No século passado a humanidade vivenciou duas grandes guerras mundiais envolvendo direta ou indiretamente a maior parte dos países do globo. Morreram dezenas de milhões de pessoas. Foi uma catástrofe.
Hoje não vivenciamos uma grande guerra mundial, mas pequenas guerras mundiais. Explico.
Muitas das guerras envolvem grandes e médias potências que defendem um dos países envolvidos.
Na contínua guerra de Israel e Palestina há os interesses próximos de Arábia Saudita e Israel, de um lado, e do Qtar, Irã e Síria de outro.
No Iemên há o Irã contra a Arábia Saudita, Egito, Jordânia e Israel.
Na Síria há a Rússia, Irã, Líbano e Iraque a favor da Síria, e os Estados Unidos e aliados (OTAN) contra ela. A Turquia, próxima da OTAN, contraditoriamente, mas por interesses fronteiriços, tende a apoiar a Síria.
Na África, então, há um emaranhado, na maior parte porque envolve velhos e novos grupos terroristas, muitos deles financiados pelos Estados Unidos, Inglaterra, Arábia Saudita e Qtar.
O terrorismo que se expande pela Europa, mas que atua principalmente na África, Oriente Médio e Ásia, mata milhares de pessoas a cada dia, em sua maior parte islâmicos.
O que causa estranheza é grupos fundamentalistas islâmicos, terroristas, que matam principalmente islâmicos! Parece uma incongruência. E é! Esses grupos terroristas não lutam por causas islâmicas, até porque a religião não propicia guerras, mas por interesse em dominar países ou regiões territoriais e daí explorar e dominar a população local.
Não há uma cruzada. Não há Cristãos contra Islâmicos. O que há é um jogo de interesses envolvendo geopolítica e questões de domínio de áreas sensíveis.
Ao que parece, tudo começou nos Bálcãs, com o fim da antiga Iugoslávia. Fragmentou-se o país próximo à Rússia.
Os Estados Unidos não abrirão mão de permanecer no Afeganistão, Paquistão e Iraque. Nem da Coreia do Sul e Japão. Querem estar cada vez mais próximos da China e da Rússia, tentando isolá-los. Querem exterminar os líderes dos países próximos aos dois rivais, como fez na Líbia e pretende fazer na Síria, Irã, Venezuela, Bolívia e Coreia do Norte.
Rússia e China demoraram a perceber o isolamento e foi com a chamada primavera árabe que viram que o terrorismo armado pelo ocidente poderia causar graves danos em seus países, com grande população muçulmana, e resolveram agir. A China apoia indiretamente a Síria, mas a Rússia enviou armas e militares, visando resguardar o país aliado que abriga uma base naval militar russa.
Os pequenos ataques dos Estados Unidos e Israel às forças sírias não é sem propósito. Querem provocar a Síria e o seu aliado Irã. E provavelmente tentarão justificar um grande ataque militar contra a Síria por um pretenso (armado) uso de armas químicas pelo governo sírio.
A Rússia provavelmente não ficará inerte se forças sírias forem duramente atacadas por Israel ou pelos Estados Unidos. E esses países (os três) possuem bombas atômicas, ou seja, há um perigo real não só à região, mas ao planeta como um todo.
A guerra mundial igual às anteriores muito provavelmente não ocorrerá. Já vivemos um punhado de pequenas e demoradas guerras espalhadas pela África, Ásia e Oriente Médio que envolvem países ricos de outros continentes (Estados Unidos, Canadá, Austrália, Inglaterra, França, Alemanha...).
O resultado é um número enorme de mortos, de deslocados internos e de refugiados. Aumenta a pobreza nesses países, enfraquece-se a democracia e abre-se espaço para que mais pessoas, inconformadas, se radicalizem e passem a lutar contra tudo e contra todos.
Aos Estados Unidos, as guerras nos países em desenvolvimento proporcionam maior venda de armas e a certeza de que esses não prosperarão e, sem dinheiro, não serão grande mercado consumidor dos produtos chineses, diminuindo os parceiros econômicos desses.
Por coincidência, ou não. A enorme parte dos países diretamente envolvidos nessas guerras, e que sofrem com ela, são ricos em gás e petróleo, fonte de recursos necessária para a produção econômica.
O país mais armado do mundo parece não ter interesse em trazer paz, mas sim provocar pequenas, mas duradouras e sangrentas guerras. Com isso desgastam a economia das médias potências que auxiliam alguns países, sufocam os países em guerra, normalmente não alinhados à sua política internacional, e ganham muito dinheiro vendendo armas. Mas obviamente o interesse não para ai. Com essas guerras, ainda se aproximam dos rivais China e Rússia, isolando-os, dominam diretamente ou através de suas empresas áreas importantes de produção de petróleo e gás, fonte importante para a manutenção de sua economia e forma de controle da economia dos outros países, e se mantém ativo economicamente.
Os Estados Unidos sabem que não poderão se equiparar à produção industrial chinesa. Fomentam a economia interna e a sobrevida econômica com essas guerras, as pequenas guerras mundiais necessárias para o maior império que a humanidade já conheceu e com o qual se deixou dominar e seduzir.
Se os estadunidenses, conhecidos por ações solidárias, conhecessem as efetivas ações internacionais de seus líderes militares e políticos, não ficariam quietos. Mas como todo o planeta, a própria população estadunidense é alcançada pela manipulação provocada pelos meios de comunicação, dominados por uma linguagem fácil, superficial e mentirosa, mas repetida de forma contínua, como os fascistas tanto gostam.
Já vivemos a última guerra, que tende a se ramificar ainda mais. E todos, de uma forma ou outra, já sofrem com ela.