que é especialista em Cade e já publicou um livro que debate o peso desempenhado pelo poder público para barrar a formação de monopólios, considera o processo de fusão entre as duas empresas como certo. “Não tenho dúvida nenhuma de que isso vai acontecer.” Ele enfatiza que o processo de fusão “é bom para a empresa privada (Odebrecht)”.
“Hoje em dia, o negócio petroquímico da Odebrecht praticamente financia a construção pesada da empreiteira”, revela o economista Thomaz Jensen. Segundo ele, para uma empreiteira, ter uma atividade petroquímica é muito interessante. “Os gastos com as paradas para a ampliação e manutenção da planta são basicamente serviços de construção civil.”
A economista da CNQ, Marilane Teixeira, antecipa que o objetivo da nova gigante petroquímica é se transformar na quinta empresa do mundo. Ela destaca, no entanto, que o processo de concentração de capital em grandes grupos econômicos faz parte da estratégia de política industrial do governo Lula.
Marilane cita o caso da fusão da Aracruz com a Votorantim que conferiu à Fibria “o status de maior empresa do mundo na área de celulose”. Para a economista, os setores de celulose e petroquímica são grandes players para travar a disputa no mercado internacional.
No caso específico da concentração de capital na área petroquímica, ela considera que é uma política deliberada do governo, “estimulada pelo Bndes, com o aval da Dilma (Rousseff)”. “Acham que a Petrobras tem de se ocupar com exploração e refino de petróleo. Não consideram que a produção de resinas pela indústria petroquímica seja um setor que deva estar na mão do Estado”, critica.
O monopólio privado assusta os trabalhadores do setor petroquímico. O risco de desemprego e do rebaixamento das relações e condições de trabalho são alguns dos pontos de questionamento levantados pelos sindicalistas quando o assunto é a consolidação da BRK.
Itaparica teme que a nova gigante vá promover uma redução drástica no número de postos de trabalho. Hoje, segundo ele, as duas empresas têm em torno de 6.800 funcionários, a Braskem com aproximadamente 4.800 trabalhadores e a Quattor com dois mil. A Braskem atua na Bahia (Camaçari), no Rio Grande do Sul (Triunfo), em São Paulo (Paulínia) e Alagoas, a Quattor, na Bahia (Camaçari), no Rio de Janeiro (Duque de Caxias) e em São Paulo (Capuava, no ABC).
O presidente do Sindicato dos químicos do ABC, Paulo Lage, também suspeita que o corte de funcionários ocorra. “Não vejo nenhum ponto positivo a não ser para a Odebrecht e a Petrobras. Para os trabalhadores, essa fusão vai gerar desemprego”, lamenta.
“O monopólio privado tem uma conseqüência diferente do monopólio público. Enxugamento da mão de obra, sucateamento de algumas plantas em detrimento de outras.” Lage afirma que o sindicato do ABC está tentando marcar uma audiência com a Petrobras. “A Petrobras tem recursos, tem insumos (nafta), queremos ouvir deles porque não se aventa a possibilidade de a empresa assumir o controle do processo.”
Os sindicalistas pretendem se organizar para evitar retrocessos. “A gente sabe que o setor empresarial só entende o trabalhador mobilizado. Como todos os sindicatos da categoria estão dentro da CUT, isso unifica a linha de ação”, acredita Itaparica.

Lúcia Rodrigues é jornalista

Para ler a reportagem completa e outras matérias confira a edição de março da revista Caros Amigos, já nas bancas, ou clique aqui e compre a versão digital da Caros Amigos.

domingo, 28 de março de 2010

PALAVRAS, ASSUNTOS, VIDA E ETERNIDADE

O que nos resta quando faltam palavras? Outras palavras.
O que nos resta quando falta assunto? Outros assuntos.
O que nos resta quando nos falta a vida? Acreditar que ela é eterna...

