quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

UM CONTO DE NATAL

Poderia ser um conto de Natal, mas é um retrato genérico do cotidiano urbano brasileiro.

Lá naquelas casas embaralhadas e feias, retrato de Canudos e propositalmente denominadas favelas, viviam muitas famílias pobres sem acesso à educação, saúde e dignidade humana. Mesmo assim, a maior parte dessas pessoas tinha muita fé e freqüentava Centros religiosos da mais ampla diversidade.
Em uma certa noite, com o céu bastante estrelado, nasceu uma criança. Era mês de abril, mas por um erro cartorário registrou-se o nascimento em dezembro, 25 de dezembro.
Esse menino, cujo apelido era “Cris”, cresceu e ainda pequenino trabalhava com o pai e colaborava com atividades domésticas em casa. Era uma criança exemplar, bonita e miúda, repleta de energia.
Havia um pastor da Igreja que freqüentava a casa dos Nazaré e lhes passava alguns ensinamentos que os humanos insistem em dizer que são religiosos. Para Cris era um aprendizado eterno.
Na casa dos Nazaré tinha quatro cachorros que foram pegos na rua. Um era manco, outro cego, outro não andava de tão doente e o último mal tinha pelos. A família também criava um gato vira-lata. E tudo em um verdadeiro cubículo, um espaço muito reduzido e sem conforto.
A família era muito humilde e tinha dias em que sequer havia comida suficiente para todos os habitantes daquele pequeno quadrado, mas eram felizes, solidários e amorosos.
Num certo dia, às vésperas do Natal, quando Cris já era crescido, resolveram passear por uma grande avenida, repleta de prédios grandiosos e com uma bela arquitetura.
Pai, mãe e filho ficaram maravilhados com as luzes de Natal e com o movimento de carros enormes e luxuosos. Todos tiravam fotos, menos os Nazaré, que não tinham dinheiro para comprar equipamentos desse tipo e preço.
Fascinados pela decoração natalina, tentaram adentrar em uma Igreja, mas ela estava reservada para um evento de um milionário e dois seguranças barraram os Nazaré ainda na escadaria, pois estavam muito mal vestidos. Foram expulsos do templo religioso.
Tristes e silentes, os três membros daquela família desceram os degraus e viram do outro lado da rua um mendigo, que carregava trapos escuros e sujos, cantando. Observaram encantados o entusiasmo e a alegria daquele humano, sem entender o motivo. Ninguém mais olhou ou apreciou. Pessoas no interior dos carros fechavam os vidros, com medo. Policiais passavam sem perceber o momento mágico. Mas os Nazaré atravessaram a avenida e ovacionaram o sujeito que, sem entender, baixou a cabeça e saiu andando silenciosamente. Eles sorriam.
Já estava tarde e necessitavam voltar para casa. Nesse momento viram um filhotinho de cachorro olhando amorosamente para eles. Cris, ainda menino, sentou-se e parou para refletir sobre aquela noite mágica. Percebeu ainda naquele instante que a casa dele era muito maior que aquele simples barraco, que a sua família era muito maior que um pequeno grupo de pessoas “escolhidas”, que a vida tinha um sentido muito mais simples do que as pessoas comuns seriam capazes de enxergar e que para ser feliz é necessário que não se criem construções artificiais nos corações e mentes. Esboçou um sorriso, pegou a mão de sua mãe e de seu pai e entrou naquele casebre simples.
O futuro de Cris não vem ao caso, mas mesmo pobre, ele foi considerado por muitos um sábio, por outros um profeta e por muitos o mensageiro das palavras de Deus, simplesmente porque entendeu o sentido da vida.
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Cyro Saadeh é jornalista e escritor

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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