domingo, 24 de abril de 2011

ENTRE A GRADE E O BUEIRO PARTE 1

Diário Liberdade Michael Collon
parte do trabalho do escritor, jornalista e analista político marxista belga Michael Collon, sobre a verdade oculta atrás da Guerra da Líbia.


Perguntas que há que colocar em cada guerra

27 vezes. Vinte e sete vezes os EUA bombardearam algum país desde 1945. E a cada vez tem-se-nos afirmado que estes atos de guerra eram "justos" e "humanitários". Hoje dizem-nos que esta guerra é diferente das precedentes. O mesmo que se disse da anterior. E da anterior. E da cada vez. Não é hora já de pôr negro sobre branco as perguntas que há que se colocar em cada guerra para não se deixar manipular?
Para a guerra há sempre dinheiro?

No país mais poderosos do globo, 45 milhões de pessoas vivem abaixo do limiar da pobreza. Nos EUA, escolas e serviços públicos estão ruindo porque o Estado "não tem dinheiro". Assim também na Europa, "não há dinheiro" para as pensões ou para a promoção do emprego.

Mas quando a cobiça dos banqueiros provoca a crise financeira, então, em só uns dias, aparecem milhares de milhões para os salvar. Isto permitiu aos banqueiros dos EUA repartirem no ano passado 140 mil milhões de dólares de lucros e bónus aos seus acionistas e especuladores.

Também para a guerra parece fácil encontrar milhares de milhões. Ora bem, são os nossos impostos que pagam estas armas e estas destruições. É razoável converter em fumaça centenas de milhares de euros em cada míssil ou esbanjar cinquenta mil euros por hora de um portaviões? Ou será porque a guerra é um bom negócio para alguns?

Ao mesmo tempo um menino morre-se de fome a cada cinco segundos e o número de pobres não cessa de aumentar no nosso planeta apesar de tantas promessas.
Qual a diferença entre um líbio, um bareinita e um palestino?
Presidentes, ministros, generais, todos juram solenemente que o seu objetivo é unicamente salvarem os líbios. Mas, ao mesmo tempo, o sultão do Barein esmaga os manifestantes desarmados graças aos dois mil soldados sauditas enviados pelos EUA! Ao mesmo tempo, no Iêmen, as tropas do ditador Saleh, aliado dos EUA, matam 52 manifestantes com suas metralhadoras. Estes fatos ninguém os põe em dúvida, mas o ministro dos EUA para a guerra, Robert Gates, acabou de declarar: "Não acho que seja o meu papel intervir nos assuntos internos de Yemen"1.
Por que estes dois pesos e duas medidas? Por que Saleh acolhe docilmente a 5ª Frota dos EUA e diz sim a todo o que Washington ordenar? Por que o regime bárbaro da Arabia Saudita é cúmplice das multinacionais petrolíferas? Será que existem "bons ditadores" e "maus ditadores"? Como EUA e França podem se pretender "humanitários"? Quando Israel matou dois mil civis nos bombardeios sobre Gaza declararam uma zona de exclusão aérea? Não. Decretaram alguma sanção? Nenhuma. Ainda pior, Solana, então responsável pelos Assuntos Exteriores da UE declarou em Jerusalém: "Israel é um membro da UE sem ser membro das suas instituições. Israel é parte ativa em todos os programas" de investigação e de tecnologia da Europa dos 27. Acrescentando ainda : "Nenhum país fora do continente tem o mesmo tipo de relacionamentos que Israel com a União Européia". Neste ponto, Solana tem razão: A Europa e os seus fabricantes de armas colaboram estreitamente com Israel na fabricação de 'drones', mísseis e outros armamentos que semeiam a morte em Gaza.

Recordemos que Israel expulsou 700 mil palestinos das suas aldeias em 1948, se nega a lhes devolver os seus direitos e continua cometendo inumeráveis crimes de guerra. Sob esta ocupação, 20% da população palestiniana atual está ou passou pelas prisões israelitas. Mulheres grávidas foram obrigadas a darem a luz atadas à cama e reenviadas imediatamente às suas celas com os seus bebês. Esses crimes são cometidos com a cumplicidade dos EUA e a UE.