sábado, 27 de março de 2010

NUCLEMON

Por Joelma Couto

Depósito de lixo radioativo localizado na zona sul de São Paulo está em área densamente povoada e ao lado de futuro templo do padre Marcelo Rossi. Fotos: Fábia Renata.
No dia 23 de fevereiro de 1970, em plena ditadura militar, começa a história do trabalhador José Venâncio Alves. Venâncio,vbcomo é conhecido pelos amigos, a partir desse dia passa a fazer parte do quadro de funcionários da Administração de Produção de Monazita (APM), localizada em um terreno de 20 mil m² na rua Princesa Isabel, 3, no bairro do Brooklin, em São Paulo. A estatal ligada ao programa nuclear brasileiro passaria, em 1975, a chamar-se Nuclebrás Monazita (Nuclemon)
Venâncio veio de Itaverava, Minas Gerais. Foi seu cunhado, Aarão, que já estava em São Paulo, que lhe arrumou o emprego. Venâncio, assim como o cunhado, tinha pouco estudo. Era chegar e trabalhar, a empresa não exigia muito e oferecia algumas vantagens, tais como quatro latas de leite por mês para cada filho menor de 10 anos e um botijão de gás por mês. O trabalho não era fácil. Era artesanal, braçal, mas eles não tinham estudo e as dificuldades para encontrar um emprego eram grandes. O importante é que estavam trabalhando. Assim como o cunhado, Venâncio trouxe de Minas outros trabalhadores para a empresa. Muitos eram os parentes ou conhecidos. Eram uma grande família.
O que os trabalhadores da Nuclemon não sabiam é que estavam sendo expostos a substâncias altamente tóxicas e também radioativas. A principal matéria-prima utilizada na usina era a monazita, extraída da areia monazítica, abundante na costa do Rio de Janeiro e da Bahia, e rica em urânio e tório. Na Usina de Santo Amaro (USAN), a areia bruta era beneficiada por meio de dois processos: tratamento químico e tratamento físico. Segundo documento do Centro de Referencia do Trabalhador de Santo Amaro, os produtos produzidos na USAN eram vendidos para indústrias eletrônicas, de alta pressão, de cerâmica e de metalúrgica fina. A monazita é desengraxante, desengordurante e também entra no tratamento de águas de caldeira e industrial, e na formulação de detergentes.
A areia monazítica passava por um tratamento químico para obtenção de cloreto de terras raras, gerando um subproduto com alta concentração de urânio e tório conhecido como torta II. A torta II processada também dava origem ao mesotório, produto altamente radioativo.
Todo esse trabalho era feito sem proteção. Os trabalhadores não tinham noção dos riscos. Trabalhavam até mesmo de chinelo de dedos, sapatos vulcabrás comprados na lojinha da empresa, não tinham uniformes e a roupa era lavada em casa e misturada com a roupa de toda família. Venâncio se lembra do amigo José Roberto, também de Ituverava. ”O José ficou viúvo, a esposa morreu de câncer. Ele ficou deprimido, começou a ter convulsões. O chefe não ligava, não se importava com o sofrimento do Chameguinho, como era conhecido José Roberto. Ele era ajudante de manutenção, um dia caiu de uma altura de 10 m e ficou muito tempo no hospital. Quando saiu, voltou a trabalhar, mas não tinha mais condições, ficava perambulando pela usina. Tinha que ser aposentado, mas, depois de dois anos, foi mandado embora. Teve que voltar para Minas com seus quatro filhos para ser cuidado pela família, foi um crime o que fizeram com ele.”
Segundo a Dra Maria Vera Cruz de Oliveira, médica pneumologista do CRT-SA as condições em que os ex-funcionários da Nuclemon trabalhavam eram absurdas. Estavam expostos a poeira, calor intenso, radioatividade e excesso de trabalho. A falta de protetores de ouvido causou perda de audição em muitos deles. Não havia programa de prevenção de acidentes nem uso de máscaras. No setor conhecido como amassador ocorria a mistura do ácido sulfúrico com o pó da pedra de abrigonita para obtenção, por exemplo, do fosfato de lítio. A fumaça produzida nesse setor era tão forte que, quem tinha que ir por ali era obrigado a passar correndo e sem respirar. Seu Severino da Costa, 73 anos, conta que tem silicose, doença pulmonar, e que descobriu a doença quando ainda estava trabalhando, mas, mesmo assim, foi despedido sem direito a tratamento. Severino trabalhou na empresa por 27 anos.
Somente em 1987, após o acidente de Goiânia, os ex-funcionários da Nuclemon começaram a perceber com que tipo de material trabalhavam. Venâncio conta que só então a ficha caiu. Lembra-se que em uma reunião ele sugeriu que a empresa parasse de trabalhar com a monazita, ”meu chefe deu risada, disse que eu estava louco, que a monazita pagava nosso salário e que poderia até mesmo pagar a dívida externa do país”.

A matéria, na integra, está na revista.
Joelma Couto é jornalista

sexta-feira, 26 de março de 2010

Equívocos sentimentais


O presidente lula equivoca-se no caso dos dissidentes cubanos em greve de fome (um deles morto em consequência da decisão). Primeiro, por insistir em opinar sobre o assunto. Depois, por usar argumentos que não têm sido válidos em outras ocasiões. Quando metalúrgico, Lula valeu-se da greve de fome para denunciar os arbítrios da ditadura. Se mudou de ideia a respeito do ato, como afirmou o chanceler Celso Amorim, é uma questão pessoal- e não pode servir para condenar quem ainda acredita neste instrumento de protesto secularmente adotado de leste a oeste do planeta.

A dita esquerda brasileira (e Lula, que diz não ser de esquerda, parece ter embarcado nesta) tem usado de certa leviandade em relação a Orlando Tamayo (o morto) e o jornalista Guillermo Fariñas, atualmente em greve de fome. Insinuam tratar-se de presos comuns e pedem respeito à Justiça cubana. Da mesma forma a ditadura brasileira tratava seus dissidentes, tachados de terroristas e bandidos. Muitos responderam a processo criminal, mas nem por isso é possível levar a sério a pantomima armada nos tribunais durante o regime militar. Cuba é um ditadura. Portanto...

Parte da esquerda, se assim podemos chamá-la, comporta-se como espelho da mídia tradicional que tanto critica. Até os cactos do Semiárido estão secos de saber: os meios de comunicação nativos movem-se por uma moral e indignação seletivas. Mas hipocrisia não se combate com hipocrisia.

