quarta-feira, 30 de junho de 2010

MATA-SE O CANTO


Há aqueles seres que, para viver, necessitam de apenas um canto.
Que pode tornar-se um recanto.
Onte tudo é possível, até um sinal de verdadeira alegria: o canto.

Toda essa alegria parece estar próxima de um final infeliz. O ser humano, sempre ele, protagoniza mais uma história covarde e cruel.
Talvez você não se lembre ou não tenha idade para isso, mas há algumas décadas o Walt Disney criava o desenho de uma baleia cantora que encantava a todos ou a quase todos.
"Baleia cantora?", você deve estar se perguntando. Sim, existe no mundo real. São as Jubarte, umas baleias não muito bonitas, mas simpáticas, que invadem o nosso litoral nordestino de maio a novembro para procriar. Para elas, aqui é um recanto. Cantam, saltam e se exibem. Parece que o nosso calor, além de agradá-las, cria-lhes um certo ar de espontaneidade.
Porém, o destino desses imensos mamíferos é o frio do oceano Ártico, onde realmente moram e se alimentam. E é lá que recentemente foi autorizada a caça - a elas - para a subsistência dos chamados aborígenes da imensa ilha conhecida como Groenlândia.
Baleias enormes sendo caçadas por aborígenes? Soa estranho. Pensava que os nativos do ártico comessem focas e outros seres e peixes, ainda que grandes, mas não baleias gigantes como as Jubarte, que não ficam próximas das costas, mas em águas profundas.
De qualquer forma, com o devido respeito às tradições daquele povo, a matança de seres cantantes apenas expõe o quanto nós seres humanos estamos longe de um avanço muito além do tecnológico, o progresso comportamental, que reflete via transversa no físico e espiritual.
Necessitamos matar outros seres, como matávamos até pouco tempo populações de humanos conquistadas em guerras. Éramos objeto, como ainda fazemos com outros seres vivos. Mas essa é apenas uma parte de nossa pequeneza. Até recentemente, escravizávamos  outros seres, discriminávamos (e ainda discriminamos) mulheres, negros e outros grupos menos poderosos.
Ainda praticamos as guerras e aplicamos as penas de morte. Também nos alimentamos de carne e, aí com uma crítica ao hábito brasileiro, frequentamos churrascarias com rodízios incessantes de quase todos os tipos de carnes existentes.
Abandonamos, praticamente impunemente, cachorros e gatos à própria sorte nas ruas e estradas. Recolhemos aves à reclusão das gaiolas. Mantemos confinados bois, porcos e aves que em pouco tempo servirão para um certo tipo de deleite mais sádico do que propriamente biológico.
Somos nós, sempre nós, que dizimamos impunemente vidas, e ainda, sem a mínima sensibilidade, silenciamos os cantos e a arte de seres enormes, mas frágeis, que vivem em alto mar. O canto das sereias já não existe mais. Resta apenas o choro dos humanos que veem o fracasso do rumo adotado pela nossa civilização.
Essas lágrimas talvez venham a secar por força de ação dessa mesma humanidade que, sem resolver as injusticas e as causas de tanta infelicidade, prefere por fim àquilo que não é capaz de compreender ou aceitar.
Preferimos dizimar tudo o que nos permita reconhecer o nosso fracasso, e isso nos aproxima do fim da história, sem canto, sem lágrimas e em absoluto silêncio, como o é a morte.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Banco iraniano abre filial só para mulheres

Thaís Romanelli

O banco Melli, um dos principais do Irã, inaugurou no dia 7 de junho uma agência bancaria exclusiva para mulheres, com o objetivo de "promover a autonomia financeira feminina", num país onde as leis e os costumes promovem a desigualdade de gênero.

A nova agência, que fica na cidade de Mashhad, foi criada para seguir à risca uma das restrições do sharia, sistema legal em vigor desde a revolução islâmica de 1979. De acordo com a lei iraniana, é proibido o contato entre homens e mulheres que não sejam parentes. No entanto, a proibição não é levada em conta nas atividades de serviços públicos, como bancos e lojas. Sendo assim, as mulheres eventualmente são atendidas por alguém do sexo oposto.

Segundo a agência de notícias iraniana Irna, a agência bancária foi aberta como um diferencial para os mais radicais em Mashhad, uma das cidades sagradas do país.

A exclusividade no banco é um dos novos setores de especialização de público por gênero. Nos últimos anos, táxis e jardins foram criados unicamente para o público feminino.

Paralelamente a isso, a policia local iniciou, a cerca de duas semanas, uma campanha contra o “uso errôneo do véu” para “zelar pela moral e os bons costumes", o que inclui a possibilidade de parar carros nos quais viajem um homem e uma mulher a sós e perguntar qual é a relação entre ambos e a aplicação de multas que podem chegar a 1,3 mil euros.

Autoridades religiosas levaram as denuncias relacionadas a falta de moral das mulheres o extremo chegando até mesmo a relaciona-las a a causa de futuros terremotos.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Copa traz curso de idiomas para 80 mil pessoas

O Brasil se prepara para receber bem os turistas da Copa do Mundo de 2014. Cerca de 80 mil profissionais de turismo do país farão, gratuitamente, cursos de inglês e espanhol.

Leandro Kleber
Contas Abertas São Paulo

Além de projetos de infraestrutura e construção de estádios para a Copa do Mundo de 2014, o Brasil também já se prepara para recepcionar bem os turistas com o inglês e o espanhol na ponta da língua. Cerca de 30 mil profissionais de setores do turismo espalhados por seis capitais que receberão os jogos – Rio de Janeiro, Salvador, Fortaleza, Recife, Manaus e São Paulo – já fazem, gratuitamente, curso online de capacitação de língua estrangeira.

A iniciativa faz parte do projeto "Olá, turista!”, desenvolvido pelo Ministério do Turismo. De acordo com o caderno Destaques do governo federal deste mês de junho, esta é a primeira ação de qualificação em idiomas motivada pela Copa. O objetivo do programa é capacitar 80 mil pessoas em cursos de inglês e espanhol nas 12 cidades-sede da Copa, em parceria com a Fundação Roberto Marinho. O público-alvo do projeto se concentra nos setores de hotelaria, gastronomia, segurança, saúde, comércio, centros culturais, transporte e educação.

Os alunos terão o prazo de até 12 meses para concluir o curso, a contar da data de confirmação da inscrição. Aqueles que não realizarem nenhuma atividade durante o período de 30 dias poderão ser substituídos.

Serão três módulos: o básico (56 horas de duração), no qual o aluno será capaz de cumprimentar pessoas, apresentar-se, contar até 100 e nomear cidades; o profissional (12), no qual o objetivo é familiarizar o público com situação, diálogos e vocabulário pertinentes a cada categoria ligada ao turismo; e o regional (12 horas), no qual são explorados os atrativos turísticos de cada estado. No final das aulas, o participante fará um teste que para medir seu aprendizado. Se atingir um rendimento de 70%, receberá um certificado.

Segundo o Ministério do Turismo, nos municípios contemplados pelo programa os alunos têm acesso a laboratórios de informática com internet. Neles, podem entrar na escola virtual e receber apoio de monitores gratuitamente. Além disso, segundo a pasta, uma central de atendimento estará disponível para tirar dúvidas sobre o projeto.

Para se inscrever, a pessoa deve ser alfabetizada, preferencialmente com o ensino fundamental completo, ser maior de 18 anos e ter ocupações ligadas ao turismo. O prazo de inscrições é até o dia 30 de junho deste ano. Mais informações no site www.olaturista.org.br.

O Brasil deve receber 600 mil visitantes na Copa do Mundo de 2014, sendo que 65 destinos turísticos já estão mapeados para o período de realização dos jogos. Estima-se que a Copa envolverá 870 mil profissionais.

domingo, 27 de junho de 2010

O PAÍS DA COPA TEM HISTÓRIA

Causa espanto a existência de um país no meio da África subsaariana ter sofrido com um regime de segregação racial justamente contra os negros que sempre foram os donos da terra, enquanto os brancos dominadores somente poderiam ser caracterizados como invasores. Era o Apartheid, equiparado ao nazismo pela própria Organização das Nações Unidas.
Uma matéria publicada na Revista Carta Capital desvenda um pouco da triste história da África do Sul.
A política daquele país esteve dominada por ex-nazistas. Mas, ao contrário do que muitos pensam, os piores momentos não ocorreram entre os anos 60 e 80.
Dizem que a política segregacionista surgiu em 1678 com os holandeses fundadores da cidade do Cabo, onde era veementemente proibida qualquer relação íntima entre europeus e indígenas. Em 1858, porém, a própria Constituição já declarava que "jamais se instaurará a igualdade entre brancos e não-brancos, quer na Igreja quer no Estado". Os africanderes, como eram auto-denominados os descendentes dos colonos holandeses, foram surpreendidos pela invasão dos ingleses, que tomaram a Cidade do Cabo ainda em 1815. Nos primeiros anos do século XX, de 1901 a 1903, houve a primeira filmagem de uma guerra, que tornou pública mundialmente a existência daquilo que passamos a denominar "campos de concentração", onde foram aprisionados os africânderes, resultando na morte de milhares de crianças. Na década de 40 ainda era proibida qualquer relação sexual entre brancos e não-brancos. E incluiam-se nesta classificação os negros, os mestiços e os próprios indianos imigrantes.
Nas décadas de 40 e 50, a carga horária de trabalho dos negros era muito superior ao dos brancos e o salário 16 vezes menor. O sistema educacional era diferente de acordo com as categorias da população: brancos, asiáticos, mestiços e negros. Estava criado o Apartheid, um sistema "legal" que mantinha a diferenciação, a exclusão e a indignidade, legitimadas pelo sistema político muito tempo antes.
Na década de 50 iniciou-se a resistência negra e a tentativa de descumprimento desse arcabouço jurídico, com inúmeras prisões de seus membros. Logo no fim dos anos 70, o então primeiro-ministro Pieter Botha tentou abrandar o regime, para fazer frente ao que se chamava de perigo comunista. Surgia uma frente ainda mais à direita, existente até hoje. Em 1991, a segregação e a discriminação em locais de acesso ao público passaram a ser ilegais e em 1992 pôs-se fim à política do Apartheid.
Porém, até hoje a economia continua sendo dominada pelos brancos. Há um ou outro negro que participa da elite, mas a exclusão, a morte ocasionada por doenças, principalmente a Aids, afeta principalmente os não-brancos.
E é lá que está sendo realizada a Copa do Mundo de 2010. Mesmo assim, a grande mídia prefere não desvendar a triste história da maioria daquele povo, até porque há algumas empresas de comunicação brasileiras que têm parceria econômica com grupos sul-africanos que financiavam e apoiavam a política do apartheid.

sábado, 26 de junho de 2010

SOBRE CONFORTO E CASA

Há frases que revelam uma análise quase que psicanalítica do mundo real.


