domingo, 31 de março de 2013

A Folha tenta se explicar

Emir Sader

Nos três momentos mais importantes da história brasileira, a mídia estava do lado golpista, do lado das elites, contra o povo e a democracia. Entre eles, o jornal dos Frias, um dos que mais tem a esconder do seu passado e do seu presente. Uma funcionária da empresa há 24 anos, que fez sua carreira totalmente na Folha, que já ocupou vários cargos na direção na mesma, escreveu uma espécie de história ou de justificativa da empresa. O livrinho tem o titulo "Folha explica Folha". Mas poderia também se intitular Folha tenta se explicar, em vão.

Os órgãos da imprensa brasileira não podem fazer suas histórias, tantos são os episódios, as posições, as atitudes indefensáveis deles ao longo do tempo. Suas trajetórias estão marcadas pelas posições mais antipopulares, mais antidemocráticas, racistas, golpistas, discriminatórias, de tal forma que eles não ousam tentar contas suas histórias.

Como relatar que estiveram sempre contra o Getúlio, pelas políticas populares e nacionalistas dele? Como recordar que todos pregaram o golpe de 1964 e apoiaram a ditadura militar, em nome da democracia? De que forma negar que apoiaram entusiasticamente o Collor e o FHC e fizeram tudo para que o Lula não se elegesse e se opuseram sempre a ele, por suas políticas sociais e de soberania nacional? Nos três momentos mais importantes da história brasileira, a mídia estava do lado golpista, do lado das elites, contra o povo e a democracia.

Entre eles, o jornal dos Frias, um dos que mais tem a esconder do seu passado e do seu presente. Uma funcionária da empresa há 24 anos, que fez sua carreira profissional totalmente na empresa, sem sequer conhecer outras experiências profissionais, que já ocupou vários cargos na direção da empresa, decidiu – ou foi decidida – a escrever uma espécie de história ou de justificativa da empresa dos Frias.

O livro foi publicado numa coleção da empresa. A funcionária se chama Ana Estela de Sousa Pinto e o livrinho tem o titulo Folha explica Folha. Mas poderia também se intitular Folha tenta se explicar, em vão.

Livro mais patronal, não poderia existir, até porque quem o escreve não tem a mínima isenção para analisar a trajetória da empresa da qual é funcionária. Começa com uma singela apresentação histórica das origens da empresa. De resgatável, uma citação do editorial de apresentação do primeiro jornal da empresa, que se diz como um jornal “incoerente” e “oportunista”, numa visão premonitória do que viria depois. Nada do que é relatado considera a historia como elemento constitutivo do presente. São informações juntadas, num péssimo estilo de historiografia que não explica nada.

Logo no primeiro grande acontecimento histórico que a empresa vive, sua natureza política já aflora claramente: apoio a Washington Luís e oposição férrea a Getúlio, tudo na ótica que perduraria ao longo do tempo: “a defesa dos interesses paulistas” ou do interesse das elites, revelando a função da imprensa paulista: passar seus interesses pelos de São Paulo.

Naquele momento se tratava de defender os interesses da lavoura do café. Para favorecer aos fazendeiros em crise, a empresa aceitava o pagamento de assinaturas em sacas de café, revelando o promiscuidade entre jornal e o café.

De forma coerente com esse anti-getulismo em nome dos interesses de São Paulo, a empresa se alinha com a “Revolução Constitucionalista” de 1932, contra a “ditadura inoperante, obscura e inepta em relação ao Estado de São Paulo”. O estado é sempre a referência, sinônimo de progresso, de liberdade, de democracia. O anti-getulismo é visceral: “O diretor Rubens Amaral levava seu anti-getulismo ao extremo de impedir que os filhos saíssem de casa quando o ditador (sic) visitava São Paulo. ‘Dizia que o ar estava poluído”, conta sua filha mais velha.”

Esse elitismo paulistano fez, por exemplo, que o Maracanaço de 1950 só fosse noticiado na terça-feira, na pagina 4 do caderno “Economia e Finanças”.

A autora tenta abrandar as coisas. Afirma que “A posição da Folha foi oscilante ao abordar o governo de João Goulart (1961-64) e a ditadura que o sucedeu.” Mentira, o jornal fez campanha sistemática pelo golpe militar.

Bastaria ela ter se dado ao trabalho de ler os jornais daquela época.

Encontraria, por exemplo, no dia 20/3/1964, a manchete: “São Paulo parou ontem para defender o regime”. E, ainda na primeira pagina: “A disposição de São Paulo e dos brasileiros de todos os recantos da pátria para defender a Constituição e os princípios democráticos , dentro do mesmo espírito que dito a Revolução de 32, originou ontem o maior movimento cívico em nosso Estado: “Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade”. E vai por aí afora, reproduzindo exatamente as posições que levaram ao golpe. Editorial de primeira página vai na mesma direção.

Bastaria ler alguns dos jornais desses dias e semanas, para se dar conta da atitude claramente golpista, mobilizadora a favor da ditadura militar, pregando e enaltecendo as “Marchas”. Nenhuma oscilação ou ambiguidade como, de maneira subserviente, a autora do livrinho sugere.

A transformação da Folha da Tarde num órgão diretamente vinculado à ditadura militar e a seus órgãos repressivos, o papel de Carlos Caldeira, sócio dos Frias, no financiamento da Oban, assim como o empréstimo de veículos da empresa para dar cobertura à ações terroristas da Oban, são coerentes com essas posições.

De Caldeira, ela não pode deixar de mencionar que “tinha afinidade com integrantes do regime militar e era amigo do coronel Erasmo Dias”. “Caldeira não era o único com conexões militares. Na redação da empresa havia policiais civis e militares, tanto infiltrados como declarados – alguns até trabalhavam armados.”

Sobre o empréstimo dos carros à Oban, a autora tenta aliviar a responsabilidade dos patrões, mas fica em maus lençóis. Há os testemunhos de Ivan Seixas e de Francisco Carlos de Andrade, que viram as caminhonetas com logotipos da empresa estacionadas várias vezes no pátio interno na fatídica sede da Rua Tutoia. Só lhe resta o apelo às palavras do então diretor do Doi-Codi, major Carlos Alberto Brilhante Ustra – condenado pela Justiça Militar como torturador - que “nega as afirmações dos guerrilheiros”. Bela companhia e testemunha a favor da empresa dos Frias, que a condena por si mesma.

Já um então jornalista da empresa, Antonio Aggio Jr. “reconhece o uso de caminhonete da empresa por militares, mas antes do golpe”. Dado o precedente, ainda na preparação do golpe, nada estranho que isso tivesse se sistematizado já durante a ditadura. Fica, portanto, plenamente caracterizado tudo o que diz Beatriz Kushnir no seu indispensável livro “Caes de Guarda”, da Boitempo, significativamente ausente da bibliografia do livro, sobre a conivência direta da empresa dos Frias na ditadura, incluído o empréstimo das viaturas para a Oban.

Editorial citado confirma a posição da empresa: “É sabido que esses criminosos, que o matutino (Estado) qualifica tendenciosamente de presos políticos, mas que não são mais do que assaltantes de bancos, sequestradores, ladrões, incendiários e assassinos, agindo, muitas vezes, com maiores requintes de perversidade que os outros, pobres-diabos, marginais da vida, para os quais o órgão em apreço julga legítimas toda promiscuidade.” (30/6/1972)

Assim os Frias caracterizam os que lutaram contra a ditadura. Fica plenamente caracterizado que a empresa estava totalmente do lado da ditadura, reproduzindo os seus jargões e a desqualificação dos que estavam do lado da resistência.

Passando pelo apoio ao Plano Collor, a empresa saúda a eleição de FHC como a Era FHC, com um caderno especial, assumindo que se virava a pagina do getulismo, para que o Brasil ingressasse plenamente na era neoliberal. Do anti-getulismo a empresa passou diretamente para o anti-lulismo – posição que caracteriza o jornal há tempos -, sempre em nome da elite paulista. A Era FHC acabou sem que o jornal tivesse feito sequer uma errata e nem se deu conta que a nova era é a Era Lula.

A decadência da empresa não consegue ser escondida. Depois de propalar que tinha chegado a tirar 1.117.802 exemplares em agosto de 1994, 18 anos depois, com todo o aumento da população e da alfabetização, afirma que tira pouco mais de 300 mil, para vender muito menos – incluída ainda a cota dos governos tucanos.

Ao longo dos governos FHC e Lula, a empresa foi sendo identificada, cada vez mais, com órgão dos tucanos paulistanos, seus leitores ficaram reduzidos aos partidários do PSDB, sua idade foi aumentando cada vez mais e o nível de renda concentrado nos setores mais ricos.

A direção do jornal, exercida pelos membros da família Frias nos seus cargos mais importantes, tendo a Otavio Frias Filho escolhido por seu pai para sucedê-lo, cargo que ocupa já há 18 anos, por sucessão familiar.

Apesar de quererem explicar a Folha, a impossibilidade de encarar com transparência sua trajetória, o livro se revela uma publicação subserviente aos proprietários da empresa, oficialista, patronal, que reflete o nível a que desceu a empresa ao longo das duas ultimas décadas.

sábado, 30 de março de 2013

MÍDIA NACIONAL, UMA VERGONHA

Não canso de dizer que falta no Brasil um grande órgão midiático de centro esquerda, como o são o Le Monde, na França, o The Guardian, no Reino Unido, e o El País, na Espanha.