É engraçado ver, por exemplo, os textos do ex-ministro José Dirceu em seu blog. Os cubanos são criminosos comuns, mas o italiano Cesare Battisti é um perseguido político digno de asilo. Não há nenhum informação de que Tamayo e Fariñas tenham matado alguém em nome de sua causa (o que em uma ditadura seria até justificável, a depender das circunstâncias). Já Battisti carrega no lombo quatro assas-sinatos, entre eles o de um açougueiro e o de um joalheiro de periferia, fundamentais, como sabemos, à grande causa. Seus crimes foram consumados em um país sob normalidade democrática e em pleno Estado de Direito. Ainda assim, o mesmo governo capaz de questionar uma decisão da magistratura italiana e corroborada pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos não duvida da lisura da Justiça cubana.

Há maneiras melhores de defender Cuba e o legado da revolução castrista.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Ninguém estará seguro

Por Henrique Bellinati Robert Pires *
ICARABE INSTITUTO DA CULTURA ÁRABE
correio do icarabe

Desde sua origem, Israel esteve mergulhado na guerra. A guerra é uma constante tão grande naquele paí­s que boa parte dos cidadãos já não acredita na possibilidade de haver paz na região, opinião também compartilhada por boa parte dos palestinos. Mas até que ponto essa guerra é inevitável? Até que ponto Israel está apenas fazendo o necessário para garantir sua segurança? Até que ponto a continuação desse conflito não é culpa da nação israelense?

Em seu esforço para manter a ocupação militar na Palestina, o exército israelense se tornou parte do problema, pois suas iniciativas se tornaram mecanismos para humilhar e atormentar os palestinos, o que serve apenas para aumentar o ódio e a desconfiança que nutrem esse longo ciclo de violência.

O preço pago pelos palestinos nos checkpoints e nos toques de recolher impostos às vilas e cidades não garante a segurança dos israelenses. Os checkpoints, criados sob o pretexto de controlar a entrada de potenciais terroristas palestinos em Israel, revelaram-se apenas uma ferramenta de abusos e humilhações constantes, terreno fértil para que soldados e policiais possam fazer jogos psicológicos. Isso inclui abrir os portões de acesso aos terminais de checagem aleatoriamente e depois fechá-los por tempo indeterminado, de forma que os palestinos que esperam do lado de fora nunca saibam em qual fila devem entrar, qual vai andar ou não.

Nos chamados portões humanitários, designados para permitir a passagem de mulheres, crianças, idosos e deficientes, a demora para fazê-los funcionar causa filas tão imensas que muitas das pessoas que têm direito a passar por ali preferem arriscar ser prensadas nas longas filas regulares.

Mas, pelo menos, isso garante a segurança de Israel, certo? Errado. Por apenas dez shekels (o equivalente a R$ 5,00), qualquer um, palestino ou estrangeiro, pode pegar um ônibus na porta do terminal e em 15 minutos passar por um terminal alternativo para veí­culos, em que, ao invés de enfrentar toda a humilhação de ter de praticamente se despir para passar pelos detectores de metal, tirar impressões digitais e tudo mais, apenas senta-se no ônibus e mostra sua permissão de passagem através do vidro.

Os checkpoints são o resultado natural de outra polí­tica de “segurança”, ainda mais inconsistente: a muralha de separação. Ela começou a ser construí­da em 2002 com a alegação oficial de que seria uma resposta à segunda Intifada, cujo propósito seria separar fisicamente israelenses e palestinos e impedir a entrada de homens-bomba dentro do território israelense. Porém, essa justificativa nunca se manteve, pois em muitos locais ela não apenas foi construí­da dentro do território palestino (aproximadamente 10% da Cisjordânia está dentro da área da barreira), como também em várias áreas densamente povoadas (particularmente Jerusalém Oriental), a barreira corta ao meio comunidades palestinas.

Em Jerusalém Oriental, a barreira expulsou palestinos com direito de residência na cidade. Isso porque, pela lei israelense, se um palestino não puder provar que o centro de sua vida está em Jerusalém, depois de três anos, perde o direito de residir no local. A intenção dessa política é diminuir a população palestina na região. No entanto, permite-se que vivam na parte interna da muralha comunidades palestinas que outrora não faziam parte de Jerusalém. Ou seja, a barreira acaba abrigando pessoas que, pela lei israelense, seriam “potenciais terroristas”.

A Intifada e seus atentados suicidas não acabaram após a construção da muralha, mas sim devido ao medo dos palestinos da brutal retaliação do exército israelense. Essas retaliações causaram o colapso da economia palestina e uma série tão insuportável de restrições à vida cotidiana que levaram toda uma população ao limite do desespero e do ódio.

Efetivamente, as atuais políticas empregadas por Israel serviram apenas para aumentar o rancor entre os palestinos, dificultar ainda mais as já tão frágeis possibilidades de um acordo de paz e alimentar a insegurança do Estado de Israel.

