O presidente lula equivoca-se no caso dos dissidentes cubanos em greve de fome (um deles morto em consequência da decisão). Primeiro, por insistir em opinar sobre o assunto. Depois, por usar argumentos que não têm sido válidos em outras ocasiões. Quando metalúrgico, Lula valeu-se da greve de fome para denunciar os arbítrios da ditadura. Se mudou de ideia a respeito do ato, como afirmou o chanceler Celso Amorim, é uma questão pessoal- e não pode servir para condenar quem ainda acredita neste instrumento de protesto secularmente adotado de leste a oeste do planeta.
A dita esquerda brasileira (e Lula, que diz não ser de esquerda, parece ter embarcado nesta) tem usado de certa leviandade em relação a Orlando Tamayo (o morto) e o jornalista Guillermo Fariñas, atualmente em greve de fome. Insinuam tratar-se de presos comuns e pedem respeito à Justiça cubana. Da mesma forma a ditadura brasileira tratava seus dissidentes, tachados de terroristas e bandidos. Muitos responderam a processo criminal, mas nem por isso é possível levar a sério a pantomima armada nos tribunais durante o regime militar. Cuba é um ditadura. Portanto...
Parte da esquerda, se assim podemos chamá-la, comporta-se como espelho da mídia tradicional que tanto critica. Até os cactos do Semiárido estão secos de saber: os meios de comunicação nativos movem-se por uma moral e indignação seletivas. Mas hipocrisia não se combate com hipocrisia.
É engraçado ver, por exemplo, os textos do ex-ministro José Dirceu em seu blog. Os cubanos são criminosos comuns, mas o italiano Cesare Battisti é um perseguido político digno de asilo. Não há nenhum informação de que Tamayo e Fariñas tenham matado alguém em nome de sua causa (o que em uma ditadura seria até justificável, a depender das circunstâncias). Já Battisti carrega no lombo quatro assas-sinatos, entre eles o de um açougueiro e o de um joalheiro de periferia, fundamentais, como sabemos, à grande causa. Seus crimes foram consumados em um país sob normalidade democrática e em pleno Estado de Direito. Ainda assim, o mesmo governo capaz de questionar uma decisão da magistratura italiana e corroborada pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos não duvida da lisura da Justiça cubana.
Há maneiras melhores de defender Cuba e o legado da revolução castrista.