O preconceito existe e deve ser severamente punido. Sobre isso não há qualquer dúvida.
Falas agressivas e que pretendam diminuir o alvo da agressão ou da suposta brincadeira devem ser repreendidas de pronto.
Mas nem tudo pode ser considerado crime. Chamar alguém de ansioso, como se fazia em relação aos paulistanos, ou de lento, como se fazia em relação aos baianos, pode ser considerado crime? Aí, ao que me parece, dependerá do contexto. Porém, certamente não é uma fala correta para os tempos atuais
Dizer que São Paulo (cidade) é estressante não é crime, é fato. Dizer que baiano é lento pode ou não ser crime. Se for dito em contraste à cidade de São Paulo, não me parece haver qualquer sentido pejorativo, embora não seja politicamente correta. Porém, se for pronunciado para caracterizar o baiano como preguiçoso, aí, sim, pode restar evidenciado o intuito discriminatório pelo inaceitável sentido de inferiorização, e será crime.
Não podemos viver em um mundo chato onde não se possa brincar com as pessoas ou as situações. O que deve haver é o respeito pelas pessoas, sem qualquer agressão direta ou indireta ou brincadeiras agressivas.
Deve ser lembrado que não conseguimos apagar de nossos hábitos valores culturais arraigados por séculos. A mudança de comportamento leva tempo, o que não quer dizer que não deva existir leis repressoras. A questão envolvida é a capacidade de interpretar as falas segundo a prejudicialidade e inferiorização envolvidas, não se podendo esquecer dos valores culturais arraigados e do tempo necessário para que possamos perceber eventuais falhas e excessos.
Ao intérprete não basta ler friamente a lei, devendo compreender corretamente os significados diante das circunstâncias, a cultura eventualmente envolvida e o tempo em relação ao que se podia dizer e aquilo que não se pode dizer mais.