A mídia nativa é controlada por empresários de direita ou extrema direita. E dentre eles, alguns são mais sérios e outros mais oportunistas. Aí vai do leitor escolher a sua preferência.

Optei por não assinar mais jornais, pois não vejo seriedade no tratamento de alguns temas, como o político, social e internacional.

A mídia brasileira tem um alinhamento com os grandes órgãos de comunicação de direita dos Estados Unidos e Europa, e com isso perdemos credibilidade informativa, desestimulamos a criticidade do leitor ou telespectador e deixamos de progredir no campo da informação.

Não sou petista e tenho muitas ressalvas às ações desse partido que se diz de esquerda. Contudo, é fato que muitas notícias veiculadas nos meios de comunicação nacionais são objeto de pura manipulação, numa campanha contra ações sociais e de independência internacional.

Amanhã veicularei aqui uma matéria escrita por ninguém mais, ninguém menos, que Emir Sader, que não precisa de apresentações.

sexta-feira, 29 de março de 2013

O POLÊMICO DESINTERESSANTE

foto: wikipedia
Não sabia quem era esse sujeito chamado Marco Feliciano até ser criada toda a enorme polêmica em torno de sua eleição para presidir a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal.
Há muitos protestos contra a sua presidência na Comissão de Direitos Humanos. Líderes partidários, intelectuais, artistas, ativistas de minorias e pessoas não integradas a qualquer movimento têm pedido a saída desse pop star da liderança de uma Comissão tão sem prestígio, mas tão importante. E muitos evangélicos, ao contrário do que se diz por aí, também são contra a postura desse deputado.
Marco Feliciano é paulista e foi eleito deputado federal pelo PSC - Partido Social Cristão, por São Paulo. É apresentador de tevê, escritor de livros de autoajuda e pastor da Igreja Assembleia de Deus da Catedral do Avivamento.
É extremamente vaidoso e narcisista, tendo um visual mais próximo do grupo que ele tanto recrimina, o gay. Suas ações têm sido pontuadas contra reivindicações do movimento GLBTS. Há, inclusive, citações preconceituosas contra os afrodescendentes. É um sujeito polêmico e que sabe chamar a atenção. O líder do PSOL disse que Marco Feliciano deve sair imediatamente da presidência e que ele se encontra nesse cargo em busca da autopromoção que parece estar sendo bem exitosa.
Saiba mais sobre esse polêmico deputado acessando a página da wikipedia (clique aqui). Se quiser, também conheça a sua home page (clicando aqui) e a sua página no twitter (clique aqui). Sinceramente, se fosse você, mal terminaria de ler o que escrevi aqui. É uma pessoa desinteressante sob todas as óticas, ao menos no meu conceito.
A ele o meu sinto muito, senhor deputado, mas pouco me interessa quem é, o que faz e o que pretende. Nunca teve e nunca terá o meu voto ou a minha simpatia. Interesso-me por questões polêmicas e pessoas corajosas, mas não pelos oportunistas que crescem às custas de discussões desnecessárias ou absurdas e que somente buscam autoprojeção. Desculpe-me, mas o senhor não conquistou minha alma, minha mente ou meu coração e tampouco a minha curiosidade. Só escrevi esse pequeno texto para manifestar o meu repúdio ao uso da política para a pior autopromoção que pode haver: a da simples busca da fama e do dinheiro. Será que Deus aprovaria isso? Não sei o dele, mas o meu, que a tudo vê e caladamente manifesta-se, certamente não.

quinta-feira, 28 de março de 2013

TEXTOS DE MINHA AUTORIA E DE OUTROS NESTE BLOG

Ao menos uma ou duas vezes por semana você verá um texto da minha autoria.
Só não tenho tempo de escrever o tanto quanto gostaria, mas o blog voltou a ser diário, com textos, ilustrações e vídeos interessantes.

terça-feira, 26 de março de 2013

O BRASIL QUER SER O PAÍS DO AZEITE

foto: ANBA
Isaura Daniel

Governo incentiva plantio de oliveiras e produção de azeite para aproveitar mercado local, abastecido por importados. No Rio Grande do Sul, produtores criaram marcas e começam a ganhar espaço.

São Paulo – O Brasil começa a ter seu nome nos rótulos dos azeites que são vendidos em alguns dos grandes supermercados do País. O governo federal resolveu fazer um esforço para transformar a agricultura brasileira em uma produtora de oliveiras, azeitonas e azeites e várias iniciativas já pipocam pelo País, principalmente no Rio Grande do Sul. São casos de produtores como José Alberto Aued e seu filho Daniel Aued, que cultivam 18,5 hectares com oliveiras no município gaúcho de Cachoeira do Sul e fabricam mais de 20 mil litros de azeite por colheita. A marca deles, Olivas do Sul, está no varejo gaúcho, carioca e paulistano.

"Somos grandes importadores de azeite de oliva, importamos US$ 316 milhões em azeite, US$ 121 milhões em azeitonas e a região sul tem clima e solo propícios para a plantação das oliveiras", afirma o secretário de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Caio Rocha. Segundo ele, o Brasil é o terceiro maior importador de azeite do mundo e a ideia é aproveitar esse potencial de mercado.

Para empurrar a produção para frente, o governo incluiu recursos para o setor no Plano Safra do ano passado, está organizando a cadeia e orquestrando, junto aos agricultores, a criação de normas a serem seguidas para garantir um azeite de qualidade. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que é ligada ao Mapa, trabalha no desenvolvimento de mudas de oliveiras adequadas para o sul do País e colocará em operação, em breve, laboratório para análise da qualidade dos azeites fabricados e consumidos no País.
A meta, diz Rocha, é reduzir em 30% a importação de azeites em quatro anos. Segundo o coordenador de Produção Integrada da Cadeia Agrícola do Mapa, Marcus Vinícius de Miranda Martins, no ano passado havia cerca de 600 hectares com oliveiras no Brasil, principalmente no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Minas Gerais. Apesar de o País também importar azeitonas, o Mapa vem incentivando a produção de azeite, que tem mercado maior. O beneficiamento normalmente é feito pelos agricultores.

(continua... Para continuar lendo, acesse o site da ANBA - http://www.anba.com.br/noticia_especiais.kmf?cod=19826142)

segunda-feira, 25 de março de 2013

CUBA - PARTE III


Cuba – Parte III

Para quem está acostumado a pechinchar, uma dica: como a maioria das lojas é do Estado, o preço é fixo e não adianta tentar regatear. Você somente conseguirá discutir preços com os insistentes vendedores de charutos espalhados por toda a Cuba. Uma caixa de charutos pode sair de 100 dólares a 30 dólares para turistas com os vendedores que se escondem no meio da população. O problema, no entanto, estará em sair do país com este produto, pois o governo fiscaliza a saída ilegal de charutos. E charutos mais baratos que nas fábricas são vendidos ilegalmente e a preços infinitamente inferiores ao de loja pelos vendedores para lá de chatos, permita-me a sinceridade.

Havana é uma cidade que reúne avenidas largas e alguns prédios lindíssimos e muitos outros em situação deplorável, que nos faz lembrar dos cortiços decadentes das grandes cidades.

Tome cuidado com a sua carteira e os demais pertences, principalmente câmeras. Embora sejam raras as subtrações a mão armada (roubos), os furtos são muito comuns e são praticados de diversas formas, seja pressionando a vítima, para que não perceba que estão mexendo em seus pertences, seja ainda com a velha e já batida forma da “mão leve”.

Para quem precisar dos serviços policiais, é necessário muita paciência já que a burocracia e a falta de boa vontade parece predominar. Salvo um ou outro policial, a maioria pensa estar fazendo um favor àquele que a procura, seja nacional ou estrangeiro.

Porém, há algumas coisas que chocam em Cuba. Uma delas são os ônibus lotados para os trabalhadores cubanos. Quem pensava encontrar isso em uma ilha Socialista? Outra são as lojas de grife para estrangeiros, misturadas aos cafés e lojas simples destinadas a turistas e cubanos. Em um país com uma situação econômica delicada, como Cuba, a destinação de lojas a uma elite, no caso estrangeiros, soa aviltante. E há muita prostituição, seja nas esquinas de grandes avenidas, seja nas ruas das cidades do país. Cuidado. Ao lado da moça de trabalho que não julgo nada fácil, sempre haverá um sujeito que cuidará da segurança dela. Andando pelo Malecon, você ouvirá diversas cantadas, a maioria delas voltadas a um programa e não a uma mera paquera.

Não estranhe. Museus, cinemas e ônibus são cobrados de cidadãos locais e de turistas. Nada é de graça para os cubanos. Nem os remédios. Sim, embora o atendimento hospitalar seja gratuito (salvo se for em clínica particular, já existente na ilha), os remédios são cobrados dos cidadãos, a um preço ínfimo. Já os medicamentos mais caros, para algumas doenças específicas, são fornecidos gratuitamente pelo governo.

Acredite, ouvi de diversos cubanos que o salário de um médico equivale a 27 dólares ao mês. Ou seja, o equivalente a 90 centavos de dólar ou R$ 1,80 ao dia.