O texto abaixo era integrante de um email que recebi de uma amiga muito querida e especial que tem um talento incrível para a escrita, em especial a dramaturgia teatral.

SOBRE CONFORTO E CASA

"A criação numa família grande ensina a dar valor ao que é básico, fundamental, que é comer e estudar. O resto, além de luxo, não faz parte da rotina da vida. A necessidade, sim, molda o caráter. Porém, até os espartanos precisam de coisas belas, de artes, de amolecer o corpo e a mente sempre tão preparados para a guerra do dia-a-dia... e uma casa confortável é um refúgio para um guerreiro..."
Márcia
Como ela não está totalmente identificada, permito-me qualificá-la como um ser mutante que não se cansa de aprender sobre tudo, desde a área jurídica até o teatro e a dança, permeando sempre sobre todos os aspectos da vida no seu sentido mais amplo.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

A geopolítica da desaparição do Euro

Com a crise financeira européia, está se dando um passo a mais no avassalamento da Europa. Com o Tratado de Lisboa, a Europa entregou sua defesa à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN): acabou-se o velho sonho de uma defesa européia independente. E agora, com uma política financeira controlada pelo FMI, a UE renunciou a um pilar essencial de sua independência. Sem a defesa e a moeda, não lhe resta nada para afirmar sua independência dentro do bloco ocidental e frente ao resto do mundo.

Pierre Charasse - La Jornada

Na massa de informações que circula sobre a crise do euro, não é fácil detectar os fenômenos de fundo que se estão produzindo. Por isso, é importante adotar alguma distância, situar essa crise no curso dos acontecimentos dos últimos 20 anos, depois da queda da União Soviética, e projetar uma perspectiva geopolítica de médio a longo prazo. A crise grega confirmou, como se fosse necessário, que a Europa como união política não existe mais.

Nas últimas semanas, a União Européia (UE) revelou ao resto do mundo sua extrema debilidade. O euro não resistiu às ofensivas de todo tipo que sofreu nos últimos meses, apesar de ser a moeda de uma das regiões mais ricas e industrializadas do mundo.

A primeira grande crise financeira mundial da era da globalização evidenciou que a moeda européia não podia aguentar as turbulências do mercado e os ataques especulativos, exatamente porque não tinha um respaldo político sólido e coerente. Os ideólogos ultraliberais que inventaram a moeda européia decidiram aplicar com rigor o princípio do laisser-faire, proibindo aos governos de intervirem nas políticas do Banco Central Europeu (BCE).

Os governos da zona do euro se auto-mutilaram, quando aceitaram o dogma da independência do BCE, renunciando a qualquer possibilidade de submeter as políticas financeiras a condições políticas. Depois de muitas discussões, apresentaram como um grande avanço a decisão de constituir um fundo de resgate de 440 bilhões de euros. E nenhum governo, vendo o desastre social que os planos de ajustes impostos pelo BCE e pelo FMI, quis opor políticas concorrentes à doxa ultraliberal.

O que o público europeu não vê em geral é que, com a intervenção do FMI, os Estados Unidos agora têm direito de intervir na economia européia. Todas as decisões do FMI requerem necessariamente a aprovação do governo estadunidense, se é que não vêm inspiradas diretamente por esse país. Na reforma dos direitos de voto no FMI, anunciada na última Cúpula do G20, os EUA conserva intacta a minoria de controle com 16% dos votos. Pediu-se a UE que reduzisse sua parte para que a cota de países emergentes aumentasse. O presidente Obama exerce plenamente o poder que lhe dá a nova arquitetura financeira internacional, chamada governança mundial, e exige da Grécia e de outros países europeus que baixem os salários de seus funcionários, que reformem o regime de aposentadorias e que diminuam o gasto público em geral. E os europeus obedecem.

Com a crise financeira européia, está se dando um passo a mais no avassalamento da Europa. Com o Tratado de Lisboa, a Europa entregou sua defesa à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN): acabou-se o velho sonho de uma defesa européia independente. E agora, com uma política financeira controlada pelo FMI, a UE renunciou a um pilar essencial de sua independência. Sem a defesa e a moeda, não lhe resta nada para afirmar sua independência dentro do bloco ocidental e frente ao resto do mundo.

Neste contexto, parece lógico que o euro tenda a se aproximar da paridade com o dólar. Fala-se, nos círculos financeiros, de uma possível dolarização da zona do euro. Tecnicamente convém aos países industrializados da Europa, para recuperarem sua competitividade econômica, castigada na última década por um euro forte. Politicamente convém aos Estados Unidos eliminar uma moeda rival do dólar frente a China e a outros países emergentes. Os novos membros da União Européia vêem com muito bons olhos a dolarização da Europa, que seria para eles uma garantia suplementar com que contar, um guarda-chuva estadunidense, como para sua defesa frente a Rússia, seu inimigo de sempre.

O diretor do FMI, Dominique Strauss Khan refere-se com frequência à necessidade de uma moeda mundial, consequência lógica da globalização econômica e financeira. Em Zurique, em 12 de maio, ele fez um chamado a favor da criação de um banco central mundial, com uma moeda mundial. Na França, o Secretário de Estado para a Europa, Pierre Lellouche, militante atlantista incansável, anunciou triunfalmente que no plano monetário se chegou a um mecanismo de solidariedade automática idêntico ao que prevê o artigo 5 do Tratado da OTAN. Com isso, dá-se o último toque à construção de um espaço europeu subsidiário do território estadunidense para formar um bloco perfeitamente homogêneo sob a liderança de Washington. Desde a sua eleição, o presidente Barack Obama pede a seus aliados que cerrem filas para enfrentar as novas ameaças mundiais.

Outro efeito da crise, os planos de ajuste estrutural impostos como remédio, terão como consequência a curto prazo a tatcherização da Europa continental, ou seja, o fim do modelo social europeu. A Grã Bretanha, aliado incondicional dos Estados Unidos, não membro da zona do euro com a libra esterlina, será o grande vencedor dessa crise, com a imposição de seu modelo econômico e financeiro a toda a Europa, e com o fortalecimento da City como praça financeira impermeável a todos os intentos de regulação que se sugere para prevenir novas catástrofes financeiras mundiais.

Com a dolarização da Europa vai se fechar um capítulo da história moderna aberto com a derrubada do campo socialista. Para a corrente atlantista européia, atualmente majoritária, a desaparição da Europa como ator político e financeiro autônomo é o preço a pagar para que o Ocidente continue controlando o mundo frente aos países emergentes.

(*) Pierre Charasse, diplomata de carreira, ex-embaixador, trabalhou no Ministério de Relações Exteriores da França, entre 1972-2009. Ocupou vários cargos nas Embaixadas da República Francesa em Moscou, na Guatemala, em Havana e no México. Foi conselheiro técnico no gabinete de Claude Cheysson, Ministro de Assuntos Exteriores, e de Pierre Joxe, Ministro do Interior entre 1984 e 1986. Foi Cônsul Geral em Nápoles e em Barcelona, embaixador no Uruguai, no Paquistão e no Peru, e embaixador itinerante encarregado da cooperação internacional contra o crime organizado e a corrupção, entre 2000 e 2003, assim como chefe da delegação francesa na Conferência das Nações Unidas sobre o comércio ilícito de armas leves e de pequeno calibre (Nova York, 200-2001), Secretário Geral da Conferência Ministerial “As Rotas da droga da Ásia Central a Europa” (abril de 2003) e Ministro Plenipotenciario desde 1998. Aposentou-se em agosto agosto de 2009.

Tradução: Katarina Peixoto

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Estudos apontam para perseguição velada a religiões afrobrasileiras

De histórica invisibilidade, a intolerância contra práticas religiosas de matriz afro ganhará estudo detalhado no Rio



BRASIL DE FATO
Leandro Uchoas

No início de maio, uma missão decidiu investigar, no Rio de Janeiro, um dos mais velados e complexos problemas dos afrodescendentes no Brasil. A Relatoria do Direito Humano à Educação se incumbiu de decifrar casos de intolerância religiosa contra praticantes de candomblé, umbanda e outras religiões de matriz africana. A proposta é parte da missão “Educação e Racismo no Brasil”, realizada em diversos estados ao longo deste ano. Com apoio da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) do Rio de Janeiro, a equipe também se propôs a investigar a situação da educação em área de remanescentes de quilombolas.

Segundo os estudiosos, a intolerância contra práticas religiosas afrobrasileiras enfrenta a indiferença social. O problema sofre de notória invisibilidade. Entretanto, por conta principalmente do preconceito por parte de adeptos de religiões neopentecostais (Igreja Universal, Internacional da Graça, entre outras), práticas religiosas chegam a ser quase proibidas em determinadas regiões. O aumento dos praticantes de cultos neopentecostais, e de seus poderes midiático e político, somado à ambiguidade das políticas educacionais seriam as principais causas da intolerância religiosa. Márcio Gualberto, do Coletivo de Entidades Negras do Rio de Janeiro, ironiza o preconceito. “As religiões de matrizes africanas não têm como cultuar o diabo, até porque esta figura não existe em nosso panteão”, diz.

