quinta-feira, 30 de junho de 2011

lembrança do mês de maio... mês do trabalho


Maio, Nosso Maio from estúdio on Vimeo.

Produção e direção: Farid Abdelnour



Ilustração: Nara Oliveira


Narração: Chico Nogueira, Anahi Nogueira e Fabíola Resende


Realização: Estúdio Gunga

quarta-feira, 29 de junho de 2011

As consequências do novo código florestal


“O sertão vai virar mar, e o mar virar sertão”. A profecia do beato Antônio Conselheiro, que já virou até tema de música, parece absurda, mas nos últimos anos tem se tornado cada vez mais real, com catástrofes como, por exemplo, as grandes inundações no nordeste brasileiro. A recente decisão da Câmara dos Deputados de alterar o código florestal do país é uma mostra de que, no entanto, a natureza não age sozinha. Movimentos sociais, ambientalistas, parlamentares, cientistas e ex-ministros do meio ambiente consideram que as conseqüências dessas alterações no código florestal podem ser muito danosas para a população brasileira. O texto ainda precisar ser aprovado pelo Senado e sancionado pela presidente Dilma Roussef antes que passe a vigorar. Com isso, movimentos sociais acreditam que ainda é possível reverter o quadro.

No último dia 24 de maio, quando a proposta foi apreciada na Câmara, apenas 63 deputados foram contra as alterações, enquanto 410 as aprovaram. “O resultado revela que a cultura do cuidado ambiental, de tudo isso que o planeta vem nos alertando, com o aquecimento global, os extremos climáticos, os processos de desertificação, ainda não é hegemônica na própria sociedade brasileira. Se houvesse um plebiscito nacional sobre o código florestal, eu tenho a impressão de que a manutenção do atual código venceria”, avalia o deputado federal Chico Alencar (Psol/RJ). Entre os partidos políticos, Psol e PV foram os únicos unânimes na crítica à proposta e na defesa do atual código florestal. Embora o governo tenha criticado alguns pontos da proposta, dos 81 parlamentares do PT que votaram, somente 35 se posicionaram contra as alterações na lei. (Veja a lista dos votantes) “O que me choca bastante é não se perceber que uma das singularidades e força do Brasil no mundo é a nossa biodiversidade, que está rigorosamente ameaçada”, diz Chico Alencar.

Para o professor-pesquisador da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) André Burigo, se o código for aprovado também no Senado e sancionado pela presidente, o país também perde a oportunidade de discutir o modelo de desenvolvimento para o campo brasileiro. “O Brasil é o país que concentra a maior disponibilidade de terras férteis e aráveis e também a maior quantidade de água doce. Esse debate do código florestal não cabe, portanto, a um grupo pequeno, mas a toda a sociedade”, defende. O pesquisador lembra que no mesmo dia em que o código foi votado na Câmara dos Deputados dois militantes que atuavam em defesa do modelo agroecológico para a agricultura brasileira foram assassinados no Pará. “A morte de José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva não foi uma triste coincidência, porque todos os dias são assassinados trabalhadores rurais pobres no campo brasileiro, mas o fato ajuda a engrossar o grito em defesa da floresta e da biodiversidade, no sentido de que o modelo de desenvolvimento para o campo não pode ser discutido de maneira fragmentada. Não há esforços do governo federal de enfrentar o debate do modelo de desenvolvimento no campo”, critica.
Principais mudanças
Entre as principais mudanças aprovadas pela Câmara dos Deputados está a permissão para atividades de agricultura e pecuária em Áreas de Preservação Permanente (APP), como encostas, topos de morro e margem de rios, que já tenham sido ocupadas com essas atividades até julho de 2008. Para o engenheiro florestal Luiz Zarref, da Via Campesina, essas alterações implicam problemas graves, como o avanço ainda maior do desmatamento. Ele comenta que há um equívoco na interpretação do que pode ser considerado como áreas já ocupadas. O texto usa o termo “áreas consolidadas” para se referir aos espaços onde já existem essas atividades. “Essa regra da área consolidada só deveria valer para a agricultura familiar, porque a agricultura familiar tem hábitos históricos e centenários de cultivos nessas áreas. Já o latifúndio normalmente se expande por fronteira agrícola, que foi desmatada nos últimos 20 anos. Então, não dá para considerar áreas consolidadas dos grandes”, critica. Zarref acredita que mesmo sem ainda estar vigorando, foi justamente essa concepção que acarretou um grande aumento do desmatamento anunciado recentemente pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), que detectou a derrubada de 477 km² de floresta no Mato Grosso. “O texto diz que o que foi desmatado até 2008 é que será considerado como área consolidada, mas quem garante que determinada área foi mesmo desmatada até 2008 e não agora em 2011? Por imagem de satélite? Nem todo o país é coberto por imagem de satélite”, questiona.
O novo texto prevê também que as propriedades rurais podem abrir mão da chamada reserva legal, até então obrigatória em todas as propriedades, desde que em qualquer parte do mesmo bioma, o proprietário mantenha outra área de reserva. Isso significa que se uma propriedade no estado de Minas Gerais, por exemplo, não quiser manter a reserva legal, poderá arrendar ou comprar uma área no sul do Maranhão, onde também vigora o bioma Cerrado, e mantê-la como reserva. Segundo Zaref, a não obrigatoriedade de manter reserva legal na mesma microbacia, como prevê o código ainda em vigor, tem um impacto direto na vida das pessoas daquele território. Ele exemplifica: “Se uma pessoa tem mil hectares aqui em Brasília e compra um território para preservar lá no interior do Maranhão, o impacto nos recursos hídricos, na temperatura, na poluição, no solo, que esse latifúndio faz aqui em Brasília, não terá nenhuma compensação”.

O engenheiro florestal afirma ainda que, além das questões ambientais, uma das consequências dessas mudanças é a expulsão de trabalhadores rurais do campo. “As terras dos agricultores familiares são, em sua imensa maioria, as terras mais baratas. E o latifundiário não vai pagar uma fortuna em um hectare de uma terra plana, ele vai comprar justamente as terras das comunidades quilombolas, tradicionais, que têm baixo valor de mercado. Em uma mesma região, há terras planas, normalmente onde estão os latifúndios, que custam R$ 20 mil o hectare e terras dos agricultores familiares que custam R$ 2 mil, R$ 3 mil, e que geralmente já estão mais ou menos preservadas. Então, haverá um aliciamento muito grande dos latifúndios em tornos dos agricultores familiares”, alerta. Outras alterações são a permissão de plantação de 50% de espécies exóticas – não-nativas – para a recomposição da reserva legal e a definição de que propriedades com tamanhos de até quatro módulos fiscais possam manter como reserva apenas as áreas que ainda permanecem preservadas, sem a necessidade de recomposição. “Isso tem um grande impacto: significa reverter todo o processo da legislação ambiental em curso. Com essas mudanças, o objetivo passa a ser proteger os desmatadores e não a biodiversidade”, observa. Zarref explica que ao permitir que as propriedades com até quatro módulos fiscais mantenham como reserva legal apenas as áreas ainda não desmatadas até 2008 e não obrigar o reflorestamento, a nova lei não impede que as grandes propriedades usem artifícios como o registro em várias matrículas de quatro módulos para não terem que manter a reserva.

O deputado Chico Alencar destaca que outro aspecto grave no novo texto é a atribuição dada aos estados de emitir licenças ambientais. “O poder local é muito mais vulnerável às pressões. Os latifundiários, os grandes produtores, o agronegócio tem muita força política e financia muitas campanhas”, diz.

O texto em discussão no congresso prevê ainda que as multas decorrentes do desmatamento ilegal aplicadas até julho de 2008 sejam anistiadas. A data se refere ao período no qual foi publicado o segundo decreto (6.514/08 ) que regulamentou as infrações contra o meio ambiente com base na lei 9.605/98. De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), até essa data há cerca de 13 mil multas, com valor total de R$ 2,4 bilhões ainda não pagos. “Muitos parlamentares que votaram o código são diretamente interessados nisso. Eles se livraram de muitas multas”, afirma Chico Alencar.

Saúde humana e ambiental

Se a nova proposta do código prejudica a população do campo, sobretudo os pequenos agricultores, quais são os impactos das mudanças na saúde e qualidade de vida da população brasileira de um modo geral, inclusive das cidades? Um recurso natural que pode ser muito prejudicado com as mudanças é a água. “O impacto mais grave é nos recursos hídricos. Vamos ter muito provavelmente uma crise de recursos hídricos. O que está sendo feito nas áreas de preservação permanente e reservas legais tem impacto em toda a bacia hidrográfica do Brasil. Os principais rios são alimentados por rios pequenos e que são muito vulneráveis a essas modificações, já que muitos nascem nas reservas e passam pelas propriedades que deixaram de manter as matas ciliares“, explica Zarref. “Haverá um impacto também no regime de chuvas. Além da própria poluição que poderá aumentar porque diminuirá o número de florestas”, completa. André Burigo acrescenta que outro problema é a contaminação dos rios por agrotóxicos. “Sem a mata ciliar, os produtos químicos utilizados na agricultura e na pastagem também ficam nos cursos d’agua, que migram em direção às cidades, já que as cidades no Brasil ficam muito próximas dos rios”, afirma. O pesquisador concorda que os cursos d’água podem diminuir, já que sem mata ciliar o volume dos rios diminui.

De acordo com Zarref, além de todas essas consequências para a saúde humana e ambiental, um grave problema que pode ocorrer a curto prazo é o aumento das inundações. “Com a reserva legal, é possível segurar a chuva. Sem reserva, fica mais difícil. A catástrofe no Rio de Janeiro no início deste ano mostra isso. Aparentemente é uma região com floresta, mas na realidade aquela foi uma região de cafeicultura. Há cerca de 40 anos não se planta mais café na região, mas as árvores que estão lá são frágeis, porque compõem o que chamamos de regeneração. Então, para aquele volume de chuvas, essa floresta não consegue segurar. Uma floresta nativa provavelmente conseguiria”, explica.