Henrique Bellinati Robert Pires é formado em História pela Universidade de São Paulo e foi o primeiro latino-americano a participar do Programa de Acompanhantes Ecumênicos para a Palestina-Israel.

quarta-feira, 24 de março de 2010

A RÚSSIA CONSTRUIRÁ 16 REATORES NUCLEARES NA ÍNDIA

Deu no EL PAIS

Rusia construirá hasta 16 reactores nucleares en India


Moscú intenta mantener la influencia en la tercera economía asiática

Rusia construirá entre 12 y 16 reactores nucleares en India para impulsar el programa energético del país surasiático. El anuncio se hizo público ayer, durante la visita que el primer ministro ruso, Vladímir Putin, hizo a Nueva Delhi para dar nuevos bríos a las relaciones bilaterales y sellar varios contratos energéticos y armamentísticos.

La cooperación nuclear, recordó Putin, es uno de los ejes más importantes del comercio entre ambos países. Rusia compite con compañías francesas y estadounidenses por los lucrativos contratos para construir plantas atómicas en la tercera economía de Asia, que necesita con urgencia incrementar el suministro energético para sostener su rápido crecimiento. De momento, el carbón aún representa más del 50% del consumo energético, pero India apuesta por la expansión de los reactores nucleares: las autoridades quieren que la contribución total de la energía atómica pase del actual 3% al 6% en la próxima década. "El acuerdo prevé la construcción de hasta 16 reactores nucleares en tres ubicaciones", anunció el viceprimer ministro ruso, Serguéi Ivanov, que acompaña a Putin.

Además de la decisiva presencia en el desarrollo nuclear, Rusia quiere impulsar la cooperación bancaria y tecnológica con India, un viejo aliado desde la época soviética que en los últimos años se ha ido decantando por Estados Unidos. Moscú no sólo teme perder influencia en Nueva Delhi, sino quedarse sin la gran tajada de su mercado de defensa, que alcanza los 100.000 millones de euros. De momento, India sigue siendo el principal comprador de armas rusas.

Junto a China y Brasil, Rusia e India conforman el llamado grupo BRIC, que reúne a las principales economías emergentes y cuya influencia global no deja de crecer. Además, las dos naciones buscan un mayor protagonismo en la estabilización de la región, marcada por la violencia islamista y la guerra de Afganistán. "India es nuestro socio estratégico", dijo ayer Putin. "Es una evidencia que nuestros intereses geopolíticos coindicen casi plenamente".

De ahí la ofensiva diplomática y comercial. Rusia quiere duplicar los intercambios (que suponen hoy 8.000 millones de euros) para 2015. Ayer, por lo pronto, ambos países firmaron varios acuerdos en materia de telecomunicaciones, armamento y energía nuclear por valor de 10.000 millones de euros. Entre ellos está la venta a Nueva Delhi de 29 aviones de combate Mig.

terça-feira, 23 de março de 2010

Sahara Ocidental

desenho: wikipedia
Vou fazer uma brevíssima introdução que creio ser interessante ler antes de acessar a matéria do jornal PRAVDA. O Saara Ocidental foi uma colônia espanhola. Devido a uma crise econômica, a Espanha abandonou o território e Marrocos aproveitou-se para invadir a área, então, sem dominantes. É uma zona de conflito entre os resistentes e o governo marroquino. E as atrocidades praticadas pelo monarca de Marrocos contra a independência dos saharaui são enormes, segundo alguns relatos como este abaixo.


Descoberta fossa comum na zona de Bucraa, à oriente da cidade de El Aiun ocupada. Segundo despacho divulgado pela agência noticiosa saharaui SPS, foi descoberta na semana passada, na zona de Bucraa, a este da cidade de El Aiun, uma fossa comum que data do começo da invasão marroquina do Sahara Ocidental.

Segundo despacho divulgado pela agência noticiosa saharaui SPS, foi descoberta na semana passada, na zona de Bucraa, a este da cidade de El Aiun, uma fossa comum que data do começo da invasão marroquina do Sahara Ocidental. A informação foi divulgada hoje, sexta-feira, pelo Ministério Saharaui dos Territórios Ocupados e da Comunidade Saharaui no Exterior.

Segundo garantem fontes consultadas pelo ministério, foram os trabalhadores da empresa de Fosbucraa que "encontraram sete crâneos humanos de saharauis, no momento em que escavavam uma mina a nordeste de Bucraa".

"Os crânios pertencem a nómadas saharauis" que, "provavelmente, terão morrido sob tortura às mãos do exército ou da gendarmeria marroquina durante a invasão do Sahara Ocidental", afirma a nota o Ministério Saharaui dos Territórios Ocupados e da Comunidade Saharaui no Exterior divulgada pela SPS.

As autoridades saharauis responsabilizam o governo de Marrocos de "ocultar actos de genocídio no Sahara Ocidental".

De recordar que outras fossas comuns foram já descobertas, tanto perto da "Prisão Negra" na cidade ocupada de El Aiun como em Smara, sem que "as autoridades marroquinas tivessem dado qualquer explicação para o facto nem especificado que medidas iriam tomar para identificar os corpos".

