sexta-feira, 30 de setembro de 2011
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
NAZISTAS, SOVIÉTICOS E ESTADUNIDENSES. O MUNDO DELES TÊM TANTAS DIFERENÇAS ASSIM?
Muitos de nós comemora o fato dos Estados Unidos e União Soviética terem sido os grandes vencedores da 2ª Guerra Mundial. Será que eles são tão melhores que os nazistas? Será que há tantas diferenças assim?
Quantos milhões de pessoas Stalin matou? Quantas mortes as guerras provocadas pelos Estados Unidos no mundo afora causou? Quantos países foram invadidos pelos Estados Unidos e pela União Soviética? Quantas vezes os Estados Unidos desafiaram a comunidade das nações (ONU)? Quantas vezes os Estados Unidos desrespeitaram tratados de Direitos Humanos? Quantos homens já foram executados pela Justiça estadunidense? Quantos negros, judeus, muçulmanos e árabes já foram assassinados dentro dos Estados Unidos? Quantos povos tiveram a sua liberdade cerceada com o apoio expresso dos estadunidenses?
É, reconheço que há uma grande diferença entre os nazistas e os novos imperialistas (atualmente os Estados Unidos). Os primeiros não tinham a mínima intenção de posar de bons moços. Faziam atrocidades e não as escondiam. Os Estados Unidos, por sua vez, posam de libertários e contam inverdades absurdas para justificar o injustificável, praticando atrocidades talvez ainda maiores que a dos nazistas.
Chegou a hora de uma nova ordem mundial. Que os BRICSs tragam isso à humanidade!
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
DOIS ANOS DA PERDA DO RENATÃO
Hoje faz dois anos que um grande e importante amigo deixou de estar presente. Antes, risonho e divertido, não está mais a rir, a brindar, a contar piadas e contagiar com a sua alegria sem fim. Está em uma dimensão que não conhecemos e é melhor que não conheçamos tão cedo.
terça-feira, 27 de setembro de 2011
ADIAMENTO DO VÍDEO
Havia programado realizar um documentário em 2010 sobre o que sobrou de Canudos: as melhores histórias orais brasileiras e talvez as melhores do mundo, repletas de emoção, sutilezas e encantamento. Infelizmente não foi possível sequer dar andamento ao projeto que reunia até entãoapenas um pré-roteiro e muita paixão. O trabalho ao final de 2008 e por todo o ano de 2009 não me permitiu mais trabalho ou mais sonhos. Mas o projeto está aí. As Crianças da Guerra ou Os Filhos da Guerra não morreram e não morrem. Esses misteriosos heróis que sobreviveram ao descaso histórico e social têm muito a nos ensinar. Afinal, só eles sabem como ser herói silenciosamente e dar ao Brasil histórias de vida de bravura e sabedoria espiritual, mesmo sem ostentar títulos escolares. São grandes histórias de brasileiros esquecidos que não se esqueceram de nos ensinar coisas básicas que não vemos mais nesse mundo tão materialista: sabedoria, simplicidade,encantamento e bravura. O que nos emociona? A fala, a fala deles mesmos ao relatar causos, os mais simples, os mais corriqueiros, os mais surpreendentes, os mais visuais e mágicos. E essa bravura não é dada por guerrear, mas por lutar pela sobrevivência aliada a uma vida simples e repleta de importantes prazeres, os maiores prazeres. Bravos brasileiros bravos, um dia farei um documentário em reconhecimento da bravura, grandeza e importância de ainda existirem esses sertanejos resistentes, que resistem ao esquecimento, à exploração humana travestida de sistema econômico, ao consumismo impensado e suicida daquilo que nos fazem julgar como belo e à insensatez da vida mantida a base de remédios que faz ver oásis no deserto que criaram em nossas almas. É o contraponto da globalização e o fio da meada para o nosso autoconhecimento como povo mestiço, explorado e tão ligado às simplicidades e belezas exóticas da natureza. É um sonho que ainda não pode ser realizado. Se me frustrei? Sim, foi inevitável, mas não desisti. Aprendi com esses bravos a persistir, a continuar a sonhar e a sorrir diante dos contratempos e os exércitos de seres quase desumanos que impensadamente massacram o pouco de poesia que a natureza preservou para o nosso bem-estar físico, mental e espiritual. Essas histórias não são grandiosas como a Odisséia, mas retratam a sobrevivência, a dignidade, a sabedoria, o amor, o encantamento e a poesia de um povo - brasileiro - em cada letra, som e suspiro. O motivo do título? Nos fizemos povo aprendendo com as guerras e os massacres ocorridos ao longo da colônia, império e república, às injustiças do passado e do presente. Hoje, sem guerra física, mas com tantas injustiças que ainda massacram sonhos, esperanças e dignidade, os filhos da guerra aprenderam a ser bravos, como nós deveríamos ser. Os esquecidos filhos da guerra ainda têm muito a dizer.
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
AS CRIANÇAS DA GUERRA
Até um ano atrás eu poderia dizer: "Surpreenda-se. O projeto está tomando forma e em breve, através da linguagem da internet, você poderá tomar contato com AS CRIANÇAS DA GUERRA".
Hoje este projeto também foi adiado, mas não abandonado.
Hoje este projeto também foi adiado, mas não abandonado.
domingo, 25 de setembro de 2011
sábado, 24 de setembro de 2011
Exageros nos traços
Para mim, Deus é um grande cartunista e artista que enxerga traços exagerados que se tornam relativos diante da beleza harmônica do Universo
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
TIPOS DE OLHARES
As feridas abertas são as que mais atormentam, pois trazem à tona a dor sofrida. Podemos nos calar diante do presente e resignarmo-nos. Também podemos olhar ao redor e visualizar o horizonte nunca enxergado. Cabe a nós escolher o tipo de olhar perante a realidade: o egocêntrico e o comum ou o desbravador, também chamado de louco ou lunático.
Todos os grandes cientistas e intelectuais se destacaram pela excentricidade, pela diferença de ação e de compreensão.
Todos os grandes tiranos aproveitam-se do discurso fácil para amealhar simpatizantes e impor desumanidades. Não utilizam o olhar desbravador. Na verdade, os ditadores são, em regra, grandes conhecedores do olhar comum e egocêntrico, tendo por isso grande facilidade de convencimento da massa.
Os olhares nos impõem a realidade. Cremos no que conseguimos enxergar, limitando-nos a compreender apenas o que todos já conhecem ou têm capacidade de conhecer. Somos arrogantes e cremos que a nossa inteligência é suprema.
Somos tão arrogantes que não acreditamos na existência de vida inteligente fora do planeta terra. Nessa imensidão do universo não dá para acreditar que há apenas os humanos para brilhar no reino animal.
Também somos tão arrogantes que cremos apenas na vida que compreendemos: do nascimento à morte e apenas isso. Ao contrário das religiões primitivas, não acreditamos em reencarnação. Vivemos, na verdade, sob a influência da maior religião de todas e da que mais tem fiéis: a religião do capital, do dinheiro. Temos que viver o hoje, consumir compulsivamente e sorrir freneticamente. Somos seres infelizes que não enxerga o império do consumo.
Não enxergamos a Deus, mas ao capital, àquilo que poderia ser definido como bezerro de ouro. A religiosidade? Isso é assunto ultrapassado. O moderno e Cult é “viver”, consumir, sorrir compulsivamente, ostentar e ter uma série de conhecidos. Amigos? São amigos até que não precisemos mais deles. Consumimos tudo, até as relações e os humanos envolvidos.
Esse olhar? É o olhar pequeno, que não observa a natureza, mas apenas o que quase todos veem: a criações humanas, quase sempre tão desnecessárias, mas presentes, como se fossemos seres superiores aos que coabitam conosco neste desconhecido universo.
Afinal, para que olhar, se hoje em dia o que importa é ser visto, não é mesmo?
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
A NOVA BATALHA PELA LÍBIA
Enquanto os problemas militares e políticos recebem grande parte da atenção na construção da paz na Líbia, a economia pós-conflito permanece como um assunto secundário pouco abordado nas análises e informações presentes na mídia. No entanto, são justamente as dimensões econômicas que se mostram cruciais durante o período de transição em que se espera o desarmamento e desmobilização dos beligerantes em troca da promessa de um futuro melhor em conseqüência da paz. Como o Ministro de Relações Exteriores francês, Alain Juppe, afirmou: “A operação na Líbia teve custos elevados; mas é também um investimento no futuro, pois uma Líbia democrática é um país que se desenvolverá e oferecerá estabilidade, segurança e desenvolvimento na região”.