Além disso, André alerta que outros agravos à saúde humana podem acontecer. “Existem surpresas que a floresta pode reservar ao homem quando ele desmata. Por exemplo, doenças podem se urbanizar nesse processo. O homem pode se tornar o principal reservatório para aquela doença que antes tinha os animais silvestres como os principais reservatórios. Então, há uma série de incertezas à medida que o homem desequilibra os ecossistemas e impacta a biodiversidade”, aponta.

Para o professor, o código é um sinal verde para o desmatamento e, com isso, outro grande prejuízo é a perda da riqueza da biodiversidade brasileira. “Pode haver uma grande perda em relação à riqueza de produtos ainda não conhecidos da floresta, uma riqueza que pode contribuir no processo de cura para uma série de doenças. E que vai se perdendo à medida que a destruição avança sem essas reflexões”.

Mobilização

Para o deputado Chico Alencar, se a proposta do novo código florestal de fato for aprovada, toda a população brasileira sairá perdendo. “Quem perde é a população, a biodiversidade brasileira e o planeta. Perde também o preceito constitucional que diz que toda propriedade tem um dever social, isto é, o direito de propriedade não é ilimitado”. Para ele, ainda há muita força política dos segmentos que defendem o latifúndio. “É curioso que boa parte dos que votaram pela decepação do código são contra a Emenda Constitucional (PEC 438/2001), que confisca terras em caso de trabalho escravo”, observa. O parlamentar reforça que uma decisão importante como essa deveria ser tomada com base em instrumentos de consulta popular como o plebiscito e o referendo.

De acordo com Zarref, a Via Campesina apoia a proposta de usar esses instrumentos de consulta popular. “Toda a população brasileira tem que opinar. A grande transformação do código florestal de 1965 é a definição das florestas como bens de interesse comum da sociedade brasileira, acima de qualquer interesse privado. O próprio código de 1934 já trazia isso. Então, nada mais justo do que a população decidir sobre esse bem que é dela”, opina. Segundo ele, a Via Campesina continuará mobilizada para barrar as alterações do código florestal.

O pesquisador André Burigo lembra que no próximo ano o Brasil sediará a conferência Rio +20, uma iniciativa que visa discutir os rumos da preservação ambiental 20 anos depois da Eco 92. “É essa a resposta que o governo e os representantes do legislativo estão dando de como o Brasil pensa o seu projeto de desenvolvimento para os próximos anos e de como vai enfrentar a questão das mudanças climáticas, do aquecimento global? É essa a concepção de desenvolvimento sustentável?”, pergunta. “Esse é um questionamento que tem que ser feito agora e essa conta tem que ser cobrada na Rio + 20″, ressalta.

(*) Reportagem publicada originalmente na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (ESPJV-Fiocruz).

terça-feira, 28 de junho de 2011

SÃO PAULO É O ESTADO COM MAIOR NÚMERO DE NEGROS

São Paulo é o estado brasileiro com o maior número de negros, como mostra Paulo Henrique Amorim ao transcrever artigo de Alexandre Braga.
Segundo a matéria, a cidade de São Paulo concentra quase 3 milhões de negros, o Rio  2,3 milhões, e Salvador 1,8 milhões de negros.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

AFEGANISTÃO: A AMEAÇA DO TERROR

A jornalista Ana Paula Padrão,  apresentadora do Jornal da Record, foi até o Afeganistão para mostrar o que está acontecendo no país que é símbolo de conflitos e fez uma série de entrevistas que foram ao ar naquele telejornal. Clique aqui para acessar os vídeos mais que interessantes. e conheça um pouco mais de uma país que não é árabe, mas utiliza o alfabeto árabe para a sua língua e é muçulmano.

domingo, 26 de junho de 2011

Trabalho escravo ainda faz 20 mil vítimas no país, diz MPT

Débora Zampier Agência Brasil

Brasília - O Brasil ainda tem cerca de 20 mil trabalhadores que atuam em condição análoga à escravidão e os atuais métodos de combate à prática criminosa ainda não são suficientes para zerar a conta. Quem admite a situação é o Ministério Público do Trabalho (MPT) que lançou hoje (27) uma campanha nacional para sensibilizar a sociedade desse problema que persiste mais de um século depois do fim da escravidão no país. A campanha busca atingir empresários, sociedade e trabalhadores por meio de propagandas de TV, rádio e uma cartilha explicativa.

A ideia é mostrar que o trabalho escravo não se configura apenas pela situação em que o trabalhador está preso em alguma propriedade no interior, sem comunicação. “A legislação penal brasileira mudou em 2003 e incluiu condições degradantes de trabalho e jornadas exaustivas como situações de trabalho escravo. O trabalho escravo não é só o que tem cerceio de liberdade, pode ser psicológico, moral”, explica Débora Tito Farias, coordenadora nacional de erradicação do trabalho escravo do MPT.

Essa mudança na percepção está levando os órgãos fiscalizadores a encontrar novas situações de trabalho degradante também no meio urbano, como em confecções e na construção civil. A campanha pretende ajudar a sociedade a identificar e denunciar essas práticas. “A pressão social hoje é um fator muito importante em qualquer tipo de campanha. É importante que a sociedade perceba que a comida, o vestido pode ter um componente de trabalho escravo”, afirma o procurador-geral do Trabalho, Otávio Lopes.

Segundo o procurador, a compra de produtos que respeitem a dignidade humana deve ser vista da mesma forma que já ocorre com produtos orgânicos e com a preservação da natureza. Atualmente, uma lista do Ministério do Trabalho detalha os empregadores que submeteram trabalhadores à condição análoga a de escravo. Mais conhecida como lista suja do trabalho, a publicação tem hoje 210 empregadores listados.

Lopes afirma que o principal problema para zerar o trabalho escravo no Brasil é a reincidência, uma vez que muitos trabalhadores resgatados e não qualificados acabam voltando para a situação que tinham antes. “Quando tiramos aquela pessoa da situação de trabalho e não damos uma alternativa de qualificação, não estamos ajudando, estamos enganando.”
De acordo com o MPT, as parcerias para qualificação do trabalhador estão sendo firmadas com administrações estaduais e locais, de acordo com a necessidade econômica de cada região.

sábado, 25 de junho de 2011

Irã visto, sem intermediários, pelo olhar brasileiro

PÁTRIA LATINA
Texto e fotos: Chico Sant'Anna

Visto de perto, sem as mediações da grande mídia internacional, o Irã não parece nem de perto com o que vemos rotineiramente na televisão. O texto que segue é fruto de uma viagem de dez dias, a convite do Ministério do Turismo do Irã, ao país considerado o centro do “Eixo do Mal” pelos Estados Unidos. A leitura do texto que segue desmonta esta versão.

2h30 da manhã, 30 de favardin de 1390. Estamos no Irã. Aqui prevalece o calendário solar, também denominado Persa. Os meses são definidos pelos movimentos solares através do zodíaco. O primeiro dia do ano, 1º de favardin, equivale ao nosso dia 20 ou 21 de março, dependendo da ocorrência do equinócio. Depois de mais de um dia de viagem, saindo de Brasília, chegamos à “última parada” ou ao “fim da linha”. Não se trata de juízo de valor, mas sim o significado em farsi da palavra Teerã, quando era uma pequena aldeia no fim de uma rota de caravanas.

Sob o olhar severo de um grande pôster do Aiatolá Khomeini, encontro-me na fila da migração para estrangeiros. Confesso que, diante do oficial de polícia que fitava minha face, cutucava o computador e xeretava meu passaporte cheio de carimbos, inclusive de entrada nos EUA, não estava tranqüilo.

50 Km separam o aeroporto Aiatolá Khomeini do centro da cidade. Começam as surpresas: uma autopista bem cuidada faz a conexão. As ruas são limpíssimas, não se vê favelas, nem barracos ao longo da rodovia. Enfim, chegamos ao Laleh International Hotel, um cinco estrelas que em 1979, com a revolução islâmica, deixou de ser Intercontinental.

Teerã é uma metrópole de 9 milhões de habitantes aos pés das montanhas Alborz. Coberta de neve ela dá um toque úmido ao clima. Com a região metropolitana, a população sobe a 14 milhões, dos 60 milhões de iranianos. Ela concentra mais da metade da indústria nacional. Fábricas de eletro-eletrônicos, armamentos, têxteis, açúcar, cimento, químicos, refinaria de petróleo e automóveis. São produzidos mais de um milhão de veículos por ano. Destaque para o carro de tecnologia nacional: Samana (cavalo, em Farsi) .

Aos poucos, percebe-se que várias imagens transmitidas pela mídia internacional são inverídicas. O Estado se faz presente, mas o Irã está longe de ser um país socialista. O capital privado é visível e o que não falta são bancos. O comércio e a construção civil são intensos a olho nu. Estamos longe de vivenciarmos um país destruído pela guerra e pelas sanções econômicas imposta pela ONU a pedido das grandes potências. O Irã contorna as dificuldades infligidas pelo bloqueio. Desde 2002, cresce a uma média de 6% ao ano, possuiu uma indústria de defesa avançada, produz seus próprios submarinos e se prepara para enviar o primeiro iraniano ao espaço.

Teerã conta com metrô e linhas expressas de ônibus articulados, mas nada alivia o trânsito, intenso e indisciplinado. Motoboys com suas motos encapotadas deixam a irreverência dos colegas brasileiros no chinelo. Faltou espaço nas avenidas, a calçada dos pedestres vira um bom atalho. Faixa contínua e “gelo baiano” não são impedimentos para cruzar-se, de um lado ao outro, as grandes avenidas (por sinal retorno e balões são mecanismos inexistentes em Teerã). O melhor é que ninguém buzina, nem mesmo xinga os barbeiros e não se vê acidentes.

6h30 da manhã. Um canto choroso corta os ruídos da metrópole. Um mulá, de seu minarete, convida os muçulmanos a rezar. Nos cada quartos dos hotéis há uma seta apontando a correta direção para Meca e nas gavetas da mesa de cabeceira, o Alcorão, em inglês e farsi e um pequeno tapete para que os fiéis orem.

