quarta-feira, 7 de outubro de 2020

ÀS VÉSPERAS DO DIA DAS CRIANÇAS, UMA POLÊMICA: FILME CUTIES. QUEM É PORNOGRÁFICO, A SOCIEDADE OU O FILME?

Às vésperas do dia das crianças, que coincide com o dia da Padroeira do Brasil, não podíamos deixar de citar uma grande polêmica envolvendo crianças.


Lindinhas, em português, Mignonnes, em francês, ou Cuties, em inglês, é um filme franco-senegalês, com meninas francesas de 11 anos com roupas justas, dançando e em poses sensuais, que ganhou o prêmio de direção no Sundance Festival de 2020 e que estreou em agosto na Netflix.


Ouvindo isso, tem-se a impressão de que se trata de um filme pornográfico. Calma! Há muito de verdade e também de histeria na repercussão desse filme!


Grupos espalhados pelo mundo exigiram que a Netflix retirasse o filme do ar, alegando sexualização inapropriada de crianças. E é aí que está o cerne da questão.


A personagem principal de Lindinhas, em português, ou Cuties, em inglês, é Amy, uma menina de origem senegalesa e islâmica conservadora que migrou para a França.


O filme trabalha a todo instante com o contraste e a ambivalência, demonstrando, talvez, a irracionalidade social e também comportamental existente, que muitas vezes se contrapõem e se alimentam.


Realmente o filme sexualiza e trata da sexualização precoce, mas como crítica à sociedade consumista e que idolatra o prazer imediato, incluindo aí a valorização narcísica e excessiva do corpo.


Embora seja um filme visualmente forte, por nos expor a um problema tão sério com cenas que, queiramos ou não, retratam o nosso dia a dia, não há qualquer cena de nudez no filme.


A reação de grande parte da sociedade, ao invés de olhar criticamente para o que ocorre no dia a dia, viu o filme como se fosse agressivo a uma sociedade que se vê como puritana. Não digo que se fosse diretor utilizaria o mesmo recurso das imagens. Prefiro algo sutil, mas cada diretor escolhe a melhor forma de destacar e ilustrar a mensagem que se deseja passar. E não resta a menor dúvida de que a opção feita conseguiu chamar a atenção de todo o globo para o filme!


E o filme tem isso de bom: ao ser exposto, serve para a crítica. Mas a sociedade deveria permitir que também servisse à autocrítica e para ajudar a mudar o rumo das coisas que vemos acontecendo, hoje: prostituição infantil, muitas vezes incentivada pela própria família; abusos sexuais de crianças e adolescentes no próprio seio familiar; exposição excessiva e permanente de crianças às mídias sociais; abandono escolar; consumismo infantil crescente... ou seja, há muito a ser feito e construído. O que não podemos fazer é fechar os olhos como se tudo estivesse bem! Não está! Nunca esteve!

 

O Brasil abusa da erotização de suas jovens há muito tempo. Nos anos 80 e 90 era uma febre adolescentes usarem minissaias em programas infantis. E até hoje há concursos de beleza para crianças.

Não faz muitos anos, na época de nossos avós ou bisavós, nossas crianças casavam com 15 anos ou menos.

E ainda hoje famílias brasileiras estimulam meninas pequenas a dançarem músicas da moda com conteúdo erotizado como se fosse algo engraçado ou a ser admirado.

 

Como se sabe ou se deveria saber, a arte serve para apontar e permitir a autocrítica e por isso todo tipo de censura é reprovável.

Quanto mais a arte for livre, maior será a crítica a valores e comportamentos da sociedade, e daí decorre a verdadeira chance da sociedade perceber os seus erros. A arte, na maior parte das vezes, mostra quem somos e como vivemos.

 

Toda essa polêmica serviu para notarmos que a imagem que a sociedade tem de si mesma, ética e conservadora, não corresponde bem à realidade que vemos em nossos meios de comunicação, ruas e casas. Há muito de podridão, de descaso, desrespeito e de abuso na forma como tratamos nossas crianças no dia a dia. Elas beiram a objetos. Somos falsos moralistas.

 

No Brasil, por previsão Constitucional, crianças deveriam ser prioridade, mas nunca são.

 

Crianças servem para políticos se autopromoverem, mas nunca foram tratadas seriamente, como real prioridade pelo País. Por isso não nos desenvolvemos e permanecemos em uma situação de permanente atraso social e ético, com injustiça social, e com tantas desumanidades sempre presentes.

 

Como efeito de uma histeria tão comum nos tempos atuais, a diretora recebeu ameaça de morte, ações judiciais foram promovidas contra a Netflix, inclusive no âmbito penal, e até o governo brasileiro tomou partido ao pedir a suspensão da divulgação do filme no Brasil, sob o argumento de que reúne “conteúdo pornográfico envolvendo crianças”.

 

Se não gostamos, podemos não promover o filme, mas não podemos deixar de notar que há muito de verdade nele ou você acha que vivemos em um mundo ética e socialmente perfeito?

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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