Em janeiro, o Instituto de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos da UFF (InEAC-UFF) lançou o dossiê “Intolerância Religiosa no Rio de Janeiro”. O documento analisa conflitos relacionados a diferenças identitárias e étnico-religiosas no Estado, de forma a entender o tratamento dado a essas distinções por parte de instituições públicas. “A intolerância religiosa tem total invisibilidade por parte do Estado e dos próprios movimentos sociais. É a falsa ideia da democracia racial”, afirma Fábio Reis Mota, cientista social do InEAC-UFF.

Entre 2008 e 2009, a CCIR acompanhou 17 casos específicos de registros policiais de intolerância religiosa, registrados no dossiê. Uma das constatações da Comissão foi a dificuldade de a polícia perceber a importância do registro de ocorrência. Muitas vezes, as vítimas são convencidas a não registrar, como se tivessem vivenciado um problema menor. “A polícia chama esse tipo de evento de 'feijoada', algo menos importante”, diz Fábio. Os dados revelam que a maioria das vítimas tem mais do que 21 anos. Entre os autores de crime religioso, a idade mínima cresce para 40 anos, o que talvez revele um grau de intolerância maior entre os mais velhos. A maior parte dos casos ocorre na instituição religiosa ou na casa da vítima.

Outra crítica feita pelos pesquisadores diz respeito ao tratamento midiático. A religiosidade afrobrasileira seria retratada de forma estereotipada, reforçando preconceitos no imaginário social. “A mídia televisiva não tem um tratamento homogêneo para as religiões africanas. Uma parte dela aceita a diversidade religiosa, e podemos ver personagens positivos. Entretanto, esse segmento que tende a tratá-las positivamente costuma fazer das religiões de matriz africana exemplos da exceção, e não da regra”, afirma Joel Zito Araújo, diretor do documentário “A negação do Brasil”. “Em determinados casos, assistimos na pregação de pastores, ou nos comentários nada sutis de apresentadores de TV, uma estereotipização dos praticantes de cultos afros, enfaticamente retratados como cultuadores do demônio, alimentando uma rede de preconceito, ódio e ignorância”, completa.

Guerra santa

Segundo o professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), José Flávio Pessoa, sempre houve essa repressão. Mudou apenas a maneira como se dá. Sacerdotes dos calundus, formas rudimentares de religiosidade existentes até o século XIX, eram perseguidos e assassinados. “Até os anos 1950, a Igreja Católica promovia a perseguição. Nessa época, a polícia ainda entrava nos templos, destruía, sequestrava bens. A partir da década de 1970, as igrejas neopentecostais ganham expressão e promovem uma verdadeira 'guerra santa' contra a religiosidade afrobrasileira. E eles têm formas diversas de pressionar o Estado, como proibindo o sacrifício de animais e cultos barulhentos”, afirma.

A Comissão de Combate à Intolerância Religiosa foi formada em março de 2008, após um incidente na Ilha do Governador. Praticantes de religiões neopentecostais expulsaram casas de umbanda e candomblé do local, destruindo templos. Na ocasião, adeptos das religiões de matriz africana se uniram e organizaram um protesto em frente à Assembleia Legislativa (Alerj). Em seguida, eles formaram a CCIR, com o objetivo principal de combater o preconceito religioso. As duas principais criações da Comissão foram a “Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa” e o “Fórum de Diálogo Inter-religioso”. O grupo tomou como uma de suas principais reivindicações a criação de uma delegacia especializada para repressão ao crime de discriminação étnico-racial-religiosa.

Márcio Gualberto, do Coletivo de Entidades Negras do Rio de Janeiro, conta que, em 2009, uma mulher trajando roupas referentes à sua religião recebeu uma cuspida em Campo Grande, de uma evangélica de igreja neopentecostal. No mesmo ano, uma casa de umbanda foi atacada no Catete por fanáticos religiosos. Segundo ele, o Coletivo estaria planejando para 2011 a Conferência Nacional sobre Liberdade Religiosa, a ser convocada pelo governo federal. “Casos de intolerância são muito maiores do que imaginamos. Os agentes perpetradores são os mais variados e percebemos não só a omissão como, às vezes, o próprio Estado como agente”, acusa.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

RÚSSIA: PODERES EXTRAS AOS SERVIÇOS DE INTELIGÊNCIA

O jornal impresso espanhol EL PAIS divulga que o parlamento russo aprovou recentemente uma lei que permite ao Serviço Federal de Segurança, órgão sucessor da velha e temida KGB da época soviética, a advertir cidadãos que não praticaram crimes. A intimidação serviria para evitar que crimes viessem a ser cometidos por aquelas pessoas cujo comportamento indica que poderiam vir a praticá-los, segundo os indícios ou elementos colhidos pelo órgão de inteligência.
Não foi mencionado, mas é evidente que esses poderes extras visam coibir críticas de intelectuais e de jornalistas às atitudes abusivas do governo central russo no campo político nacional e regional.
A lei, que permite a divulgação na imprensa, teve voto contrário da bancada comunista, sob a alegação de que violaria as liberdades e os direitos civis.
É a nova Rússia cada vez mais ao antigo estilo soviético.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Inexplicável?


CARTA MAIOR

O ideólogo do sionismo revisionista, Zeev Jabotinsky, declarou há 87 anos que a única maneira de impor o Estado judeu era esmagando os árabes. Não é de se estranhar, portanto, que Ron Torossian, organizador da manifestação “Estamos com Israel”, realizada em frente à missão da Turquia na ONU, repetisse essa opinião: “Creio que devemos matar cem ou mil árabes por cada judeu que eles matam”. Por que não 100 mil ou 1 milhão? O artigo é de Juan Gelman (foto), no Página 12.

Juan Gelman

Circulam várias hipóteses sobre a razão da operação militar israelense que causou a morte de 9 a 16 passageiros do barco de bandeira turca Mavi Marmara, dezenas de feridos, e o seqüestro da frota que transportava 10 toneladas de ajuda humanitária para Gaza – sob bloqueio desde 2007 e invadida em 2008 -, além da detenção de quase 700 pessoas, postas em liberdade após sofrer vexames de todo tipo. As explicações oficiais de Tel Aviv são inquilinas do ridículo: os agredidos são agressores e os agressores, agredidos; os levados à força para Israel são imigrantes ilegais, aqueles que socorrem palestinos com fome são cúmplices do Hamas primeiro, terroristas do Hamas depois, etc. É velha, muito velha, a tática de vitimização do carrasco.

O primeiro ministro Netanyahu justificou o ataque dizendo que é preciso evitar que o Hamas receba armas por “ar, terra e mar” – desviando-se do fato de que o Hamas recebe essas armas por túneis - e que nenhum protesto o levará a levantar o bloqueio contra Gaza. Essa é a questão de fundo: Tel Aviv não renunciou ao sonho da Grande Israel e o cerco imposto a Gaza prejudica, mais do que ao Hamas, a seus habitantes, que já sofreram a Operação Chumbo Derretido que tirou a vida de 1.300 civis palestinos. Isto, falando claramente, chama-se limpeza étnica e sua história também é velha.

O ideólogo do movimento de direita denominado Sionismo revisionista, Zeev Jabotinsky, declarou há 87 anos que a única maneira de impor o Estado judeu era esmagando os árabes. Não é de se estranhar, portanto, que Ron Torossian, organizador da manifestação “Estamos com Israel”, realizada em frente à missão da Turquia na ONU, repetisse essa opinião: “Creio que devemos matar cem ou mil árabes por cada judeu que eles matam”. Por que não 100 mil ou 1 milhão? Por acaso Ariel Sharon não foi responsável, em 1982, pela ação de uma milícia que resultou na matança de quase 500 civis palestinos nos campos de refugiados de Sabra e Shatila? Se isso é ideologia será preciso mudar a definição da palavra “ideologia”.

O governo israelense parece guiado por outro conceito central de Jabotinsky: “Sustentamos que o sionismo é moral e justo. E dado que é moral e justo, é preciso fazer justiça ainda que José ou Simão, ou Ivan ou Ajmed, não estejam de acordo”, afirmou em um ensaio publicado na revista russa Raavyet, em novembro de 1923. Carlo Strenger, professor da Universidade de Tel Aviv, chamou de “mentalidade de bunker” aquela imperante hoje no país: Israel “não escuta a crítica, seja interna ou externa. Essa incompetência é reforçada pela soberba: Israel está apaixonado pela idéia de que tem razão e que todos os demais estão errados; portanto, é incapaz de admitir que a política que aplica aos palestinos foi desastrosa”. Strenger cita o filósofo francês Bernard- Henry Lévy, um fervoroso defensor de Israel, que chamou de “autismo político” este pensamento que atribui aos dirigentes israelenses: “O mundo não nos entende e nos condena se fazemos algo e nos condena se não fazemos. De modo que fazemos o que queremos”. Jabotinsky redivivo.

Os EUA sempre forneceram o espaço internacional necessário para que essa vontade se cumpra acima de qualquer coisa. “A única democracia na região”, segundo a Casa Branca, não vacila em espionar o governo estadunidense neste contexto de “fazer o que bem entender”. A reação de Obama frente ao ataque ao navio turbo e ao banho de sangue que se seguiu foi débil. Sequer condenou o ataque, pedindo apenas um esclarecimento dos fatos e aceitando que Tel Aviv rechaçasse a instalação de uma comissão investigadora internacional. O presidente norte-americano se converte assim em cúmplice da não- investigação que será feita. O presidente Joe Biden divulgou uma espécie de posição oficial sobre o tema: defendeu o bloqueio de Gaza e disse que Israel “tinha o direito a saber” qual era a carga do navio. Cabe lembrar que Netanyahu deu uma bofetada política em Biden quando este visitou-o em março passado: o vice foi visitá-lo para impulsionar o processo de paz com os palestinos e o primeiro-ministro anunciou a construção de 1.600 edifícios novos em território palestino ocupado. Vê-se que Biden é um homem que sabe perdoar. É improvável que se produzam mudanças na estreita e muito íntima relação EUA-Israel.