Associação de Amizade Portugal - Sahara Ocidental

segunda-feira, 22 de março de 2010

REENCONTRANDO O PASSADO E A POESIA

Em janeiro, depois de mais de 15 anos, entrei novamente em uma casa que marcou o meu final de adolescência. Foi uma experiência mais que gratificante e tocante.
Um amigo verdadeiro, de longa data, havia morrido há menos de 4 meses e fui fazer uma visita à sua ex-mulher e filha. Embora fossemos muito amigos, ele era ciumentíssimo e nunca permitiu que conhecesse a sua filha. Coisas do Renato. Coisas desse meu amigo. Coisas de uma pessoa diferente, única, às vezes divertida, às vezes maníaca, como cada um de nós.
Fiquei impressionado só de passar pela portaria e rumar aos elevadores. Era uma sensação diferente. Ao mesmo tempo que tudo estava fresco em minha memória, também estava distante, como se tratasse de uma vida passada, não para o meu amigo, mas para mim mesmo.
A filhinha dele, tão divertida quanto o próprio pai  foi em boa parte de sua história, desceu para me acompanhar. Uma menina encantadora.
Fomos conversando, meio tímidos, e ao abrir a porta do elevador e ver o hall e a porta de entrada do apartamento, já me vieram à memória o pai, o avô e a avó do Renato, todos já falecidos. Enxergava flashes de coisas que ocorreram, de vozes que soaram e de cheiros que perfumavam uma época distante. Era a minha memória brincando com o presente. Mas o susto que tomei foi ver que uma lâmpada não parava de piscar. Pensava comigo mesmo, o Renato está presente. Que nada. Não era imaginação, mas a lâmpada estava com problema e foi só mexer em outras que ela logo parou de piscar. Ah, como a nossa imaginação e memória nos levam a terrenos do incrível, do fantástico, à possibilidade de brincar com o hoje e com o próprio passado, algo que a linearidade do pensamento imposto não nos permite.
Era como se os avós e pai do Renato me acompanhassem nessa viagem. Era como se eles estivessem presentes com uma única fala e um único movimento. Era algo que não entendia direito. Não via imagens definidadas, mas imagens meio apagadas, quase em preto e branco e estáticas.
Tive um jantar magnífico, caprichado, delicado, momentos ímpares, e como se fossemos sádicos, não parávamos de falar no Renato amigo, ex-marido e pai. Eta sujeito querido. Eta lembranças vívidas. Eta vida sofrida, também a de todos nós, mas principalmente a dele.
Contamos muitas histórias, reais e fábulas, e nos encantávamos com a memória que o Renato permitiu que tivessemos dele e também com a nossa imaginação, que ia longe.
Terminamos a noite vendo um vídeo em que a menininha demonstrava ir muito além do pai. Ela canta e dança muito bem, já o pai... Ela adorava contar histórias e rir, igualzinho ao pai.... Ela me adotou como amigo, igualzinho ao pai. E fui para casa com uma enorme sensação de prazer, como se o passado, que tantos momentos bons me propiciou, estivesse de novo no meu dia-a-dia, batendo à minha porta e no meu coração. Não houve substituição de amigo, mas uma nova forma de amizade, com um pouco do que há dele no presente, sua filha, não exatamente idêntica à sua imagem, mas semelhante. Sentia o abraço fraternal do meu amigo a todo instante, através da sua filha, e o meu coração se acalmou e relaxou. O passado não havia morrido e era possível enxergar o presente de forma poética. Afinal, os verdadeiros e intensos amigos, queiram ou não, compõem os momentos em comum com poesia.

domingo, 21 de março de 2010

SANTO DAIME E A DROGA

Com a morte do cartunista Glauco, surge a polêmica: é admissível que uma seita adote o uso de psicotrópico?

É interessante anotar, desde já, que desde os primórdios os seres humanos imaginaram aproximar-se das divindades (então eram muitas) através dos mais diversos alucinógenos. Depois, vieram os sacrificios humanos, como matéria de troca ou gratidão, e, por fim, outras formas de transcender, como a dança, a cantoria e a meditação.

Vários rituais existem para a aproximação com o divino. Várias são as formas de enxergar a Deus e de se aproximar a ele. Alguns julgam adotar formas melhores que outros, algo típico do ser humano.

Hoje, há uma vertente que diz que devemos vivenciar o "já" ao extremo, ter prazeres fáceis e consumir tudo o que nos satisfaça. É o materialismo consumista capitalista disfarçado de crença: de crença na matéria ou seria na antiga e quase esquecida "seita do Bezerro de Ouro", que implicou na quebra das tábuas dos Dez Mandamentos? Mas não é esse o propósito desse artigo. Voltemos ao ponto central.

Há os que criticam o candomblé pela "matança" de galinhas, outros o islamismo pela matança de "carneiros" etc. Como disse, uns humanos se julgam superiores aos outros, num jogo claro de poder, e utilizam a fé como pretexto para isso.

Não é apenas o Santo Daime que provoca o afastamento da razão plena, como conhecemos. As cantorias de muitas fés também levam a isso. Até as danças e o aparentemente inofensivo cinema também nos conduzem à possível manipulação e à visão abstrata e diferente da palpável, daquela que julgamos real.