Na perspicaz observação de Rachel Shabi (Al Jazeera 25/08/2011) à medida que a ditadura do coronel Kadafi chega ao seu final, as notícias sobre a Líbia vão progressivamente aparecendo nas páginas de Negócios e Empresas dos jornais ocidentais. Líderes empresariais europeus, com experiência em negócios na Líbia, já manifestam explicitamente sua cobiça. A Líbia é um dos países mais ricos da região: seu PIB per capta é de 14 mil dólares por pessoa, ultrapassando o de seus vizinhos Egito e Tunísia. A riqueza do país é conseqüência de suas reservas de petróleo que, apesar de representarem apenas 2% da reserva mundial, é de grande importância para potências européias, como Itália e França, e afeta diretamente os preços do petróleo.
Os investimentos diretos estrangeiros no país apresentaram um crescimento relevante na última década: em 2000, foram investidos US$451 milhões; em 2008, US$ 12 bilhões; em 2009, US$ 15,5 bilhões e em 2010, US$19,36 bilhões. Dias antes dos protestos atingirem as ruas da Líbia, o FMI publicou um informe parabenizando “o forte empenho da Líbia na economia e os avanços em reforçar o papel do setor privado e em apoiar o crescimento da economia não petrolífera”. Um dos líderes do Conselho Nacional de Transição (CNT), Mahmoud Jibril, foi um dos formuladores da política de liberalização da economia na Líbia que teve início em 2007. Apesar dessas mudanças, a economia da Líbia esteve sempre concentrada em Kadafi e seu círculo de poder, incluindo aí as empresas italianas, inglesas e francesas. No encontro em Paris, nesta última semana, que reuniu 42 países para discutir a reconstrução da Líbia, o Conselho afirmou, diversas vezes, a seus parceiros da OTAN e outros países presentes que a Líbia se tornará um país democrático, transparente e de mercado competitivo.
Mesmo antes do termino do conflito, a corrida por negócios na “nova” Líbia já havia se iniciado. Desde junho, indústrias petroleiras francesas, italianas e alemãs – todas apoiadas por membros de seus governos - visitaram a Líbia com objetivo de futuros negócios e acordos com o novo governo. Os investidores franceses, assim como os alemães, agendaram reuniões de negócios com os rebeldes em suas capitais, durante o mês de setembro e outubro, para estabelecer negócios e doações para a reconstrução da Líbia. Durante esta semana, o Ministro de Desenvolvimento Internacional inglês, Alan Duncan, sofreu acusações de ter estabelecido secretamente um contrato de 1 bilhão de dólares entre os rebeldes líbios e a multinacional suíça Vitol para exploração de petróleo na região.
Os interesses econômicos envolvidos na intervenção da Líbia não dizem respeito apenas aos contratos para extração de petróleo, mas também para a reconstrução do país após o conflito, sob o argumento da necessidade de modernizar sua infra-estrutura e regularizar seu comércio.
Em Paris, no encontro dos amigos do novo governo da Líbia, promovido pela França, o CNT pediu para a ONU liberar os fundos de Kadafi (US$ 150 bilhões), congelados por sanções ao seu regime. “Nós nos comprometemos a desbloquear fundos da Líbia do passado para financiar o desenvolvimento da Líbia do futuro”, afirmou Sarkozy. De acordo com um oficial norte-americano, os 61 bilhões de dólares contidos nos fundos poderão financiar toda a reconstrução do país. Mais do que uma conferência de doadores, o encontro tornou-se um momento de estabelecimento de contratos.
No mesmo dia do encontro, os EUA transferiram 300 milhões de dólares, dos fundos retidos em bancos norte-americanos, para a companhia multinacional Vitol pelo apoio prestado aos rebeldes. Uma semana antes, a França fechou um acordo com os rebeldes para que alimentos e gêneros de primeira necessidade fossem comprados apenas de empresas francesas com o dinheiro dos fundos bloqueados nos bancos franceses (US$ 7,5 bilhões), que acabará voltando para a economia francesa. Na semana passada, por exemplo, o CNT comprou 44 milhões de dólares em trigo francês.
Já em 1998, Larry Summers, então secretário das Finanças do governo norte-americano, sinalizava a importância econômica que o processo de reconstrução dos países adquiria dentro das chamadas intervenções humanitárias. Segundo seus cálculos, a cada dólar investido na reconstrução em um país, as corporações norte-americanas ganhavam, aproximadamente, 4 dólares. Assim aquilo que aparecia, inicialmente, como um grande fracasso da Otan agora passa a ser saudado como uma “boa guerra”. Segundo o influente analista internacional da CNN Zakariaa, trata-se de uma ação militar que não seguiu o padrão tradicional de intervenções lideradas pelos EUA e pode inaugurar “uma nova era na política externa dos EUA”.
A Otan entrou na guerra apenas no momento em que pode constatar a existência de um grupo local que estava disposto a lutar e morrer; a ação foi legitimada pela Liga Árabe e pela ONU, e o mais importante, conclui Zakaria, é uma grande melhoria em relação ao antigo modelo que acarretava custos humanos e financeiros muito grandes.
A partir de agora é que realmente tem inicio a verdadeira e mais difícil batalha que os revolucionários líbios deverão travar.
terça-feira, 20 de setembro de 2011
Onze de setembro: dez anos depois
José Farhat
ICARABE
Logo após o ataque às Torres Gêmeas, em 9 de setembro de 2001, e até há poucos anos depois, quem ousasse interromper um jogo de gamão ou a baforada de um narguilé, em qualquer café de Beirute ou Clube de árabes em São Paulo e perguntasse quem foi o autor do atentado, é provável que ouvisse uma quase unânime resposta: “C.I.A. e Mossad”! Escrevemos um relato intitulado Onze de Setembro Sete Anos Depois, em 11/09/11, dando conta desta linha de pensamento árabe e também muçulmano, por andarem em paralelo.
Hoje, no entanto, já não se atribui este ato terrorista às duas agências de inteligência e sim a seus reais autores: al-Qaida e seus pupilos. Alguma insistência naquela errônea versão ainda ocorre, tal como existem pessoas que ainda consideram uma farsa televisiva a chegada de Neil Alden Armstrong à lua e seu pronunciamento em nome da humanidade.
A grande maioria de árabes e muçulmanos nunca apoiou a al-Qaida e sobretudo o crime que cometeu em território estadunidense, salvo as desprezíveis exceções de sempre que se manifestaram em 2001. Boa parte destes segue atualmente a mesma linha traçada por Peter L. Bergen, em seu livro The Longest War: The Enduring Conflict Between America and Al-Qaeda [A mais longa guerra: O conflito duradouro entre América e al-Qaida] no qual é analisado o sentido do que ocorreu naquele dia nefasto, mas também as consequências daquela agressão desumana, entender a guerra no Afeganistão, a ocupação do Iraque, as relações perturbadas dos Estados Unidos com o Paquistão, as perspectivas do relacionamento entre árabes e muçulmanos com o chamado Ocidente, liderado pelos Estados Unidos, às vezes ocultados pela couraça da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), as torturas cometidas e os programas de remessa às escondidas de prisioneiros a outros países para que fossem cruelmente interrogados e às vezes até eliminados e a caça e a morte de Bin Laden.
Seguindo Bergen, analista de segurança nacional da Rede CNN e diretor de estudos de segurança da New American Foundation que coletou dados junto a autores e organizações, fizemos o mesmo, salvo por uma única exceção, procuramos trazer para este estudo a opinião de não árabes e não muçulmanos. A bem da verdade, Bergen chegou a ser criticado pelo establishment estadunidense, à falta de outra desculpa, por não ter dado maiores detalhes sobre o Afeganistão.
Aquilo que árabes e muçulmanos, inclusive na Tríplice Fronteira de Brasil, Argentina e Paraguai, em todo o Brasil, em países árabes ou de maioria muçulmana indagam não é diferente daquilo que fazem os próprios cidadãos estadunidenses. Atualmente em sua grande maioria eles se impressionam: uma década depois do 11/9 os Estados Unidos continuam lutando no Afeganistão e ainda não saíram do Iraque (e apesar de acordo firmado com o governo iraquiano estão procurando encontrar um meio, qualquer um, para lá ficar), tudo apesar de não ter ocorrido qualquer ataque terrorista desde então. O espanto maior é que foi gasto mais de US$ 1 trilhão nos combates, milhares de estadunidenses foram mortos e não há dúvida que Tio Sam inspirou o surgimento de oposição odiosa por parte de árabes e muçulmanos, onde quer que se encontrem.
