quarta-feira, 16 de março de 2016

A ONDA DEMAGÓGICA E CONSERVADORA QUE, EM DETRIMENTO DOS DIREITOS CIVIS E HUMANOS, APENAS MASCARA O SISTEMA CORRUPTO


Vivemos uma onda de atitudes irracionais e conservadoras que desde sempre devastam o planeta e os pequenos avanços obtidos.

Qual de nós não lembra da história de Jesus Cristo, crucificado para saciar a sede de vingança de uma massa manobrada pelos grupos conservadores que detinham o poder daquela época?

Foi esse mesmo conservadorismo que, sob uma pretensa legalidade, elegeu Hitler e que pregou e efetivou a matança de judeus, de homossexuais, de ciganos, de pessoas portadoras de deficiência, de esquerdistas e comunistas e de tantos outros no Século passado.

Foi essa onda conservadora que permitiu à África do Sul conviver com o horrendo apartheid, política de segregação, tortura, matança e de exclusão dos negros até pouco tempo atrás, em um território em que estes sempre foram a amplíssima maioria, quando não a plena totalidade da população.

Mais recentemente, o conservadorismo do grupo autoproclamado Estado Islâmico e da Arábia Saudita passaram a dominar as manchetes dos jornais no mundo todo. Enquanto mulheres são proibidas de dirigir veículos e até mesmo de andar de bicicleta no wahabita reino saudita, elas são escravizadas, prostituídas e até induzidas a casar-se com apenas 9 anos de idade no temido território ocupado pelos integrantes do radical Estado Islâmico.

Já no nosso Brasil, essa política conservadora, com o apoio dos Estados Unidos, levou a cabo o golpe de 1964, ocasionando uma crise cujos efeitos na industrialização nacional, na educação, na cultura e na intelectualidade, sem falar nas inúmeras rupturas de laços familiares, perduram até hoje no nosso País. E isso com o absoluto desrespeito da ordem legal então vigente.

Tornou-se público há poucos dias que o ex presidente Lula foi conduzido coercitivamente pela Polícia Federal para o Aeroporto de Congonhas. Já a Revista digital Carta Maior revelou que, graças à pronta ação de uma centena de militares da Aeronáutica, a Polícia Federal foi impedida de embarcar o ex presidente em avião que se destinava a Curitiba, medida inesperada que teria levado o juiz Sérgio Moro, então, a determinar que Lula fosse ouvido no próprio Aeroporto de Congonhas. Em um País em que os agentes militares asseguram a obediência à ordem legal, enquanto alguns Juízes e agentes da lei cerceiam a liberdade individual que deveriam assegurar e proteger, há algo muito anormal acontecendo e que merece atenção especial.

Independentemente da questão da investigação de corrupção de diversos agentes políticos integrantes do Partido dos Trabalhadores, o fato é que a condução coercitiva de qualquer pessoa não acusada de crime (seja eu, seja você, seja o ex presidente) é medida excepcional, que depende de anterior recusa em cumprir a determinação judicial. É o que dispõe o artigo 218 do Código de Processo Penal. No caso em estudo não houve recusa de Lula e o juiz federal teria se utilizado do argumento de que a condução coercitiva serviria de medida protetiva ao próprio declarante.

Como ser conduzido à força a Curitiba ou a um aeroporto pode ser medida de proteção se o ex presidente jamais solicitou tal apoio e se tal providência extrema retirou do indivíduo que iria prestar declarações o direito de locomover-se livremente e de ter a necessária liberdade de escolha?

Essa medida extrema adotada por um integrante do Poder Judiciário, tão criticada por alguns integrantes do ex governo Fernando Henrique Cardoso e pelo Ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, bem caracteriza uma ação conservadora que visa restringir os direitos individuais. É o que o citado Ministro chamou de o pior tipo de ditadura, a do Judiciário. E essa decisão não é uma ação isolada no Poder Judiciário, infelizmente.

