foto: site do IPEA
Nessas eleições o que está em jogo não é
apenas o futuro do Brasil, mas de todo o bloco anti-imperialista formado pelos
BRICS e países periféricos.
Os Estados Unidos e a Europa sofrem um
forte declínio econômico. Mas isso não os torna menos ofensivos na defesa dos
seus interesses. Ao contrário. Formaram várias frentes de luta em prol de
seus interesses.
Comecemos com uma análise da situação no
Brasil.
Brasil
O Partido dos Trabalhadores iludiu grande
parte dos seus eleitores. Não fez as reformas que prometeu, criou enormes
multinacionais brasileiras em prejuízo das pequenas empresas que poderiam, ao
receber dinheiro do BNDES, crescer e com isso criar ainda mais empregos, de
forma a fomentar a economia como um todo com o aumento de compras de produtos
de primeira necessidade e pequenos supérfluos. E ainda se envolveu em esquemas
de corrupção.
Não que os outros partidos não se envolvam
em corrupção. Se envolvem, sim, e com frequência, mas a mídia não possui o mesmo
interesse em sua cobertura.
O PT errou, e bastante. Mas também
acertou.
Com Lula houve um vital crescimento do
comércio exterior e de parceiros econômicos. O Brasil chegou a lugares nunca
dantes navegados e aumentou sua parceria com os outros integrantes dos BRICS,
inclusive em matéria estratégica e militar. A democracia chegou ao seu ápice.
Com Dilma houve certo recrudescimento
econômico, como se houvesse medo em se expor. Com isso, houve a diminuição no
comércio e, por consequência, o crescimento pífio do PIB. A manutenção e
ampliação dos programas sociais de Lula foram um acerto sob vários aspectos
(principalmente o de justiça social) e permitiram que a economia não entrasse
em colapso. Além do que, a enorme
liberação de recursos aos governos estaduais e municipais, não foi acompanhado e
fiscalizado de perto, o que facilitou que os dividendos de tais obras recaíssem
apenas sobre os governos locais.
Hoje o governo Dilma chega próximo de seu
fim. O sucessor pode ser uma ex Ministra de Lula, ligada ao capital nacional e
internacional, ou um integrante de um partido com uma visão extremamente
privatista e também ligado ao sistema financeiro.
As indústrias brasileiras, mais uma vez,
ficarão órfãs. E com isso virá a recessão, já que o que cria empregos e
desenvolvimento tecnológico não é o sistema financeiro por si só, mas o desenvolvimento
industrial nacional. As indústrias crescendo, aumenta-se o número de
empregados, o consumo dispara e o setor de serviços volta a crescer. É disso o
que o Brasil precisa.
Antônio Ermírio de Moraes foi um exemplo
de brasileiro nacionalista que defendia a capacidade de expansão industrial
como motor do crescimento de empregos e, por consequência direta, do Brasil.
Mais empresas não implicam apenas em mais
empregos, mas na especialização da mão de obra e no investimento em tecnologia.
Aí, se houver um governo nacionalista, como foi o PT de Lula, e o País fizer o
investimento certo e necessário, se tornará uma potência tecnológica, como hoje
o são alguns parceiros dos BRICS e os Estados Unidos.
Há um mês, quando Eduardo Campos compunha
o cenário político, Dilma seria eleita no primeiro turno. Hoje, com a morte do
líder pernambucano, Dilma encontra-se em situação crítica. Há a possibilidade
da atual presidente não ganhar no segundo turno que pelas pesquisas de opinião
já é dado como certo.
A morte de Eduardo Campos é uma incógnita
e não há quem descarte que foi uma ação planejada de ações de espionagem
internacional. Leia-se CIA. É o que defende o jornal russo Pravda, que cita que
propriedades confusas e irregulares de aeronaves, como ocorre com a que causou
a morte de 7 passageiros em Santos, incluindo o neto do socialista Miguel
Arraes, faz parte dos métodos utilizados pela CIA.