O som dos minaretes também significa hora de acordar e de sair às ruas para conhecer o tão temido país do “eixo do mal”. Antes, o café da manhã. Uma espécie de coalhada síria que pode ser misturada com mel ou com compota de morangos nos espera. O taftun, pão persa, feito de farinha integral de trigo é imperdível. Fininho, ele acompanha todas as refeições. Pode ser apreciado quente com uma espécie de ricota sobre ele espalhada. Pepinos e tomates frescos também fazem parte da primeira refeição dos iranianos.

Texto legenda- A produção do taftun se dá em fornos de barro, do tipo de assar pizza, recheados de bolinhas de argila expandida. A massa é jogada sobre as bolinhas e lá fica até assar. Eles são pendurados e os consumidores – num estilo meio francês – os levam sem qualquer embalagem. Algumas bicicletas e motonetas possuem uma cestinha apropriada para a iguaria.

Falando em coalhada, o Irã é o maior mercado de iogurtes do mundo. Lá, é chamado de Cost e são vários os tipos de iogurtes. Podem ser consumidos acompanhando as refeições, como antepasto misturado a vegetais como pepino ou alho, como molho para saladas, como sobremesa e até como bebida. O Dough ou Dugh é mais ralo que o iogurte brasileiro, pode ser batido com hortelã ou espinafre e tem um gosto agre. Tem quem goste.

Nas manchetes do dia – em inglês, é claro - os avanços econômicos do país. O Tehran Times, que circula em inglês há 33 anos, registra o volume recorde de negociações da Bolsa de Valores: 12,5 bilhões de dólares, o maior em 44 anos. Ainda em destaque, as negociações para a criação do bloco de integração regional reunindo Irã, Turquia e Azerbaijão e a intenção do Irã celebrar acordos com os BRICs. A questão nuclear não fica de fora. O domínio da tecnologia das centrifugas de 3ª geração é a manchete principal. Por sua vez, o Irã News proclama que as reservas de ouro da mina de Tabak estão em quatro milhões de tonelada e poderão proporcionar 10 anos de segurança econômica.

Finalmente saio às ruas. O povo iraniano é parecido com o brasileiro. Não apenas em termos físicos. É alegre, acolhedor, bastante comunicativo e solidário. Passeiam até altas horas pelas alamedas floridas, hidratadas por fontes de água. As principais cidades iranianas possuem um tipo de rede de umidificadores. Canaletas ao lado das vias são freqüentemente inundadas para atenuar o calor e a secura. A técnica data do Império Persa e seria uma boa dica para a seca de Brasília.

Com minha máquina fotográfica, sinto-me, nas avenidas de Teerã, como se fora um caçador de aves no meio do Pantanal: a cada mulher de hijab, véu, que passa na rua miro a objetiva para tentar capturar a imagem. São tantas, que fico assim meio perdido, virando de um lado ao outro. Logo se percebe outra imagem caricata que poderia ser incluída no rol das lendas internacionais. É certo que todas as mulheres usam o véu, mas portá-lo está longe de representar subjulgação feminina.

Elas estão por todas as partes e possuem uma atuação forte na vida política e econômica nacional. Representam 17% da mão-de-obra contratada, com maior concentração nos setores industrial e agrícola, 26%. Nas altas funções parlamentares e de governo, ocupam 16% das vagas, segundo o Centro de Defesa da Mulher e da Família – CDMF, órgão vinculado à presidência do Irã. Para facilitar a entrada no mercado de trabalho, programas de capacitação profissional de mulheres estão sendo realizados.

“Até na guerra contra o Iraque as mulheres lutaram com hijab. Após a revolução, as mulheres passaram a ter um papel mais importante focado na produção do pensamento. Isto permitiu que entrassem em áreas importantes. Hoje as mulheres estão informadas de tudo que acontece no país. Temos mulheres no Parlamento, nas ciências, medicina, empresárias e até no esporte. Mesmo com a roupa islâmica, temos ganhado várias medalhas.” – salienta Maryam Mojatahedzadeh, presidente do CDMF.

A assalariada tem direito a salário igual aos homens, contam com estabilidade no emprego para a gestante, licença gravidez de seis meses e de aleitamento por dois anos. Nas universidades, desde 1979, houve um crescimento de 70% e hoje representam 65% dos 3,5 milhões de universitários iranianos. São inverídicas as versões de que só podem sair acompanhadas pelos homens. Ao celular, ao volante, nas escolas, estão em todas as partes e primam pela elegância. Embora a cor preta seja uma distinção religiosa, nos mercados e bazares é possível notar que os coloridos das brilhantes sedas atraem o desejo feminino.

Não há burcas no Irã, elas são típicas do Afeganistão, e são vários os tipos de véus e várias as cores e que elas possuem uma simbologia (leia quadro nesta reportagem). Tive a oportunidade de conversar jornalisticamente com algumas mulheres de idades e percepções diferentes quanto ao véu.

Neguin – que em farsi significa brilhante – é tecnóloga em indústrias gráficas. Encontrei-a com outras amigas, lanchando num parque, outrora residência de verão do Xá Reza Pahlavi. As residências do ex-monarca do Irã se transformaram em museus e parques. A entrada custa entre US$ 1,50 e US$ 3,00 e maiores de 60 anos não pagam. Vaidosa, unhas pintadas com adereços em alto relevo, bastante maquiada, conversa fluentemente em inglês. Não reclama do uso do véu – que por sinal lhe cai muito bem -, mas ressalta que aos 22 anos gostaria de ter mais opções de lazer. Acha a vida em Teerã “chata”. “Não há vida noturna, nem boates.” Para se divertir, restaurantes, cinema e cafés, onde também é possível fumar o narguilé - um tipo de cachimbo em louça ou vidro utilizado para fumar. Os jovens costumam fumar o narguilé em praças e parques públicos. Como o chimarão, é uma forma de socialização de grupos de amigos.

Neguin reclama ter de trabalhar muito com direito a poucas férias (no Irã a cada 4 meses, o empregado tem direito a uma semana de folga). Diz que não pode namorar livremente, pois seu pai a vigia. Indagada se pensa em se casar, acena negativamente com a cabeça e ressalta que por enquanto não pensa nisso. Antes gostaria de viajar e conhecer a Espanha, Austrália, Estados Unidos e, risonha, o Brasil

No sítio arqueológico de Persepolis, antiga capital do Império Persa, situada a 70 km de Shiraz, encontrei duas amigas: Massi e Bahar. Ambas com 25 anos. Uma é contabilista, outra aeroviária. Pediram-me para tirar uma foto. As duas portavam véus. Minutos depois, em um canto mais isolado, reencontro-as e me pedem nova foto. No momento do clik, retiram seus véus. Minha sensação é que fora um ato de rebeldia, de audácia, como quem faz um topless em uma praia proibida. Puxo a conversa e me dizem que gostam de ir a shows, mas os espetáculos são organizados alternadamente para homens e mulheres. “isso é muito chato, não podemos paquerar”, afirma Massi.

Kimia, 15 anos, um inglês perfeito – a maioria dos jovens fala muito bem o inglês -, vem conversar na porta de outra ex-residência, a de inverno, de Pahlavi. Com seu uniforme escolar azulado, quer saber tanto de nós quanto nós dela. É ela quem sai à frente. Indaga se somos da Amerika (dos EUA) e o que fazíamos lá. Do Brezilia (pronúncia de Brasil) ela e suas amigas de colégio sabem muito pouco. Apenas uma delas sabia o nome de uma cidade brasileira: Rio de Janeiro. Ninguém conhecia Brasília e algumas achavam que Buenos Aires era a nossa capital.

Estudante de segundo grau, se considera feliz, mas que gostaria de “ser livre”. Pergunto o que significa ser livre, se deseja deixar o país. Responde-me negativamente. Diz que gosta do Irã, que até gostaria de fazer estudos de genética no Canadá, mas que voltaria a morar no Irã. Liberdade para Kimia era não ser obrigada a usar véu. No sistema escolar iraniano, o ensino até a faculdade não é misto. Há colégio para meninos e meninas. Os garotos, mesmo os pequenos, portam suas gravatinhas e paletós como uniforme escolar. Nas atividades externas, uma fila para os garotos, outra para as meninas.

Outras mulheres não sentem o uso obrigatório do véu como limitação. Ao contrário, consideram que lhes dá paz, proteção e que realça o valor da mulher enquanto ser humano. “Acabou-se com a perspectiva de que a mulher seja vista enquanto objeto. Não é uma limitação, mas um fator positivo. Ela aumenta a nossa auto-estima” – afirma Mojatahedzadeh .

Esta também é a visão de Mahdiyar Arab, . Pós-graduada em História, moradora de Yazd, em pleno deserto, não vê problema no uso do hijab. Considera-o elemento de proteção contra a concepção de mulher objeto. Indagada sobre sua ambição enquanto mulher, sua resposta, emocionada e com os olhos embargados de lágrima, é de cunho religioso. Os muçulmanos chamam Jesus de Isa e tratam-no como um grande profeta que retornará antes do Juízo Final ao lado do 12º Imam (uma espécie de apóstolo de Maomé), Mahdi, (O Guiado). De acordo com as tradições, os dois retornarão à Terra para livrar o mundo da injustiça e da tirania. O sonho de Mahdiyar é viver o suficiente para presenciar este dia.