E não estranhe se pedirem para lhe darem um beijo. Muitos cubanos pensam que os outros países são um paraíso e fazem de tudo para arranjar um casamento. Para quem está encalhado, visitar a ilha pode ser, digamos assim, uma bela terapia.

As mulheres cubanas são um negócio a parte. São mulheres de atitude, mas com um gênio nada fácil. Sinceramente, não gostaria de ser cubano. Acho que as brasileiras, por incrível que pareça, são um doce perto dessas geniosas caribenhas, lindas, por sinal.

domingo, 24 de março de 2013

DE ONDE VEM O PORTUGUÊS DA PADARIA?

por Marcos Grinspum Ferraz*

“Flor do Minho”, “Dom João VI”, “Lisboa”, “Flor de Coimbra”, “Cabral”, “Estado Luso”, “Nova Portuguesa”, “Camões”, “Do Porto”, “Lusitana” e até mesmo “Salazar”. São todos nomes de padarias paulistanas, que explicitam um pouco a origem lusa de nossas casas de pães. Pois o fato é que, no Brasil, sempre que pensamos em padarias pensamos na figura do imigrante português. Mas é fato, também, que muito pouco sabemos sobre essa história, ou melhor, sobre o porquê da existência dessa figura já folclórica no país: o “português da padaria”. Interessado no assunto, acabei descobrindo um tanto de coisas. Vamos lá.

Quem já viajou para outros países certamente reparou que não há pelo mundo padarias como a brasileira. Em geral, existem locais que fazem e vendem o pão, mas não espaços onde se pode sentar, comer sanduíches, pizzas e almoçar; tomar café, suco e cerveja; comprar frios, bebidas e até revistas. O curioso é que a nossa padaria, tão tipicamente brasileira e que domina as cidades do país, foi criada não por nativos da terra, mas principalmente por portugueses, em um modelo que não existe nem mesmo em Portugal. Por isso podemos chamá-las, aqui, de luso-brasileiras.

GRANDES MIGRAÇÕES

Apesar de os portugueses terem “descoberto” o Brasil ainda em 1500, a época em que vieram em maiores fluxos para nosso país vai de meados do século 19 a meados do século 20, na época das “grandes migrações”. Entre 1855 e 1914, por exemplo, as estatísticas de Portugal registram cerca de 1,3 milhões de saídas, e quase 90% delas são rumo ao Brasil. Ou seja, em um período de vacas magras na terrinha, os imigrantes – principalmente jovens e do sexo masculino – vinham em busca de novas oportunidades e de uma vida melhor.

Entre os milhares de portugueses que desembarcavam em portos brasileiros, uma parte seguia diretamente para o campo, para trabalhar nas plantações. Eram parte, também, do projeto de “branqueamento” da população levado a cabo pelo Estado. Outro grupo, mais numeroso, ia diretamente para as cidades, sendo Rio e São Paulo os principais destinos. Apesar de saídos principalmente das zonas rurais de Portugal, a vontade maior dos que chegavam ao Brasil era de viver nas áreas urbanas, que prometiam mais dinheiro no bolso e maiores oportunidades de ascensão social.

Eles se estabeleceram nas mais diversas profissões – desde jornaleiros, sapateiros, taberneiros, leiteiros e vendedores de roupas até funcionários da construção civil ou da grande indústria que florescia nas novas metrópoles. Muitos se tornaram também pequenos empresários, e abriram negócios para suprir as novas demandas de consumo de uma população urbana em rápido crescimento no Brasil. Demandas como, por exemplo, por pão.

Com a forte presença de imigrantes de todo o mundo e com o acelerado crescimento das cidades, novos costumes e hábitos alimentares foram se difundindo. A farinha de trigo, por exemplo, começou a ocupar o lugar das farinhas de milho ou mandioca, com as quais se fazia o pão. Até então, pelo meio do século 19, o ramo era comandado principalmente por mulheres, com uma produção ainda caseira e um sistema de distribuição apenas de entrega nas casas e venda nas ruas.

A mudança no quadro se deu pelas mãos de portugueses, espanhóis e, no primeiro momento, principalmente italianos. Surgiram então as primeiras padarias, dominadas por homens, onde se fazia e vendia o pão, com uma estrutura que permitia uma produção regular e em maior escala. Com farinha de trigo importada e fermentação natural, eles produziam o chamado pão caseiro – mais duro e que durava dias –, em padarias como a portuguesa “Santa Teresa” (1872) – hoje a mais antiga em funcionamento no país, em São Paulo – ou a italiana “Popular” (1890).
O DOMÍNIO PORTUGUÊS

Virada para o século 20 e o domínio português no setor já começava a dar sinais. O motivo principal: a invenção do popular pão francês, que de francês só tem o nome. A propagação do uso do fermento biológico, que permitia uma produção rápida, foi sabiamente aproveitada pelos padeiros portugueses, que “lançaram” no mercado o tal pão, pequeno e macio, que saia em várias fornadas ao dia. Os italianos, por sua vez, seguiram fazendo pães mais duros, de casca grossa, que duravam alguns dias nas bancadas. Nada contra os italianos e suas saborosas receitas, mas é claro que o pão francês, fresquinho em diferentes horários, dominou o mercado.

Padaria do Floriano Nunes, em Assis (SP), em 1936.

As entregas feitas em casa com pequenas carrocinhas puxadas por burros também ajudaram os portugueses a ganhar a freguesia. Os clientes viravam fiéis a uma ou outra padaria e a um ou outro carroceiro, criando uma relação de intimidade que envolvia exigências de qualidade e a possibilidade de comprar fiado. Assim, já em 1938, dos 298 sócios registrados no Sindicato dos Industriais de Panificação de SP, 52,4% eram portugueses, seguidos por 26% italianos e 17% brasileiros.

Nas padarias de portugueses do início do século 20, diferentemente de hoje, os lusos ocupavam todos os cargos: eram desde os donos até os masseiros, forneiros, carvoeiros e carroceiros. Vale lembrar que a nacionalidade em comum não impedia o surgimento de conflitos de classe dentro das padarias. Para funcionar até 20 horas por dia, todos os dias da semana, os patrões impunham jornadas aos funcionários de até 18 horas. Muitos jovens moravam dentro das próprias padarias, em cômodos precários cedidos pelos proprietários, perto de fornos, de modo que o controle sob suas vidas era quase total.

Nas décadas seguintes, em meio a demoradas melhoras nas condições de trabalho – resultado de muitas lutas –, o domínio português no setor da panificação se tornou quase total. Entre os anos 1950 e 1960 – quando desceram aqui mais cerca de 240 mil imigrantes lusos – os portugueses chegaram a ser cerca de 90% dos donos de padarias em São Paulo, e dominaram o ramo também em Santos, Rio de Janeiro, Belém-do-Pará etc. As padarias foram sendo passadas de pai para filho, como ainda o são em muitos casos, assim como foram transmitidas as técnicas dos padeiros e forneiros. Diferentemente de hoje, em que cursos de formação são comuns, aprendia-se a fazer o pão trabalhando.

AS NOVAS PADARIAS

Hoje, século 21, qualquer bairro ainda tem alguma boa e velha padaria tradicional. Mas as padarias modernas, que dominaram a cena, são diferentes. Cupcakes, sushis, carnes, saladas, frutas, comidas congeladas, vinhos, champanhes e por aí vai; tudo pode ser comprado na padaria. Pois a partir dos anos 1990 um novo modelo revolucionou o setor, após a constatação de que a demanda por produtos “chiques” subia e que a competição com as lojas de conveniência e supermercados aumentava. Desse modo, temos hoje as padarias que ficam abertas 24 horas, com estacionamentos e caixas eletrônicos, farmácias etc.

E, sim, mais uma vez o processo de mudança foi comandado por portugueses e por seus descendentes. Dessa vez, por uma nova geração que teve boa formação e usufruiu de melhores condições de vida que seus pais e avós. A “Dona Deôla”, por exemplo, criada pelos netos da padeira portuguesa Dona Deolinda, se tornou uma bem-sucedida rede e está abrindo a 5a filial. A “Casa dos Pães”, no nobre Jardim América, emprega 520 funcionários, recebe cerca de 8 mil visitantes por dia e vende aproximadamente 900 mil pães por mês. O estabelecimento, claro, é comandado por filhos e netos de imigrantes portugueses.

Assim, cerca de 150 anos após seu surgimento, a padaria brasileira é, paradoxalmente, uma instituição nacional e ainda um lugar um tanto “português”. Em 2007, quando o time da Portuguesa lutava para voltar à primeira divisão do campeonato nacional, os donos de padaria de São Paulo organizaram uma grande arrecadação de dinheiro para premiar os jogadores, caso eles conseguissem levar o clube de volta a elite do futebol. E deu certo. Está claro: mesmo servindo ciabatta, brioche, pão preto, sushi ou cupcake, as padarias brasileiras certamente não abandonarão tão cedo os pasteis de Belém e de Santa Clara, nem os seus nomes ligados à história de Portugal.

*Marcos Grinspum Ferraz, jornalista e saxofonista da banda Trupe Chá de Boldo mantém a coluna mensal Verbo Sonoro, sobre cultura e música.

sábado, 23 de março de 2013

Chávez entró por la puerta grande en la historia, afirmó Raúl Castro


SANTIAGO DE CUBA.— El presidente cubano, Raúl Castro, afirmó aquí que el líder venezolano Hugo Chávez entró por la puerta grande en la historia, lo cual nunca podrá ser olvidado.

