A internet anda proliferando coisas boas no mundo virtual. Disso ninguém duvida. Há muitos filmes, música e arte de qualidade, além de informação de fontes diversificadas, o que amplia o nosso horizonte cultural e a possibilidade de apreciar outras versões da noticia que recebemos na comodidade de nosso lar ou no celular.
Mas nem tudo é motivo de comemoração. Há muita perversidade também!
Dentre as coisas ruins, destaco as agressões gratuitas na internet e a criação de grupos com perfis neonazistas no Brasil, com um discurso de ódio preocupante.
São organizações que se formam livremente, como se fossem grupos normais. Muitas pessoas “normais”, não radicais, vão aderindo, e o discurso inflamado contagia a todos, ou a quase todos os seguidores.
Esse é um dos motivos de uma impresionante avalanche reacionária no Brasil, com destaque à extrema direita que saiu inflada do silencioso armario em que se escondia.
Já ouvi de um ex líder estudantil em Montevideo que o Brasil sempre teve um perfil fascista. E é mesmo! Somos conservadores, preconceituosos, arrogantes e pouco solidários. Vamos notando isso no comportamento cada vez mais sincero nas ruas. Nas agressões gratuitas em restaurantes. Na violencia contra ciclistas. No incentivo à violencia policial por alguns programas de televisão e boa parte da população. No discurso de ódio.
Há um discurso contra o migrante (nacional), o imigrante (estrangeiro), o negro, a mulher, o homossexual e outras minorías ou até maiorias. Sim, mulheres e negros são maioria no nosso País, quer você queira aceitar ou não.
Tenho amigos que eram direitistas, mas que agora, talvez sem se darem conta, se revelaram de extrema direita. E são de todas as classes sociais. Todas. É óbvio que a classe média tem uma tendência mais conservadora, mas o radicalismo de direita atinge a todos. Quantas vezes, no metrô, não ouvi xingamentos à esquerda por pessoas mal vestidas?
Esse sentimento de ódio faz parte de uma histeria coletiva que tomou conta de grande parte dos brasileiros, muitos dos quais jamais se imaginaram preconceituosos ou cruéis em relação a outro ser humano.
Essa histeria parte do discurso fácil proporcionado pela internet, onde qualquer um se acha politizado, escritor, comentarista, jornalista ou articulista.
A primavera árabe começou com discussões iniciadas na internet e encontros marcados pelo Facebook. E olha no que deu! Grupos radicais esparramando ódio e sangue pelo Iraque, Síria e Líbia.
O diretor da Agência de Investigações Judiciais do Marrocos, Abdelhak el Kayam, disse, numa entrevista ao jornal El Pais em edição espanhola, que “a radicalização tem crescido de um modo catastrófico na internet, já que não é mais necessário participar de reuniões para radicalizar-se, bastando conectar-se à internet”.
Obviamente ele estava se referindo aos radicais do Estado Islâmico, conhecidos como Daesh no mundo árabe, mas o que acontece lá também tem acontecido de forma um pouco menos violenta por aquí.
Basta um sentimento inicial de inconformismo ou de descontentamento para levar a uma cólera histérica coletiva assustadora. É o que tem acontecido no mundo.
Por isso a Polícia Federal e a própria agência de inteligência brasileira (ABIN) devem ficar alertas. Pode haver ações radicais no Brasil, sim! E não necessariamente praticado por um estrangeiro salafista, neonazista ou outra coisa esquisita. O radicalismo vem crescendo vertiginosamente e junto com ele as ações cada vez mais intensas de agressão aos que são considerados diferentes por vestirem uma camiseta de determinada cor, por andarem de bicicletas, por participarem de movimentos sociais, por terem determinado comportamento ou seja lá o que for que não agrade ao radical sociopata.
Nada contra a tecnología, que está aí para nos ajudar, mas muita coisa contra a facilidade que os imbecis e os sociopatas encontram para exarar todo o ódio conservado em puro enxofre nas ondas virtuais. Falta de educação e de conhecimento histórico e sociológico dá nisso. Não basta ter dinheiro. Há que se ter educação e cultura para que possamos usufruir a tecnología da melhor forma. É de dar medo!