Muitas são as drogas, muitas consideradas lícitas e outras ilíticas. O álcool é a droga lícita de mais fácil constatação. E agora o Santo Daime entra na polêmica. Devemos manter a tolerância do uso desse psicotrópico por seita composta por cidadãos brancos não indígenas? Lembro que o Santo Daime é uma bebida com efeitos alucinógenos ingerida inicialmente por indígenas da Amazônia em cultos religiosos.

Mas faço outra pergunta, uma pergunta em sentido contrário: por qual motivo proibir? Por qual motivo tachar isso de errado e dos seus seguidores de pessoas imorais?

Esse radicalismo me recorda o fascismo, onde a conduta humana devia seguir uma única diretriz e todos os deslizes ou rumos diversos eram sinais de fraqueza. Para o fascismo, o diferente era inaceitável. E para a nossa sociedade, hoje, será muito diferente?

Porque podemos frequentar os Shopping Centers e nos alucinarmos com o consumismo de roupas e outras coisas muitas vezes desnecessárias ou desproporcionais e não podemos frequentar nossas Igrejas e termos o nosso culto particular, com rituais próprios? (ressalto de antemão que não frequento o Santo Daime)

É importante observar que até o início do século passado o uso de maconha e de cocaína era permitido nas ruas, nas praças públicas, a céu aberto. Hoje, não. Não digo que antes havia acerto. Não. Mas também não digo que hoje há acerto. Isso envolve discussões, que deve estar livre de dogmas e preconceitos. Deve haver uma discussão racional. E se é racional, evidencia que os partícipes não devem usar, ao menos no instante da discussão, qualquer substância alucinógena ou que propicie a alucinação.

Nas religiões, que sempre envolvem crenças e rituais próprios, não creio ser certo proibir ou discriminar determinados atos típicos. O Santo Daime não foi uma seita criada para usar drogas ilicitas. O objetivo, como de todas as outras religiões, era, e ainda aparenta ser, a transcendência, a aproximação com o Divino.

Por isso eu digo e reafirmo, a discussão não deve se limitar ao uso de alucinógenos, ainda mais em cultos religiosos. A discussão deve se dar na política que adotamos para o combate das drogas ilícitas e ao tratamento que damos aos usuários e dependentes. Não podemos tapar o sol com a peneira e culpar uma seita que não trabalha com o ilegal.

Ademais, pelo o que se sabe, o assassino de Glauco não estava sob os efeitos do Santo Daime ao matar o cartunista. Aparentemente, trata-se de um psicopata que precisa de tratamento. Mas a nossa sociedade, que apenas culpa, critica, adora o poder e o consumismo materialista, sem nunca resolver seus problemas intrínsecos, também sofre de algo assemelhado à psicopatia e, pelo o que sabemos, nunca precisou de alucinógenos para agravar a sua situação. Poderemos também ser condenados, todos nós, à prisão que já vivenciamos, a da hipocrisia?

sábado, 20 de março de 2010

E AMANHÃ, BRASIL?

José Silvério Oliveira

É com grande prazer que escrevo neste blog. Jornalista de profissão e especialista em política, posso comunicar minha opinião a respeito de um fato pouco pensado pelo atual governo e pela comunidade política nacional. 

O presente governo federal está tecendo um estratagema fenomenal para a política internacional, inserindo o Brasil tanto nas páginas dos grandes vespertinos, como nas discussões dos cidadãos dos países mais diferentes e deslumbrando governantes de esquerda no mundo afora. Até personagens de direita aplaudem, surpresos.

Tudo bem, isso é louvável, mas será que todos se esqueceram de que o mandato do Sr. presidente está no término?

E se o Brasil for inserido nas discussões de paz para o Oriente Médio com o próximo governante, o que mudará? Aliás, o que poderá mudar? Tudo, absolutamente tudo.

Hoje, o Brasil adota uma postura independente que não privilegia posições extremistas de árabes ou de israelenses. Lula deu demonstração disso ao não visitar os dirigentes do Hamas e ao não visitar o túmulo do criador do Sionismo. Sem radicalismo, seja à esquerda, seja à direita.

Para quem não sabe, o Sionismo foi criado nos fins do Século XIX na Europa, por judeus europeus, visando a criação de uma grande terra, a grande Israel. Não tinha um cunho religioso, mas estratégico e político. Muitos ingleses apoiaram o sionismo desde quando era mera teoria. Muitos estadunidenses se opunham, inclusive presidentes. A verdade é que com a imediata criação de Israel, houve o domínio do governo pelos sionistas. Estes iniciaram a migração para a então Palestina nos fins do século XIX, fundaram grupos terroristas que afugentavam e matavam palestinos. Hoje, muitos sionistas falam na grande Israel, que englobaria o território israelense, a Palestina, Líbano e Síria, o que faz crer que o expansionismo israelense não cessará tão cedo. Para a Onu, até a década de 90, o sionismo era visto como discriminador. Com base nisso, Lula tomou a decisão acertada de não visitar o túmulo do criador dessa política sionista. Aliás, até hoje nenhum líder europeu visitou esse tão famoso túmulo. Isso não é desrespeito com o povo judeu, que não se confunde com o sionismo. Os judeus têm por base a tolerância e a crença em Deus. Os sionistas não priorizam isso, mas o fortalecimento de um grande Estado.