Embora tenham assumido maior protagonismo no cotidiano iraniano, as mulheres ainda são vítimas de violência, principalmente nas camadas sociais mais desfavorecidas e na periferia das grandes cidades. Um dos calcanhares de Aquiles é a violência perpetrada por taxistas contra passageiras que viajam sozinhas. As tradições milenares ainda induzem a uma presença mais familiar da mulher. Em primeiro lugar os filhos e a família – comportamento que é incentivado pelo governo que considera a família a base da sociedade. Desta forma, muitas mulheres se dedicam às tarefas domésticas, ou ao trabalho artesanal familiar, como a tapeçaria, ou à agricultura, dado que muitos maridos não permitem que a mulher trabalhe num ambiente separado do núcleo familiar. Mudar esta realidade, ainda é um desafio do país.
Paulo Coelho
Decidi não voltar ao Brasil sem entrar em uma livraria. O fiz em Teerã. Não só achei cinco títulos diferentes de Paulo Coelho, como ouvi do livreiro que as obras eram bastante comercializadas, de venda fácil. Assim, este é mais um dos tópicos que poderiam entrar na relação de lendas internacionais criadas pela mídia. Como todos sabem, recentemente foi veiculada a informação no Brasil que suas obras estavam proibidas naquele país. A Ministra da Cultura, Ana Holanda, chegou a emitir protesto oficial em nome do governo brasileiro. A versão local para o falso boato de censura as obras de Coelho é que seu editor no Irã, Arash Hezaji, teria problemas judiciais e se encontraria foragido na Inglaterra e decidira aproveitar os ventos Roussef não tão simpáticos àquele país para apimentar mais as relações.

Mas se os livros de Coelho estão livres nas prateleiras, o mesmo não se pode dizer das redes sociais. As páginas do Twitter, YouTube e Facebook são bloqueadas. Quando se tenta acessar uma página se abre e não informa que o acesso é proibido, mas sugere uma série de outras opções ao internauta, inclusive uma versão iraniana do Youtube. O medo seria que estas redes fossem utilizadas de forma hostil, incentivando rebeliões como as registradas no Egito e na Síria. A ação governamental, no entanto, é contornada por um software passível de ser baixado na internet. Outras redes como Skype e MSN operam normalmente.

A liberdade de imprensa é prevista na legislação iraniana. No Irã são editados 4.500 jornais e revistas – sendo 2.500 diários. Meios de comunicação são explorados tanto pela iniciativa privada quanto pelo Estado. O maior jornal, Hamshahri, O cidadão, em português, tem tiragem de 900 mil exemplares e é de oposição ao governo. As televisões são essencialmente públicas. Canais internacionais como BBC, France 24, Al Jazeera, Deutsche Welle e o chinês CCTV News são captados no sistema de TV por assinatura. O Irã possui um canal internacional em inglês, a PressTV, e se prepara para uma versão em espanhol, a HispanicTV.

Diversidade Religiosa

Engana-se quem pensa que vai encontrar no Irã apenas cidadãos islâmicos. O país, ao longo de sua história, teve seu perfil étnico composto a partir dos persas, armênios cristãos ortodoxos, curdos e judeus. A pluralidade religiosa é assegurada pela Constituição iraniana. As minorias religiosas possuem, por lei, direito a representantes na Assembléia Legislativa Islâmica. Os fiéis dos diferentes credos podem participar igualmente na política, economia e assuntos sociais do país. A religião predominante é o islamismo, mas é comum encontrar sinagogas, igrejas católicas ortodoxas e, principalmente, templos zoroastras.

O zoroastrismo, considerada a primeira religião monoteísta da humanidade, constitui no Irã o segundo maior contingente religioso do país. Eles seguem os ensinamentos de Zaratustra materializados no Avesta, a bíblia zoroastra, e acreditam na força dos quatro elementos: fogo, terra, água e ar.

Box – Brasil, Irã e os Direitos Humanos

No governo Lula, a diplomacia brasileira investiu muito no Oriente Médio e a aproximação com países considerados pelos Estados Unidos como integrantes do Eixo do Mal não foram bem vistas aqui e lá fora. De 2001 a 2010, as exportações brasileiras mais do que dobraram. Pularam de US$ 968 milhões para pouco mais de US$ 2,1 bilhões. Nos primeiros quatro meses deste ano, R$ 488 milhões, 65% superior ao mesmo período de 2010. O Brasil exporta basicamente carnes, milho e torta de soja. De lá compra polietileno, passas de uva, couro e pistache. O superávit nacional alcançou quase US$ 2 bilhões no ano passado, quando uma missão composta por 86 empresários brasileiros, de 13 setores produtivos, foi enviada a Teerã para ampliar o comércio bilateral.

No campo político, demos passos fortes e de repercussão internacional. Para tentar evitar as sanções da ONU, o Brasil, ao lado da Turquia, tomou a iniciativa de construir o Tratado de o acordo sobre o programa nuclear do Irã mediado por Brasil e Turquia. Pela Declaração de Teerã, o urânio iraniano levemente enriquecido seria enviado aos turcos e, em troca, o país receberia o produto enriquecido a 20%. O acordo foi ignorado pelos EUA e outras potências, que impuseram nova rodada de sanções ao Irã.

O governo Dilma teve início marcado por uma declaração dela sobre a situação da iraniana Sakineh Ashtiani, condenada à morte sob a acusação de ter planejado a morte do marido, morto e esquartejado. Maryam Mojtahedzadeh, do CDMF, declara que há uma manipulação da mídia internacional. Segundo ela, esse é um processo que corre há cinco anos na Justiça. “Ela assassinou barbaramente o marido, no Irã há um código penal. O não cumprimento da lei causa outro problema, o desrespeito a uma legislação vigente. Seja como for, os opositores criaram um problema. Sempre há uma minoria que quer desestabilizar com falsidades.”

Para Behrooz Kamalvandi, chanceler adjunto do Irã, o tratamento que vem sendo dado pelos governos ocidentais ao caso da iraniana Sakineh mostra como há interesse das potências em passar uma “imagem distorcida” sobre os direitos humanos no País. “Esse é um assunto jurídico que já tem cinco anos e ainda não está terminado. É preciso lembrar que aqui também temos leis, temos justiça”, disse o vice-ministro

O Ocidente questiona a forma de aplicação da condenação: pena de morte por apedrejamento. A modalidade está prevista na legislação iraniana, mas Mojtahedzadeh salienta que em 32 anos de revolução não houve nenhum caso de apedrejamento. “São boatos de uma minoria. A mídia internacional em vez de divulgar a realidade, potencializa problemas menores.” De sua parte, o presidente Ahmedinejad salienta que o caso de Sakineh está no âmbito do Poder Judiciário e não do Executivo.

O tema Sakineh veio à tona quando perguntei à dirigente sobre o envio pela ONU de um observador da situação dos direitos humanos no Irã. Ela deixa claro que os países do chamado Ocidente querem fazer disso um caso político para desestabilizar o governo de seu País. Na imprensa iraniana, pelo menos na redigida em inglês, o caso de Sakineh não tem a difusão dada pelas mídias internacional e brasileira.

Behrooz Kamalvandi nega que possa haver problemas graves de direitos humanos em seu País, mas ressalva: “Tanto o Irã como o Brasil precisam se corrigir em matéria de direitos humanos. Há problemas nos dois países. Mas, quem mais precisa se corrigir são os EUA, os que mais agridem os direitos humanos no mundo”, disse ele.

Kamalvandi não esconde o desconforto iraniano em ver o Brasil apoiar no Conselho de Direitos Humanos da ONU o envio de um observador. “Quando nós olhamos para a Declaração de Teerã — o acordo sobre a questão nuclear assinado em maio passado, durante visita do então presidente Lula, mas rejeitado pelas potências — e essa postura adotada agora (no Conselho de Direitos Humanos), é muito difícil dizer que estão no mesmo sentido”, afirmou.

Com a discrição que o cargo exige, o diplomata deixa entender que o Brasil votou pressionado pelos Estados Unidos. “Existe muita pressão de Washington nos corredores de Genebra, mas a República Islâmica continua acreditando na boa vontade do Brasil sobre a relação bilateral.”

“Se o Brasil apóia, voluntariamente ou não, uma política dos Estados Unidos, isso os deixa felizes e claramente não nos agrada, nossos países precisam levar sempre em conta nossa relação bilateral. Quando somos amigos, temos mais expectativas. Como amigos, podemos criticar uns aos outros, mas não podemos dar espaço aos inimigos da nossa amizade, como são os Estados Unidos”, disse Kamalvandi.

Apesar do mal-estar, as diversas autoridades iranianas com quem tivemos a oportunidade de conversar nutrem boas expectativas nas relações bilaterais. A agência oficial de notícias, Irna, já programa abrir um escritório no Brasil. Mojtahedzadeh, que representou o Irã na posse de Dilma Roussef, crê na continuidade de um processo de integração com o Brasil, “apesar da existência de inimigos que não o querem. Mas nós queremos.”

Box O véu da discórdia.

Visto no mundo ocidental como ícone da opressão as mulheres, o hijab é uma tradição secular e universal. Nas diversas culturas ele se fez presente. Basta uma olhadela nas pinturas que retratam a monarquia européia e lá estará ele adornando as musas dos grandes pintores.

No catolicismo, os véus representam biblicamente um sinal da honra e da dignidade das mulheres (Gên. 24:65; Cant. 4:1). No mundo islâmico, o profeta Maomé instituiu, no século VI, o uso do véu para que as muçulmanas também gozassem da dignidade das demais seguidoras dos livros sagrados. O Alcorão determina que a mulher deve se vestir de forma a não atrair a atenção dos homens O uso simboliza a elevação espiritual da condição feminina, assim como o turbante concede aos homens a sacralização da cabeça.

No Irã, o uso obrigatório do véu foi decidido por meio de um plebiscito, no qual votaram homens e mulheres, que obteve a aprovação de 98%, informa Maryam Mojatahedzadeh do CDMF. Ele é considerado uma forma de proteção a mulher e de valorizá-la enquanto ser humano e não objeto sexual. Torna-se obrigatório a partir da primeira menstruação, mas há uma espécie de convenção de que a partir dos 9 anos as meninas já passam a portá-lo. Concomitantemente à adoção do véu, as iranianas puderam passar a usar maquiagem. Antes da revolução, mulheres maquiadas eram malvistas, tidas como prostitutas. Hoje, o Irã é um dos principais produtores e consumidores mundiais de produtos de beleza.

Os véus podem ser divididos, segundo a forma e tamanho, em quatro denominações:

Tchador: o mais longo, em cor preta, comumente apresentado pela grande mídia. Lembra os hábitos das freiras católicas, vai da cabeça à metade da canela e encobre todo o corpo.

