imagem extraída da internet
Vivemos numa sociedade que aprecia
e incentiva a inversão de valores.
Aquele que aparece bonito na foto
é supervalorizado, em detrimento daquele que não tem tempo ou paciência para
postar fotos de si mesmo para o universo virtual. A aparência é tudo, e isso
rege todos os campos sociais.
Na televisão, os programas que
mais dão audiências são aqueles que falam sobre a vida dos famosos ou os que apontam
detalhes excessivos de gente desconhecida, mas necessariamente bonita.
Quem se veste bem é bem recebido
nos shoppings, restaurantes e pelos companheiros de trabalho. Já aquele que
opta pela simplicidade, sem apego ao consumo ao desnecessário, é visto como
desleixado e descomprometido (isso é de deixar qualquer ser pensante pasmo).
Não basta trabalhar e ser
eficiente. A meritocracia sempre foi apenas uma espécie de fantasia. O que
interessa hoje, mais do que antes, são os contatos, a rede de amigos e de
influência. Não importa o que se faz, o que se produz, o que se propõe. O que
importa é a aparência e a relação de “amigos”, ainda que nada se faça.
Já perdi a conta de quantas vezes
me chamaram de “desesperado” só por visar a agilização de processos, em defesa
do interesse público. Eficiência, não! Isso, para esse grupo, é defeito. O bom,
para esses sem vergonhas (não há outro termo para gente descomprometida) é
aquele que acumula processos, que deixa avolumar. Daí vem aquela frase de
pessoas que “observam”: “coitado, olha quantos processos ele tem para fazer”. Para
esses apreciadores da inversão dos valores, o que importa não é o que se faz, o
que se produz, mas o quanto se enrola. É a forma deturpada de olhar, que
acarreta além da inversão de valores, injustiça e uma forma de corrupção nos
pequenos comportamentos sociais.
E isso ocorre não apenas no
serviço público, mas em muitas empresas, principalmente nas gigantescas
multinacionais.
O pior é aquele que faz caridade
e posta no facebook para dizer a todos: “sou bonzinho!”. Não, quem faz caridade
não quer ser reconhecido como bonzinho. Quem faz caridade não quer aparecer.
Quem faz caridade quer simplesmente melhorar, ainda que momentaneamente, a vida
de alguém, e isso é o que lhe faz bem.
O legítimo direito de
manifestação é visto hoje como coisa de vagabundo e de arruaceiro. É fato que
há alguns que cometem excessos, mas o direito de posicionar-se em público faz
parte do processo democrático. Hoje, as pessoas preferem xingar as autoridades
políticas ao invés de reivindicar mudanças. O legal é fazer coro e dar vazão a
toda raiva, o que origina as “reivindicações generalizadas”, se é que podem ser
chamadas de reivindicações, pois não há nada de concreto. É o dizer nada
absoluto, é o contestar absolutamente vazio...
A polícia tem suas atividades
deturpadas por conta de uma sociedade que inverte valores e de governantes que
não têm iniciativa e preferem fazer o que lhe dá maior popularidade. Em
decorrência disso, na prática, ou a polícia age com extremo rigor, de forma
excessiva, ou queda-se inerte, sem ação, fugindo do bom e necessário equilíbrio
nas ações.
E assim caminha a sociedade e a
humanidade, rumo ao seu fim.
A inversão de valores tem
justamente a capacidade de esvaziar o conteúdo social que desde os primórdios une
os homens em busca progresso, equilíbrio, justiça e segurança. Sem essas condições
mínimas, o homem caminhará rumo ao seu próprio fim, com desencontros,
desentendimentos, crises econômicas, ineficiência generalizada, descrença na
sociedade e guerras.