Cada árabe ou muçulmano lamenta a perda de centenas de milhares de vidas dos seus, tão inocentes quanto os cerca de três milhares de vítimas das Torres Gêmeas. É-lhes dolorido constatarem o que pode ser considerado uma discriminação entre vítimas civis inocentes: “as deles e as nossas”. O mundo ouviu as palavras de George W. Bush no dia do ataque e duas vezes depois e seus discursos foram pronunciados em alto e bom som, o suficiente para que árabes e muçulmanos ouvissem que a reação estadunidense seria uma cruzada. Lamentam eles também as agressões que se seguiram ao 11/9, por parte de Estados Unidos e seus aliados em terras árabes ou muçulmanas. Sentem profundamente o apoio que é dado a Israel e os abusos que este comete contra os palestinos que são tanto árabes quanto muçulmanos em sua maioria, mas também cristãos. A reação ao tratamento dado por Israel aos lugares santos do Cristianismo e do Islã não se limitam ao estado hebreu e sim abrangem os Estados Unidos e seus aliados. Ninguém pode negar que foram, em última instância, os inúmeros adiamentos da decisão de ingresso da Turquia na União Europeia, que teve sua origem nas campanhas contra o Islã, a razão para levar o estado turco a desistir de sua candidatura ao ingresso na organização. Isto apesar de o então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, mentiroso contumaz, dizer que era a favor da entrada do país de maioria muçulmana para o seio da organização europeia. Pode-se também considerar que a deterioração das relações entre Israel e Turquia tem em 11/9 suas origens remotas.
A própria criação do Instituto da Cultura Árabe no Brasil (Icarabe) tem indiretamente no episódio suas origens. Os ataques a Edward W. Saïd (1935-2003), palestino-estadunidense, teórico de literatura, professor de inglês e literatura comparada na Columbia University e defensor da causa palestina, recrudesceu com a implementação da “caça às bruxas” nos Estados Unidos após o 11/9. Saïd passou a ser atacado por sua origem e até ameaçada foi a sua cátedra na universidade. Os ataques repercutiram no Brasil e encorajaram a união de intelectuais em sua defesa. O apoio a Saïd foi ampliado para a causa palestina em particular e árabe em geral e à rica cultura árabe, o que consequentemente resultou na criação do Icarabe, que o tem como patrono.
Falamos do 11/9 e de algumas poucas de suas repercussões, mas não chegamos a definir o que é terrorismo, o motivo das cruzadas de Bush filho. Em artigo publicado em 02/09/2011, o professor de Ciência Política da Aligarth Muslim University, na Índia, M. Mohibul Haque publicou um artigo no Countercurrents.org intitulado Deconstruction of Discourse on Terrorism [Desconstrução discurso sobre terrorismo] no qual ele sublinha que o sentido do termo ‘terrorismo’, apesar de ser aquele que por mais longo tempo se discute em círculos acadêmicos e governamentais, tem “implicações perigosas [que] não são sentidas” e afirma ademais que “a ausência de uma definição objetiva de terrorismo é mais proposital do que acidental”. Haque acrescenta ainda: “a desonestidade da fraternidade acadêmica e o dúbio comportamento de governos nacionais são responsáveis por tais problemas”. Vindo para o nosso assunto, o professor da AMU chega diretamente ao âmago da questão ao afirmar: “Terrorismo é um ato político ou ideológico motivado por violência contra homens ou mulheres comuns. Ele pode ser cometido por indivíduo, grupo, organização ou estado. No entanto, infelizmente este discurso sobre terrorismo foi sequestrado por nações poderosas do mundo que nunca querem que seus atos de injustificável violência devam ser discutidos no contexto de terrorismo. Isto é muito evidente nos efeitos dos ataques terroristas de 11 de setembro contra os Estados Unidos. A assim chamada guerra global declarada contra o terror e que está sendo travada por Estados Unidos e um punhado de seus aliados tem tentado tapear que na presente circunstância o terrorismo é monopólio de não-estados. Assim, a matança de pessoas inocentes cidadãs de Afeganistão, Iraque, Somália e Kosovo por uma aliança imperialista não é absolutamente terrorismo.” Professor Haque conclui dizendo que “Terrorismo deve ser definido e determinado mais com base em atos cometidos que em atores envolvidos.”
Albert ‘Al’ Gore vice-presidente durante os oito anos de governo William ‘Bill’ Clinton, não é árabe e nem tampouco muçulmano, com sua insuspeita pena, escreveu um livro sob o título The Assault on Reason [O assalto à razão] no qual atacou George W. Bush dizendo que ele estava “fora de alcance da realidade” e ignorou “claros avisos” sobre a ameaça terrorista antes do 11/9 e que ele tornou os estadunidenses menos seguros “agitando vespeiros no Iraque” enquanto usava “a linguagem e a política do medo” a fim de “desviar a agenda pública sem atentar para a evidência, os fatos ou o interesse público”. Gore poderia até estar investindo contra Bush por razões eleitoreiras, o que é negado por todas as resenhas do livro às quais tive acesso, mas há um fato inegável a respeito do assunto. Bush não deu ouvidos aos “claros avisos” porque com ou sem o 11/9 seus planos eram outros e o ataque da al-Qaida serviram apenas de desculpa. Em artigo publicado em 15/09/2002, sob o título Planned Iraq 'Regime Change' Before Becoming President [Plano de ‘mudança de regime’ no Iraque antes de se tornar presidente], o jornalista Neil Mackay dá conta em artigo de 15/09/2002, que um resumo secreto de documento sobre a dominação global dos Estados Unidos revela que Bush filho e seu gabinete estavam planejando e premeditando atacar o Iraque a fim de assegurar uma ‘mudança de regime’ bem antes de quando este assumiu a presidência em janeiro de 2001. Quem revelou a existência do documento sobre a criação da ‘Global Pax Americana’ foi o jornal Sunday Herald que informa serem autores do resumo Richard ‘Dick’ Cheney (que se tornaria vice-presidente de Bush filho), Donald Rumsfeld (que seria nomeado secretário de defesa), Paul Wolfowitz (segundo de Rumsfeld), John ‘Jeb’ Bush (irmão de Bush filho e depois governador da Florida e que ajudaria o irmão a ser reeleito) e Lewis Libby (chefe de gabinete de Cheney). O documento original, sob o título de Rebuilding America’s Defense: Strategies, Forces And Resources For a New Century [Reconstruindo a defesa dos Estados Unidos: Estratégias, forças e recursos para um novo século] foi redigido em setembro de 2000 (um ano antes do 11/9) pelo neoconservador grupo chamado Project for the New American Century [Projeto para um novo século estadunidense]. Tanto isto é verdade que na reunião da cúpula governamental estadunidense, no dia dos acontecimentos do 11/9, ao saber do ocorrido Paul Wolfowitz gritou: “Foi Saddam Hussein, vamos atacar o Iraque!” e, em seguida, ao surgir a figura de Bin Ladin, decidiu-se pelo ataque ao Afeganistão em primeiro lugar.
Não precisa ser árabe ou muçulmano para começar desconfiando e depois ter certeza que tudo tinha sido planejado com antecedência e os ataques de 11/9 e suas vítimas foram tão somente usados e os países árabes e muçulmanos também. No documento Rebuilding America’s Defense (capítulo II Quatro missões essenciais - página 5) estão traçadas as metas: “A liderança mundial dos Estados Unidos e seu papel de garantidor da atual paz da grande potência, assenta na segurança do território estadunidense; na preservação de uma balança favorável de poder na Europa, no Oriente Médio e na região circunvizinha produtora de energia e Leste Asiático; e na estabilidade do sistema internacional de estados-nações relativo a terroristas, crime organizado e outros ‘não-estados’ atores.”
No dia 06/09/2011, por ocasião do décimo aniversário do 11/9 o britânico Oxford Research Group publicou um relatório sob o sugestivo título de A War Gone Badly Wrong – The War on Terror Ten Years On [Uma Guerra que seguiu muito errada – A Guerra contra o terror continua por dez anos] com reflexões sobre os erros catastróficos da ultima década e avaliação da resposta dos Estados Unidos e da coligação de seus parceiros e questiona se a resposta foi apropriada ou sábia ou se os resultados foram, até o momento, contraproducentes e indicam a necessidade de um totalmente novo paradigma de segurança.
O autor do relatório, o Professor Paul Rogers, diz: “Por ver os ataques como exigindo uma resposta militar importante - uma ‘guerra ao terror’ – atribuiu aos autores precisamente a atenção que eles buscavam e provou ser profundamente contra produtivo.” O relatório inclusive compara os objetivos originais de guerra das administrações Bush e Blair logo após os ataques e seus resultados atuais em termos de longevidade dos conflitos, os custos humanos, as implicações financeiras e os desenvolvimentos políticos.
Rogers resume os maiores resultados da ‘guerra ao terror’ quando diz: “Uma curta guerra no Afeganistão logo mais entra na sua segunda década, sete anos de guerra no Iraque ainda está por resultar numa paz duradoura e o Paquistão continua profundamente instável. Enquanto isto, grupos fracamente ligados ao movimento al-Qaida fazem progresso em Iêmen, Nigéria, Argélia e Corno da África.” É mais uma concordância, e bastante importante, à idéia que defendemos aqui e, mais ainda, o impacto destes acontecimentos certamente serão sentidos por muitas décadas futuras tanto no Mashriq quanto o Maghrib árabes quanto no sul e centro asiático muçulmanos.
