quinta-feira, 16 de setembro de 2021

JOÃO DE DEUS, UMA PERCEPÇÃO.


Há uma série com poucos episódios na NetFlix que eu recomendo: João de Deus. É um documentário brasileiro.

Como pode um homem que praticava crimes sexuais ser capaz de ser um canal para a operação de curas? Afinal, na Casa havia somente energia boa ou a má também se infiltrava?

Muitos Espiritas e trabalhadores de grandes centros Espíritas desconheciam João de Deus. Embora adotasse o ritual Espírita, e recebesse entidades Espirituais, a Casa Dom (Santo na percepção católica) Inácio de Loyola não podia ser considerada verdadeiramente um Centro Espírita.

Naquele lugar, na verdade, entravam pessoas de todos os credos e mesmo os sem fé, de ateus a evangélicos, passando por islâmicos, judeus, budistas, hinduístas, católicos, espíritas e tantos outros. Pessoas de todo o globo iam a Abadiânia, a cerca de 130 kms de Brasília, em busca das curas física e espiritual. Era um lugar único, de certo tipo de peregrinação, onde se operavam o que as pessoas erroneamente chamam de milagres.

Demorei muito para relatar o que vou escrever aqui. Antes de escrever o livro “Os Anjos” eu havia ido uma série de vezes à Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, Goiás, local de atendimento do conhecido João de Deus. Ia em busca do equilíbrio e da cura das sequelas de meu infarto, havido em 2007.

Já levei amigos, namorada, família e já fui só àquele lugar místico. As pessoas de branco dominavam o cenário e o reflexo de tanta luz que emanavam passava uma sensação de harmonia e paz. Eram milhares de pessoas que, diariamente, buscavam o equilíbrio, a saúde e a possibilidade de viver, exalando o que as pessoas justamente têm de melhor: a vontade de viver e o amor.

As curas eram relatadas pelos populares e era possível avistar alguns ocorrendo à sua frente. João de Deus, o médium, não operava a cura solitariamente. As curas eram efetivadas por uma legião de Médicos Espirituais evoluídos, a que alguns denominam ser de uma denominada corrente do Espaço.

Um amigo, ao pisar na Casa, sentiu a presença da mãe, falecida anos antes, e também de uma mão o amparando no momento da cirurgia espiritual. Eu senti uma pontada no coração no instante da cirurgia, praticada coletivamente. E ouvi muitos relatos de milagres e de histórias de comover o mais insensível dos seres humanos.

Lá não era um lugar comum. Havia uma energia muito boa que era emanada de lá, amparada por toda a coletividade de pessoas que iam em busca do bem, do amor e da cura.

Mas também havia uma energia estranha, obscura e eu presenciei isso, mas não posso afirmar se era emitida por alguns frequentadores daquele lugar, ou não.

Houve um dia em que um menino me chamou a atenção. Percebi um jeito e um olhar maus naquele garoto. Por coincidência, ou não, ele caminhou em minha direção e resvalou em mim, no que, de imediato, senti algo ruim e estranho que me acompanhou por dias. Ao retornar a Brasília, no dia seguinte, tive uma estranha e assustadora vontade de jogar o carro para fora da pista, pondo em risco a minha vida e de minha família, o que me assustou e me fez procurar ajuda espiritual, quando descobri, então, que o Médium João de Deus não era propriamente Espírita.

Meses antes, em que havia ido apenas com uma namorada , notei algo estranho, ao menos para mim. Um dos trabalhadores da casa me acompanhou de perto, lado a lado, e eu não sentia que ele estava em uma boa sintonia. Notei algo estranho naquele sujeito, mas não sabia expressar o que era, exatamente. Tentava não demonstrar o que havia percebido, mas aquele fato que não compreendia me intrigou. A minha então namorada, espírita, sem presenciar o ocorrido, tentou dar uma possível explicação à situação e me disse que o trabalhador possivelmente havia percebido que eu devia estar acompanhado de um “encosto espiritual” e ele estava tentando me limpar, digamos assim. Mas aquilo não me convenceu, pois eu estava bem, leve e feliz, e ao me deparar com aquele sujeito senti algo pesado, como uma nuvem escura. Era como se eu não fosse bem vindo naquele dia, por algum motivo que até hoje eu desconheço.

O tempo passou e as denúncias de crime contra João Teixeira de Faria, como era conhecido o Médium João de Deus, dominaram os noticiários. Demorei a acreditar nos fatos, até que eles foram aumentando dia a dia.

Não compreendia como Seres Espirituais Elevadíssimos podiam propiciar a cura usando o corpo de alguém que teria praticado crimes tão sérios. Mas descobriria a resposta que achei mais sensata. Esses Seres não estão para julgar ninguém e precisam de um canal para emitir o amor e propiciar a cura. Eles precisam fazer o bem, sem emitir julgamentos na forma humana. E era exatamente isso o que faziam aqueles grandes Espíritos. Obviamente, Espíritos tão elevados não costumam se aproximar de locais de energia baixa, mas a casa, amparada por centenas de trabalhadores Espirituais voluntários, imbuídos do desejo de ajudar o próximo, emitia uma energia verdadeiramente boa, capaz de atrair Espíritos tão elevados ao local.

Mas outra dúvida me perturbava: a possibilidade de que esses Grandes Seres Espirituais estivessem momentaneamente sem um canal para propiciar atos de tamanha bondade. Porém, como ocorre com a natureza, tudo se resolve. Algum ser, sem alarde ou divulgação pela mídia, deve ter se tornado um canal para essa cura em algum ponto do mundo ou até mesmo do nosso Brasil.

Não estou aqui para fazer julgamentos de João Teixeira de Faria, tarefa que cabe e coube ao Judiciário brasileiro. João Teixeira de Faria é tão ser humano como qualquer um de nós, mas o Médium intitulado João de Deus era um canal fenomenal de cura.

Talvez João Teixeira de Faria, humano, tenha sentido o poder do Médium, e assim tenha se desvirtuado em busca de prazeres terrenos. Digo como hipótese: talvez.

O fato é que as curas praticadas por Espíritos de tão Elevada Luz, através do Médium João de Deus, não podem ser apagadas pelos atos criminosos imputados ao humano João Teixeira de Faria.

Temos que perceber a existência do bem e do amor, aonde for, e é isso o que nos diferencia. Ao anularmos o bem havido, sob o pretexto de que alguém praticou o mal, o fazemos sob o fundamento da percepção e da baixa elevação moral humanas, perpetuando o afastamento da Luz da curta e limitada existência humana.

O bem existirá e continuará a emanar a Luz, ainda que o mal predomine no cenário terreno.

O que aconteceu em Abadiânia também aconteceu com o Brasil, atormentado pela seca, pelos casos de corrupção e pelas centenas de milhares de mortos pela covid-19. Não se pode imputar tais fatos apenas à natureza, mas principalmente a ações humanas desamparadas da necessária elevação moral. Seres evoluídos teriam combatido com tenacidade a seca e os efeitos da pandemia, como curas, recheadas de luz e amor.

O Bem é possível e existe, ainda que o mal pareça predominar, cabendo a cada um de nós percebê-lo e revelá-lo, dando aos demais seres humanos a capacidade de compreender e enxergar além do suicida, curto e mesquinho raciocínio humano, baseado fundamentalmente no egoísmo e numa sensação de poder travestido de vingança.

A saga humana é que não estamos aqui para julgar, mas para nos ajudar. Ajudar a sobreviver, a viver e a amar. É a verdadeira cura espiritual que buscamos.

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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