Em pleno século XXI, após duas horríveis guerras mundiais, genocídios, escravidão e tantas outras barbáries, o ser humano continua a sofrer não apenas por causas naturais, como seca e outras catástrofes eventuais, mas pela ação contínua e destruidora do próprio homem.
O ser humano tem se preocupado em
acumular riquezas de forma infinita, em sugar de forma avassaladora tudo o que
a terra proporciona e em utilizar coisas e o próprio humano como meros objetos
para uma pretensa felicidade, nessa era do ter, e não pensa nos meios para alcançá-la.
O materialismo, seja ele de qual
ordem for, não permite a vivência plena e digna do ser humano.
A felicidade não se alcança com o
materialismo, o estar rodeado de coisas, mas internamente, pelo estado de
espírito e pelo fortalecimento da inteligência, ou seja, depende de
fortalecimento do seu próprio eu, como aludem de certa forma Frei Betto,
Leonardo Boff e Mário Sérgio Cortella no livro “Felicidade foi-se embora?”.
É possível sermos felizes! Mas
para isso, temos que, primeiramente, olhar para o ser humano ao lado, nosso
reflexo de humanidade. Se o vizinho estiver sendo respeitado e vivendo com
dignidade, haverá motivos para estarmos felizes! Se contribuirmos para isso,
também!
Mas se nos encastelarmos em um
mundo onde a aparência, o consumir e o usar sejam prioridades, a felicidade
certamente cederá espaço a uma alegria egoística temporária e superficial, que
é um dos sentidos do próprio poder.
Não aplaudo violações a direitos
humanos, sejam elas quais forem. Elas podem ocorrer tanto em prejuízo das
maiorias, como mulheres e negros, como das minorias, sejam indígenas, portadores
de deficiência, não heterossexuais ou integrantes de determinada etnia ou
religião, dentre outros. E elas ocorrem em todos os graus, dos mais sutis aos mais
perceptíveis.
Um mundo que preze pelo ser
humano feliz, certamente estará mais próximo dos direitos humanos. Um mundo sem
opressão, sem atrocidades, sem injustiças, sem dores e com muito amor,
certamente proporcionará felicidade, e a todos, sejam os que já foram oprimidos,
sejam os que ajudaram a romper esse círculo vicioso de desumanidade que nos
acompanha desde os primórdios.
Não é fácil ser forte o
suficiente para abstrair os prazeres do egoísmo. Essa falta de limite e de preocupação
com o outro, representada muitas vezes pela conjugação dos verbos ter, acumular,
e usar, conjugados na primeira pessoa, e de forma desenfreada, tem levado a
humanidade a vivenciar de forma muito intensa a constante proximidade de seu
fim.
Respeitar o ser humano, seja um
parente, alguém que está ao nosso lado ou mesmo distante, é uma forma de ter um
olhar humano. Ter um olhar humano é limitar suas ambições desproporcionais para
permitir a que o outro seja feliz. Ter um olhar humano é se preocupar com o
outro, seja conhecido ou não. Ter um olhar humano é cuidar. Ter um olhar humano
é ser solidário. Ter um olhar humano, como se verifica, exige antes de tudo um
amor próprio e verdadeiro pela nossa humanidade.
E é óbvio que tudo isso passa
pelo crivo da inteligência e da capacidade de compreensão do significado das
coisas e dos seres, inclusive humanos. Para muitos isso é quase intuitivo e
natural. Para outros é uma conquista decorrente do conhecimento.
Havendo a conjugação da busca
pelo amor e pela felicidade, necessariamente teremos um olhar humano.
E, segundo algumas religiões do
Oriente Médio e da Ásia, somente conjugando e ampliando sentimentos de amor e
felicidade alcançaremos o próprio sentido do divino.
Seja pela razão ou pela
espiritualidade, não há como fugir da busca individual e coletiva pelo amor e
pela felicidade! São a nossa essência, o que nos dá sentido!
E é por isso que me antagonizo
com os egoístas, os que ambicionam o poder desenfreado, os que pensam serem
superiores e os que defendem o uso da força, sob qualquer pretexto.
Pode ser chique para alguns ou
estar na moda destilar ódios, ser arrogante e ter vaidade sem limites, mas
certamente não é reflexo de inteligência, e sim de uma atitude mesquinha e
tacanha que atenta contra a razão e também contra o cerne defendido pelas
religiões, sejam elas quais forem.
Ter um olhar humano é desbravador,
desafiador e necessário! Ousemos buscá-lo e aprimorá-lo, pois é sempre possível
enxergarmos mais longe os erros próprios e também os da humanidade!