Cabe reconhecer que, ao contrário de Tel Aviv, Washington não tem problema em abandonar seus cidadãos em apuros, Cerca de 10 estadunidenses viajavam no comboio de ajuda humanitária a Gaza, entre eles, Joe Meadors, marinheiro da fragata USS Liberty, bombardeada por aviões e lanchas lança-torpedos de Israel em 1967; Ann Wright, coronel do Exército dos EUA, Edward L. Peck, ex-subdiretor do grupo de tarefas antiterroristas do gabinete de Reagan. Todos terroristas, naturalmente.

(*) Poeta, escritor, tradutor e jornalista argentino, vencedor do Prêmio Cervantes 2007 e do Prêmio de Literatura Latino-Americana e das Caraíbas Juan Rulfo, entre outros.

Tradução: Katarina Peixoto

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Armas nucleares: da hipocrisia à alternativa


Enquanto alguns dos países mais armados do planeta apontam o dedo para o Irã, campanha da sociedade civil sugere abolir de fato os artefatos atômicos — e deixar de dividir o mundo entre as nações que têm as bombas e as outras. Discurso de Lula apoia proposta

Assim que terminou em Washington a Cúpula de Segurança Nuclear (Nuclear Security Summit), convocada pelo governo dos Estados Unidos, a mídia internacional chamou atenção para... Teerã. Iniciativa de Barack Obama, a cúpula tem importância real. Seu objetivo é evitar que a ameaça da explosão de armas atômicas se multiplique, num mundo em que o uso da energia nuclear crescerá e em que a há, de fato, grupos terroristas dispostos a praticar qualquer tipo violência, em nome (ou a pretexto...) de suas causas. Mas, muito antes de produzirem efeitos, os compromissos assumidos por 46 países estão sendo empregados para ampliar as pressões dos EUA e Israel contra o desenvolvimento de tecnologia nuclear pelo Irã – que não possui, até o momento, nenhuma arma atômica.

Esta distorção pode ser explicada, em boa medida, pela existência, desde 1968, do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP). Apesar de seu nome cativante, ele é intrinsecamente injusto – e por isso tem se mostrado cada vez menos eficaz. Divide o planeta em duas classes de países: de um lado, os que podem se armar com os dispositivos de destruição da vida mais poderosos já criados pelo ser humano; de outro, todos os demais.

Entre 3 e 28 de maio, uma conferência da ONU, em Nova York, debaterá a revisão do TNP. Um conjunto de organizações da sociedade civil está aproveitando esta oportunidade para defender uma proposta pacifista fundamental. A ideia é substituir o tratado hoje existente por um Convênio sobre Armas Nucleares que proíba a produção de armas atômicas por qualquer país; e que estabeleça um cronograma claro para desmantelar os estoques hoje existentes. Ao discursar em Washington, em 13/4, o presidente brasileiro defendeu explicitamente algo idêntico: "a completa e irreversível eliminação de todos os arsenais".

A necessidade de um compromisso internacional que supere o TNP pode ser compreendida num conjunto de textos disponíveis na Biblioteca Diplô. O primeiro deles é Sessenta anos de armas nucleares, escrito em novembro de 2005, por Georges Le Guelte. Ele narra, em suas diversas fases, o esforço travado pelos países que detêm armas atômicas para evitar que outras nações o façam – e revela como este jogo representa um risco crescente para a humanidade.

Primeiros a desenvolver a energia atômica e as armas nucleares, os Estados Unidos proibiram, mostra Le Guelte, a divulgação de qualquer informação relativa às novas tecnologias, entre 1942 e 1954. Nesse ano, a União Soviética explodiu sua primeira bomba, somando-se imediatamente aos norte-americanos na busca da exclusividade. A tentativa voltou a fracassar. Doze anos depois, quando foi assinado o TNP, mais três nações dominavam o ciclo completo de produção de armas atômicas: Reino Unido, França e China.

Mas os sucessivos fracassos não os impediram de insistir no mesmo erro. O TNP divide explicitamente o mundo entre os “Estados dotados de armas” – que haviam conseguido explodir algum engenho até 1º de janeiro de 1967 – e os que “deveriam se comprometer a não tentar obtê-las, e a colocar todas as suas instalações nucleares sob o controle da Agência Internacional para Energia Atômica (AIEA)”.

A desigualdade era tão flagrante que, num primeiro momento, a grande maioria das nações recusou-se a aderir ao TNP. Algumas, como Alemanha, Japão e Itália, denunciaram abertamente seu caráter de submissão. O acordo só adquiriria algum peso internacional em meados dos anos 1970: o avanço dos movimentos pacifistas (e a inexistência de uma alternativa) acabou sendo utilizado pelos defensores do TNP para apresentá-lo como o “acordo possível”. O número de aderentes cresceu então sem cessar, até chegar aos 187 países hoje firmantes.

Por trás desta aparente unanimidade, porém, o armamento prosseguiu. O chamado “clube atômico” foi engrossado, declaradamente, por Índia, Paquistão e Coreia do Norte. Israel assumiu a condição única de um Estado com armas nucleares não-declaradas. Este número tende a aumentar rapidamente, argumenta o mesmo autor em No embalo da globalização sem lei. Novas tecnologias (como o enriquecimento de urânio por meio de centrífugas) tornaram o processo de produção mais acessível e dissimulável. Pelo menos Alemanha, Bélgica, Holanda, Suíça, Japão e Coreia do Norte acumularam quantidades de plutônio e urânio enriquecido capazes de produzir armas rapidamente. O mesmo poderia ocorrer com Irã, Arábia Saudita, Egito, Síria e Turquia – sem falar de Brasil e Argentina, que também adquiram conhecimentos técnicos importantes. Ainda mais grave é o fato de os Estados Unidos terem adotado, em janeiro de 2002, uma Revisão da Postura Nuclear (Nuclear Posture Review) que permite a seu presidente utilizar as armas atômicas como outras quaisquer, a depender apenas de considerações sobre a missão militar a ser alcançada.

Dois outros textos da Biblioteca chamam atenção, em particular, para a hipocrisia adotada por Washington em relação ao Irã. Em janeiro de 2005, Walid Charara sugeriu, em Quando os Estados Unidos provocam um confronto, que a oposição norte-americana ao suposto interesse de Teerã em armas nucleares pode ser apenas um pretexto. O que os EUA desejariam, na verdade, é a derrubada do regime de República Islâmica. Já em O direito à tecnologia, Cyrus Safdari associa o contencioso entre os dois países à tentativa dos EUA de privar o adversário do uso pacífico da energia nuclear. Ele lembra: ao contrário do que geralmente se supõe, as reservas petrolíferas do Irã estão em declínio e a necessidade de diversificar as fontes de energia é real.

Se o TNP é tão injusto, que significa exatamente a alternativa de um Convênio sobre Armas Nucleares, que proíba sua pesquisa, teste e armazenamento por qualquer país? Para responder a esta pergunta, a Biblioteca sugere, em primeiro lugar Desarme Nuclear: há llegado la hora. Produzido por Dimity Hawkins, e publicado pela Agência IPS, o artigo relata que, além de apoiada por uma coalizão de organizações da sociedade civil, a hipótese de um novo acordo foi aprovada, em mais de uma ocasião, por mais dois terços das nações presentes à Assembleia Geral da ONU. (Antonio Martins)

domingo, 20 de junho de 2010

O Poder é civil?

CARTA CAPITAL
Mauricio Dias

Militares criam comissão para elaborar novos códigos e, outra vez, atropelam o Congresso

Embora seja civil, egresso do Parlamento e com passagem pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro da Defesa, Nelson Jobim, desde que assumiu essa função, passou a fazer visitas oficiais aos quartéis e dependências das Forças Armadas trajando uniforme militar com a patente de general de quatro estrelas. Esse é o posto máximo da carreira. Nos quartéis, Jobim é chamado de “general genérico”.

De tanto brincar de general, acostumou-se à fantasia.

Em duas ocasiões cruciais, recentes, alinhou-se aos militares: ameaçou demitir-se com os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, se não fossem alterados os termos de criação da Comissão da Verdade, para apurar crimes da ditadura. O governo recuou. Depois trabalhou para manter os termos da Lei da Anistia, no que se refere à proteção dos agentes públicos que torturaram. O governo concordou.

Foram duas vitórias do poder militar sobre o civil. Essa é a democracia que ainda temos. Mas Jobim, essa figura híbrida da administração Lula, terá de mostrar de que lado está e se, de fato, ainda acredita na soberania do poder civil.

Foi criada no Superior Tribunal Militar (STM) uma comissão com representantes de diversas instituições para elaborar novos Códigos Penal Militar e de Processo Penal Militar. O resultado deverá ser enviado ao presidente da República para sanção.

Esse grave pecado original só será purgado se a proposta for submetida ao Congresso quando chegar à Presidência. Os militares sempre assumiram esse papel e, invariavelmente, legislaram ao feitio arbitrário, criando certas normas em permanente rota de colisão com os princípios democráticos.

No livro O Uso Político das Forças Armadas, o promotor militar federal João Rodrigues Arruda mostra a profundidade do abismo entre a caserna e a sociedade civil.

“De 1763, quando foram adotados os Artigos de Guerra do Conde de Lippe, até os dias de hoje, jamais o Congresso Nacional aprovou um Código Penal Militar ou Processual Penal Militar”, registra Arruda no precioso e corajoso trabalho.

Tentativa anterior de mudar a legislação militar, durante o governo FHC, foi abortada inesperadamente. O então ministro da Justiça, José Carlos Dias, formou uma comissão para elaborar um anteprojeto. Na véspera da instalação, a comissão foi dissolvida por pressão do STM. Dias resmungou: “Certas suscetibilidades foram feridas”.

O promotor João Arruda lembra que qualquer discussão sobre crimes militares deve ser precedida de outra que responda a essa questão: deve ou não haver Justiça Militar? Quais os crimes e quais criminosos devem ser julgados por tribunais militares?

De acordo com um estudo divulgado pela ONU, em 2005, o próprio STM deveria ser extinto. Para a ONU o julgamento dos recursos das sentenças do primeiro grau da Justiça Militar deveria ser feito por tribunal ordinário, composto somente por civis.
O documento estabelece “normas mínimas” de alcance universal. Uma delas firma a incompetência de organismos militares julgarem civis para crimes de qualquer natureza.
Outro ponto fundamental é a garantia do habeas corpus. No Brasil os punidos por transgressões militares não têm direito ao HC. É, por incrível que pareça, o que estabelece a própria Constituição.

