quarta-feira, 8 de março de 2017

BRIZOLA E OS DIREITOS HUMANOS


 FOTO: INTERNET                                 


Muito se falava de um líder político brasileiro chamado Leonel de Moura Brizola. Os inimigos o chamavam de caudilho, uma espécie de líder político carismático do cone sul. Os seus seguidores, ao contrário, diziam que era um dos maiores líderes políticos que esse país já conheceu.

Brizola, como era conhecido, era engenheiro de formação e integrava o antigo PTB – Partido Trabalhista Brasileiro de Getúlio Vargas, tendo sido um líder em ascensão no sul do País nos anos 1950 e 1960. Àquela época, ocupou cargos no legislativo e tornou-se governador do Estado do Rio Grande do Sul. Era considerado herdeiro político de Vargas.

Em 1961, com a renúncia de Jânio Quadros, os golpistas aproveitaram para vetar a posse do vice Presidente da República, João Goulart. Brizola, então, liderou uma mobilização civil e militar para garantir a posse de seu então cunhado e companheiro de PTB, e foi exitoso.

 Porém, passados três anos, adveio o fatídico 31 de março de 1964, quando forças reacionárias impuseram uma amarga, dolorosa e longa ditadura ao País, declarando vaga a Presidência da República e expulsando e cassando os integrantes do antigo Partido Trabalhista Brasileiro. Sem alternativas, Brizola exilou-se inicialmente no Uruguai; depois foi aos Estados Unidos e, por fim, à Europa.

Com a anistia política, retornou ao Brasil em 1979. Não conseguindo a legenda do PTB, fundou o PDT – Partido Democrático Trabalhista, único partido brasileiro a integrar a Internacional Socialista, reconhecida pelo símbolo da mão esquerda segurando uma rosa vermelha.

Após o retorno, Brizola foi eleito governador do Estado do Rio de Janeiro por dois mandatos (1983-1987 e 1991-1994). Na primeira eleição enfrentou uma tentativa de fraude que ficou conhecida como “proconsult”, com a tentativa de contabilização dos votos brancos e nulos em favor do candidato do partido da ditadura (PDS), mas conseguiu tornar público o golpe tramado por parte da mídia.

O PDT fundado por Brizola foi uma legenda nacionalista de esquerda integrada inicialmente pelo comunista Luis Carlos Prestes; o educador e antropólogo Darcy Ribeiro, dentre outros intelectuais de peso. O PDT foi o maior partido de esquerda nos anos 1980, mas sofria forte oposição de ala da grande mídia, de setores conservadores tradicionais e de militares não nacionalistas, além do próprio Partido dos Trabalhadores, com quem disputava a hegemonia da representação da esquerda.

Segundo alguns simpatizantes pedetistas, a grande diferença do PDT em relação ao PT é que aquele representava os interesses dos trabalhadores de empresas nacionais, com mobilizações de viés nacionalista, enquanto o PT já simbolizava um sindicalismo das multinacionais, pouco ligado a questões nacionais e focado quase que exclusivamente nos direitos de classe. Alguns ainda chegam a dizer que Lula teria sido um instrumento promovido pelos militares para barrar o velho sindicalismo varguista que Jango e Brizola representaram tão bem. Talvez seja verdade, mas é algo para refletir e que só a história revelará ao longo dos tempos. Voltemos a Brizola.

Brizola não foi um líder comum. Era polêmico. Falava o que pensava. Ironizava as atitudes de políticos adversários. Chamou Maluf de “Filhote da Ditadura”. Contrapôs-se à venda de grandes empresas estatais feita a preço de banana no governo Fernando Henrique Cardoso. Apelidou Lula de “Sapo Barbudo” e definiu o Partido dos Trabalhadores como a “Esquerda que a Direita gosta”. Era direto, contundente, verdadeiro, intenso e com isso arregimentou uma leva de fãs e também de adversários perigosos.

Muitos veem Brizola como um líder carismático, e só, mas esquecem-se que ele teve uma atuação fundamental na defesa dos direitos sociais e das minorias numa época em que as forças reacionárias eram ainda mais poderosas que hoje em dia. Foi um dos maiores defensores da democracia que o Brasil já conheceu. Em 1961, lutou contra um golpe arquitetado pela UDN que visava impedir a posse de Jango. Também propiciou a representatividade do povo brasileiro nos poderes executivo e legislativo. Embora não se intitulasse como tal, promovia a vasta defesa dos direitos humanos.

Quando governador do Rio de Janeiro, Brizola criou a primeira e a mais bem organizada Defensoria Pública do País; corajosamente determinou que os menos favorecidos fossem respeitados pelos órgãos públicos e organizou a forma pela qual a polícia poderia ingressar nas favelas, impedindo assim que a invasão ocorresse sem mandado judicial específico; e juntamente com o seu vice governador Darcy Ribeiro, criou os CIEPs – Centros Integrados de Educação Pública, grandes escolas para período integral, com refeições completas, onde os alunos ainda podiam contar com atividades culturais e esportivas, além de atendimentos médico e odontológico e um bom nível de ensino. Estas escolas foram ulteriormente desativadas pelos rivais políticos sob o fundamento de que “custavam caro!”.

O PDT de Brizola foi a primeira agremiação do País a ter um deputado indígena. Quem não se lembra do Xavante Mário Juruna, que nos idos de 1983 a 1987 foi um ardoroso defensor da questão indígena no Congresso Nacional e que sempre fazia uso de um gravador para comprovar a hipocrisia do homem branco? Também foi o primeiro partido a eleger um prefeito negro para a Capital gaúcha e o primeiro governador também negro do Estado do Rio Grande do Sul, Alceu Collares. Também elegeu o primeiro governador negro do Espírito Santo, Albuíno Azeredo.

Hoje Brizola já não está entre nós e o PDT não tem a força de antes. Por consequência, hoje, o Brasil, está mais insosso e perdeu-se no meio da globalização.  Falta-nos a liderança e o rumo implementado por Brizola, mas não podemos nos esquecer de que ainda restam vivos os seus legados de luta: o respeito ao índio, ao negro, à minoria, à mulher, à cultura regional, ao pobre e à criança, bem como a priorização absoluta do ensino público. É o caminho a seguir e que nos foi apontado por Brizola. Sigamos o exemplo e o caminho já traçado dos Direitos Humanos e de respeito a cada brasileiro.

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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