Maqnae: semelhante a um turbante feminino, já montado, sem a necessidade de ter que enrolar o tecido. Basta enfiar na cabeça e ele irá até os ombros. Normalmente, em universidades e em situações mais formais as mulheres optam por ele.

Shal: mais simples e colorido, é na verdade um lenço comum, como que muitas mulheres ocidentais usavam até a década de 60.

Rousari: lenço em formato triangular.

A cor preta, principalmente para os turbantes masculinos, significa que o usuário tem uma relação direta com o profeta Maomé. Por isso os aiatolás usam turbantes nesta cor. Os estampados em variações de marrom significam que a usuária é zoroastra. Nas escolas, que não são mistas, o véu segue a cor do uniforme. Pode ser azul, rosa, roxo...

Em tese, o véu deve tampar todo o cabelo da usuária, mas a juventude em sua rebeldia tradicional não só passa a se valer de cores e formatos diversos, como também exibe cada vez mais os cabelos. Em alguns casos, fazem uma forma de coque para que o véu tenha sustentação apenas na parte posterior.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

A arte da escrita

O livro 'Caligrafia Árabe', do libanês Moafak Dib Helaihel, mostra ao leitor brasileiro como a escrita pode ser uma forma de arte.


Para os árabes, sua escrita é mais que uma forma de se expressar em textos, é um modo de se expressar em arte. Assim, a caligrafia árabe tem, hoje, seis estilos básicos que dão origem a cerca de 350 outros estilos derivados destes principais. Graças a esta imensa variação, a caligrafia tornou-se uma das mais importantes formas de arte nos países do Norte da África e do Oriente Médio, enfeitando de casas a palácios, de museus a mesquitas. E é esta arte que o libanês Moafak Dib Helaihel mostra ao público brasileiro em seu livro "Caligrafia Árabe".

Recém-lançada, a obra levou um ano para ser produzida. "O livro conta a história da escrita árabe desde o início até os tempos atuais", diz Helaihel. "Ele é extremamente didático, mostra passo a passo como preparar a tinta e o cálamo (instrumento usado na caligrafia árabe)", explica. Segundo o autor, que nasceu na cidade de Baalbeck, no Líbano, mas mora em Curitiba, no Paraná, seu livro é o primeiro em língua portuguesa a abordar a caligrafia árabe de forma instrutiva.

"Ela faz parte do povo. A caligrafia é baseada na geometria", afirma Helaihel. "Ela faz parte da decoração dos países árabes em casas, mesquitas, castelos", destaca. Formado em História e Geografia pela Universidade de Beirute, Helaihel cursou pós-graduação no Centro de Caligrafia Árabe de Sharjah, nos Emirados Árabes Unidos. Ele conta que o primeiro estilo no qual a caligrafia árabe foi registrada foi o Kufi. "É um estilo mais arcaico, mais rígido e angular", diz Helaihel, que ministra cursos de caligrafia. Para os interessados em aprender esta arte, o início está no estilo Riq’ai, passando pelo Naskh, Diwani, Taliq, até chegar no Thuluth, "o estilo mais detalhado, no qual se precisa de um grande aprofundamento", conta o calígrafo.

Segundo Helaihel, no Brasil, geralmente, as pessoas interessadas em aprender a caligrafia árabe são aquelas que já lidam com arte. Para começar o curso, diz ele, é necessário que o aluno conheça, pelo menos, as letras árabes. "Quando vou dar um curso, primeiro ensino o alfabeto, para que ele saiba o que está fazendo", explica. Quanto ao material usado na caligrafia, usa-se o cálamo, instrumento feito de bambu; e a tinta arábica, uma mistura de pó com goma arábica e água. Difícil de achar? Pode-se usar o nanquim, diz Helaihel, explicando que é o tipo de tinta mais parecida com a arábica.

Em grande parte, as obras em caligrafia árabe trazem versos do Alcorão, além de poesias e provérbios árabes, mas também podem trazer formas livres de movimentos de letras, conta o autor. Ele diz que, para aprender os seis estilos básicos de caligrafia são necessários entre um ano e meio e dois anos de estudo, já para ter uma formação completa na arte caligráfica árabe são precisos cinco anos de dedicação.

Serviço

Título: Caligrafia Árabe

Autor: Moafak Dib Helaihel

Editora Bibliaspa - Pode ser adquirido somente pela Bibliaspa (Telefone: 11 36610904)

Preço: R$ 80








quinta-feira, 23 de junho de 2011

LIVRO E DVD HOMENAGEIAM AZIZ AB SABER

ICARABE

UM DOS GRANDES INTELECTUAIS BRASILEIROS RECEBE HOMENAGEM

Quarta-feira, dia 11 de maio, às 18h30, ocorreu no campus da USP uma homenagem ao professor Aziz Ab´Saber no anfiteatro da História, organizada pelo Centro Acadêmico da Geografia. Na ocasião, foi lançado o livro “A Obra de Aziz Nacib Ab´Saber” (editora Beca) que reúne suas publicações mais importantes comentadas por diversos autores. O livro traz um CD contendo a totalidade da obra de Ab´Saber (!), além de entrevista e acervo de fotos antigas.

A homenagem iniciou-se com um depoimento do prof. José Bueno Conti, ex-aluno de Ab´Saber, resgatando fatos desde a década de 1950 e ressaltando a importância do prof.Aziz na formação dos alunos e no estímulo ao trabalho de campo. O professor Conti mostrou-nos a primeira aula do prof.Aziz e o primeiro caderno de campo com anotações originais. Em seguida, houve mais duas falas que se constituíram em depoimentos elogiosos à vida e à obra de Ab´Saber, ressaltando o caráter militante do professor diante de questões ambientais e sociais de interesse nacional.

Finalmente, o próprio professor homenageado, demonstrando de início certo constrangimento com o caráter de homenagem do evento, logo se sentiu muito à vontade e presenteou a todos com seus depoimentos pessoais e científicos, descritos de maneira ímpar. Lembrou-se de congressos memoráveis, de colegas e explicou como a teoria dos redutos, de sua autoria,foiformulada.

Encerrou sua fala mostrando uma carta de protesto que acabara de enviar ao congresso que naquele momento votavam mudanças impostas ao Código Florestal para favorecer o agronegócio em detrimento do uso racional e preservação dos domínios paisagísticos brasileiros, especialmente da Amazônia.

Como era de se esperar, o anfiteatro estava com superlotação e longas filas se formaram ao final, tanto para comprar o livro como para obter uma dedicatória do professor, o qual permaneceu até que o último livro fosse assinado, apesar do cansaço e da hora que se avançava.

Parabéns ao CEGE (Centro de Estudos Geográficos ‘Capistrano de Abreu’) da USP pela iniciativa e organização da homenagem, à editora pela produção da obra e, sobretudo, ao prof. Aziz Nacib Ab´Saber que se tornou um ícone da ciência brasileira contemporânea.

Luis Antonio Bittar Venturi

quarta-feira, 22 de junho de 2011

RAP PARA REFUGIADOS

OPERA MUNDI
Mariana Muniz e Janaina Galvão/ACNUR | Brasília

Rap e imigração: grupo espanhol canta sobre o drama dos refugiados

A vontade de sensibilizar as pessoas sobre a situação dos refugiados foi o ponto de partida para que o grupo Voz Armada transformasse em música essa delicada questão. Autores da música “La voz de los desheredados” (A voz dos desabrigados, em português), o grupo de rap espanhol diz que tem como principal missão levantar bandeiras sociais e dar voz a assuntos que muitas vezes o mundo silencia. Juntos desde 1997,os MC’s Ingenio e Pikaro e os DJ’s Isis e Ely foram pioneiros ao levar a cultura do hip hop para sua cidade de origem, Burgos. Em entrevista ao site do ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), eles falaram sobre o interesse pelo tema dos refugiados.

O que motivou o grupo a escrever uma canção sobre a questão dos refugiados? Como vocês chegaram ao ACNUR?
Já tínhamos ouvido falar do tema na mídia, mas, como sempre, de forma pouco aprofundada (pois este tipo de notícia não vende tanto quanto o Oscar, por exemplo). Sempre tivemos este tema em mente, já que a bandeira do nosso grupo são as questões sociais. O empurrão final para que compuséssemos esta canção foi por meio de uma iniciativa da prefeitura de Burgos e de ONGs locais, com o intuito de sensibilizar a população sobre a situação real em que vivem os refugiados na Espanha. Imediatamente nos identificamos com a iniciativa, porque nos sentíamos obrigados a transmitir e denunciar esta difícil situação vivida por milhares de pessoas.

De que forma a canção “La voz de los desheredados” pode ajudar os refugiados?
A música é universal, é a melhor forma de expressão que existe pois consegue chegar a todo o mundo, sem distinção de idade, gênero, condição social etc. A música expressa todo tipo de sentimentos, ideias e pensamentos e, além de proporcionar uma reflexão, nos torna mais humanos. Essa canção tenta dar voz a todos aqueles que, por mais que gritem, não são escutados. Ela serve para conscientizar e abrir os olhos de todo o planeta para essa grave situação em que vivem os refugiados. Embora não seja o mesmo que estar em um campo de batalha, queremos dar nossa contribuição dando voz a essas pessoas e trabalhando para que essas vozes sejam ouvidas. Que melhor ferramenta para fazermos isso do que a música e, mais ainda, a imagem? Por isso, decidimos fazer um videoclipe também.
Que experiência vocês têm com refugiados?
De certa forma estamos familiarizados com o tema e temos uma pessoa próxima a nós, que é missionária e já trabalhou em diferentes campos de refugiados. Por isso sabemos como está a situação nesses lugares. Além disso, no início da campanha de sensibilização que mencionamos anteriormente, conhecemos vários refugiados, que nos contaram suas histórias. A grande maioria tinha se refugiado devido a situações políticas e religiosas. Nos surpreendeu muito o fato de que todos se sentiam deslocados, mesmo aqueles que tinham sido bem recebidos, pois sentiam muita falta da terra natal e por saberem que não poderiam retornar. Eles são os “desabrigados” que dão título à nossa canção.