Não se sabe ainda se a proposta seguirá para aprovação do Congresso. Caso não ocorra, deve ser resgatada a reação indignada de Rui Barbosa registrada no livro de Arruda. Em 1890, quando o Poder Executivo contornou o Congresso e criou o Código Penal da Armada, Rui sentenciou: “É uma lei nula. Logo, não pode ser lei”.

sábado, 19 de junho de 2010

MORRE JOSÉ SARAMAGO, ESCRITOR, PENSADOR E NORTE MORAL

Morre José Saramago, mas não suas lições. José Saramago ultrapassa a vida, mas nos deixou obras insuperáveis, que lhe renderam o Prêmio Nobel, inclusive. O maior escritor da língua portuguesa da atualidade era comunista convicto, um crítico das posições de extrema direita, um humanista que não tinha medo de defender os que julgava serem injustiçados. Todos os seres humanos que pensam perderam um dos poucos nortes morais da atualidade, autor de obras consagradas na literatura e no cinema. Um português que honra a sensatez. A sensatez tem um perda insubstituível.
AUTOBIOGRAFIA DE JOSÉ SARAMAGO
extraído da página Fundação José Saramago
Nasci numa família de camponeses sem terra, em Azinhaga, uma pequena povoação situada na província do Ribatejo, na margem direita do rio Almonda, a uns cem quilómetros a nordeste de Lisboa. Meus pais chamavam-se José de Sousa e Maria da Piedade. José de Sousa teria sido também o meu nome se o funcionário do Registo Civil, por sua própria iniciativa, não lhe tivesse acrescentado a alcunha por que a família de meu pai era conhecida na aldeia: Saramago. (Cabe esclarecer que saramago é uma planta herbácea espontânea, cujas folhas, naqueles tempos, em épocas de carência, serviam como alimento na cozinha dos pobres). Só aos sete anos, quando tive de apresentar na escola primária um documento de identificação, é que se veio a saber que o meu nome completo era José de Sousa Saramago... Não foi este, porém, o único problema de identidade com que fui fadado no berço. Embora tivesse vindo ao mundo no dia 16 de Novembro de 1922, os meus documentos oficiais referem que nasci dois dias depois, a 18: foi graças a esta pequena fraude que a família escapou ao pagamento da multa por falta de declaração do nascimento no prazo legal.

Talvez por ter participado na Grande Guerra, em França, como soldado de artilharia, e conhecido outros ambientes, diferentes do viver da aldeia, meu pai decidiu, em 1924, deixar o trabalho do campo e trasladar-se com a família para Lisboa, onde começou a exercer a profissão de polícia de segurança pública, para a qual não se exigiam mais "habilitações literárias" (expressão comum então...) que ler, escrever e contar. Poucos meses depois de nos termos instalado na capital, morreria meu irmão Francisco, que era dois anos mais velho do que eu. Embora as condições em que vivíamos tivessem melhorado um pouco com a mudança, nunca viríamos a conhecer verdadeiro desafogo económico. Já eu tinha 13 ou 14 anos quando passámos, enfim, a viver numa casa (pequeníssima) só para nós: até aí sempre tínhamos habitado em partes de casa, com outras famílias. Durante todo este tempo, e até à maioridade, foram muitos, e frequentemente prolongados, os períodos em que vivi na aldeia com os meus avós maternos, Jerónimo Melrinho e Josefa Caixinha.

Fui bom aluno na escola primária: na segunda classe já escrevia sem erros de ortografia, e a terceira e quarta classes foram feitas em um só ano. Transitei depois para o liceu, onde permaneci dois anos, com notas excelentes no primeiro, bastante menos boas no segundo, mas estimado por colegas e professores, ao ponto de ser eleito (tinha então 12 anos...) tesoureiro da associação académica... Entretanto, meus pais haviam chegado à conclusão de que, por falta de meios, não poderiam continuar a manter-me no liceu. A única alternativa que se apresentava seria entrar para uma escola de ensino profissional, e assim se fez: durante cinco anos aprendi o ofício de serralheiro mecânico. O mais surpreendente era que o plano de estudos da escola, naquele tempo, embora obviamente orientado para formações profissionais técnicas, incluía, além do Francês, uma disciplina de Literatura. Como não tinha livros em casa (livros meus, comprados por mim, ainda que com dinheiro emprestado por um amigo, só os pude ter aos 19 anos), foram os livros escolares de Português, pelo seu carácter "antológico", que me abriram as portas para a fruição literária: ainda hoje posso recitar poesias aprendidas naquela época distante. Terminado o curso, trabalhei durante cerca de dois anos como serralheiro mecânico numa oficina de reparação de automóveis. Também por essas alturas tinha começado a frequentar, nos períodos nocturnos de funcionamento, uma biblioteca pública de Lisboa. E foi aí, sem ajudas nem conselhos, apenas guiado pela curiosidade e pela vontade de aprender, que o meu gosto pela leitura se desenvolveu e apurou.

Quando casei, em 1944, já tinha mudado de actividade, passara a trabalhar num organismo de Segurança Social como empregado administrativo. Minha mulher, Ilda Reis, então dactilógrafa nos Caminhos de Ferro, viria a ser, muitos anos mais tarde, um dos mais importantes gravadores portugueses. Faleceria em 1998. Em 1947, ano do nascimento da minha única filha, Violante, publiquei o primeiro livro, um romance que intitulei A Viúva, mas que por conveniências editoriais viria a sair com o nome de Terra do Pecado. Escrevi ainda outro romance, Clarabóia, que permanece inédito até hoje, e principiei um outro, que não passou das primeiras páginas: chamar-se-ia O Mel e o Fel ou talvez Luís, filho de Tadeu... A questão ficou resolvida quando abandonei o projecto: começava a tornar-se claro para mim que não tinha para dizer algo que valesse a pena. Durante 19 anos, até 1966, quando publicaria Os Poemas Possíveis , estive ausente do mundo literário português, onde devem ter sido pouquíssimas as pessoas que deram pela minha falta.

Por motivos políticos fiquei desempregado em 1949, mas, graças à boa vontade de um meu antigo professor do tempo da escola técnica, pude encontrar ocupação na empresa metalúrgia de que ele era administrador. No final dos anos 50 passei a trabalhar numa editora, Estúdios Cor, como responsável pela produção, regressando assim, mas não como autor, ao mundo das letras que tinha deixado anos antes. Essa nova actividade permitiu-me conhecer e criar relações de amizade com alguns dos mais importantes escritores portugueses de então. Para melhorar o orçamento familiar, mas também por gosto, comecei, a partir de 1955, a dedicar uma parte do tempo livre a trabalhos de tradução, actividade que se prolongaria até 1981: Colette, Pär Lagerkvist, Jean Cassou, Maupassant, André Bonnard, Tolstoi, Baudelaire, Étienne Balibar, Nikos Poulantzas, Henri Focillon, Jacques Roumain, Hegel, Raymond Bayer foram alguns dos autores que traduzi. Outra ocupação paralela, entre Maio de 1967 e Novembro de 1968, foi a de crítico literário. Entretanto, em 1966, publicara Os Poemas Possíveis, uma colectânea poética que marcou o meu regresso à literatura. A esse livro seguiu-se, em 1970, outra colectânea de poemas, Provavelmente Alegria, e logo, em 1971 e 1973 respectivamente, sob os títulos Deste Mundo e do Outro e A Bagagem do Viajante , duas recolhas de crónicas publicadas na imprensa, que a crítica tem considerado essenciais à completa compreensão do meu trabalho posterior. Tendo-me divorciado em 1970, iniciei uma relação de convivência, que duraria até 1986, com a escritora portuguesa Isabel da Nóbrega.

Deixei a editora no final de 1971, trabalhei durante os dois anos seguintes no vespertino Diário de Lisboa como coordenador de um suplemento cultural e como editorialista. Publicados em 1974 sob o título As Opiniões que o DL teve, esses textos representam uma "leitura" bastante precisa dos últimos tempos da ditadura que viria a ser derrubada em Abril daquele ano. Em Abril de 1975 passei a exercer as funções de director-adjunto do matutino Diário de Notícias, cargo que desempenhei até Novembro desse ano e de que fui demitido na sequência das mudanças ocasionadas pelo golpe político-militar de 25 de daquele mês, que travou o processo revolucionário. Dois livros assinalam esta época: O Ano de 1993, um poema longo publicado em 1975, que alguns críticos consideram já anunciador das obras de ficção que dois anos depois se iniciariam com o romance Manual de Pintura e Caligrafia, e, sob o título Os Apontamentos , os artigos de teor político que publiquei no jornal de que havia sido director.

Sem emprego uma vez mais e, ponderadas as circunstâncias da situação política que então se vivia, sem a menor possibilidade de o encontrar, tomei a decisão de me dedicar inteiramente à literatura: já era hora de saber o que poderia realmente valer como escritor. No princípio de 1976 instalei-me por algumas semanas em Lavre, uma povoação rural da província do Alentejo. Foi esse período de estudo, observação e registo de informações que veio a dar origem, em 1980, ao romance Levantado do Chão, em que nasce o modo de narrar que caracteriza a minha ficção novelesca. Entretanto, em 1978, havia publicado uma colectânea de contos, Objecto Quase, em 1979 a peça de teatro A Noite, a que se seguiu, poucos meses antes da publicação de Levantado do Chão, nova obra teatral, Que Farei com este Livro?. Com excepção de uma outra peça de teatro, intitulada A Segunda Vida de Francisco de Assis e publicada em 1987, a década de 80 foi inteiramente dedicada ao romance: Memorial do Convento, 1982, O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984, A Jangada de Pedra, 1986, História do Cerco de Lisboa , 1989. Em 1986 conheci a jornalista espanhola Pilar del Río. Casámo-nos em 1988.

