No dia 1º de abril comemora-se o dia da mentira no Brasil, mentira essa tão comum, seja como arma política, instrumento de difamação, de defesa contra fatos graves ou de manipulação da história. E assim é o Brasil, um país repleto de pequenas e grandes mentiras.
Com essas mentiras impregnando mentes e almas, muitos vivem em mundos verdadeiramente paralelos, com "aparentes realidades distintas" como se o multiverso estivesse sendo comprovado às claras para quem quiser ver.
São incontáveis as mentiras aplicadas ao longo da trajetória política brasileira. Dentre essas mentiras, oculta-se as dores da guerra de Canudos; da escravidão, dos escravos e seus descedentes até os dias atuais; do heroísmo dos intelectuais em exporem suas ideias e críticas em um país dominado pelo poder centrado em poucos, ao contrário do que prega uma democracia real. No Brasil, as famílias poderosas de hoje em dia são praticamente as mesmas que dominavam o cenários anos, décadas e séculos atrás.
A verdade ajudaria muito a mudar essa realidade, mas querem ocultá-la de nós e nos fazer crer na mentira reiterada.
A ditadura não foi boa em nenhum aspecto ao Brasil. Na economia surfou, nos primeiros anos, no boom econômico do trabalhismo, mas logo depois fez agravar o endividamento e a inflação, ampliando a miséria dos que nada têm. No aspecto social fez aumentar a miséria e as favelas nas médias e grandes cidades brasileiras. No aspecto cultural e educacional fez aumentar os iletrados, a baixa capacidade de compreensão dos textos que se lê e propagou a sensualidade banal como arte, proibindo a criticidade. A imprensa era calada à força e somente podia publicar o que o regime autorizasse. Grandes conglomerados associados de certa forma à ditadura surgiram e cresceram (SBT, Globo), enquanto outros eras cassados (TV Excelsior). A ditadura ainda perseguiu, torturou e assassinou milhares de brasileiros, deixou órfãos e os detentores do poder ainda, de forma abjeta e cruel, adotaram filhos de presos políticos, como viria a ocorrer com mais intensidade na Argentina.
Os torturadores aprenderam as técnicas da tortura com forças francesas, que massacravam os argelinos, e ensinou aos vizinhos do Cone Sul.
A ditadura retirou do poder um brasileiro nacionalista e idealista, João Goulart, que teve a coragem, como ministro do Trabalho de Getúlio Vargas, de dobrar o valor do salário mínimo e de, ao receber a informação de que uma frota dos Estados Unidos se aproximava do Brasil no dia do golpe de 31 de março/1º de abril de 1964, dar a ordem a parte do exército ainda leal a ele de não reagir, pois queria evitar um banho de sangue de brasileiros. Para ele o poder de nada valia sem que a vida dos brasileiros fosse garantida. Assim, preservou a vida de milhões de nacionais, que poderiam ter perdido a vida num eventual combate entre as forças leais e as golpistas, essas que contavam com o apoio dos Estados Unidos e de agentes da CIA infiltrados no nordeste.
Ainda acusavam João Goulart de comunista, como se isso fosse crime, mas o fato é que João Goulart, ou Jango, era um latifundiário, sem qualquer formação ideológica nesse sentido ou apreço pelo comunismo.
Também sempre ocultaram dos brasileiros que no mês do golpe, março de 1964, houve um enorme recorde no ingresso de estadunidenses no país, que se destinavam ao nordeste. A inteligência brasileira já apontava para o grave risco de fragmentação do país com guerrilhas localizadas nos diversos Estados do Nordeste. Caso o Brasil entrasse em guerra civil, a ideia do governo dos Estados Unidos era fragmentar o enorme território brasileiro em pequenas republiquetas. Obviamente, quase todas elas seriam aliadas dos Estados Unidos, vencendo as forças leais ao então governador socialista Miguel Arraes, concentrando-se o confronto no Rio Grande do Sul, sempre leal ao trabalhismo de Vargas e João Goulart.
Obviamente a mentira não se resume à ditadura dita civil-militar de 1964. Ela ocorre até hoje. Basta ouvir os discursos do atual presidente da República para perceber a intenção de modificar a realidade. A máquina de fake news que foi utilizada na campanha presidencial de 2018 e que continua a contaminar as mídias sociais até hoje também evidencia o recurso político da mentira reiterada e propagada ao vento como arma de difamação dos adversários e de distorção da realidade.
A verdade, e apenas ela, nos libertará, mas quando o povo brasileiro terá acesso e direito a ela? Quando poderá se deparar com o seu passado e o seu presente sem distorções intencionais? Quando poderá por fim aos efeitos perversos da longa escravidão que perdura até hoje? Quando?
Já passou da hora de colocar essas verdades aos brasileiros. A verdade, essa verdade revelada, revolucionará mente e almas e será a arma mais contundente a exigir mudança no comportamento dos agentes políticos e públicos do país.
Que a verdade possa surgir e revolucionar sem sangue o nosso presente e o futuro do nosso país.