segunda-feira, 26 de julho de 2010

E O GAJO FOI PARA PORTUGAL E PERDEU O LUGAR!

internet
Ah, no Brasil tem aquela história de quem vai pra Portugal perde o lugar. Isso se deve a um fato ocorrido com D. Pedro I, que retornou para Portugal para assumir a coroa no continente Europeu. Houve um lapso de tempo até que o seu filho, D. Pedro II, assumisse o trono.
Bem, mas a história não se passa no Império nem com os Dons Pedros, embora a ida a Portugal tenha significado uma verdadeira perda de lugar.
Quem me contou essa história foi um amigo que conheci numa viagem. Depois cheguei a conhecer o casal. Bem, o início e o final vocês saberão depois.
Vou omitir os nomes em razão do sigilo profissional, mas eu tenho certeza de que os envolvidos na história lerão essa crônia. Ah, espero que não fiquem com raiva, mas crônica, é crônica.

Era uma vez, há não muito tempo atrás, em uma terra repleta de cimento e de um tanto de madeira... (bem, o cimento revela os prédios e a madeira as favelas) ... um casal como outro qualquer. O nome deles? João e Maria. Sim, João e Maria, que nem os jovenzinhos do conto que os nossos pais contavam para nós. O lugar? Vocês já devem ter descoberto: São Paulo.

João e Maria, um nome perfeito para um casal, estavam em um relacionamento que os aproximava da corda no pescoço do João e em um dupla viseira na Maria, o casamento. Gosto não se discute, mas eles queriam isso. Mas o Santo de João era forte e o bom senso de Maria era - eventualmente - presente.

João e Maria tinham filhos, mas de outros relacionamentos. Formavam um casal moderno. Ele trabalhava ligado a publicidade e ela a vendas. Era um casal antenado com os mercados e a globalização.

Pensando nesse fato que os ligava, João teve a idéia de presentear Maria com uma viagem a Portugal. Era a celebração do relacionamento rumo ao Casamento.

Portugal, o país dos descobrimentos e dos navegadores era o lugar perfeito para quem gostava de comércio, globalização e mercados. Ao menos era o que pensava o sempre viajante João em relação a ele e a Maria. Bem, viajante no sentido de viver no mundo da lua. Por falar nisso, se ele tivesse ido à lua, talvez não ocorresse o que o destino lhe reservaria em Portugal, até porque na Lua há o São Jorge, que afastaria qualquer dragão ou monstro que ameaçasse a paz, já em Portugal há a Torre de Belém, para ele observar lá de longe o que ocorria do outro lado do Atlântico.

Ah, essa história..

Os pombinhos se prepararam para a viagem e lá estavam no Porto de Santos. Sim, eu não voltei no tempo. Eles eram românticos e pretendiam ir de navio e voltar de avião. Se pudessem voltar de carruagem, pelo o que conheço do casal, eles adotariam sem dúvida alguma a idéia, mas só se fosse carruagem ao estilo bote inflado, onde o casalzinho remasse pelos milhares de quilômetros que separam uma costa a outra.

Maria, morena, estava de branco, linda como sempre. João, mais claro e alto, estava de azul escuro e os dois demonstravam olhares verdadeiramente apaixonados e cúmplices, ao menos é o que pensavam até então.

João quis fazer uma surpresa para Maria, mas só iria mostrar depois do jantar.

O casal sorridente, depois de duas garrafas de vinho italiano, foi cambaleando até a cabine, com a desculpa de que as ondas estavam fortes. João, num súbito de (in)sanidade, abriu a porta, puxou Maria pelo braço, tirou algo do bolso e lançou ao mar e disse: Maria essa primeira pedra que lancei serve para mostrar como devemos fazer para voltar, para que não nos percamos do destino nem um do outro. Maria olhou, deu um beijo, estava para lá de Bagdá, ou melhor, Santos, e caiu na cama. João continuou a olhar o mar e a lançar as pedras. Em apenas 15 minutos ele jogou todas as pedras que havia guardado até então. Bem, eram muitas, umas quinhentas, pequenas, obviamente, e seriam jogadas uma a uma, aos poucos, durante todo o trajeto. Mas o vinho, com o balançar das ondas, avinagrou o cérebro de João e aí ele não se achou mais. Talvez por isso pudesse ocorrer dele não mais achar a volta para a casa. Enquanto isso, Maria era só sorrisos e roncos na cama.

Nos dois primeiros dias de viagem, tudo foi festa regada a muito vinho. Nos dois seguintes, foram dias de infecções intestinais e muitos remédios. Nos dois últimos, de vontade de um não olhar mais para o outro. Estavam literalmente enjoados um do outro, e isso porque a viagem de 20 dias mal havia começado.

João e Maria realmente não se falaram mais até aportarem em Porto. O porto ficava em Porto,  uma grande cidade ao norte de Portugal, onde chove muito e faz um clima até que frio. Ao chegarem lá, Maria virou para o João e pediu que carregasse a sua mala. Educado, ele se prontificou a carregar a dela, a dele, as compras que ela fez e mais os casacos dela, a máquina fotográfica... Bem, é melhor eu parar, pois até eu estou ficando nervoso com isso.

