quarta-feira, 4 de maio de 2016

ERA DAS DEFINIÇÕES E DAS INCERTEZAS


Vivemos na era das definições e também, por que não dizer, das indefinições ou incertezas.

Se tenho feições do Oriente Médio, sou chamado de terrorista. Se sou loiro e ando de cabelo raspado e roupas justas, sou chamado de skinhead. Se sou negro, sou chamado de sexualmente dotado. Se tenho ascendência japonesa, sou chamado de certinho. E isso sem ver a essência, a individualidade de cada um. É... são tantas as definições. E elas não param por aí.

Se um homem se sente atraído apenas por mulheres, é heterossexual. Se se sente atraído por homens e mulheres, é bissexual. Se se sente atraído apenas por homens, é homossexual. Se se sente atraído por homens, mulheres e o que aparecer, é pansexual. Se um homem se veste de mulher apenas por prazer, é crossdresser. Se um homem se traveste de mulher e tem desejos por homem e faz uso da sua genitália, é chamado de travesti. E o homem que se traveste de mulher e que tem desejos por pessoas do mesmo sexo, mas não faz uso da genitália, é chamado de transexual. E as definições sexuais não param por aí.

  São tantas as definições. E o homem continua sendo simplesmente uma pessoa. O que muda com as definições? A compreensão das pessoas sobre aspectos particulares de outro ser humano. Isso, por um lado, aproxima. Mas, por outro, repele, difere. Serve para aproximar num mundo que já enfrentou e enfrenta a cada dia novos holocaustos, racismos e preconceitos.

Radicais religiosos pregam com cada vez mais ressonância que Deus não admite isso e aquilo. Será que Ele não admite? Quem fala isso por Ele? Será que Ele não admite, na verdade, que um sem noção diga o que Ele deixa fazer e o que não deixa? Afinal, ao homem quase tudo é possível justamente porque Deus permitiu, possibilitou. As escolhas são variadas e nisso reside o nosso livre arbítrio e as nossas descobertas individuais. Há até a possibilidade da prática de crimes, atos que afrontam a liberdade, vida ou propriedade de outrem. Ora, se pode praticar o mais, aquilo que é verdadeiramente afrontoso e viola regras que nos foram apresentadas como sendo de Deus nos Dez Mandamentos, porque o ser humano não pode decidir a respeito dos próprios passos da sua existência, que é a forma de se conduzir?

A divisão por línguas, por países e por etnias, além de religiões, por um lado serve para o ser humano se situar, ainda mais em um mundo homogêneo e pasteurizado, cada vez mais sem graça. Mas, por outro, serve para evidenciar e possibilitar definições e, com isso, propiciar atos de racismo e até terrorismo por grupos de radicais contrários à diversidade.

Quando um Europeu resolver abrir um comércio em um outro país, é bem recebido, mas quando um estrangeiro, por absoluto desespero, procura refúgio na Europa, é visto como oportunista, lixo e até terrorista. Que o digam as crianças em busca de refúgio afogadas no mediterrâneo.

A raça humana é uma só. O que muda é a forma de vermos as pessoas. O que devemos fazer é aceitar a liberdade do outro e respeitá-lo pelo o que é.

Em um mundo tão materialista e globalizado, fica difícil a aceitação do diferente, que deixa de ser apenas exótico para soar como estranho.

  Vivemos tempos de tristeza, onde até a lágrima é seletiva. Choramos mais pelas dezenas de brancos que morrem do que pelos milhões de negros que são assassinados todos os anos. Nos comovemos mais pelo atentado ocorrido em Paris do que aqueles praticados no Líbano, na Síria e no Iraque quase que diariamente.

Escolhemos as vítimas por empatia, por serem parecidos conosco. E nisso reside o mal das definições que o homem sempre visou.

Compreender, entender e aceitar não se confunde com o mero definir. É possível que compreendamos as dores próprias de um povo, de uma etnia, de uma raça, de uma religião, de um gênero sem pertencermos a ele. Com as definições, conforme elas forem tratadas, isso serve tão somente para distanciar. A base da compreensão, entendimento e aceitação é a boa educação, fundada na tolerância e no respeito, na prática do cotidiano e no exemplo que nos é dado. Havendo isso, poder-se-á definir para melhor conhecer a história e as dores alheias.

Não havendo educação humanista, a sociedade não será inclusiva. Apenas definirá, e com isso relegará os diferentes do padrão dominante a uma classe diferenciada. E daí advém o racismo, o preconceito e os crimes mais bárbaros de segregação.

Seria bom definir se houvesse uma cultura prévia, uma educação sólida que nos permitisse assimilar noções básicas de solidariedade, tolerância e respeito. Sem esse passo prévio, alguns intolerantes podem utilizar as definições para extravasar ódios, ressentimentos e delírios contra os apontados como diferentes. E cada vez mais caminhamos para a intolerância religiosa, sexual e étnica.

Com tudo isso o ser humano vive épocas de indefinições. O seu rumo neste planeta está indefinido, em perigo.

O iluminismo ficou para trás. Hoje, o que importa é o consumo, o ter e o assumir comportamentos assemelhados àqueles que ditam o modismo comportamental. À diferença restou o lixo da importância.

Ser socialista ou comunista, hoje, não é elogio, pelo contrário. Ser verdadeiramente intelectual, com visão humanista, hoje, é visto como algo decadente. Para os imbecis dominados pelo consumismo, ser fraterno significa ser carente. E o entendimento dos que consomem matéria, mas são ausentes de espírito de tolerância, o homem se limita ao igual, esquecendo-se a ampla diversidade da raça humana, da natureza do planeta e do infinito de cores, formas e possibilidades do Universo.

Jesus Cristo, com suas mensagens de fraternidade, amor e compreensão, se nascesse nos tempos modernos, como seria enquadrado?

Repensemos. Definir pode ser bom para compreender. Mas para a sociedade que vivemos isso não importa necessariamente em tolerância e fraternidade. Precisamos apenas de duas coisas prévias: educação humanista de qualidade e uma visão menos centrada na matéria e no consumo.

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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