Lembre-se que recentemente o Supremo Tribunal Federal, com apoio de alguns Ministros Constitucionalistas, modificou seu entendimento para, de forma mais conservadora, passar a autorizar a prisão sem o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, bastando sua confirmação por uma instância superior. Disso resulta a absurda situação de prisão de muitas pessoas que posteriormente poderão ser declaradas inocentes. Não bastasse o horror de ser injustamente preso, tal decisão implicará na responsabilização do Estado, a quem caberá indenizar cada uma das pessoas nesta situação. Indiretamente, caberá a cada um de nós, portanto, através dos impostos quase sempre mal direcionados, pagar por isso. Por isso, com o devido respeito à mais alta Corte de Justiça, penso que a decisão recentemente tomada caracteriza um retrocesso sem sentido em um país com um sistema penitenciário superlotado há décadas e temido em todo o planeta.

E ainda na semana passada, no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, foi determinada a abertura de um Processo Administrativo Disciplinar em face de uma Desembargadora que, ao constatar a prisão ilegal de alguns réus, determinava a sua pronta liberação, com base no art. 654, § 2º, do Código de Processo Penal. Parece absurdo, mas por ser zelosa e cumprir celeremente uma determinação expressa da lei, evitando tanto a superlotação carcerária quanto a violação a um direito individual, a magistrada passou a ser investigada e ainda poderá ser punida.

Como se pode perceber, as medidas conservadoras agora já não se restringem às ações políticas e às posturas de camadas da sociedade. Elas estão a impregnar as instituições e os Poderes que deveriam assegurar os Direitos Elementares, também chamados de Humanos, de cada indivíduo e coletividade.

O que mais podemos esperar no nosso País? Crise econômica, crise política, Instituições e Poderes que se perdem em meio à vontade dos agentes políticos e da onda conservadora avassaladora. Um caos e um péssimo presságio às minorias e às maiorias desrespeitadas.

Não serão essas medidas extremas que assegurarão o fim da corrupção e dos corruptos. Elas não têm o condão de mudar a cultura de corrupção com que o Brasil convive desde o período colonial.

Só para recordar, foi na época da chamada ditadura militar, cujas medidas duras e conservadoras afrontavam permanente os direitos civis e humanos, que as empreiteiras iniciaram a corrupção dos agentes políticos. Ora, se conservadorismo fosse sinal de ética, tal sistema perverso, que hoje o País enxerga com maior clareza, não teria tido início naquele período de linha dura.

Há que se destacar com veemência que o que mudará a cultura de corrupção enraizada em nossa sociedade não são medidas que visam atender ao clamor popular, mas sim a seriedade com que os agentes públicos, as instituições e os Poderes tratarão as questões locais, nacionais e principalmente Constitucionais.

Lembro que a seriedade na conduta dos agentes públicos e das instituições e Poderes Estatais não se relaciona ao desrespeito de direitos da população, ao contrário. O desrespeito aos “pequenos direitos” e também à boa educação e à boa saúde o sistema corrupto já proporciona de forma silenciosa e prolongada há muito tempo.

As medidas conservadoras adotadas pelo Judiciário, talvez para atender aos anseios das massas, servirão apenas para fragilizar os direitos civis e humanos, de todos nós. A cultura de respeito às leis, a todas elas, e também aos direitos humanos, ou seja, à boa saúde, à boa educação, ao salário mínimo digno, ao respeito de cada um, com suas especificidades, como ser humano, e a garantia de exercício de tais direitos pelo Poder Judiciário é que possibilitará a mudança de mentalidade, a participação popular, a necessária democratização do Estado e a responsabilização dos agentes públicos, que deverão nortear-se pelos princípios legais e não pela vontade dos agentes políticos. Disso resultará menor margem para a corrupção e, consequentemente, maior facilitação para a responsabilização de todos os tipos de corruptores e de corruptos (numa acepção mais ampla do termo).

Enquanto perdurar a irracionalidade conservadora que busca a demagógica “Justiça” a qualquer preço, sem equilíbrio e à base de um sentimento de vingança que suprime a racionalidade e a própria ordem legal vigente, a humanidade, em que está inserido cada um de nós, continuará a correr perigo. Enquanto os prejudicados serão os mesmos de sempre, de uma forma ainda mais cruel, o sistema corrupto e desumano permanecerá em movimento sempre crescente, ainda que temporariamente de forma mais discreta. O tempo revelará.

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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