No início dos tempos, primou-se pelo avanço do homem e de suas necessidades primárias.
O direito foi criado em razão dos conflitos humanos. Hoje, prioriza o capital, os tributos e as dívidas.
A medicina surgiu inicialmente para propiciar melhores condições de saúde e de vida às pessoas. Hoje, prioriza o capital, a indústria farmacêutica e os convênios médicos que pagam cursos e propiciam outras benesses.
A engenharia construía casas para proteger as pessoas ou criava pontes para facilitar o encontro dessas. Hoje, a engenharia serve para criar armamentos cada vez mais sofisticados capazes de matar o maior número de cidadãos, enriquecendo as gigantescas indústrias bélicas.
Antes, a polícia visava proteger o cidadão. Hoje, utiliza armamentos pesados, veículos que parecem tanques de guerra, para afastar a população e proteger o capital.
Os políticos sempre tiveram sede de poder, mas antes propunham o avanço das civilizações, para que essas nunca fossem esquecidas. Hoje, propõem o retrocesso, o enriquecimento ilícito individual e fazem pouco caso com a história, a educação e a cultura.
O ser humano não é mais valorizado, servindo apenas como objeto. Sim, de consumo e descartável.
A burocracia, hoje, ao contrário do que se pensa, está bem presente no cotidiano, sufocando a liberdade do espírito humano. Falamos com gravações, com pessoas despidas de humanidade, com máquinas que engolem cartões, com leitores de digitais. Aprisionam-se as mulheres e os homens em estilos de vida padronizados. Homogeniza-se comportamentos, valores e necessidades, sempre supérfluas, evidentemente.
Hoje vivenciamos a era da inversão dos valores. O humano não é tão importante quanto o capital, que rege o planeta e dá as diretrizes. As guerras são fomentadas pela sede de riquezas. As grandes indústrias já não são as que produzem bens de consumo, mas os bancos, que fornecem e comercializam o que todos querem, o dinheiro, esse mesmo que compra o que julgamos necessário.
Hoje ainda há escravidão, mutilações, estupros, violência contra as crianças, guerras, tortura e tantas outras atrocidades que a humanidade sempre tentou evitar. Mas não há priorização para a sua diminuição. Em pleno século XXI a sociedade não avançou em termos sociais e culturais, mas apenas no econômico, no pior sentido do materialismo, e isso ainda para poucos, para muitos poucos que podem usufruir de um luxo quase que nababesco.
De um lado há bombas atômicas, armas químicas e tantos outros artefatos de guerra nunca dantes vistos em quantidade e em poder de letalidade. De outro há o individualismo exacerbado, o aquecimento global, o efeito estufa, as alterações climáticas, as grandes catástrofes e a volta de epidemias.
Nunca estivemos tão próximos do fim, um fim que nós mesmos proporcionamos, e melancólico, sem qualquer glória. A única saída que se avizinha é voltarmos aos tempos em que o homem primava por um mundo mais brilhante, justo e iluminado.
Sempre há saídas. Lembremos que depois da barbárie da idade média adveio o renascentismo e o iluminismo. Talvez depois dessa barbárie do capitalismo exacerbado, sem limites, advenha o humanismo, o único caminho para o reconhecimento daquilo que realmente importa, colocando o ser humano como o ponto central de todas as questões.
O dinheiro? Ele provavelmente voltará a ser o sal, aquele que tempera, mas que não é essencial à sobrevivência. Precisamos dos velhos valores tão difundidos na história pelas civilizações que nos antecederam e que restaram afogados, queimados e enterrados pela maré materialista consumista.
Vivemos no dilema. Ou nos redescobrimos como humanos, com valores e necessidades materiais e espirituais (essa no sentido intelectual, psíquico e de religiosidade) ou seremos meras engrenagens, objetos descartáveis de um mundo em que se vive em função do que é absolutamente desnecessário e que está envenenando tudo o que conhecemos, inclusive a própria vida.