Os jovens brasileiros dão sinais claros de mudanças. Já não aceitam os preconceitos contra os homossexuais; os jovens masculinos ousam vestir saias em protestos; e hoje há mais manifestações populares do que anos atrás.
Como democrata, sou favorável aos protestos. Contudo, tenho ressalvas quanto às obstruções às vias públicas, onde transitam veículos. Penso que as praças seriam os locais mais adequados para as manifestações, como ocorreu tantas vezes anteriormente, inclusive na famosa e gigante manifestação pelas Diretas-Já, na Praça da Sé. E isso em respeito a outras pessoas que voltam cansadas do seu trabalho e utilizam as vias públicas como acesso a suas residências.
Contudo, em uma cidade em que se valorizam mais as avenidas e o transporte individual motorizado, não causa espanto que as manifestações hoje em dia se deem nesses locais. São os locais mais “sagrados” aos paulistanos.
O dizer “NÃO” é salutar a um povo tão pacífico e que dificilmente reivindica algo. Os brasileiros, num primeiro momento, não se opuseram ao golpe de 1964. Os brasileiros, também num primeiro momento, não se inconformaram com a morte havida antes da posse do primeiro presidente civil pós-ditadura de 1964. O brasileiro não se manifesta contra os altos preços nem contra a falta de bom atendimento em alguns serviços públicos. O brasileiro também se conforma com o mau atendimento de algumas empresas que detém oligopólios, como na área da telefonia. O brasileiro pouco exige dos seus governantes e dos políticos que elegeu. O brasileiro, enfim, tem pouca noção da cidadania e do seu direito-dever de manifestar-se. E quando vota, tende a eleger o candidato mais engraçado, mais bonito ou que faça o melhor marketing, e não aquele mais sério e idealista.
Voltando à questão das manifestações, tenho que realçar que como cidadão não sou favorável à depredação do patrimônio público ou privado. Entendo que a cidadania exige ação respeitosa dos dois lados, ou seja, do lado do governo e do lado da população e manifestantes.
No entanto, ao que consta, ao contrário do que aduz parte de uma imprensa tendenciosa, que parece não gostar da discussão, de questões humanitárias, de cidadania e de direitos humanos, houve excessos, sejam de alguns manifestantes, sejam de algumas autoridades policiais. Consta que houve a prisão de jornalistas e de fotógrafos, o que não é nada bom para um país que se diz democrata. A liberdade de cobertura jornalística e de expressão são valores caríssimos à democracia, ainda que parte da imprensa não preze e não tenha prezado tanto pela democracia nessas últimas décadas.
O que pode ser pouco para alguns brasileiros mais abastados, 20 centavos, é muito para quem ganha pouco.
O transporte, em São Paulo, pode ser relativamente barato para quem ganha bem, mas não o é para quem ganha um salário mínimo ou pouco mais que isso. O transporte em São Paulo não custa pouco, se comparado aos preços irrisórios cobrados em outras cidades da América Latina, onde podem ser destacadas as capitais Caracas e Buenos Aires. Lá o metrô custa menos do equivalente a um real.
No geral, viver em São Paulo é caríssimo, face aos altos preços do transporte público, das refeições, dos shows e das atividades culturais, além das escolas particulares, dos hotéis, dos aluguéis e também dos imóveis.
A população menos abastada é praticamente excluída de sua cidadania nessa megalópole que é São Paulo. E as manifestações significam, na minha ótica, a busca pelo direito à inserção na cidadania, inclusive o direito de dizer não às políticas públicas adotadas pelos governos de todas as esferas.
Viva as manifestações! Viva o reinício das reivindicações nesse país que tanto precisa avançar em aspectos de cidadania, direitos civis, direitos humanos, saúde, educação, segurança pública e tecnologia.
Talvez este seja apenas o começo de uma grande mudança de um povo acostumado a ser submisso aos desmandos de seus governantes.
Podemos começar a cobrar os avanços sociais, culturais, educacionais e políticos que faltam. Podemos fazer um novo Brasil.
O Brasil começa a entrar numa nova era.