quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

EU ESTOU COM A NOIVA

IO STO CON LA SPOSA

Que é presente a gente já sabe!
Mas você deve querer saber algo a mais sobre o filme!

UM DOCUMENTÁRIO DE APARÊNCIA INOCENTE, MAS REVOLUCIONÁRIO

Sabe aqueles filmes ditos revolucionários? Pois é, o documentário italiano IO STO CON LA SPOSA (Eu estou com a noiva, em português), filmado em 2013 e finalizado em 2014, antes da grave crise dos refugiados em 2015, é um desses.
Não se trata de ser revolucionário especificamente no aspecto da linguagem cinematográfica, nas tomadas, no roteiro ou na edição. É revolucionário também por isso, mas mais por outras qualidades.  
Seria muito fácil comover. Afinal, quem não se sensibilizou com as imagens das crianças sírias afogadas no Mediterrâneo ou mortas em Aleppo? Quem não se emocionou ao ver a fotografia daquela criança pequenina que ao ver uma câmera de vídeo levantou as mãos, lembrando-se das armas que apontavam diuturnamente para ela? Quem não foi tocado ao ver Homs, Palmira ou a pequena Vila de Maaloula serem devastadas?
De forma simples, sem mostrar cenas de guerra ou de crianças mortas, durante a sua 1h30 de duração, EU ESTOU COM A NOIVA nos revela as atrocidades vivenciadas pelos refugiados durante a guerra e também nos próprios países em que buscam acolhida, no caso no continente Europeu. Numa viagem a pé, de carro e de trem pela Europa, revelam-se, gradativamente, as dores e os absurdos sempre presentes.
É revolucionário porque escancara o preconceito e as barreiras impostas pelo velho continente, principalmente pela criminalização da mera conduta de ajudar refugiados e imigrantes ilegais. As cenas de contestação, de protesto e de luto grafados numa parede em uma das paradas na longa viagem, evidencia por um lado o protesto sempre presente, sempre à frente, sempre vivo, daqueles que sofrem com o descaso, manifestado naquela simples parede; por outro lado, essa mesma a parede fria e grande representa a muralha imposta pelas leis europeias e a fortaleza fria e encastelada, com muros altos, que é a própria Europa.
E é ainda mais revolucionário porque de forma sutil, simples, revela como natural e obrigatória a prática da desobediência civil para salvaguardar um direito natural, um direito humano, um direito assegurado pelo ordenamento jurídico internacional, o de livre locomoção, ainda mais em se tratando de refugiado. O carinho e a ajuda minimamente planejada pelos ativistas italianos e sírios nos passam a sensação de que lá há verdadeiros heróis, gigantes e anônimos, que fazem a grande diferença na vida das pessoas em carne, osso, coração e espírito.
Também é revolucionário porque trata um assunto denso como o refúgio de forma leve, através de um casamento simulado, como forma de tentar evitar a abordagem dos refugiados e até mesmo a prisão pela polícia deles e daqueles que os acompanham. Quem desconfiaria de uma noiva e da suave leveza que passa? Num contraste quase absurdo, jamais imaginaríamos um refugiado assim. Alguém que foge de uma guerra com seus traumas, seus medos e suas perdas, nos passa um ar pesado, carregado, uma imagem densa e necessariamente triste.
Por tudo isso o IO STO COM LA SPOSA é um filme premiadíssimo, inclusive com o Prêmio Direitos Humanos, na Itália. É inédito no circuito comercial e foi exibido no Brasil em apenas três oportunidades. Uma através de exibição pela Embaixada Italiana, que divulga a cada ano os filmes concorrentes no Festival de Veneza, isso em 2014. Outra na Mostra Mundo Árabe de Cinema e no SINDPROESP, esta seguida de debates, ambas em 2016.
É um filme ao mesmo tempo triste e alegre e que nos envolve. É impossível sair sem pensar nas cenas, nas falas e na vida daqueles que sofrem as piores desgraças. Instintivamente passamos a refletir sobre as leis que, ao invés de amenizar as dores das pessoas, fomenta a segregação, a separação e até mesmo a punição de quem é solidário. É um filme sobre refugiados, mas também sobre desobediência civil e também e principalmente sobre humanidade. É absolutamente imperdível, portanto.
Depois de ver o filme, todos iremos querer estar com a noiva e agir como os ativistas italianos e sírios, por um mundo melhor, sem discriminação e arrogância, de forma anônima, mas eficaz. Por isso, principalmente, este filme é revolucionário, pois ele ajuda a nos transformar.
Haverá mais uma única exibição em São Paulo, gratuita, no dia 23 de janeiro de 2017, no Cine Olido, na cidade de São Paulo, às 19hs00, seguido de uma mesa de debates. É uma ótima oportunidade para nos depararmos e compreendermos uma realidade que vai ser cada vez mais frequente no Brasil e no mundo.
Cyro Saadeh, Procurador do Estado de São Paulo, fez diversos cursos na área de cinema e obteve autorização da produtora e dos diretores para apresentar o filme IO STO CON LA SPOSA gratuitamente aos refugiados em São Paulo.


Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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