Quem escreveu a letra de “La voz de los desheredados”? Como foi o processo de criação?
Nós sempre compusemos nossas músicas. No rap, a pessoa que canta é conhecida como mestre de cerimônias (MC) e cada um desses MC’s escreve sua letra, que parte de uma ideia que fica na cabeça e ganha a visão dessas pessoas sobre a situação, com alma e coração. (Um MC nunca pode cantar letras de outras pessoas, pois estaria enganando os outros).
Acreditamos que, antes de tudo, quem compõe a letra tem que se informar a fundo sobre o tema que vai ser tratado na canção. Então fizemos uma ampla investigação sobre a realidade dos refugiados e devemos admitir que ficamos surpresos com a verdade, pois até certo ponto vivíamos numa situação de  ingnorância. Por meio de notícias você fica sabendo que algo acontece, mas não tem consciência da real dimensão do problema. Por isso ficamos chocados com uma situação tão grave.

Vocês sempre se interessaram por temas políticos e sociais? As demais músicas do grupo abordam quais outros temas?
O Voz Armada se caracteriza por ter como bandeira uma mensagem social, expressando e denunciando problemas reais – tanto os que nos afetam diretamente como aqueles que, mesmo não sentindo na pele, consideramos importantes. Dessa dinâmica surgem assuntos políticos e sociais, pois acreditamos que a população precisa estar informada sobre o que está acontecendo no mundo. É claro que nossas letras também falam sobre a cultura do hip hop em todas suas vertentes assim como temas pessoais, como nossas experiências, sonhos e inquietudes.
*Entrevista originalmente publicada no site do ACNUR.

terça-feira, 21 de junho de 2011

HISTÓRIA DE REFUGIADOS NO BRASIL

Os dramas dos refugiados não datam de hoje. Fogem de guerras, de perseguições, torturas e assassinatos. Deixam familiares, vivos ou mortos, em busca de sobrevivência. O ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) e a CÁRITAS têm realizado um trabalho magnífico no mundo afora, inclusive no Brasil, que detém uma das legislações mais avançadas do tema. Leia abaixo matéria publicada no site do ACNUR Brasil.


Uma iniciativa conjunta entre o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e o Serviço Nacional do Comércio (SENAC) do Amazonas está capacitando solicitantes de refúgio em Manaus para o mercado de trabalho, com resultados positivos já alcançados: o colombiano Jairo Laverde é o novo garçom de um recém-inaugurado bar da cidade.

Jairo chegou ao Brasil há pouco mais de um ano, em busca de refúgio. Vivendo em Manaus, teve que trabalhar como autônomo para sobreviver. No mês passado, começou a frequentar as aulas do curso “Técnicas de Atendimento em Bares”, oferecido pelo SENAC. E acabou sendo contratado pela champanheria “A Viúva”, onde fez as aulas práticas.

A primeira edição do curso durou entre os dias 25 de abril e 06 de maio e disponibilizou vagas para solicitantes de refúgio atendidos pelo ACNUR e pela Cáritas Arquidiocesana de Manaus. Cinco colombianos e três haitianos participaram do curso.
“Estou muito feliz com a oportunidade e com as portas que foram abertas para mim. Agora trabalho formalmente, o que me dá mais estabilidade”, diz Jairo, que está satisfeito com o emprego. “Como trabalho à noite, posso me dedicar a outras atividades de aperfeiçoamento durante o dia”, afirma o colombiano, que ainda está em contrato temporário. Ele espera efetivar sua contratação nos próximos meses.

As aulas do curso se dividiram em módulos práticos e teóricos, totalizando 40 horas. Durante o curso teórico, os participantes aprenderam regras de atendimento, elaboração de drinks e noções de etiqueta.

“É a primeira vez que esse tipo de parceria acontece, e o resultado foi muito positivo”, afirma a assistente do ACNUR de Manaus, Thaís Severo. De acordo com ela, o curso continuará sendo oferecido, envolvendo também refugiados já reconhecidos pelo governo brasileiro. As vagas fazem parte do Programa SENAC de Gratuidade.

Os aprendizes praticaram a teoria do curso em três bares conhecidos da capital amazonense. Ao término das aulas, todos receberam um certificado. “O SENAC é uma instituição reconhecida. Para nós, o certificado é muito valioso, pois abre portas”, revela Jairo Laverne.

Seguindo os passos da parceria com o SENAC, o Centro de Serviços de Psicologia Aplicada (CSPA) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) vai oferecer atendimento psicológico gratuito para solicitantes de refúgio e refugiados. A parceria entre a Cáritas Arquidiocesana de Manaus e o CSPA vale para este semestre, podendo ser renovada até o final do ano. Os atendimentos já começaram e estão sendo feitos por dois alunos, supervisionados por seus professores.

Além disso, solicitantes de refúgio e refugiados de Manaus também poderão participar de um curso de português oferecido pelo Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (CETAM). Inicialmente, as aulas acontecerão uma vez por semana, mas a expectativa é de que em breve esse número aumente para três encontros semanais. O curso tem uma carga horária de 40h/aula e o material que será utilizado foi elaborado pela Universidade Estadual do Amazonas (UEA).

“Muitos dos solicitantes de refúgio que chegam ao Brasil pela região amazônica começam seu processo de integração local em Manaus. Por isso, a capacitação profissional, os serviços de atendimento psicológico e as aulas de português são fundamentais para o acolhimento dessas pessoas”, avalia o representante do ACNUR no Brasil, Andrés Ramirez.

Por Mariana Muniz, de Brasília

domingo, 19 de junho de 2011

DEPOIS DO SUS, SUAS - Assistência social vai virar lei

CARTA MAIOR
André Barrocal

O Congresso aprova a criação do Sistema Único da Assistência Social (SUAS), que agora espera pela sanção da presidenta Dilma Rousseff. Com status de lei e regras bem definidas, SUAS obrigará agentes públicos a promover assistência, do contrário, podem ser alvo de processos judiciais. Nova lei também ajudará a "sensibilizar" quem controla a chave do cofres públicos. Dos 5,5 mil municípios brasileiros, 129 não são atendidos por Centros de Referência Especializados em Assistência Social (Creas), unidades de apoio a quem teve direitos violados.

BRASÍLIA – A assistência social do Estado brasileiro a crianças, adolescentes, idosos e portadores de deficiência foi imposta pela Constituição em 1988, que lhe dedicou uma seção inteira. Mas só depois de 23 anos, quando a presidenta Dilma Rousseff sancionar a lei que cria o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), é que se tornará de fato uma política de Estado, com regras claras e bem definidas que governo federal, estados e municípios terão de obedecer.

O projeto que institui o SUAS foi aprovado pelo Senado na noite da última quarta-feira (09/06), sem mudanças em relação ao texto que havia sido votado em dezembro de 2010 pela Câmara dos Deputados, de modo que só falta a assinatura de Dilma para virar lei. A presidenta tem prazo de quinze dias úteis para fazê-lo, a partir do envio do projeto pelo Congresso ao Palácio do Planalto, o que nem sempre ocorre de forma imediata.

O SUAS já vinha sendo implementado pelo governo federal desde 2004, mas por intermédio de um instrumento jurídico frágil, uma portaria, o que significa que dependia da vontade do governo de turno para continuar. “Como lei, os direitos de assistência social serão reclamáveis e exigíveis”, diz a Secretaria de Assistência Social do Ministério do Desenvolvimento Social, Denise Colin.

Em outras palavras: os agentes públicos estarão obrigados a promover a assistência social prevista na Constitutição. Do contrário, poderão ser processados na Justiça.

A existência de uma lei também ajudará quem trabalha com assistência num determinado governo a negociar a obtenção de recursos com as instâncias fazendárias daquela mesma administração. Poderão usar o risco de desrespeito à lei para “sensibilizar” quem controla as finanças.

Segundo Denise Colin, o ministério já consegue tocar quase tudo o que está previsto na Lei do SUAS com o orçamento atual. Mas vai precisar de mais verba para dar conta do que falta atender. Exemplo dado por ela: dos 5,5 mil municípios brasileiros, 129 não são atendidos por Centros de Referência Especializados em Assistência Social (Creas), unidades públicas de apoio a quem teve direitos violados (vítimas de abuso sexual ou de violência doméstica, por exemplo).

Hoje, há cerca de dois mil Creas no país – uma unidade pode servir a mais de um município -, e sua universalização está prevista no SUAS. “Teremos necessidade de ampliar o orçamento sim, para ampliar a cobertura da assistência social como prevê a lei”, afirma Denise.

Peti e BPC

O mesmo impacto que a nova lei terá na assistência social, terá no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti). A exemplo da assistência social, o Peti vinha sendo implementado pelo Ministério do Trabalho desde 1996, também por meio de um intrumento interno do governo, não via lei. O projeto do SUAS deu status de lei ao Peti.

O projeto aprovado pelos parlamentares tinha sido enviado ao Congresso pelo governo em 2008. Além de transformar o SUAS em lei, ele também fazia ajustes em pontos específicos da asistência social. Por exemplo: até agora, portador de deficiência tinha direito a Benefício de Prestação Continuada (BPC), no valor de um salário mínimo, desde que não trabalhasse. A nova lei permitirá que ele acumule BPC e salário, enquanto passa por uma fase de teste para saber se consegue viver só do próprio trabalho.

No ano passado, dos 44 milhões de trabalhadores com carteira assinada no país, 306 mil (0,7%) eram portadores de deficiência, de acordo com Relatório Anual de Informações Sociais (Rais) divulgado recentemente pelo ministério do Trabalho. Na avaliação do ministro Carlos Lupi, o número é “muito baixo” porque muitos portadores de deficiência optam pela informalidade para não perder o BPC.

