segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A MARCHA DOS ZUMBIS - PARTE III

CARTA MAIOR
Najar Tubino

Modelos extravagantes


Modelos extravagantes imobiliários são uma febre entre os ricos e os muito ricos no Planeta. E atraem emergentes. O Aman Resort, considerado um projeto para os muito ricos (850 apartamentos no mundo, em formato de bangalôs, choupanas ou vilas de arrozeiros na Tailândia), mandou um executivo ao Brasil para vender “villas”, no arquipélago de Turks & Caicos, território britânico no Caribe, que custam entre US$ 9 e 16 milhões, de 4 a 5 quartos, chef de cozinha exclusivo, carrinho de golfe, assessoras para marcar mergulhos e etc. Adrian Zecha, um indonésio, começou o negócio em Cingapura, maior acionista do Aman, diz que se interessou pelo Brasil, quando viu brasileiros pagando diárias entre US$5 e 10 mil em seus resorts.

Não chega nem perto dos US$100 milhões que o bilionários russo Yuri Milner pagou por uma mansão de estilo francês no Vale do Silício (Califórnia), novo recorde de valor para uma casa nos Estados Unidos. O ucraniano Rinat Akhmetov comprou dois dos mais caros apartamentos já vendidos em Londres por US$222,5 milhões. Em Paris, uma princesa do Golfo Pérsico gastou US$96,5 milhões em 2010 por uma mansão com pátio , jardim e capela, na margem esquerda do rio Sena. Como escreveu o comentarista do The Wall Street Journal: “são os estrangeiros milionários aproveitando a queda nos preços dos imóveis dos países ricos”.

A incorporadora e corretora Fortune International investiu no Brasil para vender o edifício de 50 andares, Jade Ocean, com piscinas infinity, cinema prive, área para crianças com mobília Philipe Starck, coberturas duplex custam entre US$2,9 e 5 milhões – 85% dos apartamentos vendidos a estrangeiros.

A vida é uma festa

Também podemos relacionar, não com tanta extravagância, os mais de US$5,9 bilhões que os brasileiros gastaram em 2010 nos Estados Unidos, 423 mil visitaram Nova York, onde gastaram quase 6 mil dólares por cabeça, ocupando a quarta posição entre os turistas globais. Duas coisas chamam a atenção no modelo mundial de consumo. A extravagância registrada pelos emergentes, como bem definiu o executivo do grupo Publicis, recentemente, em visita ao Brasil, Maurice Levy:

- Nesses países temos, normalmente, duas situações distintas. Uma parte da população ainda vive abaixo da linha de pobreza. Mas a fatia que integrou a classe média tem como modelo de consumo o ocidental: eles querem tudo rápido, as últimas marcas, o que está mais na moda, os carros e os relógios mais luxuosos. Nesse caso é uma oportunidade para os anunciantes que é preciso aproveitar”.

E a outra: a mediocridade de copiar tudo dos países ricos e de sua elite. Em Xangai, por exemplo, a Diageo, maior na venda de destilados do mundo (dona da marca de uísque Johnny Walker) reformou um palacete colonial com paredes de cevada e garrafas de uísque. Gastou US$3,2 milhões. Para ensinar os novos bebedores, e também aos barzeiros, como se deve beber o precioso líquido. Incluir chá verde pode. Na China o consumo maior é The Johnny Walker, a garrafa custa 3 mil dólares.Na Índia, a empresa dona da marca Contreau (conglomerado PPR), patrocina eventos sociais, com integrantes da elite de Nova Déli, para divulgar suas bebidas. Um desses promotores, Vikrant Nath, diz que a vida é uma festa, ao receber 25 prósperos profissionais, todos vestidos a moda ocidental, conforme relato da Associated Press, interessados em bebidas finas.

- Queremos saber sobre a boa vida e aprender a receber as pessoas – diz a esposa Akka, na entrada da casa de três andares. Isso inclui aprender mais sobre as grifes de luxo, que são vendidas na Índia. O número de indianos com patrimônio de US$l milhão para investir cresceu 51%, depois da crise de 2008, segundo levantamento da Merryl Linch. São 126 mil pessoas. O produtor Nath faz entre 15 e 20 eventos por mês. A Índia, ainda segundo a agência de notícias é a maior fabricante de bebidas alcoólicas da Ásia produzidas ilegalmente, são 700 milhões de caixas. E uma percentagem de 5% da população (60 milhões de pessoas) são consideradas alcoólatras.