"Nadie podrá cerrar esa puerta, ni olvidar lo que ha sucedido, el pueblo venezolano sabrá defender sus conquistas y nosotros como hasta ahora estaremos junto a ellos rodilla en tierra", señaló en declaraciones a la prensa cubana poco antes de viajar a Caracas para las honras fúnebres de Chávez.

Raúl Castro consideró que lo más importante ahora es no retroceder en lo avanzado con la influencia del líder bolivariano, quien falleció en la tarde de este martes en la capital del país suramericano.

En ese sentido, el presidente cubano destacó la necesidad de luchar por la unidad de los pueblos en América Latina y el Caribe, uno de los legados de Chávez por su impulso a los mecanismos de integración regional.

sexta-feira, 22 de março de 2013

A guerra oculta e o jornalismo armado e sem razão

SITE FAZENDO MEDIA.COM

A TV Cidade Livre de Brasília – o canal comunitário da capital federal - tem exibido em sua grade um impactante documentário intitulado “A guerra que você não vê”, do destacado jornalista australiano John Pilger, contando não apenas os horrores das agressões militares dos EUA e da Inglaterra contra o Iraque, o Afeganistão e também de Israel contra a Palestina, mas, também, contando os horrores da vergonhosa, indecente e criminosa manipulação informativa praticada pelo “jornalismo embutido”, para justificar estas guerras.

Os jornalistas são conduzidos a participar do teatro de operações de guerra de agressão instalados nos comboios, frotas e instalações dos agressores imperiais contra os povos citados. Assim, convivendo com os exércitos agressões, hospedados e alimentados pelos invasores, o termo “ ocupação militar”, passa a ser apenas ocupação, e o termo “controle militar”passa a ser apenas controle: as palavras mudam de sentido para fazer sentido apenas aos países imperiais que comandam o fluxo internacional da informação, já que os maiores anunciantes são empresas vinculadas à indústria de armas, sejam os bancos, as empresas de transporte ou de computadores.

O documentário exibido pela TV Cidade Livre revela como surgem importantes rebeliões no seio dos próprios países imperialistas, como o nascimento do Wikelikes - Julian Assange é entrevistado , ainda estava em liberdade - e também há no filme o depoimento de soldados dos EUA relatando as atrocidades cometidas por suas próprias tropas contra população civil, com a divulgação da alarmante estatística de que no Iraque, 90 por cento das vítimas são civis.
John Pilger entrevista também altos funcionários dos governos dos EUA e da Inglaterra, que confirmam que nunca houve nenhuma comprovação de que havia armas de destruição em massa nas mãos do Iraque, razão propagandística utilizada - com a vergonhosa e criminosa conivência do jornalismo embutido - para lançar uma guerra contra o Iraque o Afeganistão. Há depoimento de um funcionário do governo inglês que se declara envergonhado pelo papel que desempenhou nestes crimes em que o jornalismo e a diplomacia se unem à serviço da guerra.
Agora que as agressões se dirigem à Síria, convidamos todos a assistirem este documentário por ser muito útil para estimular o debate entre as forças progressistas sobre a necessidade de reforças a solidariedade internacional, bem como a construção de uma frente única antiimperialista mundial. E, também, para reforçar o apoio a iniciativas como a da criação do Conselho de Defesa da América do Sul, integrado pelo Brasil, a e uma política externa cada vez mais independente e soberana , para o quê devemos também apoiar iniciativas como a do projeto do submarino nuclear, cuja unidade de fabricação foi inaugurada recentemente pela Presidenta Dilma Roussef.

Assistam o documentário “A guerra que você não vê”, na TV Cidade Livre de Brasília, o canal 8 da NET. Confira na programação: WWW.tvcidadelivredf.com.br

quinta-feira, 21 de março de 2013

VISUAL MAIS LEVE, MAS NOTÍCIAS COM A MESMA INTENSIDADE

O blog está com um visual mais leve e voltou com publicações diárias. É, o blog pode estar mais fácil e gostoso de ler, mas as notícias continuam com a intensidade de sempre. Afinal, informar é o compromisso maior desta página virtual.
Leveza, informação e cidadania deveriam ser companheiras inseparáveis. Ao menos tentamos isso nesse blog. Aqui é esboçado um jornalismo alternativo e leve. Procuramos melhorar. Continue por aqui e, se quiser, nos ajude, entrando em contato e oferecendo sugestões.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Quem é o dono do mundo?

David Barsamian

Uma vez que ultrapassamos o marco dos estados nacionais como entidades unificadas sem divisões internas, podemos ver que há uma mudança do poder mundial, mas a direção dessa mudança é da força de trabalho para os donos do mundo: o capital transnacional, as instituições financeiras mundiais. A análise é do pensador norte-americano Noam Chomsky, que conversa nesta entrevista com David Barsamian, do ‘Alternative Radio

O novo imperialismo estadunidense parece ser substancialmente diferente da variedade mais antiga, uma vez que os Estados Unidos são uma potência econômica em declínio e, portanto, estão vendo minguar seu poder e influência política.

Noam Chomsky – Eu penso que deveríamos assumir certa reserva ao falar sobre o declínio estadunidense. Foi na Segunda Guerra Mundial que os Estados Unidos realmente se converteram em uma potência mundial. O país já era a maior economia do mundo muito tempo antes da guerra, mas era uma potência regional de certa forma. Controlava o Hemisfério Ocidental e havia feito algumas incursões no Pacífico. Mas os britânicos eram a potência mundial.

A Segunda Guerra Mundial mudou isso. Os Estados Unidos se converteram na potência mundial dominante. O país tinha a metade da riqueza do mundo. As outras sociedades industriais estavam debilitadas ou destruídas, enquanto os EUA estavam em uma posição de incrível segurança. Controlavam o hemisfério, tanto do lado do Atlântico como do Pacífico, com uma enorme força militar.

Esse poder sofreu um declínio, sem dúvida. Europa e Japão se recuperaram e ocorreu um processo de descolonização. Por volta de 1970, os EUA acumulavam cerca de 25% da riqueza do mundo; aproximadamente como era esse quadro, digamos, nos anos 20. Seguia sendo a potência mundial avassaladora, mas não como havia sido em 1950. Desde 1970, essa condição está bastante estável, ainda que tenham ocorrido mudanças obviamente.

Na última década, pela primeira vez em 500 anos, desde as conquistas espanhola e portuguesa, a América Latina começou a enfrentar alguns de seus problemas. Iniciou um processo de integração. Os países estavam muito separados uns dos outros. Cada um tinha uma relação própria na direção do Ocidente, primeiro Europa e depois Estados Unidos. Essa integração é importante. Significa que não é tão fácil dominar os países um a um. As nações latino-americanas podem se unificar para se defender contra uma força exterior.

O outro acontecimento, que é mais importante e muito mais difícil, é que os países da América Latina estão começando individualmente a enfrentar seus enormes problemas internos. Com seus recursos, a América Latina deve ser um continente rico, particularmente a América do Sul.

A América Latina tem uma enorme quantidade de riqueza, mas está muito concentrada nas mãos de uma pequena elite, de perfil europeizado e branca em sua maioria, existindo ao lado de uma enorme pobreza e miséria. Há algumas tentativas de começar a fazer frente a esse quadro, o que é importante – outra forma de integração – e a América Latina está, de algum modo, se afastando do controle estadunidense.

DB – Fala-se muito da mudança de poder mundial: a Índia e a China vão se converter nas novas grandes potências, as potências mais ricas?

NC – De novo aqui, devemos guardar reserva. Por exemplo, muitos observadores comentam sobre a dívida estadunidense e o fato de que, grande parte dela, está nas mãos da China. Há alguns anos o Japão detinha a maior parte da dívida estadunidense, mas foi superado pela China. Além disso, todo o marco para a discussão sobre o declínio dos Estados Unidos é enganoso. Ele nos leva a falar sobre um mundo de estados concebidos como entidades unificadas e coerentes.

Na teoria das relações internacionais, há o que se chama de escola “realista”, que diz que vivemos em um mundo de estados anárquico e que os estados buscam seu “interesse nacional”. Isso é, em grande parte, uma mitologia. Há alguns interesses comuns como a sobrevivência. Mas, na maioria das vezes, as pessoas têm interesses muito diferentes no interior de uma nação. Os interesses do diretor executivo da General Eletric e do funcionário que limpa o chão de sua empresa não são os mesmos.

Parte do sistema doutrinário nos Estados Unidos é formado pela pretensão de que todos somos uma família feliz, que não há divisões de classes, e que todos estamos trabalhando juntos em harmonia. Mas isso é radicalmente falso.

No século XVIII, Adam Smith disse que as pessoas que dominam a sociedade fazem as políticas: os “mercadores e manufatureiros”. O poder hoje está nas mãos das instituições financeiras e das multinacionais. Estas instituições têm um interesse especial no desenvolvimento chinês. De modo que, digamos, o diretor executivo da Walmart, da Dell ou da Hewlett-Packard, sente-se perfeitamente contente de ter uma mão de obra muito barata na China trabalhando sob condições horríveis e com poucas restrições ambientais. Enquanto na China houver o que se chama de crescimento econômico tudo está bem.