Particularmente não acredito muito nessa
possibilidade, mas não a descarto totalmente, já que há testemunhas que viram a
turbina esquerda do avião cessna pegando fogo, o que poderia caracterizar algo
não condizente com o erro humano que querem imputar ao piloto.
Abro parênteses para salientar que as
manifestações de junho de 2013 no Brasil, tão divulgadas no facebook e que
redundaram na enorme queda da popularidade da presidente e da crença de um
Brasil próspero, mereceriam um estudo a parte. Fecho parênteses.
Não é demais destacar que aos Estados
Unidos interessam um Brasil mais comedido no plano internacional e que se
afaste da Argentina, Bolívia, Equador, Venezuela, Síria, Irã, Rússia, China,
Índia e África do Sul. Querem um Brasil que não opine sobre as questões
iranianas e palestinas, que se afaste das decisões russas e chinesas adotadas
no plano internacional, e que ainda seja mais refratário às questões
humanitárias, em especial às dos refugiados de guerra. Também não é
interessante ao Tio Sam o forte laço econômico que o nosso País mantém com a
China, sua principal rival econômica.
Com a reaproximação do Brasil e da Índia,
como já vem ocorrendo com este, os BRICS, integrados pelo Brasil, Rússia,
Índia, China e África do Sul, perderiam não apenas o seu poderio econômico, mas
o político.
Venezuela
e outros países da América Latina
A crise na Venezuela surgiu logo após a
morte do líder carismático Chàvez. Para os Estados Unidos, certamente, o
problema não foi o fornecimento de combustível a Cuba, a contratação de médicos
cubanos e os programas sociais e culturais implantados pelo pacífico
revolucionário Chàvez, mas a sua ingerência em questões geopolíticas, em
especial na América do Sul e no Oriente Médio. Os Estados Unidos ainda veem a
Venezuela como extensão, em continente americano, dos interesses do Irã, da
China e da Rússia. Basta ver os acordos militares e estratégicos firmados pela
Venezuela com esses países asiáticos. A mesma preocupação recai com os menos
atuantes Brasil, Equador, Bolívia, Argentina e Uruguai.
Paraguai e Honduras sofreram processos
políticos tormentosos, que alguns denominam de golpes, e com isso se
reaproximaram rapidamente dos Estados Unidos, após o afastamento dos presidentes
de Esquerda. É bom recordar que tais países possuem bases militares
estadunidenses.
Há sério risco de golpe institucional na
Venezuela, e na Argentina e no Brasil a ingerência do sistema financeiro global
poderá levar à vitória da oposição.
Síria,
Iraque, China e Rússia
Os Estados Unidos desde o primeiro momento
incentivaram as manifestações populares contra aqueles governos que considerava
inimigos no mundo árabe. Quando as citadas manifestações que, iniciavam-se
pacíficas, não avançavam nos países inimigos, adotava ou a invasão militar com
apoio de outros países ditos libertários, como fez na Líbia, ou o incentivo aos
opositores, como fez na Síria e também, mas aí sem êxito, no Irã.
Nos países amigos, Emirados Árabes e Catar,
sequer fez qualquer observação sobre as manifestações havidas e menos ainda
sobre o envio de soldados sauditas para abater opositores do governo nos
Emirados.
Há notícias bombásticas na mídia próxima
do Irã e da Rússia de que um ex-candidato derrotado pelo partido Republicano a
presidente nos Estados Unidos se reuniu em 2013, de forma ilegal, na Síria, com
líderes da oposição, incluindo aí o atual líder do EI, antigo ISIL, que já era
considerado o 5º maior terrorista do mundo desde 2011. Há fotos desse encontro
em vários sítios da internet.