Última tentativa: testosterona

Boomers são os nascidos do pós-guerra, na década de 1950, nos Estados Unidos. Muitos enriqueceram e ficaram conhecidos por seus gastos. Comenta-se que sustentaram as vendas de Mercedez Bens e BMW antes da crise (ma Mercedez vendeu 245 mil carros até 2007). Viraram modelo para os emergentes. Embora um tanto envelhecidos ainda sustentam os gastos de novidades nos Estados Unidos. Nesse caso, da indústria farmacêutica. A última moda da indústria antienvelhecimento é a venda de produtos a base de testosterona (hormônio masculino). As vendas desse segmento chegam a US$80 bilhões. Surgiram problemas com algumas embalagens, como cremes, podem colar em outras pessoas ou diluir na água. É a última tentativa de manter de pé os 70% do consumo, já que a dívida das famílias estadunidenses é quase tão grande quanto a dívida do país – mais de US$13 trilhões.

Os consumidores dos EUA recebiam até 2007, mais de 6 bilhões de cartões de crédito pelo correio.O número caiu para 1,4 bilhão depois da crise. Um dos quatro bancões (Bofa, Citi, Goldman, JP Morgan) anunciava na televisão: “aprovado ao nascer”. Na era do neuromarketing, quando as glândulas sudoríparas dos humanos são monitoradas, e suas áreas cerebrais fotografadas, os consumidores são enquadrados por categorias desde o nascimento: bebê, infantil, pré-adolescente, adolescente, jovem adulto e sênior. Nada escapa. Como acentua Gilles Lipovetsky, no livro “A Felicidade Paradoxal”:

- Enquanto a vida cotidiana for dominada por esse sistema de referência a menos que se enfrente um cataclisma ecológico ou econômico, a sociedade de hiperconsumo prossegue em sua trajetória... antropólogos analisarão no futuro a civilização esclarecida em que o homo sapiens prestava culto a um deus tão derrisório quanto fascinante: a mercadoria efêmera”.

Não deixa de ter razão. A velocidade do crescimento dos shopping no Brasil, futura quinta economia, é impressionante. Em 2008, eram 377. Em 2011, serão 422. Em Porto Velho, capital de Rondônia, onde duas hidrelétricas serão inauguradas a partir do próximo ano colocaram tapete vermelho na inauguração. Tem mais 30 projetos em lançamento no Brasil. Custa em média R$200 milhões a construção de um shopping.

Marcha rumo à felicidade

A China pretende adquirir 200 milhões de carros até 2020, em 2010 produziram 18 milhões. A história universal tem um sentido, diz Gilles Lipovetsky, ela não é mais que o progresso rumo ao infinito da humanidade, a marcha desta rumo à felicidade mais completa.

Cada um escolhe a marcha que acha mais provável. Eric Hobsbawn, historiador inglês, no final de “A Era dos Extremos”, onde analisou os acontecimentos do século XX, incluindo as duas guerras mundiais (50 milhões de mortos) ”se a humanidade repetir o que já fez nos séculos passados e no presente, só tem um futuro: a escuridão”.

Em 1970, quando a NASA lançou o projeto da Estação Espacial Internacional, os cientistas e políticos da época falavam do futuro da humanidade. Em breve os foguetes viajariam rapidamente ao espaço, por preços baratos. A Estação Espacial seria a plataforma para alcançar outros planetas. Quarenta anos depois, ao finalizar o programa do ônibus espacial – 202 bilhões de dólares de custo -, sem contar os US$100 bilhões da própria Estação, o que temos? Cadê os outros planetas. A facilidade da tecnologia que nos levaria ao infinito espacial?

A viagem, agora, custará ao governo dos EUA, nas cápsulas russas da nave Soyus, US$43 milhões por astronauta. A NASA agendou 45 assentos até 2016. O ônibus lançou o telescópio Hubble, que nos deu imagens belíssimas do Universo. Na Estação, experiências importantes, sem gravidade, são praticadas. E o resto? Essa prepotência da tecnologia, o domínio da técnica sobre tudo, se compara a arrogância da economia ortodoxa, responsável pela sustentação desse sistema no Planeta. Quer levar as compras à eternidade, mesmo sabendo com antecedência, que esta marcha pode ser a dos zumbis, fantasmas que vagam pela noite morta, quando o Planeta não suportar mais o peso do modelo.

(*) Najar Tubino é jornalista com mais de 30 anos de carreira. Nos últimos anos tem se dedicado à temática ambiental. É autor do livro O Equilíbrio, publicado em 2005. E-mail: najartubino@yahoo.com.br

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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