Em consequência da censura exercida pelo Governo português sobre o romance O Evangelho segundo Jesus Cristo (1991), vetando a sua apresentação ao Prémio Literário Europeu sob pretexto de que o livro era ofensivo para os católicos, transferimos, minha mulher e eu, em Fevereiro de 1993, a nossa residência para a ilha de Lanzarote, no arquipélago de Canárias. No princípio desse ano publiquei a peça In Nomine Dei, ainda escrita em Lisboa, de que seria extraído o libreto da ópera Divara, com música do compositor italiano Azio Corghi, estreada em Münster (Alemanha), em 1993. Não foi esta a minha primeira colaboração com Corghi: também é dele a música da ópera Blimunda, sobre o romance Memorial do Convento, estreada em Milão (Itália), em 1990. Em 1993 iniciei a escrita de um diário, Cadernos de Lanzarote, de que estão publicados cinco volumes. Em 1995 publiquei o romance Ensaio sobre a Cegueira e em 1997 Todos os Nomes e O Conto da Ilha Desconhecida . Em 1995 foi-me atribuído o Prémio Camões, e em 1998 o Prémio Nobel de Literatura.

Em consequência da atribuição do Prémio Nobel a minha actividade pública viu-se incrementada. Viajei pelos cinco continentes, oferecendo conferências, recebendo graus académicos, participando em reuniões e congressos, tanto de carácter literário como social e político, mas, sobretudo, participei em acções reivindicativas da dignificação dos seres humanos e do cumprimento da Declaração dos Direitos Humanos pela consecução de uma sociedade mais justa, onde a pessoa seja prioridade absoluta, e não o comércio ou as lutas por um poder hegemónico, sempre destrutivas.

Creio ter trabalhado bastante durante estes últimos anos. Desde 1998, publiquei Folhas Políticas (1976-1998) (1999), A Caverna (2000), A Maior Flor do Mundo (2001), O Homem Duplicado (2002), Ensaio sobre a Lucidez (2004), Don Giovanni ou o Dissoluto Absolvido (2005), As Intermitências da Morte (2005) e As Pequenas Memórias (2006). Agora, neste Outono de 2008, aparecerá um novo livro: A Viagem do Elefante, um conto, uma narrativa, uma fábula.

No ano de 2007 decidiu-se criar em Lisboa uma Fundação com o meu nome, a qual assume, entre os seus objectivos principais, a defesa e a divulgação da literatura contemporânea, a defesa e a exigência de cumprimento da Carta dos Direitos Humanos, além da atenção que devemos, como cidadãos responsáveis, ao cuidado do meio ambiente. Em Julho de 2008 foi assinado um protocolo de cedência da Casa dos Bicos, em Lisboa, para sede da Fundação José Saramago, onde esta continuará a intensificar e consolidar os objectivos que se propôs na sua Declaração de Princípios, abrindo portas a projectos vivos de agitação cultural e propostas transformadoras da sociedade.

Veja a postagem de 18/06/2010 no dia da morte do escritor e pensador português no seu blog (blog CADERNO DE SARAMAGO). Falta reflexão, pensamentos e filosofia a esta sociedade.

Pensar, pensar

Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de refexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objectivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, nao vamos a parte nenhuma.
Revista do Expresso, Portugal (entrevista), 11 de Outubro de 2008

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Itália entra na briga com França pela Defesa do Brasil

CARTA CAPITAL
Marcelo Cabral
repórter do jornal Brasil Econômico

Uma guerra fria promete esquentar a disputa pela segurança das terras, mares e céus do Brasil. Junto com Estados Unidos e França, a Itália também quer competir na venda de materiais militares.

O grupo Finmeccanica - maior conglomerado industrial italiano, que concentra a parte de leão do segmento de Defesa do país europeu - está se preparando para investir pesado por aqui, com a abertura de uma unidade em Brasília.

O foco é o crescente mercado militar nacional, que vem se reerguendo após décadas de estagnação e falta de investimento.

"O Brasil tem a necessidade e a Itália tem a tecnologia", resume Pier Francesco Guarguaglini, CEO do grupo.
"O Brasil representa uma grande oportunidade. É um país que está crescendo muito, tem ganhado projeção política internacional e ainda não possui uma indústria de Defesa muito grande. Isso é tanto uma chance para nós fazermos negócios quanto para o país desenvolver esse segmento", analisa Paolo Pozzessere, vice-presidente de vendas.
"Além disso, é claro, é um dos mercados de onde a concorrência americana se afastou, o que para nós é fantástico", brinca.
Oportunidade - A brecha para o interesse italiano surgiu em abril, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi assinaram, em Washington, um acordo de cooperação entre os países, que prevê a possibilidade de diversos negócios na área de Defesa.

Um dos campos considerados mais promissores é o naval, pois o Brasil deverá comprar cerca de 20 navios de grande e médio porte para reforçar o patrulhamento dos campos petrolíferos do pré-sal e criar uma nova esquadra sediada no norte do país.
Ao longo dos anos, o negócio deve superar os US$ 5 bilhões. "Temos muita experiência em suprir material para as marinhas da região", diz o vice-presidente.
Através de sua subsidiária Telespazio, o grupo também está oferecendo sua constelação de satélites Cosmo-SkyMed para uso no patrulhamento da Amazônia Azul, nome dado pela Marinha para as 200 milhas navais da zona econômica exclusiva do Brasil.
No setor aéreo, os negócios estão ainda mais adiantados para a venda de 24 a 36 jatos de treinamento M-346 para a Força Aérea Brasileira (FAB) por cerca de US$ 1 bilhão.

No entanto, os italianos terão que enfrentar uma barreira formidável, chamada França, para ter possibilidades reais no mercado nacional.

Segundo Fernando Arbache, presidente da Arbache Consultoria, a Marinha foi a primeira força a se aproximar mais dos franceses, a partir da venda do porta-aviões São Paulo, seguida, no ano passado, de contratos para o fornecimento de submarinos e helicópteros franceses, além do desenvolvimento de um vaso movido a energia nuclear.

A francesa Dassault também é favorita para a venda de seus caças Rafale para a FAB, um negócio que deve ultrapassar a barreira de US$ 10 bilhões já no primeiro contrato.
Peso político - A questão política também deverá ter um peso fundamental na relação entre o Brasil e os países europeus. "O jogo depende muito de saber quem será eleito no Brasil para o próximo governo e quem será o novo ministro da Defesa.
Dependendo do resultado, toda a configuração política pode mudar", alerta Expedito Carlos Stephani Bastos, pesquisador militar da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Mas a mesma máxima vale para os mandatários dos países europeus. Hoje, Lula é mais próximo do francês Nicolas Sarkozy que de Berlusconi.
A grande variável é que essas peças podem ser rapidamente substituídas por outras. "Não podemos ficar com uma única aliança. Se aparece nesses países um governo opositor, como ficamos?", questiona Bastos, defendendo a diversificação das apostas políticas.

A própria situação volátil da economia europeia, com a crise grega ameaçando desembarcar definitivamente em outros países, põe ainda mais pimenta no tempero diplomático.

Por outro lado, uma diversificação excessiva de fornecedores prejudica a cadeia logística das forças armadas brasileiras.
"Atualmente temos uma miscelânea absolutamente sem propósito de equipamentos: blindados alemães, fragatas inglesas, caças americanos e mísseis russos, só para citar alguns", argumenta Arbache.
Ou seja, o importante é buscar um equilíbrio entre a variedade de aliados e de fornecedores, até que seja possível de-senvolver tecnologia suficiente para fabricar os equipamentos militares por aqui. O que será bem mais fácil com pelo menos dois países disputando o protagonismo.
(matéria originalmente publicada no BRASIL ECONÔMICO)

quinta-feira, 17 de junho de 2010

AUMENTA O COMÉRCIO COM PAÍSES EMERGENTES

Fluxo com nações em desenvolvimento ajudou na resposta rápida à crise financeira mundial
João Peres
Rede Brasil Atual  (texto extraído da revista Carta Capital)

São Paulo – Um dos traços centrais da política externa do governo Lula, a ampliação das relações brasileiras com outras nações do hemisfério Sul, tem enormes reflexos sobre a balança comercial e sobre o novo papel do país em âmbito mundial. O passar dos anos reforçou a possibilidade de olhar mais atentamente para as parcerias com nações em desenvolvimento.

O indicador mais claro disso é a balança comercial. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, a corrente de comércio entre o Brasil e os países emergentes passou de US$ 39 bilhões em 2002 para US$ 145 bi em 2009 – mesmo com o impacto da crise econômica internacional no comércio mundial. No mesmo período, o fluxo de negociações entre o Brasil e os países desenvolvidos passou de US$ 67 bilhões para US$ 132 bilhões.
O comércio brasileiro aumentou como um todo. A diferença se ancora no ritmo desta expansão: quase 400% no caso das nações em desenvolvimento, contra 79% no grupo dos mais ricos. Mais que isso, é simbólico notar que, em 2008, pela primeira vez, o comércio com os países em desenvolvimento foi maior que o comércio com as nações mais ricas.
Com os chineses, por exemplo, o volume de comércio brasileiro passou de US$ 4 bilhões em 2002 para US$ 36 bilhões em 2009, com os asiáticos assumindo a condição de principal parceiro comercial do Brasil, posto que historicamente cabia aos Estados Unidos. No caso do Mercosul, o fluxo de comércio passou, em oito anos, de US$ 8,9 bilhões para US$ 28,9 bi.
“Uma das razões pelas quais o Brasil enfrentou a crise econômica de modo menos grave do que outras nações no ciclo 2007-2009 foi a diversificação de parcerias. Embora elas se caracterizem às vezes por venda de produtos primários, realmente solidificaram as posições brasileiras”, afirma Cristina Pecequilo, professora de Relações Internacionais da Unesp.
A consolidação de novas parcerias comerciais é fruto direto das missões empresarias brasileiras ao exterior. Em viagens para 115 países (de 2003 a 2009), presidente e ministros levam, a bordo, executivos de empresas brasileiras exportadoras, que vêm consolidando negócios no exterior e ganhando peso no cenário mundial.