Política externa é feita com olhos no futuro, evitando polêmicas desnecessárias. Se houvesse ocorrido a visita ao túmulo, o presidente brasileiro ficaria exposto desnecessariamente aos olhares críticos europeus, asiáticos e de países americanos e árabes.

Agora, quando Lula sair do poder, quem garantirá que Marina Silva, Ciro Gomes, Dilma Roussef e José Serra mantenham essa mesma postura?

Recentemente, o líder de um dos partidos de oposição criticou a postura de Lula de não visitar o túmulo do fundador do sionismo, de manter relações com o Irã e de criticar os grevistas de fome em Cuba, em claro sinal de simpatia extrema (ou submissão) à politica estadunidense, feita em favor dos interesses próprios na região. Ou seja, evidencia a possível total mudança de rumo na política exterior.

É importante que os candidatos à presidência assumam uma postura clara perante os países que almejam a paz e o fim dos conflitos. É importante haver a permanência do equilíbrio e da equidistância hoje existentes. Uma mudança de rumo na política externa não apenas criaria frustrações nos personagens envolvidos nos conflitos, mas enterraria de vez as pretensões brasileiras de ocupar um espaço de maior visibilidade e independência no cenário internacional.

É preciso, portanto, que os candidatos digam a que vieram e como pretendem posicionar o Brasil nas questões internacionais. O povo brasileiro de hoje tem esse direito. Os brasileiros de amanhã o terão e a comunidade internacional, desde já, precisa ter a certeza de que o Brasil não é um país instável em sua política exterior.

É bom pensarmos no nosso futuro e no Brasil que queremos, inclusive perante a comunidade internacional: independência ou submissão? Posições fortes e permanentes ou instáveis e incertas?

Brasil, um país de futuro ou um país que apenas aparece, desaparece e nada cria ou faz?

José Silvério Oliveira é jornalista especializado em política

sexta-feira, 19 de março de 2010

Jovens libaneses querem proteger a língua árabe do abandono no país

Um grupo de jovens libaneses criou recentemente a campanha “Faça Algo” para defender a língua árabe e expandir o seu uso entre as novas gerações.

A Iniciativa foi lançada por sete jovens trintões, num esforço para preservar o patrimônio cultural árabe diante dos desafios da globalização.

A poetisa, Susan Talhouq, presidente da associação, afirmou que a língua árabe ainda está viva no Líbano, mas os jovens estão se distanciando dela.

“Muitos jovens não sabem escrever corretamente e alguns universitário não conhecem se quer o alfabeto”, alertou Susan.
A campanha teve boa repercussão no país de quatro milhões de habitantes que esteve sob ocupação francesa até o ano de 1943, o que fortaleceu a ocidentalização da cultura local.
A maioria das escolas no Líbano ensina o Francês e o Inglês, ao lado da língua árabe, desde uma idade precoce. Mas as autoridades educacionais permitem aos alunos de dupla nacionalidade não cursar a língua árabe e nem fazer os exames nessa língua.

Para Susan, aprender uma segunda língua é ótimo para os alunos, mas isso não justifica o abandono da língua nativa.

Libanês Popular

Muitos dos jovens libaneses escrevem o dialeto popular, cheio de gírias com influência inglesa e francesa, ao invés do árabe clássico. Com o crescente acesso à internet outro problema que se adiciona a isso é o abandono do alfabeto árabe e a transcrição da língua falada usando alfabeto latino, um fato que afeta todas as sociedades árabes.

É comum nas ruas de Beirute ouvir jovens usando as três línguas para formular uma frase qualquer, como no caso de “Please (inglês) Atini (árabe) Cigarette (frances)”. Tal comportamento não se limita ao dia a dia da juventude, reclama Susan, mas é usado e incentivado por alguns meios de comunicação locais e até no jornalismo libanês, o que dificulta muito o trabalho de preservação da língua e pode expandir o problema para outras sociedades árabes já que os canais de televisão libaneses são os de maior audiência na região.

O Problema

Desde abril de 2009 até o mesmo mês em 2010, Beirute celebra atividades por ter sido eleita a capital internacional do livro pela UNESCO. A diretora responsável pelos eventos, Laila Barakat, afirmou haver uma carência de textos literários na língua árabe.

Os especialistas se dividem ao tentar encontrar a origem da marginalização da língua árabe. Alguns culpam o sistema educacional que a transformou em uma língua secundária, não necessária para completar os níveis escolares no Líbano. Já outros acreditam que o problema nasce em casa, os pais tendem a conversar freqüentemente em inglês, frances e árabe com as crianças.

Uma professora de ensino fundamental relata que alguns alunos da sexta série não falam a sua língua original e ficam chocados quando descobrem que o clássico é muito diferente da língua popular. Alguns alunos chegam a pedir ao professor que explique as matérias em inglês, frances ou no dialeto popular por não compreender a língua árabe clássica.

