quarta-feira, 30 de junho de 2010

MATA-SE O CANTO


Há aqueles seres que, para viver, necessitam de apenas um canto.
Que pode tornar-se um recanto.
Onte tudo é possível, até um sinal de verdadeira alegria: o canto.

Toda essa alegria parece estar próxima de um final infeliz. O ser humano, sempre ele, protagoniza mais uma história covarde e cruel.
Talvez você não se lembre ou não tenha idade para isso, mas há algumas décadas o Walt Disney criava o desenho de uma baleia cantora que encantava a todos ou a quase todos.
"Baleia cantora?", você deve estar se perguntando. Sim, existe no mundo real. São as Jubarte, umas baleias não muito bonitas, mas simpáticas, que invadem o nosso litoral nordestino de maio a novembro para procriar. Para elas, aqui é um recanto. Cantam, saltam e se exibem. Parece que o nosso calor, além de agradá-las, cria-lhes um certo ar de espontaneidade.
Porém, o destino desses imensos mamíferos é o frio do oceano Ártico, onde realmente moram e se alimentam. E é lá que recentemente foi autorizada a caça - a elas - para a subsistência dos chamados aborígenes da imensa ilha conhecida como Groenlândia.
Baleias enormes sendo caçadas por aborígenes? Soa estranho. Pensava que os nativos do ártico comessem focas e outros seres e peixes, ainda que grandes, mas não baleias gigantes como as Jubarte, que não ficam próximas das costas, mas em águas profundas.
De qualquer forma, com o devido respeito às tradições daquele povo, a matança de seres cantantes apenas expõe o quanto nós seres humanos estamos longe de um avanço muito além do tecnológico, o progresso comportamental, que reflete via transversa no físico e espiritual.
Necessitamos matar outros seres, como matávamos até pouco tempo populações de humanos conquistadas em guerras. Éramos objeto, como ainda fazemos com outros seres vivos. Mas essa é apenas uma parte de nossa pequeneza. Até recentemente, escravizávamos  outros seres, discriminávamos (e ainda discriminamos) mulheres, negros e outros grupos menos poderosos.
Ainda praticamos as guerras e aplicamos as penas de morte. Também nos alimentamos de carne e, aí com uma crítica ao hábito brasileiro, frequentamos churrascarias com rodízios incessantes de quase todos os tipos de carnes existentes.
Abandonamos, praticamente impunemente, cachorros e gatos à própria sorte nas ruas e estradas. Recolhemos aves à reclusão das gaiolas. Mantemos confinados bois, porcos e aves que em pouco tempo servirão para um certo tipo de deleite mais sádico do que propriamente biológico.
Somos nós, sempre nós, que dizimamos impunemente vidas, e ainda, sem a mínima sensibilidade, silenciamos os cantos e a arte de seres enormes, mas frágeis, que vivem em alto mar. O canto das sereias já não existe mais. Resta apenas o choro dos humanos que veem o fracasso do rumo adotado pela nossa civilização.
Essas lágrimas talvez venham a secar por força de ação dessa mesma humanidade que, sem resolver as injusticas e as causas de tanta infelicidade, prefere por fim àquilo que não é capaz de compreender ou aceitar.
Preferimos dizimar tudo o que nos permita reconhecer o nosso fracasso, e isso nos aproxima do fim da história, sem canto, sem lágrimas e em absoluto silêncio, como o é a morte.

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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