O Brasil é o país do faz de conta. E nisso os nossos políticos são extremamente hábeis. Não é por outro motivo que existem as fake news de interesse político. Maqueiam a realidade, mas não resolvem problema algum. Ao contrário, expandem os problemas para além do espaço originário, alcançando mais e mais pessoas. É o caso da cracolândia na cidade de São Paulo.
A Polícia Civil interveio na cracolândia recentemente, com o apoio da Guarda Civil Metropolitana, para acabar com o controle do tráfico de drogas pelo PCC, na Praça Princesa Isabel. Com isso, os usuários foram espalhados pela rua Helvétia, há duas semanas. Os moradores de Campos Elíseos e Santa Cecília, agora, ficam temerosos de sair às ruas.
Porém, a dispersão causada pela ação governamental não causou mais segurança a ninguém. Nem aos moradores de rua da região nem aos moradores do bairro. Também não é possível afirmar que o tráfico e o consumo de drogas tenha diminuído. Ao contrário, a violência em geral só aumentou.
Não foram poucas as imagens de violência contra mulheres e homens na região. A truculência das autoridades não resolve problema algum. Ao contrário, aumenta para outras áreas e alcança mais e mais pessoas.
Nessa madrugada, após uma ação violenta da Guarda Civil Metropolitana, os antigos frequentadores da cracolândia, moradores de rua que são usuários de drogas, se revoltaram e começaram a quebrar os vidros de carros estacionados, a gritar e a bater com força em portas de prédios residenciais e comerciais. Os moradores não conseguiram dormir, motoristas tentavam fugir pela contramão. Dizem que foi um terror.
Ou as autoridades resolvem o problema, ou ele alcançará, muito em breve, toda a zona central expandida de São Paulo, incluindo aí vários bairros nobres, como Higienópolis e Pacaembú, o que, para as autoridades, poderá, aí sim, ser um problema que necessitará ser resolvido de qualquer forma, para não desagradar parte significativa da classe alta e da média alta da Capital.
É necessário atuar primeiro com ações de saúde, de tratamento e recuperação das drogas, em parceria com a sociedade civil, principalmente com quem já tem conhecimento na área, que são as Igrejas pentecostais e a Católica. Também é necessário interceder com internações voluntárias e, dependendo do caso (há a necessidade de análise de cada caso individualmente), a internação compulsória, mediante a intervenção da família ou do órgão do Ministério Público. Ao mesmo tempo, com ações sociais, entrar em contato com as famílias para elas atuarem, dando-lhes apoio e também cobrando ação, não permitindo a continuidade dessa perniciosa omissão familiar. Em terceiro, propiciar uma saída alternativa a tudo o que foi feito até agora, com inúmeras possiblidades, como grandes fazendas acolhedoras dessas pessoas, pequenos quartos construídos para cada uma dessas pessoas terem o seu canto, em prédios abandonados no centro deteriorado da capital paulista ou até mesmo na periferia. É necessário planejamento e ação. É necessário parceria. É necessário integração com diversos órgãos públicos. O que sobra, nisso tudo, no entanto, é truculência, como se essas pessoas não sofressem de carência de ação estatal e já não fossem excluídas do mínimo que a cidadania proporciona e garante.
Ações de violência policial desagradam e incomodam não só os frequentadores (pessoas em situação de rua que são dependentes) da cracolândia, mas também os moradores, também vítimas dessa situação. Essas ações podem dar a falsa impressão de que agora o Poder Público vai agir. Não. Trata-se de mera violência, sem planejamento para resolver o problema dos dependentes e dos moradores da região. O problema se espalha e se agrava a cada dia.
É necessário responsabilizar o Poder Público por negligência, ineficiência, incompetência e violência.