Numa livraria, alguns dizem que descobrem mundos e sonhos. No meu caso, recentemente descobri historias reais, cruéis e tristes.
Foi em Montevideu. Ano de 2015, as vésperas do presidente Pepe Mujica passar o cargo para Tabares Vasques.
Estava procurando livros usados sobre as ditaduras no Cone Sul. Foi só expor o tema que buscava que o livreiro se transformou em um mestre de história.
Exilado político, líder estudantil na juventude, o senhor de terno, com mais de sessenta anos e cabelos tingidos de preto, esclareceu muitas coisas sobre a politica passada e atual, inclusive do Brasil.
E olha que entendo um pouco do que aconteceu nesse nosso continente na segunda metade do século passado.
Não sabia que o Brasil por muito pouco não invadiu o Uruguai nos anos 70, devido ao sequestro de seu embaixador no país vizinho. E contava com o aval do Tio Sam.
Também desconhecia que muitos latino americanos sempre acreditaram haver uma forte tendência fascista no nosso País.
O que mais me fascinou foi a visão clara, arejada e humanista que esse senhor expôs sobre o que deve representar a esquerda atual.
Preocupação com o ser humano e as minorias é o básico para que se tenha visão esquerdista, mas sem se esquecer dos anseios da atualidade e da ética. Como disse esse uruguaio, a esquerda não foi feita para ocupar o poder e se corromper, como todos. Cabe à esquerda propor a utopia, os ideais e lutar pela sua implementação. E se vier a ocupar, deve sair logo, para evitar também a corrupção do sentimento daquilo que defende.
Não precisava dizer mais nada.
O PT fez bobagens e o PSDB também fez as suas e esqueceu muito daquilo que defendia. Esquerda? Nos restam poucos partidos. A maioria prega muito e faz quase nada.
Uruguai. Livraria de usados. Dos sonhos para a realidade em um passo. Isso é história que saltou da narrativa dos livros para uma aula repleta de atualidades.