Moradores
de rua
“Era uma pessoa
muito desgraçada, não tinha teto, não tinha nada.
Não sabia dos
seus direitos e ninguém ligava, Presidente, Governador e Prefeitos.
Ele não podia
dormir de forma decente porque sua realidade era deprimente.
Ele não podia
fazer pipi porque banheiro não tinha por ali.
Era um sem
dinheiro no Brasil e vivia próximo de um enorme bueiro, nossa realidade mais
vil”
(Livre adaptação da letra da composição A CASA, de
Toquinho e Vinícius de Moraes).
Iniciamos o texto com a
livre adaptação da letra de uma conhecida música da MPB com o intuito de
sensibilizar para a realidade desse grupo que, embora sempre silente, talvez
seja o mais afetado pela exclusão da cidadania e da dignidade humana.
A insensibilidade de nossos
políticos com esse grupo assusta e perturba.
Muitos dos prefeitos
brasileiros nos apresentam um verdadeiro show de horrores. Muitos mandar jogar
jatos de água para desalojar esse grupo de determinados espaços públicos.
Outros os transportam forçosamente para fora dos limites do Município. Muitos optam
por colocar gradis em praças ou parques, impedindo os moradores de rua de
abrigar-se em tais locais. Outros criam bancos em que as pessoas possam tão
somente sentar, afastando os moradores que se acostumavam a usá-los como
pequenas camas. E todos, sem exceção, se recusam a construir banheiros
públicos, impedindo esse grupo de utilizar o rascunho de um esboço do que uma
dignidade minimamente ridícula exigiria.
Por outro lado, há os
pequenos anjos refletidos em muitos populares que ainda se comovem com o
abandono alheio e praticam ações pontuais, doando sopa, cestas básicas e roupas
velhas aos moradores de rua, amenizando um pouco a imensa tortura da vida desse
grupo excluído.
Não bastasse a
crueldade a que são submetidos, a realidade familiar dos integrantes desse
grupo assusta. Quase sempre o morador de rua mora só, desacompanhado de outros
membros familiares. Muitas vezes foi expulso de casa ou, sem saída, optou por
viver só.
Os moradores de rua
rotineiramente dormem sobre o chão gélido, separado por folhas mínimas de
jornais ou uma fina folha de papelão. Os outros papelões, no tom adjetivo, são
reservados à inércia da sociedade e à hipocrisia dos nossos políticos.
Hoje, há diversos
grupos que habitam as ruas. Muitos dependentes de substâncias químicas, muitas
pessoas sem recursos financeiros e carentes de vínculos familiares e também
muitos portadores de problemas psiquiátricos.
Normalmente essas
pessoas fogem de casa ou são expulsas de seus lares por familiares que não
suportam todo o desgaste causado pela realidade.
Normalmente um amigo o
acompanha, um vira-lata sempre fiel, e só. Por aí se percebe que a humanidade
parece excluir esse grupo, privado de direitos, de fala, de cidadania e de
qualquer direito humano.
Caberia às três esferas
de governo atuar para dar dignidade a estas pessoas, consoante o disposto no
art. 1º, III, da Constituição Federal.