Só se pode concordar também com Rogers quando aponta para um fato relevante que é o aumento significativo da influência do Irã na região e principalmente nos países palcos das ações estadunidenses: Afeganistão e Iraque e, nestes países, o Irã está livre para atuar.
Rogers vai além ao apontar para aquilo que um aniversário não está representando em termos de oportunidade para reflexões honestas já que planejadores políticos e militares estão se arriscando a repetir os erros da última década e diz: “Uma avaliação abrangente das guerras no Iraque e Afeganistão é muito necessária em maior profundidade” do que a atual atitude dos Estados Unidos e Reino Unido para se conseguir “aumentar a cautela em resposta muito rápida em circunstâncias difíceis com o uso de força militar.”
Dificilmente podem ser encontrados contestadores, em qualquer parte do mundo, na atualidade, às conclusões de Rogers quando diz: “Tornou-se cada vez mais claro na última década que os Estados Unidos e seus parceiros devem aprender com o evidente fracasso da ‘guerra ao terror’ passando a prestarem mais atenção às causas subjacentes aos conflitos, especialmente os fatores que motivem novos paramilitares a empreenderem ações extremas.
”Noam Chomsky, linguista, filósofo, ativista político estadunidense, professor de Linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, comentou sobre o 11/9 em artigo datado de 06/09/2011 intitulado Dangers of American Empire and Why the US Continues to be Bin Laden's Best Ally [Perigos do império estadunidense e porque os E.U.A. continuam sendo o melhor aliado de Bin Ladin], no qual aponta que “Inúmeros analistas observam que apesar de Bin Ladin finalmente ter sido morto, ele ganhou alguns grandes sucessos em sua guerra contra os Estados Unidos.
”Continuando, Chomsky cita o jornalista especialista em Oriente Médio e Islã, Eric Margolis que escreveu: “Ele [Bin Ladin] repetidamente afirmou que a única forma de conduzir os Estados Unidos para fora do mundo islâmico e derrotar seu satrapismo é trazê-los para uma série de pequenas, mas dispendiosas guerras que finalmente irão à falência”.
Segundo Chomsky, ”Fazendo sangrar os Estados Unidos, primeiro sob George W. Bush e depois sob Barack Obama levou-os direto para a armadilha de Bin Ladin.” Chomsky prosseguiu com sua correta afirmação de que “um ataque maciço contra uma população muçulmana teria sido uma resposta às orações de Bin Ladin e seus associados e levaria os Estados Unidos e seus aliados a uma armadilha diabólica.” Foi por esta razão, aliada aos custos de mais uma frente de guerra, que fez com que os Estados Unidos fingissem não estar atuando na Líbia.
Chomsky, após demonstrar que os Estados Unidos, com seus ataques ao mundo islâmico foram os melhores aliados de Bin Ladin, indaga se não havia alternativa e aponta aquela que seria a mais óbvia: o movimento Jihadi Islâmico, crítico ferrenho de Bin Laden, poderia ter abandonado o movimento e minado todas as ações da al-Qaida e o crime contra a humanidade que foi cometido poderia ter sido tratado como crime com uma ação internacional para prender os responsáveis, mas como dissemos acima, os ataques já constavam dos planos até mesmo antes da posse de Bush filho e antes do 11/9 e sem ou com os ataques criminosos o que se queria mesmo era ocupar o Afeganistão e o Iraque e ousamos dizer: como passo inicial.
Bin Laden ainda viveu para ver um dos resultados das aventuras dos Estados Unidos e seus aliados nas guerras e interferências nos países árabes e muçulmanos que levaram diretamente para a crise econômica que começou em 2008 e só Allah sabe quando e se de fato terá solução.José Farhat é cientista político e diretor de relações nacionais e internacionais do Instituto da Cultura Árabe.
Formado em Ciências Políticas (USJ-Beirute) e Propaganda e Marketing (ESPM-São Paulo), tem cursos de extensão ou pós-graduação em: Comércio Exterior (FGV-São Paulo), Introdução à Teoria Política (PUC-São Paulo), Direito Internacional (PUC-SP) e cursou Filosofia no Collège Patriarcal Grec-Catholique (CPGC-Beirute). Domina os idiomas: Árabe, Francês, Inglês e Português e tem artigos publicados sobre Política Internacional, no Brasil e no Líbano. É ex-Diretor Executivo e atual Conselheiro do Conselho Superior de Administração da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira; foi Superintendente de Relações Internacionais da Federação do Comércio do Estado de São Paulo e é seu atual membro do Conselho de Comércio e atual Diretor do Centro do Comércio do Estado de São Paulo. É diretor de Relações Nacionais e Internacionais do Instituto da Cultura Árabe. http://josefarhat.wordpress.com
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
A MARCHA DOS ZUMBIS - PARTE III
CARTA MAIOR
Najar Tubino
Modelos extravagantes
Najar Tubino
Modelos extravagantes
Modelos extravagantes imobiliários são uma febre entre os ricos e os muito ricos no Planeta. E atraem emergentes. O Aman Resort, considerado um projeto para os muito ricos (850 apartamentos no mundo, em formato de bangalôs, choupanas ou vilas de arrozeiros na Tailândia), mandou um executivo ao Brasil para vender “villas”, no arquipélago de Turks & Caicos, território britânico no Caribe, que custam entre US$ 9 e 16 milhões, de 4 a 5 quartos, chef de cozinha exclusivo, carrinho de golfe, assessoras para marcar mergulhos e etc. Adrian Zecha, um indonésio, começou o negócio em Cingapura, maior acionista do Aman, diz que se interessou pelo Brasil, quando viu brasileiros pagando diárias entre US$5 e 10 mil em seus resorts.
Não chega nem perto dos US$100 milhões que o bilionários russo Yuri Milner pagou por uma mansão de estilo francês no Vale do Silício (Califórnia), novo recorde de valor para uma casa nos Estados Unidos. O ucraniano Rinat Akhmetov comprou dois dos mais caros apartamentos já vendidos em Londres por US$222,5 milhões. Em Paris, uma princesa do Golfo Pérsico gastou US$96,5 milhões em 2010 por uma mansão com pátio , jardim e capela, na margem esquerda do rio Sena. Como escreveu o comentarista do The Wall Street Journal: “são os estrangeiros milionários aproveitando a queda nos preços dos imóveis dos países ricos”.
A incorporadora e corretora Fortune International investiu no Brasil para vender o edifício de 50 andares, Jade Ocean, com piscinas infinity, cinema prive, área para crianças com mobília Philipe Starck, coberturas duplex custam entre US$2,9 e 5 milhões – 85% dos apartamentos vendidos a estrangeiros.
A vida é uma festa
Também podemos relacionar, não com tanta extravagância, os mais de US$5,9 bilhões que os brasileiros gastaram em 2010 nos Estados Unidos, 423 mil visitaram Nova York, onde gastaram quase 6 mil dólares por cabeça, ocupando a quarta posição entre os turistas globais. Duas coisas chamam a atenção no modelo mundial de consumo. A extravagância registrada pelos emergentes, como bem definiu o executivo do grupo Publicis, recentemente, em visita ao Brasil, Maurice Levy:
- Nesses países temos, normalmente, duas situações distintas. Uma parte da população ainda vive abaixo da linha de pobreza. Mas a fatia que integrou a classe média tem como modelo de consumo o ocidental: eles querem tudo rápido, as últimas marcas, o que está mais na moda, os carros e os relógios mais luxuosos. Nesse caso é uma oportunidade para os anunciantes que é preciso aproveitar”.
E a outra: a mediocridade de copiar tudo dos países ricos e de sua elite. Em Xangai, por exemplo, a Diageo, maior na venda de destilados do mundo (dona da marca de uísque Johnny Walker) reformou um palacete colonial com paredes de cevada e garrafas de uísque. Gastou US$3,2 milhões. Para ensinar os novos bebedores, e também aos barzeiros, como se deve beber o precioso líquido. Incluir chá verde pode. Na China o consumo maior é The Johnny Walker, a garrafa custa 3 mil dólares.Na Índia, a empresa dona da marca Contreau (conglomerado PPR), patrocina eventos sociais, com integrantes da elite de Nova Déli, para divulgar suas bebidas. Um desses promotores, Vikrant Nath, diz que a vida é uma festa, ao receber 25 prósperos profissionais, todos vestidos a moda ocidental, conforme relato da Associated Press, interessados em bebidas finas.
- Queremos saber sobre a boa vida e aprender a receber as pessoas – diz a esposa Akka, na entrada da casa de três andares. Isso inclui aprender mais sobre as grifes de luxo, que são vendidas na Índia. O número de indianos com patrimônio de US$l milhão para investir cresceu 51%, depois da crise de 2008, segundo levantamento da Merryl Linch. São 126 mil pessoas. O produtor Nath faz entre 15 e 20 eventos por mês. A Índia, ainda segundo a agência de notícias é a maior fabricante de bebidas alcoólicas da Ásia produzidas ilegalmente, são 700 milhões de caixas. E uma percentagem de 5% da população (60 milhões de pessoas) são consideradas alcoólatras.