Na verdade, há um pouco de mito neste tema do crescimento econômico do país. A China é, em grande medida, uma planta de montagem. É um exportador importante, ainda que o déficit comercial estadunidense com a China tenha aumentado, o déficit comercial com Japão, Taiwan e Coreia diminuiu. O motivo é o desenvolvimento de um sistema de produção regional.
Os países mais avançados da região – Japão, Cingapura, Coreia do Sul e Taiwan – enviam tecnologia avançada, partes e componentes para a China, que usa sua força de trabalho barata para montar produtos e enviá-los para fora do país. E as corporações estadunidenses fazem a mesma coisa. Enviam partes e componentes para a China, onde elas são montadas e exportadas. É isso o que se chama de “exportações chinesas”, mas são exportações regionais em muitos casos e, em outros, é realmente um caso no qual os Estados Unidos estão exportando para si mesmos.

Uma vez que ultrapassamos o marco dos estados nacionais como entidades unificadas sem divisões internas, podemos ver que há uma mudança do poder mundial, mas a direção dessa mudança é da força de trabalho mundial para os donos do mundo: o capital transnacional, as instituições financeiras mundiais.

(*) Noam Chomsky é professor emérito de linguística e filosofia no Instituto Tecnológico de Massachusetts, em Cambridge (EUA). Seu último livro é "Power Systems: Conversations on Global Democratic Uprisings and the New Challenges to U.S. Empire. Conversations with David Barsamian".

Fonte: Futuro MX, via Rebelión

Tradução: Katarina Peixoto

terça-feira, 19 de março de 2013

CIDADE COM 22 CRACOLÂNDIAS, INCLUSIVE A MAIOR DE TODO O MUNDO?

Leia abaixo dados estarrecedores sobre o "crack" na cidade de São Paulo. A cidade possui 22 cracolândias e a central é a maior de todo o mundo. E as autoridades, o que fazem? Só chamar a polícia não resolve o problema. Deve haver integração entre o trabalho psiquiátrico com o jovem e trabalho psicológico e assistencial à família e ao próprio jovem, inclusive educacional e laboral, quando sair da internação para o tratamento de drogadição. É um trabalho de longa duração. Não basta a internação. Ela por si só não resolve nada. Se a solução fosse simples, assim, o crack não estaria tão difundido. Chega de omissão e de demagogia barata! O povo não aguenta mais tanta manipulação. Ação Já!

"Mais de 1,2 mil crianças e adolescentes viciadas em crack vivem nas ruas de São Paulo" (...)
 
"Segundo o desembargador Antonio Carlos Malheiros, coordenador da Vara de Infância e Juventude do Tribunal de Justiça de São Paulo, só na região da cracolândia, na área central da cidade, a estimativa é de que até 400 crianças estejam envolvidas com drogas especialmente crack. “Temos entre 22 e 23 cracolândias cercando a cidade. A central, que é a maior cracolândia do mundo, tem 2 mil usuários [entre adultos, crianças e adolescentes]. Calculamos que mais ou menos 20% dessas pessoas são crianças e adolescentes. Ou seja, devemos ter, no centro da cidade, entre 200 e 400 crianças e adolescentes em situação de drogadição. Fora nas outras [cracolândias], que não faço nem ideia”, disse o desembargador, que tem visitado a região praticamente todos os dias."

(para continuar a ler, clique ao lado - Agência Brasil - Elaine Patricia Cruz)

segunda-feira, 18 de março de 2013

CUBA - PARTE II

 Cuba – Parte II

Há duas Cubas. Uma para os turistas, como Cayo Largo e Varadeiro e outra para os cubanos e aventureiros.

Tive a oportunidade de conhecer pequenas cidades de Cuba, e posso afirmar que a qualidade de vida é boa nesses lugares. Já na capital Havana a situação é bem diferente, pois é visível a pobreza de uns e a melhor condição econômica de outros cubanos. Não se pode afirmar que o socialismo ainda rege a economia daquele país.

Pequenos restaurantes no interior do país reservam bons pratos a preços muito bons para os turistas. É possível comer um delicioso prato de lagosta com 10 reais. Porém, para os cubanos é umtanto caro.

Nas praias famosas o idioma dominante é o inglês. Há muitos turistas russos e espanhóis. E ouve-se russo com uma frequência que nos faz lembrar da época em que Cuba tinha fortes relações com a antiga União Soviética. E os russos não falam absolutamente nada de espanhol. Nada.

As russas são uma história a parte, de tão lindas. É impossível não se encantar com elas e com o corpo delgado e com um pouco mas de curvas que as suas concorrentes holandesas. Mas se preferir curvas, não tem como não se apaixonar pelas cubanas, também cheias de charme e beleza.

E os cinemas dessas cidades passa películas americanas. Difícil de acreditar?

Prefiro a Cuba verdadeira, pobre e com problemas, mas com um povo que adora o Brasil e seus costumes. Não suporto saber que o que se paga em uma diária barata para os turistas equivale a mais de 2 meses de trabalho para os cubanos. Também não suporto bares bonitos e charmosos com música europeia e estadunidense que se espalham aos montes em Havana e nas cidades turísticas. O turista de Havana visa conhecer Cuba, ou deveria. Os turistas das famosas praias, no entanto, buscam sol e tranquilidade, apenas isso. O país pouco importa para eles, infelizmente.

domingo, 17 de março de 2013

SILENCIAR PELA GUERRA, BRADAR PELA PAZ.

Na Síria, o número de refugiados já ultrapassa o 1 milhão de pessoas, a maioria mulheres e crianças, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.

Enquanto isso, o mundo preocupa-se com o "futuro" da Síria. Futuro? Mas quanta hipocrisia. Que futuro haverá para esse país e esse povo sem essas mulheres e crianças e sem os homens que lá estão, que provavelmente morrerão nessa guerra civil financiada por estadunidenses, europeus, países do golfo árabe e russos?

O que os países militarmente fortes querem é vender armas, com certa preocupação geoestratégica (redesenhando o Oriente Médio), apenas isso. São corvos ou urubus, que ganham com carcaças de vítimas.

Não me conformo com o fato do governo brasileiro e o mundo não terem agido a tempo de evitarem esse drama humanitário.

Ainda dá para salvar vidas e poupar esse povo dessa calamidade. O Brasil poderia agir eficazmente impondo ao mundo uma solução para salvar as vidas de civis. Uma zona de segurança, guardada por militares da ONU, em território Sírio, poderia receber esses refugiados, que garantiriam a si tanto o direito ao retorno aos seus lares, como poderiam manifestar-se, se assim fosse preciso. 

O que não dá para admitir é o silêncio desses sírios. Silêncio imposto pela guerra civil, pela busca por refúgio e pelos assassinatos brutais com essa guerra insana.

A Síria não precisa ser alinhada aos Estados Unidos ou à Rússia. A Síria precisa continuar a ser habitada e liderada por sírios, apenas isso.

Manifestemo-nos em prol de uma ação do governo brasileiro para evitar novos massacres contra o povo sírio e contra a humanidade que eles também representam.

sábado, 16 de março de 2013

Ministra britânica quer restringir vistos para brasileiros

CARTA MAIOR

A ministra do Interior britânica, Theresa May, quer impor restrições à concessão de vistos para cidadãos brasileiros. Na campanha eleitoral de 2010, David Cameron se comprometeu a diminuir a imigração para a casa de dezenas de milhares em 2015. O artigo é de Marcelo Justo, direto de Londres.