A vida de um palestino ou de um barenita vale menos do que a de um líbio? Há árabes "bons" e árabes "maus"?

Para os que ainda acreditam na guerra humanitária...

Em um debate televisado que tive com Louis Michel, antigo ministro belga dos Assuntos Exteriores e Comissário Europeu para a Cooperação no Desenvolvimento, este me jurou, com a mão no peito, que esta guerra tencionava "pôr de acordo as consciências da Europa". Estava apoiado por Isabelle Durant, dirigente dos Verdes belgas e europeus. Assim é como os ecologistas "peace and love" mutaram em belicistas!

O problema é que a cada vez nos falam de guerra humanitária e que gente de esquerda como Durant se deixam pegar a cada vez. Não fariam melhor em ler o que pensam os verdadeiros dirigentes dos EUA em vez de olhar e escutar a TV? Ouçam, por exemplo, a propósito dos bombardeios contra o Iraque, o célebre Alan Greenspan, durante muito tempo diretor da Reserva federal dos EUA. Escreve nas suas memórias: "Sinto-me triste quando vejo que é politicamente incorreto reconhecer o que todo mundo sabe: a guerra no Iraque foi exclusivamente pelo petróleo"2. E acrescenta: "Os oficiais da Casa Branca responderam-me: "pois efetivamente, infelizmente não podemos falar de petróleo"3.

Escutem, a propósito dos bombardeios sobre a Jugoslávia, John Norris, diretor de comunicações de Strobe Talbot que por então era vice-ministro dos EUA dos Assuntos Exteriores encarregado para os Balcãs. Norris escreve nas suas memórias: "O que melhor explica a guerra da OTAN é que a Jugoslávia se resistia às grandes tendências de reformas políticas e económicas (quer dizer: negava-se a abandonar o socialismo), e esse não era o nosso compromisso para com os albaneses do Kosovo.4

Escutem, a propósito dos bombardeios contra o Afeganistão, o que dizia o antigo ministro de Assuntos Exteriores, Henri Kissinger: "Há tendências, sustentadas pela China e pelo Japão, para criar uma zona de livre-câmbio na Ásia. Um bloco asiático hostil, que combine as nações mais povoadas do mundo com grandes recursos e alguns dos países industriais mais importantes, seria incompatível com o interesse nacional americano. Por estas razões, a América deve manter a sua presença na Ásia".5

O que vinha a confirmar a estratégia avançada por Zbigniew Brzezinski, que foi responsável pela política exterior com Carter e é o inspirador de Obama: "Eurasia (Europa+Ásia) é o tabuleiro sobre o qual se desenvolve o combate pela primacia global. (?) A maneira como os EUA "manejam" a Eurasia é de uma importância crucial. O maior continente da superfície do globo é também seu eixo geopolítico. A potência que o controlar, controlará de fato duas das três grandes regiões mais desenvolvidas e mais produtivas: 75% da população mundial, a maior parte das riquezas físicas, sob a forma de empresas ou de jazidas de matérias-primas, 60% do total mundial".6

Nada se aprendeu na esquerda das falsimídias humanitárias das guerras precedentes? Quando o próprio Obama o diz também não acreditam nele? Este mesmo 28 de março, Obama justificava assim a guerra da Líbia: "Conscientes dos riscos e das despesas da atividade militar, somos naturalmente reticentes a empregar a força para resolver os numerosos desafios do mundo. Mas quando os nossos interesses e valores estão em jogo, temos a responsabilidade de atuar. Vistos os custos e riscos da intervenção, temos que calcular a cada vez os nossos interesses ante a necessidade de uma ação. A América tem um grande interesse estratégico em impedir que Kadafi derrote a oposição". Não está claro? Então alguns vão e dizem: "Sim, é verdade, os EUA não reagem se não virem nisso o seu interesse. Mas ao menos, já que não pode intervir em todos os sítios, salvará àquela gente" Falso. Vamos demonstrar que são unicamente os seus interesses os que procura defender. Não os valores. Em primeiro lugar, a cada guerra dos EUA produz mais vítimas que as que anterior (um milhão no Iraque, diretas ou indiretas). A intervenção na Líbia, prepara-se para produzir mais...

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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