Última tentativa: testosterona
Boomers são os nascidos do pós-guerra, na década de 1950, nos Estados Unidos. Muitos enriqueceram e ficaram conhecidos por seus gastos. Comenta-se que sustentaram as vendas de Mercedez Bens e BMW antes da crise (ma Mercedez vendeu 245 mil carros até 2007). Viraram modelo para os emergentes. Embora um tanto envelhecidos ainda sustentam os gastos de novidades nos Estados Unidos. Nesse caso, da indústria farmacêutica. A última moda da indústria antienvelhecimento é a venda de produtos a base de testosterona (hormônio masculino). As vendas desse segmento chegam a US$80 bilhões. Surgiram problemas com algumas embalagens, como cremes, podem colar em outras pessoas ou diluir na água. É a última tentativa de manter de pé os 70% do consumo, já que a dívida das famílias estadunidenses é quase tão grande quanto a dívida do país – mais de US$13 trilhões.
Os consumidores dos EUA recebiam até 2007, mais de 6 bilhões de cartões de crédito pelo correio.O número caiu para 1,4 bilhão depois da crise. Um dos quatro bancões (Bofa, Citi, Goldman, JP Morgan) anunciava na televisão: “aprovado ao nascer”. Na era do neuromarketing, quando as glândulas sudoríparas dos humanos são monitoradas, e suas áreas cerebrais fotografadas, os consumidores são enquadrados por categorias desde o nascimento: bebê, infantil, pré-adolescente, adolescente, jovem adulto e sênior. Nada escapa. Como acentua Gilles Lipovetsky, no livro “A Felicidade Paradoxal”:
- Enquanto a vida cotidiana for dominada por esse sistema de referência a menos que se enfrente um cataclisma ecológico ou econômico, a sociedade de hiperconsumo prossegue em sua trajetória... antropólogos analisarão no futuro a civilização esclarecida em que o homo sapiens prestava culto a um deus tão derrisório quanto fascinante: a mercadoria efêmera”.
Não deixa de ter razão. A velocidade do crescimento dos shopping no Brasil, futura quinta economia, é impressionante. Em 2008, eram 377. Em 2011, serão 422. Em Porto Velho, capital de Rondônia, onde duas hidrelétricas serão inauguradas a partir do próximo ano colocaram tapete vermelho na inauguração. Tem mais 30 projetos em lançamento no Brasil. Custa em média R$200 milhões a construção de um shopping.
Marcha rumo à felicidade
A China pretende adquirir 200 milhões de carros até 2020, em 2010 produziram 18 milhões. A história universal tem um sentido, diz Gilles Lipovetsky, ela não é mais que o progresso rumo ao infinito da humanidade, a marcha desta rumo à felicidade mais completa.
Cada um escolhe a marcha que acha mais provável. Eric Hobsbawn, historiador inglês, no final de “A Era dos Extremos”, onde analisou os acontecimentos do século XX, incluindo as duas guerras mundiais (50 milhões de mortos) ”se a humanidade repetir o que já fez nos séculos passados e no presente, só tem um futuro: a escuridão”.
Em 1970, quando a NASA lançou o projeto da Estação Espacial Internacional, os cientistas e políticos da época falavam do futuro da humanidade. Em breve os foguetes viajariam rapidamente ao espaço, por preços baratos. A Estação Espacial seria a plataforma para alcançar outros planetas. Quarenta anos depois, ao finalizar o programa do ônibus espacial – 202 bilhões de dólares de custo -, sem contar os US$100 bilhões da própria Estação, o que temos? Cadê os outros planetas. A facilidade da tecnologia que nos levaria ao infinito espacial?
A viagem, agora, custará ao governo dos EUA, nas cápsulas russas da nave Soyus, US$43 milhões por astronauta. A NASA agendou 45 assentos até 2016. O ônibus lançou o telescópio Hubble, que nos deu imagens belíssimas do Universo. Na Estação, experiências importantes, sem gravidade, são praticadas. E o resto? Essa prepotência da tecnologia, o domínio da técnica sobre tudo, se compara a arrogância da economia ortodoxa, responsável pela sustentação desse sistema no Planeta. Quer levar as compras à eternidade, mesmo sabendo com antecedência, que esta marcha pode ser a dos zumbis, fantasmas que vagam pela noite morta, quando o Planeta não suportar mais o peso do modelo.
(*) Najar Tubino é jornalista com mais de 30 anos de carreira. Nos últimos anos tem se dedicado à temática ambiental. É autor do livro O Equilíbrio, publicado em 2005. E-mail: najartubino@yahoo.com.br
domingo, 18 de setembro de 2011
A MARCHA DOS ZUMBIS - PARTE II
Najar Tubino
Ocidentalização do mundo
Traçar um modelo de consumidor mundial é um dos objetivos deste texto, embasado em informações dos jornais de economia dos últimos dois anos. A versão é global porque as marcas são globais. Toda segunda-feira, Bob Macdonald, executivo-chefe da Procter & Gamble, formado na Academia Militar de West Point, se reúne com membros da sua equipe, na frente de um mapa mundi digital. Capaz de identificar a situação dos 250 principais produtos da corporação nos 50 maiores mercados disputados por eles.
Marcas que estão no avião do Faustão, na promoção da Rede Globo: fraldas Pampers, Gillet, Ariel, Pantene. São marcas bilionárias, puxadas pelas fraldas que vende US$8,8 bilhões no Planeta. O xampu divulgado por Gisele Bunchen (Pantene), rende US$3,1 bilhões. A P&G como é reconhecida fatura US$79 bilhões e tem 4,2 bilhões de clientes. Aumentou de tamanho em 2007 com a compra da Gillete por US$56 bilhões, representa 10% do seu faturamento
Até 2015 espera atingir 5 bilhões de clientes. Aposta nos emergentes. Quer os indianos consumindo Mach 3 (lâmina de barbear), ao invés de fazer a barba na rua, um costume tradicional na Índia. Os africanos devem usar produtos de higiene ocidentais. Os brasileiros mais pasta de dente, e os americanos mais branqueadores para os dentes. Em termos de faturamento, a rede de supermercados Walmart é a maior com 4,6 mil lojas espalhadas por vários continentes e US$420 bilhões em vendas. O último lance foi a compra de uma rede de supermercados na África do Sul.
As lanchonetes Mcdonald’s são 32 mil no mundo, sendo 1.300 na China e mais de 200 na Índia, que inclui cidades pequenas no interior, onde o aluguel é mais barato, e eles vendem o Mc Aloo Tikki, com ervilhas e purê de batata. Tudo pela ocidentalização global, como destaca o economista francês Daniel Cohen no livro, “A Prosperidade do Vício”.
- A elite mundial busca apenas um objetivo: tornar o modelo único, incluir costumes culturais, comida e bens duráveis.
É claro que o momento é de balanço no capitalismo desregulado, compensado pelo crescimento nos países que também procuram um lugar ao sol. Serão responsáveis pelo crescimento nos próximos anos. Um outro economista, também já foi chefe do FMI, Joseph Stiglitz, em seu livro, “O Mundo em Queda Livre”, onde aborda a crise de 2008, quando a banca internacional quase despencou precipício abaixo, traz uma informação importante. A renda dos americanos médios tem caído desde o ano 2000, em torno de 4% (está em torno de 38 mil dólares). O modelo implantado nos “30 gloriosos” de compras ilimitadas, baseada no crédito imobiliário, ou seja, minha casa vale tanto, posso pegar outro tanto emprestado. Furou, naufragou.
- Os americanos, diz ele, não podem mais viver neste modelo no século XXI. O consumo terá que ser reduzido em 10%, pelo menos.
Ou seja, a economia dos Estados Unidos vai continuar patinando por muito tempo, e nunca mais será a mesma. O problema como acentua o cronista do jornal The New York Times, Thomas Friedman, no livro “Quente, Plano e Lotado...” "é que surgiram muitos outros americanos e o Planeta não tem recursos suficientes para sustentar o modelo".
Vinho francês com gelo
Friedman na verdade não está somente preocupado com o mundo, mas com a perda da liderança dos Estados Unidos que deveriam “liderar a revolução verde”. Mas esse ainda é um detalhe. Afinal, todos têm direito ao crescimento e, por conseqüência, ao resto do pacote, que inclui modelos de todos os tipos: roupas, sapatos, malas, perfumes, carros, relógios, iates, vinhos, uísque, apartamentos (que agora estão com os preços reduzidos na Europa e nos EUA). As empresas globais mudam de foco. Os lucros não crescem no território de origem, então vamos onde ele está. As griffes famosas, Louis Vuitton, do conglomerado LVMH, do bilionário francês Bernard Arnaut (4 na lista da Forbes com 40 bilhões de dólares de patrimônio líquido, também é acionista do Carrefour), Gucci, do outro conglomerado francês PPR, e montadoras como a Mercedez Bens, a maior em vendas de carros de luxo, já se instalaram na China. A Mercedez transferiu o centro de criação do Japão para Pequim. O luxo é um mercado de US$238 bilhões, em termos globais.
