O Uruguai é um país muito agradável e que merece ser conhecido. Montevideo, capital que reúne quase metade da população do país, é um verdadeiro reduto da tranquilidade.
Os uruguaios são tão tranquilos que costumeiramente esquecem de trancar os portamalas dos seus veiculos e aí caem as coisas mais estranhas. No último dia de estadia presenciei sacos de tacos de golfe sendo espalhados pela avenida. Sem buzinar ou se estressar, os motoristas esperaram o distraído condutor do carro à frente recolher sua bagagem.
Os motoristas são os mais distraídos. Vi algumas pequenas colisões, típicas da distração. Mas também vi pedestres desatentos, como uma senhorinha que por milagre não bateu a cabeca no portão de uma garagem que se elevava vagarosamente. Como ela não pode ver o portão colorido?
As pessoas caminham sossegadas, muitas sem rumo, atrapalhando os poucos apressadinhos. Lá as pessoas costumam lhe dar atenção, quando fizer alguma pergunta.
Fiz muitas amizades e destaco duas. Uma com um ex líder estudantil que no passado teve que procurar asilo por conta da ditadura. Gentil, ele me deu uma aula sobre política.
Para ele, a esquerda tem o dever de ser ética. O contrário seria admitir uma incongruência com os valores que ela deve defender.
Além do que, para ele a esquerda não deveria ocupar o poder, mas orientar, indicar o caminho através da oposição. E se viesse a ocupar o poder, deveria ser pelo menor tempo possível, para não se corromper com o "modus operandi" da política vigente.
Ainda ressaltou que a esquerda deve estar próxima dos anseios da população.
Foram frases ditas com absoluta sinceridade e sabedoria, com as quais concordo. Parece-me que os uruguaios têm o dom da franqueza e do poder de visão, tão bem, capitaneado pelo agora ex presidente Pepe Mujica.
Um outro senhor que conheci apresentou se como Pepe. Com 50 anos de idade, enfrenta um câncer, diabetes e anemia. Tem privações alimentares muito sérias e está proibido de realizar atividades físicas. Para quem era fisioculturista, isso não deve ser nada fácil. Tornou se amigo e convidou me para visitar Montevideo outras vezes. Mas o melhor foi a indicação de uma boa parrilhada a um preço baixo. Realmente muito boa. Com menos de quarenta reais comi muito bem e ainda tive direito a uma taça de vinho bom e a uma sobremesa. Para quem conhece o Uruguai, sabe que não é fácil comer bem por esse valor. Foi um achado esse local, assim como esse novo amigo, tao simpático, que fez questão de ressaltar que o povo uruguaio nunca foi consumista e que, de um tempo para cá, estão sendo mudados os seus hábitos, o que por consequencia tem elevado o custo de vida.
Por fim, o que me deixou perplexo é que Mujica, ao contrário do que pensava, não é unanimidade nacional.
Tem muita gente da esquerda mais radical, como um taxista culto que conheci, que diz que ele é considerado por muitos um produto de marketing e um tiete dos estadunidenses.
Um país como esse, onde a saúde e a educação, inclusive universitária, são gratuitas e de qualidade, com um povo culto e pacífico, nada estressado, e que fala o que pensa, é onde sonho morar ou ver o meu Brasil se transformar.