As feridas abertas são as que mais atormentam, pois trazem à tona a dor sofrida. Podemos nos calar diante do presente e resignarmo-nos. Também podemos olhar ao redor e visualizar o horizonte nunca enxergado. Cabe a nós escolher o tipo de olhar perante a realidade: o egocêntrico e o comum ou o desbravador, também chamado de louco ou lunático.
Todos os grandes cientistas e intelectuais se destacaram pela excentricidade, pela diferença de ação e de compreensão.
Todos os grandes tiranos aproveitam-se do discurso fácil para amealhar simpatizantes e impor desumanidades. Não utilizam o olhar desbravador. Na verdade, os ditadores são, em regra, grandes conhecedores do olhar comum e egocêntrico, tendo por isso grande facilidade de convencimento da massa.
Os olhares nos impõem a realidade. Cremos no que conseguimos enxergar, limitando-nos a compreender apenas o que todos já conhecem ou têm capacidade de conhecer. Somos arrogantes e cremos que a nossa inteligência é suprema.
Somos tão arrogantes que não acreditamos na existência de vida inteligente fora do planeta terra. Nessa imensidão do universo não dá para acreditar que há apenas os humanos para brilhar no reino animal.
Também somos tão arrogantes que cremos apenas na vida que compreendemos: do nascimento à morte e apenas isso. Ao contrário das religiões primitivas, não acreditamos em reencarnação. Vivemos, na verdade, sob a influência da maior religião de todas e da que mais tem fiéis: a religião do capital, do dinheiro. Temos que viver o hoje, consumir compulsivamente e sorrir freneticamente. Somos seres infelizes que não enxerga o império do consumo.
Não enxergamos a Deus, mas ao capital, àquilo que poderia ser definido como bezerro de ouro. A religiosidade? Isso é assunto ultrapassado. O moderno e Cult é “viver”, consumir, sorrir compulsivamente, ostentar e ter uma série de conhecidos. Amigos? São amigos até que não precisemos mais deles. Consumimos tudo, até as relações e os humanos envolvidos.
Esse olhar? É o olhar pequeno, que não observa a natureza, mas apenas o que quase todos veem: a criações humanas, quase sempre tão desnecessárias, mas presentes, como se fossemos seres superiores aos que coabitam conosco neste desconhecido universo.
Afinal, para que olhar, se hoje em dia o que importa é ser visto, não é mesmo?