Recentemente o jornal britânico
The Observer publicou uma estarrecedora entrevista com Brian Donald, chefe da
Europol, agência de inteligência policial da União Europeia.
Segundo o policial, 27% dos
refugiados que chegaram no continente em 2015 eram menores desacompanhados, o
que totalizaria o enorme número de 270 mil crianças e adolescentes sem
responsáveis legais. Já para a organização social Save the Children, o número
de crianças que entraram na Europa sem os responsáveis em 2015 seria bem menor,
de 26 mil.
E dessas que ingressaram sem
estarem acompanhadas por responsáveis, teria sido confirmado pela Europol um
número de 10 mil crianças desaparecidas. Muitas podem ter encontrado algum
parente e não houve registro hábil disso, mas muitas estão inseridas nas redes
de prostituição e outras em trabalho escravo, organizados por redes criminosas
que se alastraram pela União Europeia nesses últimos 18 meses.
Contudo, o drama da exploração dos
infantes que buscam refúgio não para aí. Há máfias no Líbano e na Turquia que
exploram sexualmente muitos menores sírios. E também há uma rede que “exporta”
jovens adolescentes sírias de 12 ou 13 anos para casamentos forçados na Arábia
Saudita e em outros países do Golfo.
Os crimes de guerra são
perpetrados não apenas pelos atores que estão em conflito bélico, mas por
personagens que se aproveitam da fragilidade causada pela guerra para explorar
pessoas vítimas do conflito das piores formas possíveis, seja através de cobrança
de valores absurdos para transporte, da apropriação indevida de bens, da prostituição
forçada, do estupro de vulneráveis, do trabalho escravo, do tráfico ilegal de
órgãos humanos e tantas outras aberrações que ainda existem em pleno século
XXI.
Enquanto isso, a União Europeia
dá bilhões de euros à Turquia para impedir o acesso dos refugiados a território
seguro. E a Suécia e Alemanha prometem expulsar milhares de solicitantes de refúgio,
numa clara violação ao princípio da segurança à vida humana e ao cumprimento das
leis internacionais, o que também está muito próximo a uma prática de crime de
guerra por esses países descumpridores de tratados internacionais.
A Alemanha e o nazismo criaram um
caos na Europa e o mundo inteiro recebeu europeus, judeus ou não, que fugiam
dos horrores da Segunda Guerra Mundial. Eram milhões de refugiados que foram
acolhidos pelo mundo inteiro, pelo Brasil inclusive. Mas, hoje, a Alemanha e a
Suécia que vendem armas e financiam países envolvidos direta e indiretamente no
conflito se negam a cumprir tratados internacionais que assinaram.
O desprezo pela vida humana e a
valoração de quem seria mais humano ou merecedor de acolhida por alguns países
europeus é mais um sinal de que as Nações Unidas deveriam ser fortes e atuantes
nesse momento. O caos aumenta em um grau assustador e a comunidade
internacional ainda não percebeu que a crise humanitária ainda não atingiu o
seu pico e atitudes segregacionistas apenas complicarão ainda mais o croqui de
um mundo ainda mais desigual, injusto e desumano que se revela.