quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Língua amazigue (berbere)

do site TLAXCALA
por Omar Mouffok عمر موفق

Traduzido por Alexandre Leite

A Tlaxcala abre-se à A língua amazigue (berbere), chamada de tamazight pela maior parte dos seus falantes, é a língua original das populações amazigues do Norte de África. Falada em várias regiões, desde o oásis de Siwa (no oeste do Egipto) até ao Oceano Atlântico, em Marrocos e na Mauritânia, passando pela Líbia, pelo sul da Tunísia, e pelas regiões montanhosas ou desérticas da Argélia, do Níger e do Mali, com cada região a apresentar um dialecto particular. Esta língua é a língua materna de vários milhões de pessoas (de 20 a 30). Ela é igualmente a língua ancestral de praticamente todos os habitantes do Norte de África, incluindo os das ilhas Canárias, mas com o processo de arabização que se acelerou no último milénio e com a colonização espanhola das ilhas Canárias, esta língua perdeu muito do seu território histórico.
A língua amazigue deriva da grande família de línguas ditas afro-asiáticas, das quais fazem também parte as línguas semíticas (árabe, hebreu, arameu, línguas etíopes, etc.), o antigo egípcio e copta, a haussa e o somali. É uma das raras línguas africanas que possui um alfabeto próprio, o alfabeto tifinague. Utilizado desde o século VI d.C., como atestam algumas gravuras em pedras em centenas de locais na Líbia, bem como em Marrocos, existindo também na Tunísia e na Argélia, este alfabeto ainda é utilizado pelos tuaregues do Sara e é igualmente ensinado sob uma forma modernizada e regulada nas escolas marroquinas. Os amazigues consideram-no actualmente como um símbolo da sua língua e da antiguidade da sua cultura.
O amazigue é a língua mais antiga falada no Norte de África, mas depois da conquista muçulmana, a partir do século VII d.C., e sobretudo com a vinda das tribos árabes nómadas de Banu Hilal e Banu Sulaym, a partir do século XI d.C., um grande número de amazigues abandonou a sua língua e adoptou o árabe. Com o passar dos séculos, ela perdeu a maioria do seu território, e actualmente, embora a língua amazigue seja falada em vários locais, convém referir que são de facto ilhas onde ela sobrevive e onde está mais ou menos ameaçada.
Os dialectos da língua amazigue são portanto quase tão numerosos como os locais onde ainda é falada. Não obstante as distâncias geográficas, por vezes grandes, que separam os dialectos entre si, o isolamento de certos dialectos e a falta de comunicação em língua amazigue entre os falantes dos diferentes dialectos (a língua corrente é quase sempre o árabe), é mais ou menos fácil para os amazigófonos entenderem-se entre eles com a sua língua.
Foi a partir dos anos 1940 que os amazigófonos começaram a ter uma real consciência da necessidade de uma revitalização da sua língua, da sua cultura e da sua identidade. Os primeiros nacionalistas argelinos, tais como Idir Ait Amrane, na Argélia, compuseram e escreveram em amazigue, variados hinos e canções patrióticas a favor da independência da Argélia. Nos anos 1960, Mouloud Mammeri redige e publica a «Tajerrumt», a primeira gramática amazigue (cabila), inteiramente escrita na língua amazigue. Ele acompanha o seu trabalho com um pequeno glossário de neologismos amazigues. Nos anos 1970, Mammeri, acompanhado de alguns dos seus alunos, fazem uma compilação do léxico amazigue moderno, incluindo algumas centenas de neologismos, necessários para o desenvolvimento e modernização da língua. Ao mesmo tempo, as populações amazigues de várias regiões, sobretudo em Cabília (Argélia), começaram a reivindicar o direito da língua amazigue a obter um reconhecimento oficial.
Os acontecimentos de Abril de 1980 em Cabília (a «Primavera berbere»), quando a polícia argelina atacou os estudantes, depois da interdição de uma conferência sobre a poesia antiga cabila, foram o despoletar de uma ampla luta pelo reconhecimento da língua amazigue. A partir desta altura aconteceram inúmeras manifestações, quer na Argélia quer em Marrocos, reivindicando a reabilitação da língua e da cultura amazigue. Em 1994-1995, quase todas as escolas da Cabília boicotaram o ano escolar e as crianças cabilas não foram à escola durante um ano, para exigirem ao Estado argelino a introdução da língua amazigue na escola argelina, de modo a que ela fosse ensinada tal como o árabe ou o francês.
