terça-feira, 3 de maio de 2011

ENTRE A GRADE E O BUEIRO - PARTE X

Diário Liberdade - Michael Collon
Parte do texto divulgativo de Michael Collon sobre a guerra imperialista contra a Líbia, as suas causas e as pistas para atuar no campo anti-imperialista.
 
Objetivo nº 5: Instalar a OTAN como gendarme da África


Em princípio, pensava-se que a OTAN estava para proteger a Europa contra a "ameaça soviética". Desaparecida a URSS, a OTAN deveria desaparecer também. Mas aconteceu o contrário...

Após ter bombardeado a Bósnia em 1995, Javier Solana, secretário geral da OTAN, declarava: "A experiência adquirida na Bósnia poderá servir de modelo para nossas operações futuras da OTAN". Na altura, eu escrevi: "a OTAN reclama de fato uma zona de ação ilimitada. A Iugoslávia foi um laboratório para preparar próximas guerras. Onde terão lugar?[7]" E avançava esta resposta: "Eixo nº 1: Europa do Leste. Eixo nº 2: Mediterrâneo e Médio Oriente. Eixo nº 3: o Terceiro mundo em geral". Nisso estamos, é o programa que hoje se está realizando.

Desde 1999, a OTAN bombardeava a Iugoslávia. Uma guerra para submeter um país ao neoliberalismo, como vemos. Estudando as análises dos estrategas USA, eu sublinhava então esta frase de um deles, Stephen Blank: "As missões da OTAN serão a cada vez mais "out of area" (fora da zona de defesa). Sua função principal, ser o veículo da integração de regiões a cada vez mais numerosas na comunidade ocidental econômica, de segurança, política e cultural"[8].

Submeter regiões a cada vez mais numerosas ao Ocidente! Então eu escrevi: "A OTAN é o exército ao serviço da globalização, o exército das multinacionais. Passo a passo, a OTAN transforma-se efetivamente em gendarme do mundo"[9]. E indicava os próximos objetivos prováveis: "Afeganistão, Cáucaso, volta a Iraque" Isto para começar.

Hoje que tudo isto se cumpriu, alguns me perguntam: "Tem você uma bola de cristal?". Não é necessária a bola de cristal, basta com estudar os documentos do Pentágono e dos altos despachos de estratégia USA, que nem sequer são secretos, e deduzir e compreender sua lógica.
E esta lógica do Império de fato é muito simples: 1. O mundo é uma fonte de lucros. 2. Para ganhar a guerra econômica tem que ser a superpotência dominante. 3. Para isso, há que controlar as matérias-prima, as regiões e as rotas estratégicas. 4. Toda resistência a esse controle deve ser quebrada: mediante a corrupção, a chantagem ou a guerra, não importa os meios. 5. Para continuar sendo a potência dominante, há que impedir absolutamente os rivais de se aliarem contra o amo

Expansão da OTAN já em três continentes!
Para defender estes interesses econômicos e converter-se em gendarme do mundo, os dirigentes da OTAN semeiam o pânico: "Nosso mundo sofisticado, industrializado e complexo foi assaltado por muitas ameaças mortais: mudança climática, seca, fomes, ciber-segurança, questão energética"[10]. Assim, problemas não militares, mas sociais e ambientais, são utilizados para aumentar o armamento e as intervenções militares.

O objetivo da OTAN de fato é substituir a ONU. Esta militarização do mundo faz nosso futuro a cada vez mais perigoso. E isto a um custo terrível: EUA prevê para 2011 um orçamento militar recorde de 708 mil milhões de dólares. Isto é, 2.320 dólares por habitante. Mais duas vezes do que nos começos de Bush. Além disso, o ministro USA da Guerra, Robert Gates, não cessa de empurrar os europeus para gastarem mais: "A desmilitarizaçã da Europa constitui um obstáculo para a segurança e para uma paz duradoura no século XXI"[11]. Os países europeus tiveram que se comprometer com Washington a não diminuírem suas despesas militares. Tudo em proveito das firmas de armamento.

