Vivemos uma época estranha.
Há inversão de valores, mas não só isso.
Quase ninguém respeita fila, faixa de pedestres, acostamento ou o próximo. Há um egocentrismo exagerado, revelado pelo consumo desenfreado, pela vontade de se dar bem, pelas poses que se faz, pela postura egoística diante da realidade caótica, pela priorização do enriquecimento a qualquer custo em detrimento de valores éticos, sociais e morais.
Numa época assim, parece tornar-se comum falar mal de pessoas, colegas e até amigos. Ambiente de trabalho vira disputa de egos e não de realizações. O político deixa de servir para querer ser servido. O discurso não é mais aprofundado e contundente, mas resume-se a uma frase que não produz efeito algum no mundo fático, mas que surte efeito nas almas, mentes e ouvidos cada vez mais superficiais.
A busca pela espiritualidade não se volta ao engrandecimento da alma, mas às conquistas que a calma trazida pode proporcionar no mundo material. E é nesse contexto que a meditação deixou de servir como um suporte ao bem estar para que possamos trilhar o nosso caminho, para se tornar simplesmente um mero calmante que nos faz suportar as adversidades momentâneas nas relações pessoais e no trabalho.
O bem não é mais visto como um fim e uma luta a ser travada em todas as esferas, inclusive a pessoal, mas como o resultado do conforto material.
Ao mesmo tempo em que temos uma melhor noção do mundo que nos rodeia, o que aumenta a responsabilidade pela nossa conduta individual e coletiva, passamos a nos preocupar apenas com o que diz respeito a nós mesmos.
O Universo, na prática, deixou de ser a imensidão sem fim no mundo vasto, para significar a imensidão em nós mesmos. O resultado é que muitos se veem como centros do Universo maior, a junção do todo.
Mas todo esse disparate no comportamento da humanidade como um todo serve à nossa evolução. Não paramos de evoluir, ainda que não haja uma linearidade ou progressividade nisso. Muitas vezes regredimos, e é o que parece estar ocorrendo. Mas, mesmo assim, ainda temos pequenos e importantes avanços, como na ciência. Ela nos tem revelado o pequeno papel que temos no Universo, mas que não deixa de ser relevante. Podemos não alterar o equilíbrio, mas de certo a nossa conduta ajuda a moldar o Universo como um todo. Daí talvez em um futuro breve a espiritualidade possa ser vista como o equilíbrio individual que visa o equilíbrio universal, e não mais uma sensação oportuna para angariar prazeres materiais, como muitos indivíduos e muitas Igrejas pensam e pregam hoje em dia.