Fora da ordem
A entrada dos emergentes no mercado global criou um mercado comprador importante. "Esses atores mudaram de configuração do ponto de vista de inserção no capitalismo. O jogo geopolítico mudou”, resume Maria Regina Soares de Lima, coordenadora do Observatório Político Sul-americano e professora do Iuperj.
No pós-Guerra Fria, analistas apontam uma transição gradativa para uma multipolaridade – que se opõe à anterior bipolaridade Estados Unidos-União Soviética. Essa ordem com mais potências inclui, primeiramente, a emergência da União Europeia como bloco e, depois, com a China, que se consolida como potência e passa a disputar posto entre as maiores economias mundiais, ao lado de Japão e de Estados Unidos.

O advento de novas forças não deixa muita saída aos que estão no piso de cima: é preciso negociar mudanças de representatividade. Um dos passos mais importantes neste sentido foi o reconhecimento, em 2009, de que o G-8, grupo que reunia as sete nações mais ricas mais a Rússia, passa a incluir outras nações. O caminho natural seria a substituição pelo G-20 Financeiro, mas a solução intermediária encontrada para que algumas nações europeias não percam muita força é o G-14, que deve congregar Estados Unidos, França, Reino Unido, Alemanha, Japão, Canadá, Itália, Rússia (os 8) mais África do Sul, Brasil, China, Índia, México e Egito.
Outros grupos foram formados nos últimos anos. Índia, Brasil e África do Sul (Ibas) constituem um fórum específicos e diversos pesquisadores apontam as economias dos chamados Bric – Brasil, Rússia, Índia e China – como cada vez mais influentes.

Brasil e Índia atuaram conjuntamente na Organização Mundial de Comércio (OMC) pela maior liberalização em negociações. Nesse sentido, o centro da pauta é a ainda não concluída Rodada Doha, na qual os dois países pedem, especialmente, a derrubada de barreiras comerciais e subsídios na área de agricultura por parte de países europeus e Estados Unidos.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Ações de combate e tratamento de dependentes são prioridades do plano contra o crack


Leia os principais trechos da entrevista com a ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, ao programa Bom Dia, Ministro, que é transmitido ao vivo para emissoras de rádio em todo o Brasil

Está no plano de enfrentamento ao crack o reforço das ações de combate e a melhoria do sistema de tratamento e de acolhimento do dependente. Essas duas pontas são as prioritárias, são as ações imediatas, que estão sendo desenvolvidas através de repasses de recursos para os municípios, e de ações específicas do Ministério da Justiça, da Polícia Federal, em articulação com as polícias estaduais e também com o reforço do Exército nas fronteiras do Brasil. Um dos pilares fundamentais desse plano é o reforço da vigilância nas fronteiras. Sabemos que se não coibirmos a entrada da droga o nosso combate fica difícil, porque permanentemente teremos uma oferta muito grande da droga.

A Polícia Federal tem trabalhos de inteligências e ações específicas em pontos já conhecidos de entrada da droga. É claro que não vamos dizer quais são as ações, porque o elemento de sigilo e surpresa é fundamental, mas as atividades estão em pleno andamento, e o Exército brasileiro já está se equipando para reforçar a presença em determinadas regiões de fronteiras, de modo a coibir a entrada da droga. Nesse momento existe um trabalho de reforço da inteligência e das equipes. A Polícia Federal vai fazer os remanejamentos necessários, a alocação de um número maior de profissionais.

Já existem trabalhos sendo desenvolvidos, e esperamos que ainda em junho já estejam concluídos os estudos contratados junto a universidades para mostrar o mapa do crack no Brasil, um efetivo diagnóstico do problema. Tanto do tráfico, quanto do consumo e do período e medidas necessárias para o tratamento dos pacientes. Uma das fases desse programa é exatamente esse estudo, que nunca foi feito antes, porque essa é uma droga nova, que estamos conhecendo agora e nos deparando com os efeitos, que são terríveis.

O usuário do crack muito rapidamente perde o controle sobre o uso. O grau de dependência gerado por essa droga é muito rápido. Há relatos de pessoas que com o uso de duas ou três vezes já estão completamente dependentes dela.

A iniciativa prevê que as entidades de saúde que prestam serviço de tratamento e recuperação do dependente químico apresentem ao Ministério da Saúde um plano de ampliação dos seus leitos, destinados à internação desses dependentes.

Também pensamos na necessidade de um programa de comunicação, de conscientização da gravidade dessa droga, para que as famílias, as escolas e a sociedade se envolvam nesse processo. Vamos usar todos os meios possíveis para alertarmos e levarmos à população noções da gravidade do que essa droga e dos efeitos e malefícios que provoca, de como as crianças e adolescente são assediados e como isso desestrutura as famílias.

terça-feira, 15 de junho de 2010

AS VÍTIMAS DA VEZ E A IRANOFOBIA.







Um dos principais jornais iranianos deu destaque àquilo que parece claro para alguns, mas que outros não conseguem enxergar. Quando diferencia-se seres humanos e países por posturas boas e más, ainda mais baseadas em marketing, é impossível tocar ou sequer pressentir o caminho da verdade.

Há no mundo, hoje, uma verdadeira campanha contra o Irã. Antes era a União Soviética, Líbia, Iraque, Afeganistão, Al Qaeda, novamente Iraque e Venezuela.

Os Estados Unidos precisam de inimigos para manterem o status de guardiões da humanidade, de super-heróis, de defensores da democracia e da liberdade. Essa imagem tão propalada pelo cinema, hoje também é difundida pela mídia, pasmén, do mundo inteiro, como se fosse a mais pura verdade.

Basta ver a história, o que ocorreu no Japão no fim da 2ª Guerra, na Coréia, no Vietnã e em muitos países da América Latina, para perceber que os Estados Unidos não são bonzinhos como apregoam, não. Eles lutam pela manutenção dos seus interesses estratégicos e econômicos pelo mundo afora com a força que entendem necessária, nem que para isso massacrem vidas e ideais.

Hoje, parece que Rússia e China, e também a Índia, não perceberam o risco que correm de deixar os Estados Unidos mudarem o regime do Irã por um mais "alinhado", submisso na verdade, aos interesses ocidentais (digo Europa e Estados Unidos). O Irã é muito próximo desses três membros do BRIC, sendo um ponto estratégico, além do Iraque e Afeganistão, não apenas para controlar o gás e o petróleo distribuído para estes três países, mas também por ser muito próximo o suficiente para atacá-los com facilidade, inclusive.

Não é por outro motivo que o Brasil se preocupa em que os Estados Unidos não invadam a Venezuela, pois a questão pode ser também de petróleo e gás, mas é muito mais que isso. É o meio do caminho para uma invasão ao Brasil, a potência energética e econômica do Hemisfério Sul.

Escrevi tudo isso para dizer que alguns países têm propalado o ódio ao irã e também o medo a este pais, a que o jornal Tehran Times chama de IRANOFOBIA.

O regime que governa o Irã pode não ser o mais amistoso para os padrões culturais ocidentais, mas o Irã deve ser respeitado. Não se pode confundir povo com governo. Não se pode julgar o povo pelo governo. Nem tampouco pode-se punir o povo para alcançar o governo. Isso é tortura coletiva que infelizmente ainda vem sendo adotada por grandes potências econômicas e militares do planeta.

Além de injusto e desumano, esse tratamento a alguns países e povos visa defender tão somente interesses mesquinhos por controle de energia, manutenção ou ampliação do poderio econômico e defesa de interesses geopolíticos, sendo a mais pura demonstração de algo assemelhado àquilo que o mundo tentou banir e não conseguiu, a eugenia, a defesa de que alguns seres são melhores que outros, que algumas culturas são melhores que outras e que alguns povos podem ter luxo em detrimento do mínimo de dignidade ou até mesmo a vida de outros.

O ocidente exporta o seu ponto de vista, as suas vontades e as suas imposições e importa de graça a energia que precisa, às custas do sofrimento de milhões de pessoas. O Irã e o seu povo são as vítimas da vez, bem como o mundo todo, mas muitos ainda não conseguem enxergar nem a injustiça nem o sofrimento, pois os olhos voltam-se apenas às propagandas das ideias, que alteram os fatos em prol do que se pretende vender: o prazer em troca da massificação coletiva.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

MORTES E DESIGUALDADE SOCIAL NA CHINA COMUNISTA

Algo estranho anda acontecendo na China. Em apenas quatro meses, quinze crianças foram assassinadas numa onda de ataques a colégios. As hipóteses mais aventadas como causas são a desigualdade social e a corrupção.
O maior país comunista, ou que tem o maior partido comunista do mundo, paga salários miseráveis e concentra uma desigualdade social também inaceitável, sequer, para os padrões capitalistas; inadmissíveis para um país governado por um partido que se diz comunista e usa a defesa social como pretexto para manter um regime linha dura.

domingo, 13 de junho de 2010

PALESTINOS EM BARCOS SÃO ASSASSINADOS

Se o governo direitista de Israel realmente quer paz, por que matou no dia 7 de junho quatro supostos "milicianos" palestinos que estavam em um barco, apenas uma semana após invadir a frota da solidariedade em águas internacionais? Ao que consta, os quatro sujeitos estavam desarmados. Se eles estivessem praticando algum crime não era para assassinar, jamais, mas prender. Excessos rotineiros indicam apenas uma coisa: certeza de impunidade e mais, ódio aos  palestinos e imperialismo do pior tipo. Leia a matéria em espanhol, publicada no jornal EL PAIS (ou clique aqui para ir direto à página original).  