Encurtando o caminho, a história e o tempo, João e Maria não saíram de Lisboa. Brigaram. Ela fez as malas, pediu gentilmente que ele as carregasse, juntamente com os seus casacos, as compras e a máquina fotográfica e mais.... Ele carregou. Sairam lágrimas dos olhos de ambos, mas eram orgulhosos. Ela olhou para ele e disse que não estaria mais disponível. Ele achou estranha aquela frase. entendeu como se já tivesse alguém na fila à espera da vaga...Olhou torto para ela e disse: Maria, quando chegar lá me ligue para conversarmos. E foi o que ela fez.

No telefone tudo ia bem até que João leu um e-mail de Maria que dizia que estava carente e com saudades. Como estava economizando nas ligaçoes, João achou que o motivo poderia ser esse, as poucas vezes que ligava, e começou a ligar mais, para suprir a carência da mulher que ele amava. Mas aí a história toma um rumo que ninguém poderia imaginar. Maria não atendia nenhuma ligação, descaradamente. Não atendia as ligações de casa, do trabalho nem do celular, o que deixou João preocupado, tanto que saiu correndo da cabine (telefônica), de onde fazia as ligações, para ir a um computador em frente e escrever  um e-mail contando o ocorrido, e a Maria, com a maior cara de pau, respondeu que não atendeu porque não sabia quem era. Isso irritou profundamente o João que se pôs a ligar para o trabalho dela insistentemente, até que, passados alguns minutos, ela atendeu nervosa gritando: Diga, João! João, surpreso, disse: Maria, sem me identificar você acertou que era eu, e como dizia que não me identificava antes e por isso não atendia? Maria calou-se por alguns segundos e retrucou: Preciso trabalhar, não tem mais o que fazer? Mas, Maria, você não está com saudades?, perguntou João. Estava, João, estava. Não me procure mais, entendeu? respondeu secamente Maria, que desligou em seguida.

João, que nem conhecia a Maysa, viu o mundo dele cair (Maysa era uma brasileira cantora cujo maior sucesso foi a canção "Meu mundo caiu"). Chorou, foi o que ele me confessou e o que presenciei. A história da viagem acaba aqui, pois foi nesse instante, vendo esse patrício chorando que o conheci no posto telefônico com internet. O convidei para tomar um café, tentei fazê-lo sorrir, mas ele parecia um verdadeiro português, triste... Foi difícil elevar o astral desse meu amigo. Teve um momento que ele ficou mudo por mais de 15 minutos. Fiquei constrangido, pois percebi que ele precisava de silêncio. Nesse instante passou uma loira estilo mineira (e era mineira) que muito me interessou, juntamente com uma outra morena, ao estilo capixaba (e era mineira) que, quando ele percebeu, logo despertou-lhe interesse. Foi aí que o vi sorrir.

O tempo passou, ele voltou para o Brasil de avião, e adivinhem quem foi ao lado dele? A super morena mineira. De S. Paulo ela pegaria uma conexão para Belo Horizonte, onde dormiria na casa da sua irmã. Ele sabia disso, mas não sentiu necessidade ou vontade de trocar telefones. Tudo acabou no próprio aeroporto. A morena, que tinha um estilo de Juliana Paes, compreendeu o momento do João e se despediu. Trocaram abraços, apenas.

É, o João estava triste, mesmo. E eu só voltaria 10 dias depois e não estava com o meu amigo nesse momento, infelizmente.

Quando chegou no Brasil, João pôs-se a ligar para a Maria, mas não é que não atendiam na casa dela e o celular havia mudado de número? No trabalho também não atendiam, pois o identificavam pelo bina. Ele não se conformou. Estava tudo planejado. Ele perdeu o lugar. Sim, era motivo de felicidade, não acham? Quem ia botar a corda no pescoço não era ele, mas algum outro com quem ela devia estar saindo há um tempo. E a Maria? Ah, para ela ter viseira em ambas as laterais da vista não seria problema, pois ela não olhava por onde pisava e se olhasse não iria entender o significado.

Ah, mas como eu a conheci? Passados alguns dias da minha volta, eu marquei um encontro com o João e levei o telefone da morena, que a Janaina, a loira, havia me passado. Ele pegou, guardou no bolso, com cara de relativa felicidade, e me mostrou as fotos da viagem, onde estava a ex dele. Eu olhei e não acreditei! Eu a conhecia. Ela era rolo de um amigo de um amigo meu que eu havia visto em uma festa. Perguntei a profissão dela e tudo batia. Aí não aguentei e contei: João, a sua história não foi a primeira. Essa mulher gosta de se livrar dos ex em viagens. Há uns bons anos ela namorava há tempos um cara, planejou viagem com ele, voltou antes e deu um sumiço. Dias depois estava tranquila com o amigo de um amigo meu, com quem ela ficou por um bom tempo, mas só como "ficantes".

Ele olhou para mim, espantado. Abaixou a cabeça e minutos depois começou a gargalhar... Estava feliz, pois tinha se livrado de algo que poderia ter sido pior. Imaginou se estivessem casados? Se tivessem filhos juntos? Se morassem juntos? Como ficariam as crianças e as famílias?

Aí, como era de se esperar, João emendou: É, meu amigo, fui para Portugal e perdi o lugar.

É, João. Você perdeu o lugar, mas não a razão!, disse.

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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