O Estado argelino acabou por aceitar a introdução da língua nas escolas, e criou um Alto Comissariado para o Amazigue, instituição estatal que trata da cultura amazigue. Na mesma altura, em Marrocos, o movimento militante pela reivindicação da língua amazigue cresceu e reforçou-se. Em 2001, o Estado marroquino criou o IRCAM (Instituto Real da Cultura Amazigue), e depois de um período atribulado em Cabília, bem como em certas regiões das Aurés, a língua amazigue foi finalmente reconhecida como uma língua nacional na Argélia, em 2002.
No entanto, apesar deste reconhecimento oficial na Argélia, e de um quase reconhecimento em Marrocos, o ensino da língua amazigue nestes dois países continua a ser insuficiente: o número de escolas nas quais é ensinada continua a ser pequeno, e a qualidade do ensino é muitas vezes medíocre, quer em Marrocos quer na Argélia. A utilização da língua amazigue nas rádios e nas televisões nacionais desses dois países é residual. Em 2009, foram lançadas cadeias de televisão nacionais amazigófonas em Marrocos e também na Argélia, mas a grelha de programas ainda é pobre em comparação com a das cadeias de televisão arabófonas e francófonas desses mesmos países (ausência de desenhos animados ou de emissões para crianças em língua amazigue, etc.), e são ainda diminutas as suas horas de emissão. Na Tunísia e na Líbia, a língua amazigue é quase um assunto tabu. Ela não desfruta nem de um estatuto oficial nem de um menor reconhecimento e não é utilizada por nenhum meio de comunicação nacional destes dois países. No Mali e no Níger, apesar do reconhecimento oficial do tuaregue (amazigue) como língua nacional, há várias décadas, em conjunto com outras línguas africanas, a língua amazigue (tuaregue) permanece marginalizada, e o seu ensino é quase inexistente.
A língua amazigue, que continua a ser principalmente oral, não tem muitas publicações escritas, e a maioria dos amazigófonos, mesmo os intelectuais, não escreve nem lê na sua língua, mas utilizam antes o árabe ou o francês para lerem ou comunicarem por escrito.
Consequentemente, apesar do importante número de amazigófonos em certos países (por exemplo mais de 30% em Marrocos e mais de 20% na Argélia), a língua amazigue continua a ser uma língua minoritária e vulnerável. Mesmo que a maior parte das pessoas, incluindo os intelectuais e os linguistas amazigues, não se apercebam, a língua amazigue não tardará muito a fazer parte das línguas ameaçadas, se as coisas continuarem como estão. Sem um ensino escolar adequado e generalizado, a língua amazigue arrisca a não ser aprendida pelas crianças norte-africanas, em particular os filhos de pais amazigófonos, o que irá acelerar o seu desaparecimento.
O relativo isolamento cultural que até agora lhe permitiu a sobrevivência e que fomentou os seus diferentes dialectos até aos nossos dias, está a chegar ao fim. As auto-estradas passam por todo o lado e as cidades situadas perto dos maciços montanhosos ou dos desertos vão crescendo, desenvolvem-se, e atraem populações rurais e estrangeiros à região (e que, muitas vezes, não falam a língua autóctone). Também é sabido que no Norte de África a «língua da cidade» nunca foi o amazigue, mas sim o árabe.
Para além disso, nos dois últimos séculos, a língua amazigue desapareceu de várias regiões da Argélia, onde ela já era uma língua muito vulnerável (regiões onde já só restam algumas poucas aldeias amazigófonas no meio de outras aldeias arabizadas). Nos dias de hoje, o processo continua, e arrisca fragilizar mesmo os dialectos mais importantes (cabila e chaoui na Argélia, rifenho, amazigue do centro de Marrocos, tachelit em Marrocos, e tuaregue no Sara). É por isso que os amazigófonos devem tomar consciência da ameaça que pesa sobre a sua língua.