A expansão mundial da OTAN não tem nada que ver com Kadafi, Saddam Hussein ou Milosevic. Trata-se de um plano global para continuar o domínio sobre o planeta e suas riquezas, para manter os privilégios das multinacionais e impedir os povos de elegerem seu próprio destino. A OTAN protegia Ben Alí, Mubarak e os tiranos da Arábia Saudita, a OTAN protegerá quem vier depois, a OTAN destroçará somente os que se resistirem ao Império

Para chegar a ser o gendarme do mundo, a OTAN avança efetivamente passo a passo. Uma guerra na Europa contra a Iugoslávia, uma guerra na Ásia contra o Afeganistão e, agora, uma guerra na África contra a Líbia. Já vão três continentes! Gostaria de intervir também na América latina organizando manobras na Venezuela faz dois anos. Mas aí, era demasiado arriscado, pois a América Latina está a cada vez mais unida e recusa "gendarmes" americanos.

Por que Washington quer absolutamente instalar a OTAN como gendarme da África? Por causa dos novos relacionamentos de força mundiais analisadas mais acima: EUA em declínio, contestado pela Alemanha, Rússia, América latina e China, inclusive por pequenos países do Terceiro mundo.

Por que não se fala do AFRICOM?

O que mais inquieta Washington é a potência crescente da China. Ao propor relacionamentos mais igualitários aos países asiáticos, africanos e latino-americanos, comprando suas matérias-prima ao melhor preço e sem chantagem colonial, oferecendo créditos mais interessantes, fazendo trabalhos de infraestrutura úteis ao desenvolvimento, a China está lhes oferecendo uma alternativa à dependência de Washington, Londres ou Paris. Então que fazer para contra-arrestar a China?

O problema é que uma potência em declínio tem menos meios de pressão financeira inclusive sobre os países africanos; EUA, portanto, decidiu utilizar sua melhor arma: a opção militar. Convém saber que suas despesas militares ultrapassam os de todos os outros países do globo juntos. Desde faz anos vem avançando seus peões pouco a pouco sobre o continente africano. No 1º de outubro de 2008, montaram o "Africom" (Africa Comand). Todo o continente africano, menos o Egito, ficou sob um único comando USA unificado que reagrupa o US Army, US Navy, o US Air Force, os marines e as "operações especiais" (desembarcos, golpes de estado, ações clandestinas...) A ideia é repetir o mecanismo com a OTAN para apoiar as forças USA.

Washington, que vê terroristas por todas as partes, também os encontrou na África. Como por acaso, nos arredores do petróleo nigeriano e de outros recursos naturais ambicionados. Então, se quiserem saber onde se desenvolverão os próximos episódios de sua famosa "guerra contra o terrorismo", é só buscar no mapa do petróleo, o urânio e ao coltan, e ali o encontrarão. E como o Islã está expandido em numerosos países africanos, entre eles a Nigéria, já têm o próximo palco...

O objetivo real do Africom? "estabilizar" a dependência da África, impedir sua emancipação, impedi-la de chegar a ser um ator independente que pudesse ser aliado com a China e a América latina. Africom constitui uma arma essencial nos planos de dominação mundial dos EUA, que quer poder ser apoiado em uma África e em umas matérias-primas sob seu controle exclusivo na grande batalha que se desatou pelo controle da Ásia e o controle de suas rotas marítimas. Efetivamente, a Ásia é o continente onde se vai jogar, doravante, a batalha econômica decisiva do século XXI. Mas é um bocado duro com uma China muito forte e uma frente de economias emergentes que têm interesse em formar um bloco. Washington quer por isso controlar a África por completo e fechar essa porta aos chineses.

A guerra contra a Líbia é pois uma primeira etapa para impor o Africom a todo o continente africano. Abre uma era não de pacificação do mundo, mas de novas guerras. Na África e no Oriente médio, mas também em torno do Oceano Índico, entre a África e a China.

Por que o Oceano Índico? Porque se olharem um mapa, verão vocês que é a grande porta da China e de toda a Ásia. Portanto, para controlar este oceano, Washington tenta dominar várias zonas estratégicas: 1. Médio Oriente e o Golfo Pérsico, daí seu nervosismo relativamente a países como a Arábia saudita, Iêmen, Bahrein e Irã. 2. O Corno da África, daí a sua agressividade para com a Somália e a Eritréia. Voltaremos mais adiante sobre estas geoestratégias no livro Comprendre le monde musulman: Entretiens avec Mohamed Hassan que estamos preparando para daqui a breve.

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



Postagens populares

__________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
NOTÍCIAS, OPINIÕES, ARTIGOS E MEROS ESCRITOS, POR CYRO SAADEH
um blog cheio de prosa e com muitos pingos nos "is"

___________________________________________________________________________________