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Muito
se falava de um líder político brasileiro chamado Leonel de Moura Brizola. Os
inimigos o chamavam de caudilho, uma espécie de líder político carismático do
cone sul. Os seus seguidores, ao contrário, diziam que era um dos maiores
líderes políticos que esse país já conheceu.
Brizola,
como era conhecido, era engenheiro de formação e integrava o antigo PTB –
Partido Trabalhista Brasileiro de Getúlio Vargas, tendo sido um líder em
ascensão no sul do País nos anos 1950 e 1960. Àquela época, ocupou cargos no legislativo
e tornou-se governador do Estado do Rio Grande do Sul. Era considerado herdeiro
político de Vargas.
Em
1961, com a renúncia de Jânio Quadros, os golpistas aproveitaram para vetar a
posse do vice Presidente da República, João Goulart. Brizola, então, liderou
uma mobilização civil e militar para garantir a posse de seu então cunhado e companheiro
de PTB, e foi exitoso.
Porém, passados três anos, adveio o fatídico
31 de março de 1964, quando forças reacionárias impuseram uma amarga, dolorosa
e longa ditadura ao País, declarando vaga a Presidência da República e
expulsando e cassando os integrantes do antigo Partido Trabalhista Brasileiro.
Sem alternativas, Brizola exilou-se inicialmente no Uruguai; depois foi aos
Estados Unidos e, por fim, à Europa.
Com a
anistia política, retornou ao Brasil em 1979. Não conseguindo a legenda do PTB,
fundou o PDT – Partido Democrático Trabalhista, único partido brasileiro a
integrar a Internacional Socialista, reconhecida pelo símbolo da mão esquerda
segurando uma rosa vermelha.
Após o
retorno, Brizola foi eleito governador do Estado do Rio de Janeiro por dois
mandatos (1983-1987 e 1991-1994). Na primeira eleição enfrentou uma tentativa
de fraude que ficou conhecida como “proconsult”, com a tentativa de
contabilização dos votos brancos e nulos em favor do candidato do partido da
ditadura (PDS), mas conseguiu tornar público o golpe tramado por parte da mídia.
O PDT
fundado por Brizola foi uma legenda nacionalista de esquerda integrada
inicialmente pelo comunista Luis Carlos Prestes; o educador e antropólogo Darcy
Ribeiro, dentre outros intelectuais de peso. O PDT foi o maior partido de
esquerda nos anos 1980, mas sofria forte oposição de ala da grande mídia, de
setores conservadores tradicionais e de militares não nacionalistas, além do próprio
Partido dos Trabalhadores, com quem disputava a hegemonia da representação da
esquerda.
Segundo
alguns simpatizantes pedetistas, a grande diferença do PDT em relação ao PT é
que aquele representava os interesses dos trabalhadores de empresas nacionais,
com mobilizações de viés nacionalista, enquanto o PT já simbolizava um
sindicalismo das multinacionais, pouco ligado a questões nacionais e focado quase
que exclusivamente nos direitos de classe. Alguns ainda chegam a dizer que Lula
teria sido um instrumento promovido pelos militares para barrar o velho
sindicalismo varguista que Jango e Brizola representaram tão bem. Talvez seja
verdade, mas é algo para refletir e que só a história revelará ao longo dos
tempos. Voltemos a Brizola.
Brizola
não foi um líder comum. Era polêmico. Falava o que pensava. Ironizava as
atitudes de políticos adversários. Chamou Maluf de “Filhote da Ditadura”. Contrapôs-se
à venda de grandes empresas estatais feita a preço de banana no governo Fernando
Henrique Cardoso. Apelidou Lula de “Sapo Barbudo” e definiu o Partido dos
Trabalhadores como a “Esquerda que a Direita gosta”. Era direto, contundente, verdadeiro,
intenso e com isso arregimentou uma leva de fãs e também de adversários perigosos.
Muitos
veem Brizola como um líder carismático, e só, mas esquecem-se que ele teve uma
atuação fundamental na defesa dos direitos sociais e das minorias numa época em
que as forças reacionárias eram ainda mais poderosas que hoje em dia. Foi um
dos maiores defensores da democracia que o Brasil já conheceu. Em 1961, lutou
contra um golpe arquitetado pela UDN que visava impedir a posse de Jango.
Também propiciou a representatividade do povo brasileiro nos poderes executivo
e legislativo. Embora não se intitulasse como tal, promovia a vasta defesa dos
direitos humanos.
Quando
governador do Rio de Janeiro, Brizola criou a primeira e a mais bem organizada Defensoria
Pública do País; corajosamente determinou que os menos favorecidos fossem
respeitados pelos órgãos públicos e organizou a forma pela qual a polícia poderia
ingressar nas favelas, impedindo assim que a invasão ocorresse sem
mandado judicial específico; e juntamente com o seu vice governador Darcy
Ribeiro, criou os CIEPs – Centros Integrados de Educação Pública, grandes escolas
para período integral, com refeições completas, onde os alunos ainda podiam
contar com atividades culturais e esportivas, além de atendimentos médico e
odontológico e um bom nível de ensino. Estas escolas foram ulteriormente
desativadas pelos rivais políticos sob o fundamento de que “custavam caro!”.
O PDT
de Brizola foi a primeira agremiação do País a ter um deputado indígena.
Quem não se lembra do Xavante Mário Juruna, que nos idos de 1983 a 1987 foi um
ardoroso defensor da questão indígena no Congresso Nacional e que sempre fazia
uso de um gravador para comprovar a hipocrisia do homem branco? Também foi o
primeiro partido a eleger um prefeito negro para a Capital gaúcha e o primeiro
governador também negro do Estado do Rio Grande do Sul, Alceu Collares.
Também elegeu o primeiro governador negro do Espírito Santo, Albuíno
Azeredo.
Hoje Brizola
já não está entre nós e o PDT não tem a força de antes. Por consequência, hoje,
o Brasil, está mais insosso e perdeu-se no meio da globalização. Falta-nos a liderança e o rumo implementado
por Brizola, mas não podemos nos esquecer de que ainda restam vivos os seus
legados de luta: o respeito ao índio, ao negro, à minoria, à mulher, à cultura
regional, ao pobre e à criança, bem como a priorização absoluta do ensino
público. É o caminho a seguir e que nos foi apontado por Brizola. Sigamos o
exemplo e o caminho já traçado dos Direitos Humanos e de respeito a cada
brasileiro.