Marcelo Justo

 Londres – A ministra do Interior britânica, Theresa May, quer impor restrições à concessão de vistos para cidadãos brasileiros. Segundo publicou em sua capa o jornal Financial Times, a iniciativa de May não é apoiada pelo primeiro ministro David Cameron e pelo vice primeiro ministro Nick Clegg que consideram o Brasil um país chave para ampliar o comércio e reativar a cambaleante economia britânica. May, por outro lado, tem a seu favor o desempenho desastroso dos conservadores na renovação de um assento parlamentar na semana passada, quando ficaram em terceiro lugar, atrás do UKIP, um partido nacionalista anti-europeu e anti-imigração que conseguiram abocanhar pela direita uma boa parte do apoio eleitoral dos conservadores.
O primeiro ministro tem um problema adicional para acalmar sua ministra do Interior. Na campanha eleitoral de 2010, Cameron se comprometeu a diminuir a imigração para a casa de dezenas de milhares em 2015. O argumento de May é que é fundamental endurecer os requisitos para a concessão de vistos a brasileiros caso Cameron deseje cumprir essa promessa eleitoral. Segundo os números do Ministério do Interior britânico, em 2011, os brasileiros se situaram em quinto lugar na lista de imigrantes ilegais: no ano passado, dois mil foram expulsos do Reino Unido. Uma participante do debate interno governamental disse ao Financial Times que o resto do gabinete britânico está contra a proposta. Cameron e o chanceler William Hague visitaram o Brasil como parte de sua abertura para os BRICS, considerados como o novo Nirvana do comércio e dos investimentos britânicos.
A iniciativa de May intensifica, além disso, as tensões internas dos conservadores com os liberal-democratas. O vice primeiro ministro Nick Clegg disse estar seguro que o governo de Dilma Rousseff responderia a um endurecimento dos vistos com uma medida similar que causaria um pesadelo para os empresários britânicos no Brasil e para os cidadãos que querem viajar para o país para a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016. Além disso, o Instituto de Diretores, que reúne os empresários britânicos, e a indústria turística opinam que a iniciativa será desastrosa. “O governo está cumprindo com seus objetivos de imigração. Deveria deixar de fazer política com o tema a todo momento”, assinalou o diretor geral do Instituto de Diretores, Simon Walker.
Já a indústria do turismo destaca que tanto os Estados Unidos como a Austrália estão tomando o caminho oposto: relaxando os requisitos para a concessão de vistos aos brasileiros. Uma questão de dinheiro. Os brasileiros no exterior gastaram 16 bilhões de libras esterlinas mais do que os turistas estrangeiros desembolsaram no Brasil.
O problema é que os conservadores estão fortemente divididos entre os que querem girar ainda mais para a direita e os que acreditam que é preciso girar para o centro da cena política onde se encontra a grande maioria do muito moderado eleitorado britânico.
No fim da última semana, periódicos como o ultra conservador Daily Express assinalou que nenhuma iniciativa econômica devia eclipsar o objetivo de baixar a imigração. Esse tema estará cada vez mais na ordem do dia. No dia 1º de janeiro de 2014, a Romênia e a Bulgária encerram o período de transição para seu ingresso na União Europeia e para a conversão de sua população em cidadãos europeus com todos os direitos.
O governo está propondo reformas na política de habitação e saúde para restringir seu acesso a certos serviços sociais. Esta política também foi rechaçada por empresários rurais que consideram que os europeus do leste têm uma ética laboral e uma habilidade maior que a dos britânicos. Não acrescentaram um fator que seguramente terá peso na reclamação: barateiam custos, cobrando menos que os produtores locais.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

sexta-feira, 15 de março de 2013

ANOTAÇÕES ÀS VÉSPERAS DA CÚPULA DO BRICS

foto: site da AEB
Por José Monserrat Filho

O Brasil mantém excelentes laços de cooperação com China e Rússia, que, por sua vez, também desenvolvem excelente relações, a começar pela área de política internacional. Isso fortalece o BRICS, fórum também integrado pela Índia e a África do Sul, que deve realizar sua próxima Reunião de Cúpula na cidade sul-africana de Durban, em 26 e 27 de março. O BRICS tem despertado especial atenção do mundo inteiro, sobretudo dos países desenvolvidos.(continua) Veja a íntegra no site da AEB - Agência Espacial Brasileirahttp://www.aeb.gov.br/2013/02/4158/





quinta-feira, 14 de março de 2013

Bento XVI, Deus, a fome e nós

Após a eleição do novo Papa, Francisco, o argentino, aconselho a leitura do texto abaixo.

Jon Sobrino, s.j. - Teólogo. Director del Centro Monseñor Romero de la UCA

A renúncia de Bento XVI é um fato importante. Pode mover a vida da Igreja em uma ou outra direção. E, pelo que tem de "ruptura sem precedentes” –dizemos isso sem saber o que acontecerá; porém, com esperança de que aconteça- pode gerar um ambiente propício para a ruptura de outras tradições eclesiais que parecem intocáveis. Umas, mais categoriais, têm a ver com o mínimo acesso dos leigos, sobretudo da mulher, à vida, missão e responsabilidade na Igreja. Outras, mais de fundo, têm a ver com a concepção da Igreja –também dogmática- como Igreja dos pobres.

1. A renúncia de Bento XVI. Honradez, esperança, liberdade e solidão ante Deus

O papa tomou uma decisão importante, e o fez com simplicidade na forma e profundidade. Disse: "não posso mais”, o que parece evidente, dadas suas minguadas forças. Mais, no fundo, disse: "Já não está em minhas mãos limpar a sujeira na Igreja”. Os vaticanistas discutirão em que isso consiste. Graves escândalos na gestão econômica que há anos levou ao suicídio de Calvi. A sombra alargada de Maciel, que, também traz à mente o desconhecimento e a inação de João Paulo II. As lutas pelo poder entre importantes cardeais da Cúria. Os historiadores estudarão tudo isso; porém, sem dúvida, Bento XVI tem vivido sob fortes pressões.

Apesar de que, no profundo dos seres humanos, só podemos entrar com infinito cuidado e na ponta dos pés, pensamos que Ratzinger tomou sua decisão por honradez com sua consciência, e que o fez com esperança, mesmo que seja contra esperança: um sucessor, com mais energia e com novas luzes; com mais graça ou com melhor fortuna poderá facilitar a mudança necessária. Tomou isso com liberdade, expressada na dura linguagem sobre os fatos: miséria, sujeira; e sobre as exigências: conversão no interior da Igreja. As palavras estão dirigidas a todos, in membris et in capite, dizia-se antes. E não soam como rotineiras; mas, saídas do coração: a Igreja, e símbolos seus importantes,que se distanciaram de Jesus. E a Ele têm que voltar.

Bento tomou a decisão em um momento importante de sua vida -no final-, quando os seres humanos, normais e nobres, não costumam se enganar e nem enganar. E creio que tomou a decisão "só ante Deus”. Deve ter consultado algumas pessoas, sem dúvida; porém, não a "um papa”, a alguém maior do que ele no organograma da Igreja.

Não é fácil compreender o que significa estar "só ante Deus”. A parte final do Diário espiritual de Dom Romero que, juntamente com o padre Ellacuría, publicamos na Revista Latinoamericana de Teología, me ajudou desde que chegou às minhas mãos. Poucas semanas antes de ser assassinado, fez um retiro espiritual e, em total privacidade, comunicou ao seu padre espiritual as três coisas que mais o preocupavam: seus escrúpulos (que nele eram finura de espírito) por ter-se descuidado de sua vida espiritual; a possibilidade de uma morte violenta; e a dificuldade extrema de trabalhar com seus irmãos bispos. Dom Romero colocou-se diante de Deus; sozinho com Deus. O diálogo com seu confessor não lhe proporcionou um apoio à sua própria experiência, apesar de que o ajudou a aprofundar-se nela, só ante Deus. É bom ter isso sempre presente como possível experiência.

Outro exemplo: Poucos anos antes, o Padre Pedro Arrupe, superior geral dos jesuítas, propôs deixar o cargo, que, na época, era vitalício. Em seu caso, sim, podia consultar ao papa e o fez. Porém, João Paulo II não acedeu à sua petição. Não lhe parecia oportuno, pois temia que a Companhia de Jesus caísse em problemas e perigos ainda maiores. E, quem sabe, pensasse também que a demissão do Geral dos Jesuítas abriria a porta à expectativa de que também o papa pudesse demitir-se. Arrupe não pode demitir-se. E manteve-se só ante Deus.

2. Deus e a fome
Em 1966, quando comecei a estudar teologia em Sankt Georgen, Frankfurt, dizíamos que o melhor professor da faculdade era Ratzinger. Não ensinava lá, mas em Tübingen; porém, líamos com avidez seus textos, que eram excelentes. Me alegrei por ter encontrado o teólogo Ratzinger e, anos mais tarde, aconteceu a mudança mencionada por González-Faus, em um artigo.

Ratzinger, nem como teólogo e nem como papa, deixou de ‘transpirar’ a profundidade do Theos, de Deus; porém, parecera que algo não chegou ao profundo de sua teologia: os pobres e oprimidos, imensa maioria deste mundo.

Bento XVI sente como responsabilidade sua específica, talvez a maior, fazer com que Deus esteja presente no mundo, especialmente no mundo onde Deus está mais ausente: o mundo de abundância. Busca tornar Deus presente para "glória” de Deus e, simultaneamente, para a "humanização” do mundo. Sem Deus não é possível um mundo humano, insiste. E daí que, desde o início de seu pontificado, insistiu na importância do absoluto e no nocivo da relativização.
Bento é, portanto, muito sensível à desumanização que é produto do desaparecimento de "Deus”. Porém, não se mostrou tão sensível ao absolutamente desumano e desumanizador, que é a fome das maiorias de pobres, oprimidos, escravos, marginalizados, excluídos, assassinados, massacrados, as imensas maiorias da humanidade.
Em minha opinião, uma grande contribuição da Teologia da Libertação -a de Gustavo Gutiérrez; a de Ignacio Ellacuría; a de Pedro Casaldáliga-, talvez a maior, é precisamente ter radicalizado o absoluto; porém, de uma maneira específica: o absoluto de Deus e o co-absoluto da fome. Sem manter-se o primeiro (ou seu equivalente no Deus não explicitado dos crentes anônimos, na linguagem de K. Rahner); e, certamente, sem manter o segundo (segundo Mateus 25), nos desumanizamos. Pedro Casaldáliga diz isso em palavras lapidares: "Tudo é relativo, menos Deus e a fome”.
3. Nós. Humanização e desmistificação do Papa
Tomara que possamos humanizar e desmistificar o papa. A tarefa não é nada fácil.

Com dificuldade aceitamos que o Cristo foi Jesus de Nazaré, um ser humano, um homem.

