quarta-feira, 9 de setembro de 2015

TEMPOS DE INTOLERÂNCIA


Vivemos numa sociedade repleta de intolerância.
Não sei se o contato sempre individualizado com os aplicativos dos smartphones, os programas televisivos que expõem pessoas, como Fazenda e Big Brother Brasil, o pouco acesso a informação com conteúdo, a falta de cultura e leitura (que poderiam ampliar o nosso horizonte), e a excessiva carga de "notícias" de entretenimento, nos tornam mais fechados num mundo cada vez mais cruel e massificador. É um tipo de massificação nunca antes vista, e olha que já passamos pelo rádio, pela televisão e também pelo cinema.
Hoje, as pessoas estão mais individualistas que nunca, não suportam o diferente, seja no tocante à cor, à religião, ao gênero ou opção sexual.
Não tenho dúvida de que se um nazista aparecesse na São Paulo de hoje, estaria certo que o nazismo e o fascismo venceram a segunda guerra mundial. E você me entenderá pelo o que citarei mais abaixo.
Estamos vivendo um grande retrocesso que precisa ter fim, antes de se transformar em uma serpente a contaminar toda a sociedade, cada vez menos progressista e humanista.
Escrevo isso não é a toa.
Recentemente uma pessoa com alto grau de cultura soltou a seguinte pérola: "que não é obrigada a passar ao lado dos moradores de rua e sentir o mau cheiro que exalam". Ora, os mendigos com certeza não exalam o mau cheiro para nos incomodar, mas em decorrência da situação de rua deles. Faltou àquela alma a devida compreensão da situação de tantos exilados nas vias públicas.
As pessoas sempre olham para si como se fossem o umbigo do Universo. Não é por outro motivo que a insensibilidade leva alguns psicopatas a atear fogo em indígenas ou indigentes, a matar homossexuais e travestis ou a assassinar mulheres. Para esses doentes, as vítimas não têm vida, não têm personalidade, não têm direitos e menos direito ainda a nos incomodar, por mais absurdo que isso seja.
Mas uma das piores situações que já vi ocorreu dias atrás, quando estava no centro da cidade de São Paulo, caminhando. Reparei que muitas pessoas olhavam para um certo ponto, sejam aqueles que estavam na calçada, sejam aqueles que atravessavam a rua, sejam os que estavam nos bares ou saindo do carro. Tentei detectar o que chamava a atenção de todo mundo e não tive êxito. Não sabia se era um furto, roubo ou algo assim. Mas logo depois me deparei com uma fala de inconformismo de uma moça que parecia ter saído de um carro: "precisavam fazer isso?". Percebi, então, que era algo que chocava as pessoas e passei a procurar a cena que horrorizava a multidão, e aí me deparei com um casal de homens de mãos dadas. Aquilo chocava a todos de tal modo que parecia que ocorreria um apedrejamento em questão de segundos. Eu também fiquei chocado, não com as mãos dadas daquele casal, mas com a reação de uma massa de pessoas na maior cidade brasileira em pleno Século XXI. Parecia que havia me transportado para a Europa da Idade Média ou para algum país retrógado e opressor.
Calei-me, pois o confronto não seria produtivo, e continuei o meu caminho, deixando o casal e aquela massa de inconformados para trás. Mas não estou conformado até agora com o que vi. Foi algo estarrecedor.
As pessoas não são capazes de enxergar que aquele casal representava apenas duas pessoas demonstrando afeto e carinho, o que é raro e extremamente importante para os dias de hoje, num mundo frio, cruel e individualista. A massa só conseguiu enxergar uma cena de enfrentamento de valores, como se o homossexualismo fosse uma aberração e a opção do inconformado fosse a única correta, como se aquele casal tivesse que demonstrar afeto apenas em casa ou em outro local reservado
Faltou pouco para um apedrejamento fático, já o psicológico ocorreu com os olhares fuzilantes da multidão.
Posso não querer a opção que alguém adotou para si, posso também não achar bonito um beijo de homens ou de mulheres e o jeito de x ou y, mas isso não me autorizará a reagir de forma repulsiva, afinal aquilo não ocorreu comigo, mas com duas pessoas que, de livre vontade, se dispuseram a demonstrar afetividade uma pela outra. Somente psicopatas acham que aquilo diz respeito exatamente a ele. Não é possível.
Vivemos tempos sombrios, de excessos de reações impensadas. Manifestações que não demonstram racionalidade, mas uma massificação nas reações e nos discursos fáceis que contaminam as mentes dos que não percebem a insensatez.
Parece que ser conservador virou moda, se transformou em algo correto.
Parece que a humanidade e a beleza de suas excentricidades e de suas diferenças, não podem ser toleradas.
Sem tolerância, sem respeito, sem compreensão, jamais haverá humanidade. A reação dessa multidão me assustou, pois percebi mais do que nunca que a humanidade corre sério risco, e não digo isso pelas ações injustificadas e bárbaras do Estado Islâmico, mas falo pela reação das pessoas, de massas de pessoas, de uma das maiores metrópoles do planeta.
Aqueles que percebem o risco precisam dar um basta a essas intolerâncias.
Foram essas pequenas manifestações de intolerância que deram "legitimidade" ao nazismo. O risco que a humanidade vive não é pequeno!

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



Postagens populares

__________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
NOTÍCIAS, OPINIÕES, ARTIGOS E MEROS ESCRITOS, POR CYRO SAADEH
um blog cheio de prosa e com muitos pingos nos "is"

___________________________________________________________________________________