Os chineses gastaram US$114 milhões em vinhos da região de Bordeaux, em 2010. Um banqueiro brasileiro jura que já viu chineses em Xangai tomando vinho francês caríssimo com gelo e emborcando uma taça, como se fosse “baijuu”, a cachaça nativa feita de arroz ou sorgo. Simples questão de adaptação. Afinal de contas, quem pagou US$232 mil em Hong Kong num leilão da Sotheby’s em 2010, por uma garrafa do Chateau Lafite, safra 1869, não está nem aí para parâmetros de preços ou convenções ocidentais Por sinal, os chineses milionários, onde já foi criada a categoria dos “princelings” (princepezinhos nascidos na era atual), acostumados a gastar US$1 mil numa garrafa de uísque escocês, também são apaixonados por relógios. Mantém a média de 4 Cartier por proprietário.
Um joalheiro privado de São Paulo, da Griftin, não atende ao público, tem uma definição psicológica para o caso:
- O desejo das pessoas é algo muito interessante. O desejo de comprar era irresistível para o dono desse relógio, que custa duas centenas de milhar de dólares, explica ele ao repórter do jornal Valor (ainda estava com a proteção na pulseira). Depois de satisfeito esse desejo, o objeto quase que perdeu totalmente o valor para ele”.
Pré-histórico do turboconsumidor
As compras podem ser impulsivas, principalmente depois que o império da publicidade se instalou no Planeta. Assim como o luxo se tornou um mercado bilionário, a publicidade abocanhou US$447 bilhões em 2010, 39,2% para a televisão, segundo os dados do Grupo Publicis, o terceiro maior do mundo que acabou de comprar a agência de publicidade DPZ, de São Paulo. O filósofo, Gilles Lipovetsky, diz que a publicidade nasceu em 1880, nos Estados Unidos – em 1882 a Coca-cola gastou 11 mil dólares para divulgar seu produto. Em 1929 foram quase US$4 milhões. As mercadorias, até então, eram vendidas anonimamente e a granel, na maioria dos casos. Sem embalagem, sem marca, em mercados localizados. Somente a partir de 1930 surgiram os supermercados. Embora ainda no final do século XIX, na França, surgissem os grandes magazines, como Le Bon Marché (1865).
Eram templos deslumbrantes, de luzes e cores, onde a mercadoria estava disponível diretamente aos consumidores, sem intermediários. A sensação de comprar e gastar já se tornava estimulante, sensual e gratificante. Segundo Gilles, o consumidor moderno começou o “shopping”, a olhar vitrines, nesta época. Nasceu o pré-histórico do turboconsumidor dos tempos atuais. Marca, embalagem, distribuição, mais a publicidade instauraram o que desde 1920 se decidiu chamar de “sociedade do consumo”, hoje, extrapolada ao máximo. A publicidade não vende mais uma mercadoria, vende uma visão do mundo, uma necessidade psicológica, uma vontade de viver ou de quase sucumbir, no caso daqueles que não tem a disponibilidade financeira para comprar, de fato, grande parte da população do mundo. Onde 1 bilhão moram em favelas, segundo a ONU, e 2 bilhões não tem acesso a água.
No caso do Brasil temos mais 35 milhões na classe média, mas 8 milhões não tem banheiro, e 40 milhões não tem água tratada em casa, conforme o IBGE. Sem contar os 14 milhões de analfabetos.
600 fábricas terceirizadasEntretanto, o modelo de consumismo está implantado e só cresce. A Coca-cola tem como objetivo em 2020 vender 30 bilhões de litros na China, onde detém 15% do mercado, é a líder no segmento dos refrigerantes. Os chineses tomam apenas 34 garrafas pequenas por ano, muito longe do líder, os mexicanos, que consomem 674. O Brasil é o quarto com 229 garrafas. A Nike, por exemplo, com suas 600 fábricas terceirizadas, em 48 países, montou seus centros de treinamento no Vietnã e Sry Lanka, depois de sucessivas denúncias de exploração de mão de obra infantil. Continuará sua expansão no modelo aprimorado de marca globalizada sem dispor de uma única fábrica própria, mas tendo 800 mil trabalhadores na confecção dos seus cobiçados tênis. Foram alvo das revoltas na Grã-Bretanha, recentemente.
Também pode ser o mercado de diamantes, que já movimentou US$65 bilhões, mas registrou queda depois da crise financeira, quando mais de mil joalherias fecharam as portas nos Estados Unidos – 40% do mercado, onde os noivos obrigatoriamente compram anéis de diamantes na consumação do compromisso. Voltou a crescer em 2010, porém as marcas globais que dominam o mercado, como a Tiffanys tiveram que entrar no negócio da mineração. A empresa abriu uma lapidadora de diamantes em Botsuana para diminuir os custos.
Quem está preocupado com a redução do faturamento (US$720 bilhões no mundo) são os executivos da indústria farmacêutica, não pela redução no número de doenças, pela quebra de patentes e venda de genéricos. Um Planeta degradado enfrenta cada vez mais o aumento de doenças, seja pelo crescimento da obesidade, já atinge 1,6 bilhão de pessoas no mundo, conforme dados da Organização Mundial de Saúde, sendo 400milhões de obesos, seja pelos efeitos da mudança climática, secas e inundações, que desorganizam os sistemas vivo.
PIB mundial vezes 6
Daniel Cohen fez uma conta futura sobre o crescimento do Planeta em 2050. Se a expansão dos emergentes continuar, e a renda per capita atingir os quase 38 mil dólares dos norteamericanos (dados de 2005), o PIB global teria que sair dos US$70 trilhões para o patamar de US$420 trilhões. O custo para o mundo seria multiplicado por seis, com todas as conseqüências imagináveis. Por exemplo, a Siemens, multinacional alemã, especializada em energia e saúde, faturamento de US$70 bilhões prevê para 2025 cerca de 29 megacidades com mais de 10 milhões de habitantes – atualmente são 21. Como definiu o presidente da empresa, Peter Loscher “serão imensas manchas humanas, com muitos problemas para resolver. As cidades no Planeta ocupam apenas l% da área e consomem 80% da energia.
Na contramão, o Relatório Repensando a Pobreza, divulgado pela ONU, no ano passado, apontava:
- Mais de 80% da população mundial vive em países onde os diferenciais de renda estão se ampliando. Os 40% mais pobres na população mundial reponde por apenas 5% da renda mundial, enquanto os 20% mais ricos representam 75%. Para os pobres do mundo, o lema negócios como sempre jamais foi uma opção aceitável”.
Ao mesmo tempo, em Dubai, o xeque Al Maktoum pretendia criar uma opção de investimento para ricos globais, lançou centenas de projetos imobiliários (mais de 400 cancelados no pós crise), mas um, mundialmente conhecido: o Burj Khalifa, o edifício mais alto com 834 metros. É preciso esclarecer que o nome oficial do prédio era Burj Dubai. Mas surgiu uma conta urgente do emirado para pagar no valor de US$10 bilhões, e o Khalifa de Abhu Dabi pagou e trocaram o nome do prédio, afinal o patrocinador pagou a conta. Símbolo do poder global envolve 1.044 apartamentos, 160 para um hotel com quartos projetados por Georgio Armani, piscinas, uma mesquita, a mais alta do mundo, em seus 200 andares de opulência.
Não por muito tempo. Na Arábia Saudita, a construtora da família Bin Laden e o príncipe Al Waleed, considerado o árabe mais rico (US$20 bilhões de patrimônio líquido), tem 7% da News Corp., de Rupert Murdoch é um grande acionista do Citigroup, quer construir um novo edifício, que será o maior do maior do mundo, com um quilômetro de altura. O recorde anterior estava em Taipei, na Ásia, um predinho de menos de 500 metros.
(*) Najar Tubino é jornalista com mais de 30 anos de carreira. Nos últimos anos tem se dedicado à temática ambiental. É autor do livro O Equilíbrio, publicado em 2005. E-mail: najartubino@yahoo.com.br
sábado, 17 de setembro de 2011
A MARCHA DOS ZUMBIS - PARTE I
Se a expansão dos chamados emergentes continuar, e a renda per capita atingir os quase 38 mil dólares dos norteamericanos, o PIB global teria que sair dos US$ 70 trilhões para o patamar de US$ 420 trilhões. O custo para o mundo seria multiplicado por seis, com todas as conseqüências imagináveis. O atual padrão de consumo no planeta quer levar as compras à eternidade, mesmo sabendo com antecedência, que esta marcha pode ser a dos zumbis, fantasmas que vagam pela noite morta, quando o Planeta não suportar mais o peso do modelo. O artigo é de Najar Tubino.