Praticamente não conhecemos o que diz a Carta aos Hebreus, que o Cristo é Jesus de Nazaré –com esse nome é mencionado por oito vezes na Carta; que foi feito menor que os anjos; que teve que aprender a obedecer, gemer e chorar ante Deus. E que é mediador não por possuir dons sobre-humanos, sobrenaturais, mas por ter exercitado em sua vida a fidelidade a Deus e a misericórdia para com os homens. E mesmo quando o conhecemos assim, dificilmente o tornamos central em nossas vidas e em nossa Igreja.

Com facilidade desumanizamos e mistificamos a Jesus. E também ao papa. Dizemos que ele é o vigário de Cristo; ou seja, aquele que faz as vezes de Cristo sobre a terra. Dito mais provocativamente, o que faz as vezes de Jesus sobre a terra. Durante a Idade Média, vigários de Cristo eram os pobres. E se mal não recordo, um frade, o primeiro que chamou ao papa de "vigário de Cristo”, sofreu uma sanção canônica.

O que está em jogo não é desvalorizar que haja vigários de Cristo sobre a terra. Ao contrário. Todos os seres humanos, homens e mulheres, estamos chamados a torná-lo realmente presente. E todos somos ele na medida em que somos seu sacramento. Expressamos sua realidade na medida em que nos parecemos a ele, vivemos, falamos e trabalhamos como ele. E os mártires morrem como ele. São os vigários de Jesus de Nazaré na terra. Isso não nos torna desumanamente divinos; mas, divinamente humanos.

Custa ver o papa assim. Porém, será bom comprometer-nos dentro de nossas possibilidades para que seja eleito alguém que, além de amplos dotes de governo pastoral se pareça a Jesus e nos anime a parecer-nos também a ele.

[Original em espanhol publicado em Eclesalia Informativo].

quarta-feira, 13 de março de 2013

O diálogo árabe-israelense entra em cartaz

'O Filho do Outro', da diretora francesa Lorraine Levy, conta a história da troca de bebês na maternidade entre uma família palestina e outra judia. O problema só é descoberto anos depois, quando todos os personagens se vêem em permanente conflito sobre suas próprias identidades.



Luciana Garcia de Oliveira


 
Foi um exame de sangue, exigido para o ingresso no Exército de Israel, o mote do filme 'O Filho do Outro'. Nesse instante, a médica Orith verifica que o tipo sanguíneo de seu filho Joseph não condiz com seu histórico familiar.

Tudo isso propulsiona uma investigação no hospital Rothschild (em Haifa), até o momento em que é constatado uma troca de bebês na mesma data do nascimento de Joseph, ocasião em que o hospital encontrava-se sob bombardeio. Pior, a troca envolvia uma família palestina, o que enseja um conflito de identidades entre as famílias envolvidas.

Diante das angústias decorrentes de um engano envolvendo duas famílias, cujas identidades envolvem um conflito, um toque feminino é delicadamente ressaltado em meio à confusão: as mães são as primeiras a se entender e amenizar os dilemas dos seus filhos e maridos.

O maior prejuízo, no entanto, foi de Joseph, criado há 18 anos em Tel Aviv sob as tradições judaicas que, muito devidamente à angústia sofrida ao descobrir sobre a sua verdadeira origem palestina, foi imediatamente ao encontro de sua Sinagoga em busca de alento. Momento em que muito friamente o rabino titubeia acerca de sua origem judaica, mesmo diante de uma vida dedicada aos preceitos, tradições e costumes de sua religião. “Ele é mais judeu do que eu?”, indagou, desesperadamente.

Situação muito semelhante ao tema adotado na obra "A Invenção do Povo Judeu", de Shlomo Sand, sobretudo em seu prefácio intitulado 'Um aglomerado de Memórias'. Em um trecho sobre “duas estudantes (não) judias”, uma dessas jovens, Giselè, educada sob as leis e os ensinamentos judaicos herdados do pai, mesmo sabendo que a regra básica sobre o pertencimento à religião e ao povo judeu deveria ser estabelecida pela identidade da mãe, acreditou que esse detalhe não lhe faria diferença na viabilização de sua imigração à Israel.

Ao ser negada a sua entrada ao país, perguntou instintivamente ao funcionário da Agência Judaica se ele era crente. O homem respondeu que não. Muito revoltada, questionou: “Como um homem não religioso que se afirma judeu pode exigir do outro, igualmente não religioso, que ele se converta para ser reconhecido como parte do povo judeu em seu país?” (SAND, p. 29).

O drama vivido por Joseph fez com que ele recuse adentrar em uma cerimônia religiosa sobre os olhares desconfiados do mesmo rabino. O que em certa medida facilitou a sua aproximação com a sua família biológica da Cisjordânia e na amizade com o seu irmão Bilal, o qual, no início da trama, adotava um discurso de repúdio à ocupação israelense nas terras palestinas, à construção do Muro e às “barreiras de segurança”.

Tamanha dificuldade foi suavizada do lado do personagem Yacine. O jovem, nascido em meio à uma família da Cisjordânia (território ocupado), logo no início da história acabara de voltar de Paris, onde iniciaria um curso de medicina. Ele já estava bastante habituado a viver em um ambiente de cidade grande sem a escassez gerada por uma ocupação e uma guerra permanente.
Para Yacine, não houve dificuldade de adaptação à cidade de Tel Aviv e o seu discurso era muito diferente dos protestos acalorados de Bilal. Embora detivesse planos para a construção de um hospital na Cisjordânia, não demostrava rancor em suas palavras, mas uma resignação, sobretudo comparando-se aos sentimento de Bilal.

A maior dificuldade de aproximação e entendimento foi destinado às figuras masculinas, entre os pais, situação reproduzida em um encontro entre as famílias, no momento em que foi gerada uma discussão sobre o conflito, prontamente rebatido pelo pai palestino: “Não é uma guerra. É a destruição de um povo”.
Tensão com vias de poucas possibilidades para um real entendimento, também expressado na cena em que os dois sentam em um café no centro de Tel Aviv. O que seria aparentemente um convite para uma conversa, foi estabelecido como um cena de silêncio e apatia entre os dois personagens.
Embora problemas complexos sejam transformados em dramas domésticos relativamente pequenos diante de uma guerra, Lorraine Levy humaniza o conflito. Será esse o caminho para uma verdadeira paz?





terça-feira, 12 de março de 2013

Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica

Alunos e professores, já estão abertas as inscrições para a 16ª edição da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA).


somente até o dia 13 de março! Corra!
Saiba mais. Clique e vá para a página da AEB http://aebescola.aeb.gov.br/index.php/concursos/oba







segunda-feira, 11 de março de 2013

CUBA - PARTE I


Cuba – Parte I

Havana, capital do País, é um lugar único. Carros antigos, muitos em mal estado de conservação, bicitáxis, Santeria (religião afro muito assemelhada ao nosso Candomblé), muita carne de porco e outras coisas diferentes ou exóticas convivem ao lado de ruas recheadas de cafés, hotéis de luxo e, acreditem, lojas de grife, tudo para turistas, evidentemente.

É possível encontrar hotéis a partir de 20 dólares a diária. E comer na ilha também não fica tão caro quanto nas grandes cidades brasileiras, em especial São Paulo. É possível fazer uma refeição com 5 ou 6 dólares. Um bom prato com lagosta pode custar o equivalente a 10 reais. Se comer spaghetti, consegue-se gastar ainda menos. Achou barato? Tem outras coisas com preços inimagináveis.

As avenidas das embaixadas devem ser visitadas. São um paraíso. Casas enormes e lindíssimas, em ruas arborizadas, embelezam a parte nobre de Havana. Lembra o melhor da Europa. Há bairros nobres. Havana Velha, localizada no centro, ao lado dos museus, reúne casas não muito bonitas, e à noite pode ser um pouco perigoso circular por lá sozinho.

Há bons museus, seja da Revolução que derrubou o ditador Fulgêncio Batista e libertou Cuba das garras estadunidenses (por isso o anti-imperialismo é tão forte lá), seja de arte contemporânea.

E cinemas não faltam em Havana. Não deixe de visitar o belo Cine Yara, frequentado por pessoas de idade. Em Cuba os jovens preferem ver dvd em casa. Sim, dvds pirateados com filmes estadunidenses.

É possível conhecer Havana caminhando (de preferência de dia. À noite evite as ruas ermas). Uma alternativa é pegar o tradicional ônibus turístico de dois andares, importado da China, e fazer um passeio de 1 hora e meia pagando 5 CUCs, equivalentes a 5 dólares. É um ótimo custo benefício.

A noite é algo diferente. É possível encontrar tanto casas de danças típicas, como de rumba, como danceterias onde se toca muita música americana atual e também dos anos 50, 60 e 70. Sim, a juventude de Cuba sofre muita influência cultural e de modismo estadunidense. Os efeitos do imperialismo já são sentidos às claras em alguns espaços de Cuba. Alguns produtos americanos estão disponíveis aos cubanos, talvez por importação via México ou outro país.

É possível ver muitos jovens vestindo-se com roupas com grifes estrangeiras, camisetas com símbolos estadunidenses (como I love NY) e até motoristas de táxi estatais que carregam pequenas bandeiras estadunidenses em seus veículos. Não estranhe se ver carros dos anos 50 carregando adesivos da Apple ou de escritos em língua imperialista (inglês).