Mas muitos acreditam que esse fato é decorrente da decadência da cultura árabe no último século, aliada ao desejo de imigração, à falta de políticas governamentais de proteção e incentivo à cultura local, e a não identificação de alguns grupos sociais no Líbano com a origem e cultura árabes.

Com al-Jazeera

quinta-feira, 18 de março de 2010

Amrik vira mostra permanente no Marrocos

A exposição de fotos mostra a presença árabe na América do Sul. Ela começou a circular em países árabes e sul-americanos após a 1ª ASPA e agora ficará fixa em um instituto no Marrocos.


A Amrik, exposição com fotografias sobre a presença árabe na América do Sul, passou a ser permanente desde a semana passada, no Marrocos. A mostra ficará em Rabat, no Instituto de Estudos Hispano-Lusos (IEHL), para o qual foi doada. Ela foi criada como atividade cultural da primeira Cúpula América do Sul-Países Árabes (ASPA), que ocorreu em 2005, em Brasília. Depois da cúpula, a mostra esteve em grandes cidades da América do Sul e mundo árabe. O Marrocos foi o último país pelo qual a exposição passou e por isso foi feita a doação. As informações são do embaixador do Brasil em Rabat, Virgílio Moretzsohn de Andrade.

O IEHL é ligado ao Ministério da Cultura do país árabe e se debruça a promover a cultura e pesquisas sobre os países cuja população fala espanhol e português. Andrade acredita que, como permanente, a exposição deve atrair pessoas que se interessam pelo tema – influência árabe na América do Sul – e árabes interessados na América do Sul e Latina. O Marrocos, lembra o embaixador do Brasil em Rabat, teve participação ativa na organização da ASPA. Depois de 2005 já ocorreu outra cúpula, em 2009, em Doha, no Catar.

Na inauguração da mostra permanente, o professor Nezar Messari, da área de Relações Internacionais, falou sobre os laços entre países árabes e países sul-americanos. Messari é marroquino, mas viveu por muitos anos no Brasil e trabalhou na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro. Recentemente ele voltou ao Marrocos, também para ser professor universitário. Antes de se tornar permanente no IEHL, a exposição Amrik esteve em uma galeria do Marrocos como parte do projeto itinerante.

"Amrik" é a maneira como os imigrantes árabes chamavam a América assim que desembarcaram na região. Em função do forte sotaque, eles não conseguiam pronunciar o nome da região com perfeição. Parte das imagens da mostra é arquivo histórico ou profissional dos fotógrafos e parte foi feita especialmente para o projeto nos diversos países da América do Sul. Espanha, Estados Unidos e Suíça também receberam a exposição.

quarta-feira, 17 de março de 2010

ESPANHA, SEMPRE CRÍTICA

A Espanha é um país para lá de interessante. Tem um presidente (é assim que chamam o primeiro-ministro José Luiz Zapatero) socialista, um povo crítico, um jornal como o EL PAIS, que analisa profundamente os fatos, tem a mundialmente famosa TVE, mulheres para lá de charmosas e lindas e manifestações (muitas com elas) constantes. Aqui vai o meu viva à Espanha!

Veja, clicando aqui, uma manifestação recente contra as indústrias de peles.

terça-feira, 16 de março de 2010

Estados Unidos consideram-se "insultados" por Israel

PUBLICO

Mitchell prometeu a Abbas impedir novas construções em Jerusalém Oriental


A diplomacia americana sente-se "insultada" com o anúncio israelita da construção de casas em Jerusalém Oriental e está disposta a impedi-la. A garantia foi dada hoje pelo enviado norte-americano ao Médio Oriente, George Mitchell, ao Presidente da Autoridade Palestiniana (AP), Mahmoud Abbas.

"Numa conversa telefónica, Mitchell disse que os Estados Unidos vão garantir que Israel deixa de construir na área", afirmou hoje uma fonte palestiniana ao diário "Al-Quds Al-Arabi", publicado em Londres e citado pelo seu congénere israelita "Ha'aretz".

Os Estados Unidos têm manifestado o seu desagrado por Israel ter anunciado, na terça-feira, uma nova construção de 1.600 casas para colonos, atitude que embaraçou profundamente o vice-presidente Joe Biden, que ali se encontrava de visita.

Numa entrevista dada à CNN, a secretária de Estado Hillary Clinton afirmou que o anúncio da construção de novas casas num bairro judaico de Jerusalém Oriental é um "insulto" para os Estados Unidos, pois coloca em risco todos os esforços de mediação que o país tem vindo a fazer.

"Foi um momento infeliz e difícil para toda a gente...e lamento profundamente que isso tenha acontecido", disse Clinton, que evitou atribuir pessoalmente as culpas ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, ainda que tenha notado ser ele, em última instância, responsável pelas acções do Governo israelita.

O Quarteto de mediadores para o Médio Oriente também já condenou a decisão israelita de avançar com o planeamento de novas casas em Jerusalém Oriental, território que os palestinianos consideram seu.

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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