El conflicto de Oriente Próximo

Una patrulla israelí abate a cuatro supuestos milicianos palestinos

Una quinta persona está desaparecida.- El Ejército asegura que milicianos estaban en el mar preparados para cometer atentados

AGENCIAS - Gaza - 07/06/2010

Una patrulla naval del Ejército israelí ha matado hoy a cuatro supuestos milicianos palestinos que se encontraban a bordo de una embarcación en aguas costeras de Gaza y que estaban pertrechados con equipos de submarinsmo, informan fuentes del Gobierno de la Franja y del Ejército hebreo. Una quinta persona está desaparecida

El Ejército asegura que los cinco hombres tenían la intención de atacar objetivos israelíes. "Una patrulla naval israelí detectó una embarcación en la que había cuatro hombres que llevaban trajes de submarinismo, y que tenían la intención de perpetrar un ataque terrorista, por lo que abrieron fuego contra ellos", comunicó un portavoz. El incidente ha tenido lugar en el distrito de Nuseirat, en el centro de la franja de Gaza, a primera hora de la mañana.

Los cuatro cadáveres han sido trasladados al hospital de Al Aqsa, en la localidad de Deir Al Balah, mientras que los equipos de rescate palestinos buscan en el mar miliciano desaparecido, informaron fuentes de los servicios médicos y testigos. La brigada de los mártires de Al Aqsa, brazo armado de Al Fatah, ha asegurado que los fallecidos son milicianos suyos que fueron atacados mientras "realizaban una sesión de entrenamiento".

La operación militar israelí supone un nuevo repunte de la violencia en la zona después del ataque de la semana pasada a un barco cargado con ayuda humanitaria para Gaza, una acción que dejó nueve muertos y le ha reparado al Gobierno hebreo repulsas en todo el mundo.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Cinemulher exibe filmes árabes

Não perca: 12/06/2010 - 18:30

No dia 12 de junho, o Instituto da Cultura Árabe (ICArabe), por meio do seu Núcleo de Estudos sobre a Mulher Árabe, realiza em parceria com o Cinemulher (cineclube filiado ao Centro Cineclubista de São Paulo – Cecisp) a exibição de dois filmes de seu acervo: “Passo a passo”, de Mehdi Naderi, e “Caramel”, de Nadine Labaki.

O objetivo da atividade, que ocorre no Centro Cineclubista de São Paulo (Rua Augusta, 1.239, conjuntos 13 e 14, São Paulo/SP) é trazer à luz a questão de gênero na contemporaneidade na região do Oriente Médio. Após as sessões, ocorrerá um debate com Muna Zeyn - presidente do Comitê Nacional Multipartidário das Mulheres, apresentadora dos programas Palavra de Mulher da Rádio USP e da Alltv Mulher e integrante do Conselho da Condição Feminina do Estado de São Paulo -, Soraya Smaili, diretora Cultural e Científica do ICArabe, Maristela Bizarro e Rita Quadros, ambas coordenadoras do Cinemulher.

Criado em setembro de 2009, o Cinemulher se propõe a exibir, refletir e discutir Cinema a partir da perspectiva de gênero. São objetos de exibições filmes que abordem o tema e/ou sejam produzidos por mulheres. “Ao longo de nossas atividades, percebemos que existe uma série de estereótipos e um enorme desconhecimento em relação a mulher árabe. Por isso decidimos fazer essa parceria”, conta Maristela.

Segundo Rita Quadros, a escolha dos filmes se deu de forma conjunta. "Fizemos alguma reuniões com o ICArabe e escolhemos essas duas produções", diz. Ela afirma que as sessões do Cinemulher costumam reunir cerca de 25 pessoas, entretanto, para esta atividade esperam a participação de cerca de 40. "Como é um assunto específico, tende a atrair mais o público", ressalta. Ela lembra ainda que as exibições são abertas para homens e mulheres e que apesar de a presença feminina se dar em maior número, a masculina também é muito bem vinda. "É preciso dialogar", conclui.

Para Muna Zeyn a exibição dos filmes é uma forma de prolongar a reflexão proposta pelo Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março. “É preciso refletir o universo feminino. Os filmes mostram que as mulheres árabes têm os mesmos valores, desejos e vivem os mesmos conflitos de todas as mulheres da contemporâneidade”, explica ela. Ela ressalta a situação das personagens das duas produções, mulheres independentes, provedoras do lar, que ocupam algum espaço público. “ A mulher no oriente ou no ocidente, é mulher. É preciso romper com o preconceito em relação ao desconhecido”, avalia Muna.

As exibições do Cinemulher acontecem todo segundo sábado do mês às 18 horas na sede do Cecisp - Rua Augusta, 1239 - cj. 13/14. São Paulo/SP. Para saber mais visite www.cinemulher.blogspot.com

Filmes árabes no Cinemulher

Data: 12 de junho de 2010
Horário: 18h30
Local: Centro Cineclubista de São Paulo (Rua Augusta, 1.239, conjuntos 13 e 14, São Paulo/SP)

PASSO A PASSO
(Ghadam be ghadam, 6´10´´, cores, Irã, 2008, BetaCam)
Direção e roteiro: Mehdi Naderi
Legenda: Português por Sahba R. Rabbani
Sinopse: Breve retrato de Shirin Ebadi, advogada iraniana e ativista de direitos humanos. Sua luta pela igualdade de gênero e por reformas políticas em seu país lhe rendeu o Prêmio Nobel da Paz em 2003.

CARAMEL
(Sukkar banat, 96 min, cores, Líbano, 2007, 35 mm e DVD)
Direção: Nadine Labaki
Legenda: Português
Escrito por: Nadine Labaki e Rodney El Haddad
Sinopse: Layale trabalha em um salão de beleza em Beirute, juntamente com outras duas mulheres, Nisrine e Rima. Cada uma tem um problema: Layale está presa em um relacionamento sem futuro com um homem casado; Nisrine não é mais virgem, mas se casará em breve com um homem de família tradicional e religiosa; Rima sente atração por outra mulher. Em meio a isso, Jamale, uma cliente regular do salão, é uma atriz que está preocupada por estar envelhecendo e Rose é uma costureira que devotou sua vida a cuidar de sua irmã mais velha, que tem um desequilíbrio mental, mas encontrou seu primeiro amor. O filme trata de forma delicada da vida dessas cinco mulheres que buscam a felicidade. O nome Caramel é uma referência ao método de depilação usado em diversos países árabes e que consiste na confecção caseira de uma massa feita com açúcar queimado, água e suco de limão. O filme foi selecionado em diversos festivais e ganhou vários prêmios, entre os quais no Festival de Filmes de San Sebastian (Espanha) e no Festival Internacional de Cinema do Oriente Médio (Abu Dhabi). Participou da Seleção Oficial do Festival de Cannes e da Seleção Especial da Caravana Euro-Árabe 2008.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Um ataque desumano

Vejam o que diz um dos maiores constitucionalistas da atualidade a respeito do ataque israelense ao comboio humanitário.

Pedro Estevam Serrano
OPERA MUNDI - Última Instância

A questão do conflito Palestino-israelense não é de fácil compreensão e de muito difícil deslinde. Ambos os povos ocupam o mesmo território e ambos dizem lastrear sua legitimidade em razões ancestrais que se confundem com as respectivas crenças religiosas.

Estive pessoalmente por lá no começo do ano e visitei toda a área. O conflito e a beligerância são evidentes. A história de ambos os povos muito rica, inclusive com origem comum. Árabes e judeus, ao contrário do que se pode pensar, historicamente, tiveram boas relações até a fundação do Estado de Israel, afinal, são povos irmãos. Ambos semitas.

As razões e fatos relatados por cada parte em conflito são tão díspares e radicalizados que é difícil tomar partido “a priori”.

Inobstante tal assertiva, é inaceitável o ataque israelense a comboio humanitário internacional que procurava levar mantimentos e remédios ao povo palestino sob bloqueio.

Por mais que se argumente com a tese jurídica da soberania do Estado Israelense, esta soberania não lhe dá o condão de aviltar valores fundamentais e normas principiológicas dos organismos internacionais dos quais Israel participa e, volta e meia, pede socorro e auxílio.

Redijo este texto no primeiro dia de notícias sobre o ataque que Israel argumenta ter sido feito em águas de seu território. Os integrantes do comboio, cidadãos de várias nacionalidades, desmentem a versão israelense. Segundo estes, o ataque se deu em águas internacionais.

Mesmo que a ação tenha ocorrido como afirma as autoridades de Israel, este não se justifica. Não havia no comboio qualquer intenção de ataque ao povo israelense ou a suas Forças Armadas. O comboio tinha apenas função humanitária, levar alimentos e remédios a uma população sob bloqueio. Visava apenas garantir a essa população os direitos humanos mais elementares que constam das normas da ONU sobre o tema, quais sejam, o direito à sobrevivência, com alimentação mínima e remédios.

Mesmo sob estado de guerra, há crime lesa-humanidade quando se usa de Força Armada e ataques físicos com o fito de manter a população civil sem condições mínimas de sobrevivência. Matar civis de fome é inaceitável, mesmo em guerra! Atenta-se contra valores mínimos de direito à vida e à dignidade humanas.

Do mesmo modo que a soberania do Estado alemão não pode ser aceita como argumento para os campos de concentração e extermínio de judeus, comunistas, homossexuais, ciganos etc., também a soberania não pode ser aceita como argumento em favor de ataque bélico a comboio multinacional de ajuda humanitária à população civil palestina.

Essa situação, aliás, faz lembrar o cerco criminoso de Hitler a Stalingrado, mantido a custa de recursos bélicos contra meios de abastecimento. Cerco que deixou sem alimentação e remédios milhares de civis, que acabaram morrendo de forma por demasiado sofrida e desumana.

A ONU anuncia que irá investigar o ocorrido, por meio de seu Conselho de Segurança, que no momento em que escrevo se reúne em caráter de urgência. Esperamos que tal investigação seja célere e apure e sancione com rigor o corrido, a nosso ver, inegável ato de crime lesa-humanidade praticado por Israel, com dez vítimas que morreram de imediato e talvez alguns milhares que morrerão em breve, sem alimento e remédios que lhes possibilitem sobreviver.
Pedro Estevam Serrano é advogado, mestre e doutor em direito do Estado pela PUC-SP, professor de direito constitucional, fundamentos de direito público e prática forense de direito do Estado da Faculdade de Direito da PUC-SP. É Autor das obras "O Desvio de Poder na Função Legislativa" (editora FTD) e "Região Metropolitana e seu regime constitucional" (editora Verbatim).

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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