Terceira Parte – AS VIOLAÇÕES
São muitas as
violações sofridas pelos refugiados, seja no país de origem, seja onde se
encontram esperando a solução de sua situação, seja no país de acolhida.
Na Síria, as
minorias são perseguidas, principalmente pelos grupos radicais, como o Estado
Islâmico.
O Estado Islâmico
tem praticado verdadeiras barbaridades que nos remetem a um tempo sombrio de
nossa história. Os gays são assassinados, normalmente jogados dos
prédios. As mulheres e crianças podem ser vendidas como escravas e daí
serem prostituídas. Muitas crianças, órfãs ou que se perderam de suas famílias,
vagam sozinhas pelo deserto. Os opositores e os ditos infiéis, ateus ou
seguidores de outras religiões, como os yazidis ou que não se proponham a pagar
um imposto de tolerância, normalmente são executados a tiros, mas podem ser
degolados, crucificados, afogados ou queimados vivos. A tortura é frequente,
assim como o uso de armas proibidas.
O governo sírio,
por sua vez, estaria praticando tortura, prisões ilegais e utilizando armas
proibidas. Mas, por outro lado, é esse governo que, ao lado dos curdos, tem
garantido a sobrevida dos homossexuais e das minorias religiosas nos locais em
que ainda mantém controle.
Os curdos são
considerados heróis por alguns e terroristas por outros. Mas nem todos os
grupos de curdos são iguais. Há os marxistas e também aqueles ligados à
Turquia, Estados Unidos e Israel. Os que mais se envolvem na guerra, com
armamentos antigos e também cedidos pelo governo sírio são os curdos do norte
da Síria, com o apoio do PKK, partido marxista turco, ligado à defesa dos
interesses da etnia curda. São esses que estão libertando a população do norte
da Síria das mãos do Estado Islâmico e que, por outro lado, têm sofrido intenso
bombardeio da Turquia em território iraquiano e sírio.
As crianças são as
principais vítimas. Milhares tornam-se órfãs e perdem-se de suas famílias.
Muitas são utilizadas como soldados pelas forças oposicionistas, onde se
destaca o Estado Islâmico. Muitas são compelidas a trabalhar desde pequeninas,
para poderem sobreviver. Milhares são escravizadas. Outras são obrigadas ou
seduzidas a se prostituírem. Algumas casam-se ainda crianças, com menos de 9
anos, para deixarem de ser um encargo para a família. Muitas ficam em abrigos
no meio da guerra, enquanto outras ficam em campos de refugiados. Nenhuma delas
pode ser adotada porque na Síria o instituto da adoção não é reconhecido. E a
obtenção da guarda não é algo fácil. Primeiro o pretenso guardião tem que
manter contato com alguma instituição religiosa localizada na Síria, seja
muçulmana ou cristã, para poder ter a guarda de criança da mesma religião que a
sua. Depois, terá que ir à região, seja nos países circunvizinhos ou na própria
Síria, que se encontra em uma sangrenta guerra civil.
As mulheres também
sofrem numa região onde o machismo prevalece em plenos horrores da guerra. As
que são cristãs são obrigadas a vestir trajes muçulmanos ao saírem em público
nas regiões dominadas pelos grupos extremistas. Muitas são prostituídas ou escravizadas;
outras, assassinadas. São, em síntese, resumidas a meros objetos.
Os idosos
com dificuldade para se locomover não recebem tanta atenção da mídia, mas são
grandes vítimas, muitos abandonados até morrerem de fome e de sede.
Os deslocados internos sírios, que são aqueles que
saíram de seu local de origem, mas permanecem na Síria, normalmente são pessoas
de menor poder aquisitivo e que ainda continuam a correr sérios riscos, além de
estarem sujeitos a passar fome e sede.
E os
refugiados que conseguiram fugir do conflito bélico e do país de origem, ainda
têm que enfrentar a dificuldade em sobreviver. Alguns países os deixam
segregados em campos, onde estarão ao lado se seus conterrâneos. Outros países,
como o Brasil, de forma mais humana, o abrigam no seio social, porém, isso os
obriga a se depararem com uma língua diversa e com costumes muito diferentes.
Porém, será dessa forma que poderão se integrar à comunidade local e, se assim
quiserem, permanecer no país.
Conseguir o status
de refugiado não é tarefa fácil. Enquanto solicitam, muitos são tratados como
animais, segregados em campos próprios. Outros têm mais sorte e são inseridos
no meio social do país de acolhida. Mas a luta para isso não é fácil, como se
viu.
É um longo
caminho a ser percorrido.