Najar Tubino (*)
Fantasmas que vagam pela noite morta (crença afro-brasileira)
É uma visão futurista. Milhões de zumbis vagando pelo planeta, a procura de suas mercadorias e marcas preferidas. A temperatura já subiu mais de 1 grau, estamos chegando no ano 2050. A população beira os 9 bilhões. O último bilhão todo integrado à classe média, inclui brasileiros, chineses, indianos, indonésios, africanos. Talvez isso aconteça em 2030, se considerarmos a visão dos executivos de empresas globais como Coca-cola ou McDonald’s. Mesmo o gigante financeiro Goldman Sachs, prevê que mais de 600 milhões de pessoas dos chamados países emergentes atingirão a classe média nos próximos 20 anos. Aliás, a China será a maior economia do mundo com PIB de 70 trilhões de dólares, seguida pelos Estados Unidos, com 40 trilhões, depois a Índia, seguida pelos cinco maiores europeus juntos, e em 5º lugar, o Brasil.
A preocupação de muitos estudiosos, pesquisadores e cientistas é sobre o impacto deste crescimento nas condições já degradas de Planeta. Mas essa não é a realidade da elite econômica deste mesmo Planeta. O que pensam os 1.011 bilionários da lista da Forbes, de 2010, encabeçada pelo mexicano Carlos Slim, dono da telefonia na América Latina (276 milhões de clientes), mas com negócios em petróleo, imobiliárias, turismo, resumindo: representa 40% da Bolsa de Valores do México, país com 112 milhões de habitantes, 50% na linha de pobreza. Certamente, em como manter o crescimento econômico indefinidamente, como pregam os clássicos da economia ortodoxa. Crescimento ao infinito, para um planeta fisicamente finito.
Número de milionários aumenta
As pesquisas divergem em detalhes, mas todas realizadas sobre a divisão da riqueza no mundo, apontam para menos de l% da população com 40% dos ativos. O estudo da Boston Consulting Group, de Nova York, registrou em 2010 de US$121,8 trilhões em ativos globais sob gestão, um crescimento de 8%, na comparação com o ano anterior. O número de famílias estava em 12,5 milhões, com um aumento liderado por Cingapura, uma ilha com 5 milhões de habitantes, mas o maior percentual de milionários do mundo. Seguida por Suíça, Qatar e Arábia Saudita, que registra o maior número de arquimilionários - possuem mais de 100 milhões de dólares investidos.
A definição de milionários na pesquisa envolveu 62 países, de pessoas com mais de 1 milhão de dólares, fora o patrimônio, investido em algum mercado. São 120 empresas globais administrando os investimentos dos milionários. Com um detalhe importante: US$7,8 trilhões investidos fora do país de origem. Quase a mesma cifra que está depositada nos bancos da Praça de Genebra(Suíça), que é de US$6,8 trilhões. Apesar da fama, a Suíça detém apenas 23% do mercado de fortunas “offshore”(fora de origem), no mundo.
Mais um número que auxilia na compreensão dos caminhos impostos ao Planeta nas últimas décadas, desde os chamados “30 gloriosos”, período entre 1950-1980, de grande crescimento econômico e riqueza na Europa e Estados Unidos. Trata-se de um levantamento realizado por Simon Johnson, ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internaciona(FMI). Entre os anos 2000-2008, algumas pessoas no comando das 14 principais instituições financeiras do mundo, receberam em dinheiro (salário, bonificações e valor das ações vendidas) em torno de US$2,6 bilhões. Desse total US$2 bilhões foram recebidos pelas 5 mais bem pagas e também foram as peças principais na criação das estruturas de ativos de alto risco que levaram o sistema à beira do abismo. São elas: Sandy Weil, desenvolveu o Citigroup, que implodiu logo após sua saída; Hank Paulson, expandiu o Goldman Sachs, fez lobby para garantir mais alavancagem dos bancos, depois virou Secretário do Tesouro e ajudou a salvar os bancos; Angelo Mozilo, desenvolveu a Country Wide, peça central na concessão irresponsável de hipotecas; Dick Fuld, comandou o Lehman Brothers até a falência e Jimmy Cayune, comandou o Bear Stearns até a falência.
Os prejuízos públicos em comparação aos ganhos deles, ressalta Simon Johnson, foram gigantescos: 8 milhões de empregos nos Estados Unidos e cerca de US$ 6 trilhões, contando apenas o aumento das dívidas do governo federal americano.
Era do hiperconsumo
Esse modelo, agora, implantado nos países emergentes, já proporcionou uma nova vida para 447 mil milionários na China. Ou 126 mil famílias com disponibilidade de investir mais de 1 milhão de dólares na Índia. A classe média indiana será formada por 583 milhões de pessoas até 2030. Cerca de quase outro 500 milhões continuarão na linha da pobreza, conforme pesquisa do Banco Mundial – seria o terceiro maior país em termos populacionais, porém os números não traduzem a expressão do capitalismo desregulado, atualmente em voga na economia mundial. O que expressa um novo sentido às massas, segundo a visão do filósofo francês, Gilles Lipovetsky, um estudioso do consumismo, é a vontade de comprar, o “acesso democrático às marcas globais”
- A felicidade é o valor central, o grande ideal celebrado sem tréguas pela civilização consumista. Cada vez mais mercado, cada vez mais estimulações, viver melhor, cada vez mais indivíduo, cada vez mais exigência de felicidade”.
Vivemos a era do hiperconsumo, o reinado da mercadoria efêmera, o ápice do hedonismo, a vontade individual de viver, sem horizontes. Tudo isso multiplicado por cada membro da família, como a época é de “cada um com seus objetos”. Aumentou ainda mais com a expansão dos equipamentos eletrônicos, celulares e similares. A era do hiperconsumidor e do pluriequipamento. Mais de 5 bilhões de celulares, cerca de 245 milhões de computadores vendidos anualmente no mundo, 20 mil aviões e 10 mil navios circulando pelo globo, com 3 bilhões de passageiros aéreos. Além de 62 milhões de carros, já passamos de 1 bilhão em termos mundiais, 50 milhões de toneladas de papel, 240 milhões de toneladas de plástico e mais de 1 bilhão de toneladas de aço.
O mundo precisa de crescimento e o consumo das famílias é o motor que movimenta a economia. No caso dos Estados Unidos 70%. Mesmo assim, somando todo o consumo da Ásia, com mais de 2 bilhões de habitantes, ele atinge apenas 40% do consumo dos pouco mais de 310 milhões de estadunidenses.
(*) Najar Tubino é jornalista com mais de 30 anos de carreira. Nos últimos anos tem se dedicado à temática ambiental. É autor do livro O Equilíbrio, publicado em 2005. E-mail: najartubino@yahoo.com.br
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
VÍDEOS NA PRIMEIRA PÁGINA DO YOUTUBE
Para mim foi motivo de surpresa e também é de orgulho estar na primeira página do youtube quando se pesquisa pelas palavras "Espanha" (com o vídeo Espanha), "seres humanos" (com o vídeo seres humanos), "Serra da Canastra" (com o vídeo Serra da Canastra), "Canudos" (com o vídeodocumentário Canudos), "Brizola" (com o fotodocumentário Brizola), "Cocorobó" (com todos os meus vídeos sobre Cocorobó).
Já são cerca de 350 mil acessos. Clique aqui, entre na minha página no youtube e fique à vontade.
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
“A Grande Estratégia” depois da Guerra Perpétua do 11 de Setembro
TARIQ ALI
Esquerda.net
Esquerda.net
Um década depois dos atentados do 11 de Setembro, os EUA e os seus aliados europeus estão presos num pântano. Tirando a retórica de Obama, pouco divide esta administração da sua predecessora.
Tariq Ali: A guerra – jus beli – é agora um instrumento legítimo conquanto seja usado com a aprovação dos EUA e de preferência usado pelas suas tropas. Foto de dirgeLead: Um década depois dos atentados do 11 de Setembro, os EUA e os seus aliados europeus estão presos num pântano. Tirando a retórica de Obama, pouco divide esta administração da sua predecessora.
'Um soberano é aquele que decide em caso de excepção,' escreveu Carl Schmitt em tempos diferentes, quase há um século, quando os impérios e exércitos europeus dominavam a maioria dos continentes e os EUA desfrutavam de um sol isolacionista. O que o teórico conservador queria dizer com 'excepção' era um estado de emergência, necessário devido a cataclismos económicos ou políticos, que requeriam a suspensão da Constituição, repressão interna e guerra no estrangeiro.
