sábado, 22 de fevereiro de 2014

PRETENSÃO DE GOLPE AQUI E ALI?

Conheci a Venezuela há um ano e meio e pude me deparar com um país diferente, que beira o exótico. Eles conhecem muito pouco o Brasil, assim como nós desconhecemos quase que totalmente a realidade do grande vizinho do norte. Chavez não escondia a predileção de aproximação com os países do sul e em especial o Brasil. A televisão internacional criada pelo governo venezuelano, Telesur, propagava isso aos quatro ventos com a chamada: “Telesur, o nosso norte é o sul”. Carros enormes entopem o trânsito complicado da capital e mulheres bonitas não faltam em quaisquer das classes sociais. Por falar nisso, a diferença social lá é assustadora. Há muitas favelas em Caracas e arredores, e de todos os tamanhos. E a violência, que já foi pior, está sendo controlada pela Polícia Nacional, criada por Chavez numa tentativa de diminuir a criminalidade até então crescente. Não fiquei uma semana naquele país. Então, vi e conheci muito pouco, mas tive impressões. A mais forte é de que há um investimento massivo em esporte e cultura. Há cinematecas espalhadas pelas cidades, assim como inúmeros grupos musicais e orquestras sinfônicas compostas por estudantes, e vê-se gente com uniformes esportivos do país em aviões, calçadas, em todos os cantos. É um país que tenta apagar sua memória de miséria e injustiça social. Contudo, não atingiu o equilíbrio. O país está dividido entre Chavistas e anti-Chavistas. A direita é muito radical e a esquerda também assume essa tendência. E o Chavez militarizou o País, numa tentativa de dar continuidade sem frequentes rupturas ao sonho bolivariano. A direita internacional que tem criticado a Venezuela e Chavez não conhece quase nada do que lá ocorre. Sequer tem impressões, pois nunca esteve efetivamente no local, conhecendo seus cantos, recantos e desencantos. Quando muito, quando sai dos hotéis chiquíssimos, é para frequentar shoppings chiques, que há aos montes naquele país, e restaurantes refinados de uma elite que assim como a brasileira, não se reconhece como nativa. Mas não conhece o povo das favelas e das ruas. Chavez enfrentou diversas tentativas de golpe e resistiu a cada uma delas. Era um líder. Polêmico, de fato, mas um líder, pois conduzia a Nação a um rumo admirado por uma massa e odiado por outra. O radicalismo generalizado está levando a Venezuela a uma situação caótica. Golpe militar é pouco provável que ocorra, a não ser que seja por um grupo também à esquerda que sempre apoiou Chavez e suas reformas (chamadas demagogicamente de revoluções), mas desvinculado da ligação umbilical com Cuba e que certamente visará uma reaproximação com o governo estadunidense. Se houver golpe, não será à direita, mas à esquerda e com menos ações geopolíticas e com continuidade das ações internas de reajustamento das injustiças sociais. Portanto, a ação extremista de parte significativa da direita venezuelana está levando o país a uma séria crise, sem reais chances de virada à direita, ou seja, sem a que pretende fazer transparecer possível à massa de apoiadores. Quanto aos assassinatos de manifestantes, obviamente sou contrário, sejam eles de esquerda, direita, centro ou o que for. Isso é totalmente inadmissível. Mas não se pode esquecer que numa das tentativas de derrubada de Chavez grupos armados de direita assassinaram a sangue frio diversos populares, tentando fomentar a ideia de um governo repressor e que matava a sua própria população. A revelação do que realmente ocorria, e que certamente assegurou a Chavez a manutenção de seu cargo de presidente, se deu por uma rede de televisão estrangeira (se não me falha a memória é da Irlanda) que fazia um documentário no local e mostrou as imagens reveladoras a todo o mundo. Há também um documentário estadunidense que revela o ocorrido. Ou seja, antes de vomitar palavras de ódio ou de apreço é preciso conhecer um pouco daquele país, e não só pela grande (apenas no sentido de tamanho e não de significado moral ou qualitativo) mídia internacional ou nacional. Como sabem os amigos jornalistas, o nível de qualidade da mídia hodierna é vergonhoso, pois quase não se apura nada, havendo apenas a pronta e imediata repetição do ouvir dizer. E aqueles que apenas ouvem dizer, não refletem e não pesquisam, correm o sério risco de apenas dizer e propalar asneiras. E não se pode esquecer que há muitos mal intencionados que pretendem que o que acontece no país vizinho ocorra igualmente aqui, na pretensa esperança de que isso possa ensejar uma ruptura institucional, já que aqui os militares não estão vinculados ao partido que hoje governa o país. Agora, eu me pergunto, porque a direita aqui quer tanto isso se a “esquerda” governante não tem agido na forma esperada de uma real esquerda? Os ricos têm ficado cada vez mais ricos e os bancos cada vez lucram mais. Rupturas institucionais não são boas a ninguém e normalmente prejudicam as já fragilizadas classes de trabalhadores (normalmente afastadas do comando do poder), intelectuais, artistas e políticos sérios comprometidos com questões sociais e nacionais. A democracia, tanto na vizinha Venezuela, quanto no Brasil, não pode sofrer nova ruptura. Vamos dar um chega às pretensões de idiotas travestidos de baluartes da moralidade e que podem pensar em muitas coisas, mas certamente não em cada uma das pessoas. O Brasil precisa urgentemente de CIDADANIA, DEMOCRACIA, PARTICIPAÇÃO POPULAR NAS AÇÕES DO GOVERNO, EDUCAÇÃO, SAÚDE, SEGURANÇA PÚBLICA E TRANSPORTE PÚBLICO DE QUALIDADE. E nada disso vem com ditaduras. Lembre-se de 1964 e o retrocesso cultural, educacional, econômico e político ocasionado ao país. Até hoje sofremos com a baixa qualidade de ensino, o baixo nível das músicas de sucesso, o baixo nível cultural e tantas outras sequelas deixadas por seguidos governantes militares e civis corruptos impostos pela ditadura que buscava apenas perpetuar-se no poder.

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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