Há uma série com poucos episódios na NetFlix que eu recomendo: João de Deus. É um documentário brasileiro.
Como pode um homem que praticava
crimes sexuais ser capaz de ser um canal para a operação de curas? Afinal, na
Casa havia somente energia boa ou a má também se infiltrava?
Muitos Espiritas e trabalhadores
de grandes centros Espíritas desconheciam João de Deus. Embora adotasse o ritual
Espírita, e recebesse entidades Espirituais, a Casa Dom (Santo na percepção católica) Inácio de Loyola não
podia ser considerada verdadeiramente um Centro Espírita.
Naquele lugar, na verdade,
entravam pessoas de todos os credos e mesmo os sem fé, de ateus a evangélicos,
passando por islâmicos, judeus, budistas, hinduístas, católicos, espíritas e
tantos outros. Pessoas de todo o globo iam a Abadiânia, a cerca de 130 kms
de Brasília, em busca das curas física e espiritual. Era um lugar único, de certo
tipo de peregrinação, onde se operavam o que as pessoas erroneamente chamam de
milagres.
Demorei muito para relatar o que
vou escrever aqui. Antes de escrever o livro “Os Anjos” eu havia ido uma série
de vezes à Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, Goiás, local de atendimento
do conhecido João de Deus. Ia em busca do equilíbrio e da cura das sequelas de
meu infarto, havido em 2007.
Já levei amigos, namorada,
família e já fui só àquele lugar místico. As pessoas de branco dominavam o
cenário e o reflexo de tanta luz que emanavam passava uma sensação de harmonia
e paz. Eram milhares de pessoas que, diariamente, buscavam o equilíbrio, a
saúde e a possibilidade de viver, exalando o que as pessoas justamente têm de
melhor: a vontade de viver e o amor.
As curas eram relatadas pelos
populares e era possível avistar alguns ocorrendo à sua frente. João de Deus, o
médium, não operava a cura solitariamente. As curas eram efetivadas por uma
legião de Médicos Espirituais evoluídos, a que alguns denominam ser de uma
denominada corrente do Espaço.
Um amigo, ao pisar na Casa,
sentiu a presença da mãe, falecida anos antes, e também de uma mão o amparando
no momento da cirurgia espiritual. Eu senti uma pontada no coração no instante
da cirurgia, praticada coletivamente. E ouvi muitos relatos de milagres e de
histórias de comover o mais insensível dos seres humanos.
Lá não era um lugar comum. Havia
uma energia muito boa que era emanada de lá, amparada por toda a coletividade
de pessoas que iam em busca do bem, do amor e da cura.
Mas também havia uma energia
estranha, obscura e eu presenciei isso, mas não posso afirmar se era emitida
por alguns frequentadores daquele lugar, ou não.
Houve um dia em que um menino me
chamou a atenção. Percebi um jeito e um olhar maus naquele garoto. Por
coincidência, ou não, ele caminhou em minha direção e resvalou em mim, no que,
de imediato, senti algo ruim e estranho que me acompanhou por dias. Ao retornar
a Brasília, no dia seguinte, tive uma estranha e assustadora vontade de jogar
o carro para fora da pista, pondo em risco a minha vida e de minha família, o
que me assustou e me fez procurar ajuda espiritual, quando descobri, então, que
o Médium João de Deus não era propriamente Espírita.
Meses antes, em que havia ido
apenas com uma namorada , notei algo estranho, ao menos para
mim. Um dos trabalhadores da casa me acompanhou de perto, lado a lado, e eu não sentia que
ele estava em uma boa sintonia. Notei algo estranho naquele sujeito, mas não
sabia expressar o que era, exatamente. Tentava não demonstrar o que havia
percebido, mas aquele fato que não compreendia me intrigou. A minha então
namorada, espírita, sem presenciar o ocorrido, tentou dar uma possível explicação à
situação e me disse que o trabalhador possivelmente havia percebido que eu
devia estar acompanhado de um “encosto espiritual” e ele estava tentando me
limpar, digamos assim. Mas aquilo não me convenceu, pois eu estava bem, leve e
feliz, e ao me deparar com aquele sujeito senti algo pesado, como uma nuvem
escura. Era como se eu não fosse bem vindo naquele dia, por algum motivo que
até hoje eu desconheço.
O tempo passou e as denúncias de
crime contra João Teixeira de Faria, como era conhecido o Médium João de Deus,
dominaram os noticiários. Demorei a acreditar nos fatos, até que eles foram
aumentando dia a dia.
Não compreendia como Seres
Espirituais Elevadíssimos podiam propiciar a cura usando o corpo de alguém que
teria praticado crimes tão sérios. Mas descobriria a resposta que achei mais
sensata. Esses Seres não estão para julgar ninguém e precisam de um canal para
emitir o amor e propiciar a cura. Eles precisam fazer o bem, sem emitir
julgamentos na forma humana. E era exatamente isso o que faziam aqueles grandes Espíritos.
Obviamente, Espíritos tão elevados não costumam se aproximar de locais de
energia baixa, mas a casa, amparada por centenas de trabalhadores Espirituais
voluntários, imbuídos do desejo de ajudar o próximo, emitia uma energia
verdadeiramente boa, capaz de atrair Espíritos tão elevados ao local.
Mas outra dúvida me perturbava: a
possibilidade de que esses Grandes Seres Espirituais estivessem momentaneamente
sem um canal para propiciar atos de tamanha bondade. Porém, como ocorre com a
natureza, tudo se resolve. Algum ser, sem alarde ou divulgação pela mídia, deve
ter se tornado um canal para essa cura em algum ponto do mundo ou até mesmo do
nosso Brasil.
Não estou aqui para fazer
julgamentos de João Teixeira de Faria, tarefa que cabe e coube ao Judiciário
brasileiro. João Teixeira de Faria é tão ser humano como qualquer um de nós,
mas o Médium intitulado João de Deus era um canal fenomenal de cura.
Talvez João Teixeira de Faria,
humano, tenha sentido o poder do Médium, e assim tenha se desvirtuado em busca
de prazeres terrenos. Digo como hipótese: talvez.
O fato é que as curas praticadas por
Espíritos de tão Elevada Luz, através do Médium João de Deus, não podem ser
apagadas pelos atos criminosos imputados ao humano João Teixeira de Faria.
Temos que perceber a existência
do bem e do amor, aonde for, e é isso o que nos diferencia. Ao anularmos o bem
havido, sob o pretexto de que alguém praticou o mal, o fazemos sob o fundamento
da percepção e da baixa elevação moral humanas, perpetuando o afastamento da
Luz da curta e limitada existência humana.
O bem existirá e continuará a
emanar a Luz, ainda que o mal predomine no cenário terreno.
O que aconteceu em Abadiânia
também aconteceu com o Brasil, atormentado pela seca, pelos casos de corrupção
e pelas centenas de milhares de mortos pela covid-19. Não se pode imputar tais
fatos apenas à natureza, mas principalmente a ações humanas desamparadas da
necessária elevação moral. Seres evoluídos teriam combatido com tenacidade a
seca e os efeitos da pandemia, como curas, recheadas de luz e amor.
O Bem é possível e existe, ainda
que o mal pareça predominar, cabendo a cada um de nós percebê-lo e revelá-lo,
dando aos demais seres humanos a capacidade de compreender e enxergar além do suicida,
curto e mesquinho raciocínio humano, baseado fundamentalmente no egoísmo e numa
sensação de poder travestido de vingança.
A saga humana é que não estamos aqui para julgar, mas para nos ajudar. Ajudar a sobreviver, a viver e a amar. É a verdadeira cura espiritual que buscamos.