O motivo desse apontado apoio dos Estados
Unidos, estratégico e com armas, ao lado da Arábia Saudita, que também fornecia
dinheiro, era não apenas o afastamento de Assad da presidência da Síria, mas,
com esse grupo radical sunita, afetar diretamente os xiitas do Iraque,
permitindo a divisão do território e, em seguida, o inimigo governo iraniano.
Eram fornecidos tanto dinheiro e tantas
armas que iam pessoas de muitos países guerrear no Iraque (sabe-se lá pelo o
que) e na Síria (contra o governo Assad). Essas pessoas normalmente entravam ou
pela Jordânia ou pela Turquia. A Turquia também apoiou os radicais sunitas,
visando o enfraquecimento estratégico do Irã e levando o forte movimento curdo
em seu país se envolver em questões na Síria e no Iraque, como já ocorre.
Por outro lado, o interesse dos Estados
Unidos é fragmentar os atuais territórios da Síria e do Iraque, assim como já
está concretizando na Líbia e, segundo dizem alguns especialistas, poderá fazer
o mesmo dentro de poucos anos no território da sua atual parceira militar Arábia
Saudita.
Os Estados Unidos defendem um enfraquecimento
dos países árabes e o surgimento de nações novas, como o Curdistão no Iraque,
com parte do território sírio. E isso, em princípio, favoreceria Israel, com
vizinhos mais fragilizados e com menor potencial de fogo.
O temor dos russos e chineses é que
nacionalistas islamitas de seus países estejam treinando no Iraque e na Síria,
com apoio da CIA, para ulteriormente integrar e fomentar movimentos terroristas
de libertação nas suas áreas de maioria muçulmana. Com isso, haveria abalo
político e econômico nesses importantes países dos BRICS.
Por outro lado, a Rússia e a China já
sofrem com a proximidade das bases estadunidenses no Japão, na Coreia do Sul,
no Afeganistão e no Paquistão. Por isso são radicalmente contra qualquer
invasão no Irã, que merece um estudo a parte.
Rússia e China já se encontram cercadas militarmente
e têm receio de que fiquem sem acesso a gás e petróleo (aí apenas a China) desses
países.
A Rússia também vem enfrentando a questão
da Ucrânia e da proximidade das bases da OTAN do seu território. Só um leigo
acharia que isso não tem um sentido estratégico. Tem. E muito. Há a tentativa
de isolar a Rússia e assim enfraquecê-la política e economicamente.
O Brasil é um grande fornecedor de
minérios para a China. A eventual reaproximação desmedida do Brasil com os
Estados Unidos pode afetar os interesses chineses, que são os maiores parceiros
comerciais dos brasileiros.
BRICS
Rússia, China, África do Sul e Brasil são
hoje integrantes dos BRICS e importantes representantes da esquerda mundial. A
Índia, também integrante dos BRICS e vizinha da China (e também do Irã, inimigo
dos Estados Unidos), assume uma posição intermediária e mais próxima dos
Estados Unidos.
Esse bloco reúne algumas das maiores
economias atuais do planeta e são um forte obstáculo às ações hegemônicas dos
Estados Unidos e dos seus seguidores europeus.
A desunião dos integrantes dos BRICS
parece ser interesse prioritário não só dos Estados Unidos, mas dos integrantes
da Comunidade do Euro, que, embora a mídia atualmente não divulgue a questão, também sofrem com a forte crise econômica.
FUTURO
A questão é saber se deixaremos que o
Brasil, sob uma nova direção, permita mais que a desindustrialização massiva, o
próprio desmantelamento dos BRICS e da estratégia geopolítica e econômica traçada
por esse importante e mundialmente invejado grupo.
Entendo que a questão envolve a prioritária
defesa dos interesses nacionais. E opto por ficar na defesa destes.
E vigiemos a presidente já no primeiro dia
de governo para que corrija erros, olhe adiante, reestabeleça laços econômicos
no mundo afora, participe ativamente do Mercosul e dos BRICS e assim permita ao
Brasil crescer com prosperidade para cada um de nós brasileiros.