Outra adaptação feita pela Lei do SUAS diz respeito ao BPC para idosos. A Lei Orgânica da Asisstência Social, de 1993, garantia BPC para pessoas com 70 anos ou mais. Mas o Estatuto do Idoso, de 2003, já havia baixado essa idade para 65 anos, de modo que a Lei do SUAS incorpora esse dispositivo.

sábado, 18 de junho de 2011

ISOLADOS NÃO SOMOS NADA. UNASUL, UMA POTÊNCIA

PÁGINA 12
Martín Granovsky

ENTREVISTA CON MARIA EMMA MEJIA, SECRETARIA GENERAL DE LA UNASUR

“La prioridad son nuestros recursos”

La flamante secretaria general de la Unión Suramericana de Naciones, Unasur, periodista de televisión, ex canciller y consejera presidencial de César Gaviria en 1989 para Medellín, su ciudad natal, explicó la nueva doctrina regional de defensa.

Se da vuelta y dice: “Ah, tenía detrás al Libertador”. De traje negro y blusa blanca, María Emma Mejía sonríe al descubrir a Simón Bolívar en la embajada de Colombia en Buenos Aires, donde recibe a Página/12 para explicar sus planes en la Unasur.

–¿Unasur es anorteamericana o antinorteamericana?

–Yo diría que ninguna de las dos cosas. Es un fruto del siglo XXI con las características del siglo XXI. Un mecanismo ágil, con capacidad de respuesta temprana, que permite a las naciones construir aun por sobre sus diferencias. Esa es la magia que ha tenido.

–Una parte del trabajo de la Unasur fue la resolución de conflictos: la ruptura de relaciones de Colombia y Venezuela, el riesgo institucional en Bolivia, el alzamiento en Ecuador. ¿Cuáles son los desafíos actuales?

–Vengo de una ronda de conversaciones con todos los presidentes. Sólo me quedan la presidenta de Brasil y el presidente de Surinam. Converso con ellos y veo que son conscientes de que se superó esa época. Están agradecidos y reconocidos a la agilidad que tuvo Néstor Kirchner para convocar a mandatarios y superar esas tres crisis. Los presidentes me dijeron que quieren construir una Unasur que no solo sirva para tiempos de crisis sino para épocas de bonanza.

–¿Como en seguridad?

–Exactamente. No hay conflictos como esos tres y hemos logrado crear con mucha velocidad el primer Centro de Estudios Estratégicos para la Defensa en el marco del Consejo de Defensa Sudamericano. ¿Hubiera sido posible ese centro hace pocos años?

–Por lo pronto, no hubiera sido posible con Colombia y Venezuela sin relaciones, ¿no? Y eso fue hace menos de un año, a principios de agosto de 2010.

–Ahora tenemos que atrevernos a pensar no sólo en términos de seguridad nacional sino de seguridad regional. En la reunión de Buenos Aires participaron ministros de Defensa que responden a procesos democráticos muy distintos. Sin embargo, fueron capaces de dejar de lado las diferencias para trabajar en una agenda positiva y en una doctrina común.

–¿Cuál sería, en el caso de la defensa, la doctrina común?
–Por trillada que parezca la idea, Sudamérica es una zona de paz y tanto la idea como la realidad de la paz hay que reforzarlas y trabajarlas todos los días. Hay que convencer a los ciudadanos y ciudadanas de que no termina el mundo en la calle de cada uno sino que hay nuevas doctrinas. Construir esas nuevas doctrinas y aplicarlas es el mayor desafío. Y se logró en muy corto plazo. Pasó poco tiempo desde que (el ministro de Defensa de Brasil, Nelson) Jobim imaginó que podía construirse una nueva doctrina, cogió la maleta y viajó para comentársela a Condoleezza Rice en su momento. Y también le dijo a la Junta Interamericana de Defensa: “Perdonen, pero quiero proponerle a Sudamérica una nueva doctrina”. Bueno, eso era impensable no solo desde el punto de vista ideológico sino filosófico. Siempre habíamos sido receptores de doctrina y ahora queremos generar nuestra propia doctrina.

–En su discurso de cierre de la primera jornada del Centro de Estudios Estratégicos, el jueves por la noche, la Presidenta argentina dijo que el nuevo desafío era la defensa de los recursos naturales de Sudamérica. ¿Por allí viene la nueva doctrina?
–Sí, ése es el principal desafío: nuestros recursos. Es la nueva agenda. Vivimos en la zona más rica en aguas, más rica en biodiversidad, rica en minerales, rica en petróleo, rica en carbón y gas, la que tiene la Amazonia... ¿Qué significará eso para el mundo? Ahí están los nuevos desafíos como región. Tal vez nuestros países no sean muy fuertes, pero con todo eso acumulado somos una potencia. Y así en el mundo podemos trabajar como pares de potencia a potencia, o atender los desafíos sur-sur. Todo, teniendo en cuenta la pobreza y que, mientras registramos la existencia de esas potencialidades, también somos la zona número uno del mundo en inequidad. También hay que trabajar en ese punto.

El desafío de  defender los recursos, ¿es transversal a los diferentes gobiernos de la región, sean del signo que fueren?

–Absolutamente. Lo comprobé tanto en esta reunión de Buenos Aires como en la que tuvimos en Lima del Consejo Sudamericano de Defensa. De paso, es interesante ver que la presidencia pro témpore está en Guyana y que hay ocho consejos en distintos lugares para ayudar a Guyana. Eso dinamizó mucho y generó una sana competencia por ver qué consejo resuelve primero su agenda y avanza más. En Lima, hace dos semanas, los ministros de Defensa plantearon ese desafío transversal. Con este desafío y una posición común muy probablemente lleguemos a la Cumbre de la Tierra del año entrante.

–Hoy, además de la Unasur, están el Mercosur, la Comunidad Andina de Naciones y la nueva asociación del Pacífico entre Chile, Perú, Colombia y México. ¿Unasur es lo que une cuando los países toman opciones diferentes?

–Yo creería que es una región con diferentes ensayos de integración. Desde el Libertador, en 1826, cuando el discurso Panamá, esa visión integradora existió siempre. Incluso después, con José Martí. El vicepresidente de Bolivia, Alvaro García Linera, decía ayer que no-sotros nacimos de las guerras. En la segunda mitad del siglo XX comenzaron los mecanismos de integración comercial. Y yo veo que los países seguirán buscando fórmulas para aliviar sus problemas y llegar al desarrollo. Hablé con los presidentes de ese tema. No todos los países estarán en todas las formas de integración. Pero a las alianzas que usted citó yo le puedo agregar, por ejemplo, la alianza energética de Colombia, Ecuador, Chile, Bolivia, Perú y falta Venezuela. Habrá fórmulas distintas. Y a la vez hay que preservar a la Unasur. Es eso que une, es eso que soluciona, pero al mismo tiempo es un proceso que busca desarrollo. Lo decía en este encuentro de Buenos Aires el ministro de Defensa de Uruguay: el desarrollo da seguridad. El desafío es interesante para los presidentes.

–El mundo no termina con la gestión de una persona, pero el año fijado para su mandato, antes de que comience el año del venezolano Alí Rodríguez, sí es inexorable. ¿Se autoimpuso un objetivo en particular?

–Un nivel es el fortalecimiento de la institucionalidad de la organización: el consejo de delegados de las cancillerías, la estructura, el presupuesto... Kirchner llevaba solo cinco meses en la secretaría y casi no tenía estructura, ¿no es cierto?

–Rafael Follonier y Juan Manuel Abal Medina.

–Así es. Bueno, hay que armar la institucionalidad. Siempre, eso sí, preservando la impronta de Néstor Kirchner sobre agilidad y preservando lo que quieren los presidentes y las presidentas: un ente no burocratizado y de respuesta inmediata. Un ente con funcionarios que puedan coger un avión o un medio electrónico y obtengan resultados. Con Alí Rodríguez nos juntamos en la inauguración del Centro de Estudios Estratégicos. Acordamos que los equipos de ambos trabajen ya juntos y vayan construyendo una memoria colectiva. Bien: la institucionalidad más organizada es el primer nivel de mis objetivos. El segundo es que los consejos que tienen temas no tan inmediatos, o incluso de largo plazo, porque en infraestructura no puede hablarse de menos de diez años, puedan trabajar desde ya en lo que los sudamericanos creíamos que sería siempre solo un sueño: unas avenidas, unas carreteras, unos puentes para vencer la geografía sudamericana que a veces nos juega malas pasadas. Decía Alí Rodríguez hoy que a veces es más difícil trabajar en momentos de paz.

–Es menos espectacular.

–Exacto. Ojalá nos dure mucho el período de paz y podamos trabajar en los mecanismos de integración energética, en los mecanismos de integración de infraestructuras y conectividades, y que la agenda se vaya enriqueciendo.
–Usted tiene varias experiencias en su vida: la periodística, la diplomática y la que reformó Medellín. ¿En qué la marcó la última?

–Esos tres años en Medellín fueron la experiencia más enriquecedora. Ahora vengo de estar ocho años en una organización no gubernamental, donde de la mano de Shakira las dos intentamos armar en materia de educación una respuesta a las zonas de desplazamiento de personas en Colombia. Pero Medellín fue importante. Como decía el alcalde Alonso Salazar en su libro No nacimos pa’semilla o mostraba la película de Víctor Gaviria Rodrigo D: no futuro, perdimos una generación.

–¿Qué significa que perdieron una generación?

–Que perdimos 18 mil jóvenes en el proceso del sicariato de Pablo Escobar. Uno queda marcado para siempre y dice: “Esto no debe volver a pasar”. Por eso el trabajo en educación con Shakira, que comenzamos en 2003 en medio del desplazamiento de miles de personas y de una guerra. A uno lo marca en el sentido de nunca más, ¿no? Por eso hay que trabajar en la equidad. Es difícil de resolver, pero algunos de nuestros países han empezado a pensar en esto.

–Además de la conclusión del nunca más, ¿cómo fue la experiencia concreta del trabajo en Medellín?

–Muy difícil. Era un imposible cuando César Gaviria, el entonces presidente, pronunció su discurso el 7 de agosto de 1990, para cambiar las cosas. Medellín era una ciudad entregada al narco.