A vida não é cara para os turistas na ilha dos fãs do Che, ao contrário, mas para os cidadãos cubanos a situação é um pouco diferente, face também ao cruel embargo estadunidense que impede que muitas coisas cheguem diretamente àquele ponto maravilhoso do Caribe, desde produtos essenciais à saúde, como aqueles de mero conforto. No entanto, é possível encontrar produtos típicos estadunidenses e feitos in usa, importados de outros países.

Entretanto, é fácil de se encontrar produtos brasileiros, principalmente biscoitos e produtos de higiene nas “tendas” (pequenos comércios). Ah, mas o que mais infesta Cuba são as novelas brasileiras. Quase todos os cubanos as assistem e adoram. Impossível de deixar de conversar com eles sobre elas, os atores e a Rede Globo.

domingo, 10 de março de 2013

Chávez e os demônios do Ocidente

Chávez encarnou, para os moralistas do Ocidente, o perfil perfeito “do novo déspota sulamericano”. Tudo o que pensavam de mal sobre o sul do mundo se concentrava nele: era a prova de que eles “são melhores”. Quando se deu a batalha pela nova Constituição venezuelana, denunciaram as intenções de presidência perpétua. No entanto, todos os meses, o presidente francês de turno recebe os autênticos déspotas do planeta: os dirigentes árabes ou africanos que há décadas sangram seus povos e compram luxuosas mansões em Paris.

Eduardo Febbro - Direto de Paris

O que farão agora que seu adversário mais severo silenciou? O Ocidente perdeu um paladino inimitável, um antagonista sem igual que, ao longo de seus anos no poder, desnudou todas as hipocrisias com as quais as democracias ocidentais assentam sua legitimidade. Demonizado pela imprensa, ridicularizado até expor ao ridículo aqueles que zombavam dele, Hugo Chávez foi o espelho invertido com o qual as almas bem pensantes do Ocidente armavam sua própria imagem de democratas honestos.
Assim, o falecido presidente venezuelano era o bandido do filme porque, em seus dias finais, ofereceu uma alternativa ao líder da revolução líbia, Muamar Kadafi. No entanto, aqueles que passaram várias décadas fazendo negócios petroleiros com o pitoresco coronel foram os mesmos que criticaram Chávez. Com o Irã ocorreu a mesma coisa: cada vez que o mandatário venezuelano recebia o presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad, as colunas da imprensa ocidental e os editorialistas das televisões afiavam seus punhais no pescoço de Chávez. No entanto, as companhias petroleiras dos países de origem desses jornalistas seguiam explorando os poços de petróleo iranianos. Dupla conduta, dupla moral. Condenação em mão única.
Hugo Chávez encarnou, para os moralistas do Ocidente, o perfil perfeito “do novo déspota sulamericano”. Tudo o que pensavam de mal sobre o sul do mundo se concentrava nele: era o certificado de que eles “são melhores”.
Quando se deu a batalha pela nova Constituição venezuelana os comentários subiram de tom denunciando as intenções de presidência perpétua. No entanto, todos os meses, o presidente francês de turno recebe os autênticos déspotas do planeta: os dirigentes árabes ou africanos que há décadas sangram seus povos e compram luxuosas mansões em Paris e toneladas de perfumes.
Para não ir muito longe nas comparações, o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy convidou para os desfiles militares de 14 de julho (dia em que se comemora a Revolução Francesa) o presidente sírio Bachar-el-Assad. Sua presença em um ato que comemora o fim da tirania monárquica e, por conseguinte, o nascimento da democracia, suscitou uma forte controvérsia, mas nada mais do que isso. Chávez, em troca, despertava uma espécie de sorriso condescendente, uma ironia maligna e, em seguida, o devastador epíteto de tirano, déspota, ditador, etc. Mas entre o clã Bachar-el-Assad e

Hugo Chávez havia uma gigantesca trilha de mortos e presos, uma mordaça de aço sobre uma sociedade prisioneira de um sistema criminal. A diferença parece ser geopolítica e comercial: quanto mais peso comercial e geopolítico tem um país, menos seus presidentes são alvo de zombarias e desrespeitos.
Agora há um adversário a menos para fazer autoelogios no espelho. A vida levou um chefe de Estado controverso, levou a palavra implacável que expunha as contradições Morales daqueles que governam o mundo segundo o padrão de seus modelos. Na falta de militares golpistas e de ditadores tão assassinos como extravagantes, Chávez preencheu o espaço imaginário com o qual o Ocidente pensa bem de si mesmo e mal de quase todo o resto do planeta.
Chávez era o modelo ideal da singularidade latino-americana. Mas só para a horda de ignorantes que seguiam vendo a América latina com as lentes de um passado superado. Os processos de transformação, a confrontação real com certos muros ultra-liberais, os progressos sociais, tudo isso fica sepultado pela potência contraditória dos personagens que levam adiante as mudanças com todas as ambivalências e excessos dos destinos humanos.
Há exceções. Jean Luc Mélenchon, o fiel líder da Frente de Esquerda francesa, escreveu no Twitter: “o que Chávez é não morre nunca”. A lealdade de Mélenchon a Chávez valeu a ele incontáveis zombarias e ironias.
Também no Twitter, a ministra francesa da Justiça, Christiane Taubira, evocou o “coração machucado” do povo da Venezuela e os temores desse povo pelo “retorno das injustiças e das exclusões”. Lembro ainda o incômodo com o qual, no curso de uma entrevista, o líder da esquerda radical grega, Alexis Tsipras, tratou de evitar se Chávez era um modelo para ele. Os colunistas de salão ficaram sem a figura do mal. Terão que buscar outro para ocultar as suas próprias limitações.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

sábado, 9 de março de 2013

As elites brasileiras detestam Chávez

CARTA CAPITAL

João Sicsú

Não pensei em escrever para homenagear Hugo Chávez. Ele merece. Mas já li tantas homenagens que me senti contemplado. Resolvi, contudo, escrever. O motivo: indignação.

Simpatizantes de Chávez se concentram diante do palácio presidencial. Foto: ©afp.com / Leo Ramirez

Em uma rádio de grande audiência dedicada ao jornalismo, que vai ao ar no Rio e em São Paulo, todos os dias às 8h42 da manhã há uma sessão de humor. Quinta-feira, 7 de março, contaram piadas com muitas risadas sobre a morte do presidente venezuelano.
Esse é o tipo de jornalismo e humor que ofendem os bons humoristas e profissionais da comunicação. Duvido que fizessem essas piadas sobre a morte de seus milionários patrões que enriquecem no mercado concentrado de comunicação. A indignação e o repúdio ao desrespeito me levaram a coletar dados para explicar objetivamente porque as elites brasileiras detestam Chávez.
Certos jornalistas e humoristas não sabem o que o povo venezuelano sabe, sente e vive. Aliás, não sabem nada nem sobre o povo brasileiro. Outro dia, um de seus amigos pediu socorro para saber o significado de “povo, gente, emprego”. Mas o povo pobre da Venezuela sabe o que ganhou com Chávez.
Em uma publicação da ONU intitulada Habitat, lançada em agosto do ano passado, há números e gráficos comparativos do “estado das cidades na América Latina e no Caribe”. O relatório trata de muitos temas que interessam a pesquisadores, gestores e moradores de grandes cidades. Seus números ajudam a entender também por que o povo da Venezuela está nas ruas chorando por Chávez.
As análises contidas no documento da ONU têm qualidade. São comparações internacionais que possuem grande utilidade. Caracas e as cidades da Venezuela apresentam números que despertam interesse:

1) Em 1999, a Venezuela tinha 49% da sua população urbana em situação de pobreza e indigência. Em 2010, este percentual foi reduzido para 28%.

2) Entre 26 cidades selecionadas, o menor índice de Gini entre seus habitantes é o de Caracas, que é inferior a 0,40. No Brasil, é 0,5. Este índice mede a desigualdade de renda.
3) Nas cidades da Venezuela, mais de 80% das residências são ocupadas por seus proprietários. Na Colômbia, este número é inferior a 50%. A Venezuela é a melhor neste quesito; a Colômbia, a pior.

4) Na América Latina e no Caribe, a proporção de população urbana que tem saneamento está entre 80 e 85%. Na Venezuela, está próxima de 95%. Na Venezuela, 90% da população urbana recebem água encanada.
5) De 21 países selecionados, a maior cobertura de coleta de lixo urbana ocorre na Venezuela. A pior está no Paraguai.
6) Em 21 cidades selecionadas, mostra-se que o gasto médio mensal de um usuário regular de ônibus; em Caracas, é de 6% do salário mínimo. Em Buenos Aires, se gasta 5% e, em São Paulo e no Rio de Janeiro, 12%.
São esses números que os Jardins (em São Paulo) e o Leblon (no Rio) desconhecem. Nem fazem qualquer esforço para conhecê-los. Preferem ser informados pelos veículos que trazem conforto interno e energia para combater as possibilidades de mobilidade social – seja aqui, seja na Venezuela. Sãos os mesmos veículos que fazem piada com a dor do povo venezuelano.

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



Postagens populares

__________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
NOTÍCIAS, OPINIÕES, ARTIGOS E MEROS ESCRITOS, POR CYRO SAADEH
um blog cheio de prosa e com muitos pingos nos "is"

___________________________________________________________________________________