Actualmente, numa altura em que há numerosas línguas que estão ameaçadas de extinção, e que, segundo a UNESCO, em cada duas semanas há uma língua que desaparece no mundo, os amazigófonos devem tomar consciência de que cada um deles deve fazer um esforço para preservar e promover a sua língua, falando-a, certamente, mas também usando-a para escrever e ler.
A língua amazigue na Tlaxcala: porquê e como
A Tlaxcala, rede militante internacional de voluntários, que defendem a diversidade linguística no mundo, criou uma secção em língua amazigue no seu novo sítio da internet (http://www.tlaxcala-int.org), lançado a 14 de Julho de 2010. O seu primeiro sítio (http://www.tlaxcala.es) tinha sido lançado em 21 de Fevereiro de 2006 (em 1999, o dia 21 de Fevereiro foi declarado Dia Internacional da Língua Materna pela UNESCO. Também no dia 21 de Fevereiro, mas em 1952, cinco estudantes de Daca perderam a vida defendendo que o bengali fosse considerado como língua oficial naquilo na nessa altura era o Paquistão oriental, e que se tornou o Bangladeche depois da guerra de libertação). O sítio publicou entretanto mais de 10 000 artigos escritos por mais de 1000 autores, traduzidos em mais de 13 línguas do mundo inteiro. Os animadores deste sítio, que trabalham numa rede cooperativa, querem estender as actividades da Tlaxcala ao maior número de línguas possível, para contribuir para a salvaguarda das línguas ameaçadas e para a preservação da diversidade linguística no mundo.
O novo sítio da Tlaxcala apresenta-se sobre uma forma de utilização mais eficaz e prática. Podemos encontrar na secção amazigue traduções de artigos de informação e de análise desde a Palestina a Israel, Afeganistão ao Paquistão, passando pelos EUA e Honduras ou pelas Filipinas e por outros temas quentes da actualidade.
Nós, amazigófonos, temos uma língua que necessita de ser falada, mas igualmente escrita. Escrever na nossa língua não significa apenas escrever provérbios, ou pequenos contos e poesia, se bem que se deva prestar homenagem a todos esses géneros literários que conseguiram preservar toda a sua riqueza ao longo dos séculos. Escrever na nossa língua, hoje em dia, deveria igualmente significar redigir artigos de análise e de pesquisa, escrever e traduzir obras de variados temas e, em particular, assuntos actuais. Trata-se de conquistar, com a nossa língua, novos territórios de conhecimentos que farão do amazigue uma língua moderna de comunicação que possa responder às necessidades contemporâneas dos seus falantes, tal como acontece em todas as línguas modernas. Uma coisa é indispensável: não devemos confinar a nossa língua numa «concha» onde ela seja unicamente usada para a expressão oral ou pela literatura popular e tradicional, mas usá-la sim também para exprimir ideias e reflexões modernas, sobre os mais diversos assuntos. A iniciativa de abrir uma secção amazigue no sítio da Tlaxcala dá-nos uma oportunidade de preservar a promover a nossa língua.
É por isso que lançamos um apelo a todos que queiram e que tenham o sonho de promover a língua amazigue, que contribuam com textos e com a sua difusão, traduzindo artigos já publicados na Tlaxcala, e que difundam esta mensagem para conseguir o maior número possível de contribuições para a secção amazigue do sítio.
Como diz um dos nossos provérbios: Afus deg ufus, taâkemt ad tifsus – Dando as mãos, a o peso fica mais leve.
Par concluir, um dado importante: reina na Tlaxcala um acordo total sobre a concepção das línguas como instrumento de comunicação universal e de abertura, e não como ferramenta de recolhimento sobre si mesmo ou como um gueto. As línguas são muitas vezes muros, e nós pretendemos fazer pontes. Aplicar este conceito progressista à língua amazigue, implica que teremos de realizar um trabalho quer de recolha quer de inovação lexicográfica para estabelecer uma língua escrita panamazigue, isto é, compreensível pela grande maioria dos amazigófonos do mundo. Este trabalho necessitará da cooperação de todas as pessoas competentes, às quais lançamos um apelo à sua participação nesta aventura necessária.

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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