–Perdida.

–Perdida, sí. Medellín era la ciudad emprendedora, el emporio, la ciudad industrializada, la de los textiles, con gente dura y fuerte... Para una nación como la nuestra, era importante y estaba vencida y subsumida. Fueron tres años muy importantes donde desde la civilidad y desde el tejido social teníamos que ir “robando” una generación a Pablo Escobar. Cuando llegué a Medellín estaba la Cuarta Brigada en las montañas, junto a las comunas populares. Fui a decirles que no, que había otra manera. Por eso me entusiasma la Unasur. Veo presidentas, presidentes, cancilleres, con entusiasmo que no le temen a nada. Podemos equivocarnos. Pero lo intentamos con Honduras, por ejemplo. El espíritu de Medellín era el mismo: inventar el propio destino y evitar lo que parecía absolutamente inevitable. Con Alonso Salazar inventé un programa de televisión que todavía existe, Arriba mi barrio. Eramos los únicos que entrábamos a las comunas, los únicos que dejaban entrar los sicarios de Pablo Escobar y el cartel de Medellín. Me iba con Alonso. No había ni maestros, ni profesores, ni enfermeros ni policías. Yo era el Estado. Entramos y reconstruimos el tejido. Por eso cuando veo presidentas y presidentes cogiendo un avión y viajando siete horas para abortar una crisis, veo que afrontan riesgos.

–Usted hablaba de la primera reunión del ministro brasileño Jobim en la Junta Interamericana de Defensa, cuando les explicó que Sudamérica quería formar un cuerpo propio y diseñar su doctrina. ¿Cómo se conjuga esa situación con el Barack Obama que una noche anuncia la eliminación de Osama bin Laden y dice que se ha hecho justicia? ¿Qué hace Sudamérica frente a esa autoafirmación de poder militar?

–Todas son advertencias. En ese tema prefiero dejarles la página a mis presidentas, mis presidentes y sus cancilleres. Mientras tanto, le digo que Sudamérica puede darle una lección al mundo en un área que tal vez nadie esperaba: que de aquí, de esta zona, ya democratizada, sin necesidad de atacar a otros, podemos trabajar integrándonos en paz.

martin.granovsky@gmail.com

sexta-feira, 17 de junho de 2011

NOSSA SÃO PAULO PROPÕE PLANO DE MOBILIDADE SUSTENTÁVEL

Plano Municipal de Transporte e Mobilidade Sustentável
 
 
No dia 20 de setembro de 2010, a Rede Nossa São Paulo, em conjunto com diversas organizações, apresentou propostas para um Plano Municipal de Transporte e Mobilidade Sustentável para a cidade a representantes da prefeitura e do governo estadual.


Entre as principais diretrizes propostas no documento estão:

- Prioridade ao transporte público: enquanto ocorre a ampliação da rede de metrô, implantação nas principais vias da cidade de corredores expressos de ônibus, que possibilitem a ultrapassagem. O documento informa que este sistema poderia ser implantado em 447 quilômetros de avenidas, ao custo total de R$ 9,4 bilhões, para atender 1,2 milhões de viagens por dia. Os corredores seriam integrados à rede de metrô;

- A adequação das calçadas aos pedestres, cadeirantes e a todos os que nelas circulam.A ideia é que haja um plano específico para tornar as calçadas mais acessíveis, que teria como prioridades melhorar os passeios e eliminar as barreiras arquitetônicas que possam representar riscos ou dificultem à circulação dos usuários, especialmente crianças, idosos e pessoas com deficiência. A Secretaria Municipal de Transporte criaria um departamento para construir e fiscalizar as calçadas;

- A criação de um plano de 500 quilômetros de ciclovias, somados a redes complementares nas 31 subprefeituras, e a integração delas com o transporte público;

- O adensamento populacional nas áreas centrais da cidade, que possuem melhor infraestrutura, e estímulo à descentralização de serviços e atividades para os bairros e subprefeituras da cidade – as duas medidas em integração com as políticas de habitação;

- O estabelecimento de metas para cumprir o plano e um programa de educação sobre mobilidade com o objetivo de mudar o comportamento de motoristas, pedestres e ciclistas.

- Participação popular na execução do plano, com a eleição e o funcionamento do Conselho Municipal de Transportes e a criação de uma comissão de acompanhamento do plano.

Como impacto da efetivação das propostas, o documento prevê que 25% dos carros deixariam de transitar na cidade, cresceria o número de usuários da bicicleta como meio de transporte e as emissões de CO2 cairiam em 30%, o que representa 32 mil toneladas a menos por ano.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

SEM CICLOVIAS ATÉ QUANDO? (artigo novamente publicado)

Quase três anos se passaram da postagem abaixo, mas a questão do trânsito caótico e de desrespeito a pedestres e ciclistas continua idêntica

matéria originalmente publicada aos 14 de julho de 2008

Tantas cidades têm ciclovia e a nossa São Paulo insiste em priorizar a acomodação dos seus milhões de pesados e poluentes carros no quase que exclusivo espaço urbano destinado aos veículos motorizados.

Pedestres e ciclistas são esquecidos. Faixas de pedestres existem, mas são desrespeitadas. É impossível conseguir atravessar numa faixa de pedestre quando não há semáforo. Quem já não sofreu com isso? Mas os marronzinhos da CET estão aí, não para orientar, mas para autuar, num claro sinal de que esquecemos de que o trânsito também faz parte do processo de cidadania, onde devemos respeitar o próximo, por mais que ele pareça ser diferente, simplesmente por estar a pé, a cavalo, de bicicleta ou de motocicleta.

Há projetos de ciclovia na cidade, sim, mas previstos para daqui dez anos. Não é possível que tapemos o sol com calotas, daquelas antigas, de metal, que queimam as mãos e nos cegam com o reflexo que causam...

Os bairros da Vila Pompéia, Vila Romana, Lapa, Vila Madalena, Sumaré, Pinheiros, Perdizes, Barra Funda e Pacaembu poderiam abrigar uma grande ciclovia que uniria os Parques da Água Branca e Vila Lobos; a estação de trem da Lapa ao metrô da Vila Madalena; as estações de metrô da Vila Madalena e da Barra Funda ao Estádio do Pacaembu; as avenidas Sumaré, Heitor Penteado e Pompéia, num verdadeiro eixo de lazer e de turismo; e as ruas dos barzinhos da Pompéia, de Perdizes e da Vila Madalena aos metrôs da Vila Madalena e da Barra Funda, propiciando que se possa ingerir substância alcoólica sem dirigir veículo automotor.

Ciclovia é muito mais cidadania, é muito mais benéfica ao meio ambiente, ocasiona muito menos acidente fatal e beneficia, sim, a verdadeira locomoção nesse trânsito caótico.

O que estamos esperando para cobrar das autoridades pequenas atitudes que são baratas e muito mais responsáveis com o meio ambiente, com a saúde, com o bolso dos cidadãos e com a cidadania?

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Aos sírios, salam e saadeh. Paz e felicidade!

A Síria é um país árabe que fica bem próximo do ocidente, já no mediterrâneo e próximo da Europa. É um país que foi berço de grandes civilizações e que já sediou grandes impérios, como o Assírio, o Bizantino e o Omíada.
Hoje, a Síria vive uma convulsão social e temos poucas notícias sobre o que realmente se passa naquele país.
É bom lembrar que o Brasil possui milhões de sírios e descendentes vivendo em seu território.
Eu mesmo sou neto de sírio que veio de Damasco, a cidade mais antiga continuamente habitada do planeta, e que visava fugir da guerra entre os insurgentes sírios e o forte império turco-otomano. Pobre, o meu avô veio para cá falando o árabe, o inglês, o francês e o aramaico, a língua que dizem que era falada por Jesus Cristo. Em solo brasileiro, o meu avô aprendeu o português e o seu nome foi traduzido para Luis, e assim era conhecido por muitos.
Batalhador, sereno e justo, o meu grande avô recebeu de braços abertos os refugiados europeus em solo brasileiro, incluindo os judeus, principalmente os vindos da Polônia. Os recebeu como irmãos, como não poderia deixar de fazê-lo.
Nunca ficou rico, mas fez muitos amigos.
Escrevo tudo isso para lamentar o que acontece na terra do meu avô, um árabe-cristão.
De antemão digo que é um absurdo qualquer tipo de ditadura, qualquer tipo de censura e qualquer tipo de manipulação de informações. E isso vale para o regime sírio que comanda aquele país e também para a ditadura midiática ocidental fundada em falsos boatos.
Quando vejo refugiados, não importando se hoje são sírios, palestinos ou africanos, e que ontem eram europeus e muitos judeus,  sensibilizo-me, como a grande parte da população mundial. É inconcebível que pessoas tenham que abandonar os seus lares por motivos de perseguição política (dentre outros motivos também deploráveis).
A Síria é um país que já vinha se empobrecendo ao longo dos anos face aos boicotes que sofria dos Estados Unidos e também em razão das guerras que enfrentou com Israel. Hoje, então, a Síria está ainda mais marginalizada economicamente, por mais que o atual presidente tenha buscado uma abertura econômica e a inserção em um bloco regional.
Um país em que os pobres falavam vários idiomas, como é o caso do meu avô, não pode permitir que a barbárie que as televisões mostram continue a prosperar.
Um país de cultura milenar corre o risco de virar mais um país turbulento e onde o radicalismo pode vir a prosperar, infelizmente. Só espera-se que os sunitas, xiitas, alauítas, católicos, cristãos, drusos e ateus, além dos judeus que lá habitam, não façam guerras religiosas.
O bom combate seria o das ideias, sem armas, mas parece que ao menos por enquanto esse enfrentamente não ocorrerá.
Torço aqui, solitariamente, pelo fim dos conflitos e por um futuro de prosperidade humana e econômica da Sìria, como não poderia deixar de fazê-lo, até em respeito à vida do meu avô.
Aos sírios e aos cidadãos do mundo, salam! Paz! E que o tempo sedimente a verdadeira saadeh! Felicidade!

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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