Tenho ascendência de diversas etnias, mas a que julgo mais importante é a árabe, até porque herdei de pai e mãe um pouco de um sangue vindo dos desertos.
Ao ouvir sobre a vida dos meus antepassados na Síria e no Líbano sempre me senti uma criança ouvindo alguns contos mirabolantes e também tristes das Mil e Uma Noites.
Histórias de dor, de perda e de esperança trouxeram meus antepassados a este País que eles adoraram logo no primeiro contato. E foi aqui que o meu avô paterno, que falava o aramaico fluentemente e que largou a família para não morrer numa guerra fratricida contra os turcos, pode encontrar a felicidade perdida e que carregava consigo, como se fosse uma esperança escrita em seu sobrenome.
A minha bisavó veio do Líbano, então Síria. Quase morreu na viagem que fez de navio rumo ao Brasil e quem a salvou foi Vitória, uma negra. Em homenagem a esse personagem doce e gentil, deu esse nome a uma de suas filhas e passou a combater diuturnamente o racismo, ainda mais comum àquela época.
A mãe dessa minha bisavó teve uma história ainda mais triste. Quando criança, com apenas 6 anos de idade, foi encontrada só, vagando no deserto. Sua família inteira havia sido assassinada, assim como todos da vila inteira onde morava. Persistiu, lutou, sobreviveu e foi acolhida por freiras católicas francesas. Anos depois, casou e incentivou a sua filha a vir ao Brasil.
Essas são apenas algumas das tristes histórias que acompanharam meus antepassados, sempre repletas de muita dor, guerras, perdas e luta.
Talvez seja esse o real motivo de a minha família praticamente inteira prezar pelos direitos das minorias e buscar a Justiça com J maiúsculo. Talvez seja efeito do sobrenome que carrego ou o destino a ele reservado. Afinal, felicidade só se alcança com paz e harmonia. E é isso o que os meus antepassados buscaram ao mudar para este País imenso e maravilhoso, característica herdada pelos seus descendentes.