Um década depois dos atentados do 11 de Setembro, os EUA e os seus aliados europeus estão presos num pântano. Os eventos daquele ano foram usados como um pretexto para refazer o mundo e punir os que não obedecessem. Hoje, enquanto a maioria dos cidadão euro-americanos vagueia por um deserto moral, infelizes com as guerras, propagandeadas como algo diferente do que realmente são: uma estratégia imperial abrangente, o General Petraeus (actualmente a comandar a CIA) diz-nos: “Temos de reconhecer também que não que vamos ganhar esta guerra. Penso que continuaremos a lutar. É um pouco como o Iraque, na verdade... Sim, tem havido enormes progressos no Iraque. Mas ainda existem ataques horríveis, e temos de continuar vigilantes. Temos de ficar depois de acontecerem. Este é o tipo de luta em que estamos para o resto das nossas vidas e provavelmente das vidas dos nossos filhos.” Assim fala a voz do poder soberano, determinando que, neste caso, a excepção é a regra.
Embora não concorde com a sua resposta, o filósofo alemão Jürgen Habermas colocou uma questão importante: 'Será que o universalismo que nós atribuímos aos direitos humanos apenas esconde um instrumento subtil e enganador da dominação Ocidental?' 'Subtil' poderia ser apagado. As experiências nos territórios ocupados falam por si próprias. Dez anos de guerra contínua no Afeganistão, um impasse sangrento e brutal com um regime marionete e corrupto cujo presidente e sua família enchem os bolsos com ganhos duvidosos e um exército EUA/NATO incapaz de derrotar os insurrectos. Agora, estes atacam à vontade, assassinando o irmão corrupto de Karzai, acabando com os seus principais colaboradores e atingindo pessoal-chave da inteligência da NATO via terrorismo suicida ou derrubando helicópteros. Entretanto, nos bastidores, sessões prolongadas de negociações entre os EUA e os neo-taliban têm ocorrido desde há vários anos. O objectivo revela desespero. A NATO e Karzai estão desesperados por recrutar os taliban para um novo governo nacional.
Políticos conservadores e liberais euro-americanos que formam a estrutura das elites governantes e declaram acreditar em moderação, tolerância e fazer guerras para impor os mesmos valores nos Estados re-colonizados ainda estão cegos pela sua situação e não conseguem ver o que está escrito na parede. Não obstante a sua piedosa renúncia à violência terrorista, não têm problemas em defender a tortura, as prisões ilegais, o assassínio de indivíduos, estados de excepção ilegítimos para que possam prender qualquer um indefinidamente e sem julgamento. Entretanto, os bons cidadãos da Euro-América que se opõem às guerras feitas pelos seus governos evitam olhar para os mortos, feridos e órfãos do Iraque e do Afeganistão, da Líbia e do Paquistão... a lista continua a crescer.
A guerra – jus beli – é agora um instrumento legítimo conquanto seja usado com a aprovação dos EUA e de preferência usado pelas suas tropas. Hoje em dia, é apresentada como uma necessidade “humanitária”: um lado está ocupado a cometer crimes, o lado moralmente superior está simplesmente a administrar a punição necessária; e nega-se a soberania ao Estado a derrotar. A sua substituição é cautelosamente policiada tanto através de bases militares como através de uma combinação de ONGs e dinheiro. Esta colonização ou dominação do século XXI é auxiliada pelas redes de média globais, um pilar essencial para conduzir operações políticas e militares.
Comecemos pela segurança interna nos EUA. Contrariamente ao que muitos liberais imaginavam em Novembro de 2008, a degradação da cultura política americana continua rapidamente. Em vez de inverter a tendência, o advogado-presidente e a sua equipa aceleraram o processo. Houve mais deportações de imigrantes do que no mandato de Bush; poucos prisioneiros detidos sem julgamento foram libertados de Guantánamo, uma instituição que o advogado-presidente prometeu encerrar; o Patriot Act e o seu conteúdo sobre o que constitui um amigo ou inimigo foi renovado, começou uma nova guerra na Líbia sem a aprovação do Congresso, utilizando como desculpa o facto de os bombardeamentos sobre um Estado soberano não constituírem um acto hostil; os denunciadores estão a ser vigorosamente perseguidos e por aí adiante – a lista cresce a cada dia que passa.
A política e o poder apagam tudo o resto. Os liberais que ainda acreditam que a administração Bush transcendeu a lei enquanto que os Democratas são exemplo de conduta estão cegos pelo tribalismo político. Tirando a retórica de Obama, pouco divide esta administração da sua predecessora. Ignorem, por um momento, o poder dos políticos e dos propangadistas para impor os seus tabus e preconceitos sobre a sociedade americana em geral, um poder muitas vezes usado agressiva e vindicativamente para calar a oposição em qualquer lado – Bradley Manning, Thomas Drake (libertado após uma grande indignação dos média liberais), Julian Assange, Stephen Kim, que estão a ser tratados como criminosos, inimigos públicos, sabem melhor do que ninguém.
Nada mostra melhor esta degradação do que o assassinato de Osama Bin Laden em Abbotabad. Poderia ter sido capturado e levado a tribunal, mas essa nunca foi a intenção. O humor liberal foi espelhado pelos cântico ouvidos em Nova Iorque: U-S-A. U-S-A. Obama apanhou Osama. Obama apanhou Osama. Não podes derrotar-nos (aplausos). Não podes derrotar-nos. Lixem o bin-laden. Lixem o bin La-den.
Isto foi repetido numa linguagem mais diplomática pelos líderes da Europa, parceiros júniores na família imperial das nações, incapaz de auto-determinação. Vénias e hipocrisia tornaram-se o cunho da cultura política.
Vejamos o exemplo da Líbia, o último caso da 'intervenção humanitária'. A intervenção EUA-NATO na Líbia, com a cobertura do Conselho de Segurança das Nações Unidas, é parte de um resposta orquestrada para demonstrar apoio a um movimento contra um ditador em particular e assim terminar as rebeliões árabes, colocando-as sob controlo ocidental, confiscando a sua impetuosidade e espontaneidade e tentando restaurar o status quo ante. Como é agora evidente, os britânicos e os franceses gabam-se do seu sucesso e que controlarão as reservas de petróleo líbias como pagamento de seis meses de campanha de bombardeamentos.
Entretanto, os aliados de Obama no mundo árabe prometeram trabalhar arduamente para implementar a democracia.
Os sauditas entraram no Bahrein, onde a população está a ser tiranizada e onde estão a acontecer prisões em larga escala. Isto não está a ser muito divulgado pela al-Jazeera. Pergunto-me porquê? A estação parece ter sido posta na ordem e em sintonia com a política dos seus fundadores. Tudo isto com o apoio dos EUA. O déspota no Iémene, odiado pela maioria do seu povo, continua a matá-lo todos os dias através de controlo remoto a partir da sua base saudita. Nem mesmo um embargo de armas, quando mais uma “zona de exclusão aérea” lhe é imposta. A Líbia é mais um caso da vigilância selectiva pelos norte-americanos e pelos seus cães de ataque no Ocidente. O facto de os Verdes alemães, que estão entre os mais ardentes defensores europeus do neo-liberalismo e da guerra, quererem fazer parte desta companhia revela mais sobre a sua própria evolução do que os méritos ou deméritos da intervenção.
As fronteiras do esquálido protectorado que o Oeste vai criar estão a ser decididas em Washington. Mesmo aqueles líbios que, em desespero, apoiaram o jactos da NATO, poderão – como o seu equivalente iraquiano – arrepender-se.
Tudo isto despoletará uma terceira fase a qualquer altura: uma crescente raiva nacionalista que chegará à Arábia Saudita e aí, sem dúvida, Washington fará tudo o que for necessário para manter a família real saudita no poder. Perder a Arábia Saudita significa perder todos os Estados do Golfo. O assalto à Líbia, fortemente ajudado pela imbecilidade de Khadafi em todas as frentes, foi desenhado para retirar a iniciativa das ruas, parecendo ser uma defesa dos direitos civis. Os bahreinianos, os egípcios, os tunisinos, os sauditas e os iemenitas não serão convencidos, e mesmo na Euro-America mais estão a opor-se a esta última aventura do que a apoiá-la. As lutas não estão terminadas.
O poeta alemão de século XIX Theodor Däubler, escreveu:
“O inimigo é a nossa questão encarnada
Ele perseguir-nos-á, e nós persegui-lo-emos com o mesmo propósito.”
O problema desta visão, hoje em dia, é que esta categoria de inimigo, determinada pelas necessidades políticas dos EUA, muda demasiadas vezes. Ontem Saddam e Khadafi eram amigos, regularmente ajudados pelas agências ocidentais de informações para lidar com os seus próprios inimigos. O último tornou-se amigo quando o primeiro se tornou inimigo. E assim continua a desordem mundial. O assassinato de Osama Bin Laden foi aplaudido pelos líderes Europeus como algo que faria do mundo um lugar mais seguro. Digam isso às fadas.
Tradução de Sofia Gomes para o Esquerda.net
Publicado no Counterpunch
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
Havia alternativa? Revisitando o 11 de Setembro uma década depois
Por Noam Chomsky
A resposta ao 11 de Setembro, um ataque maciço a uma população muçulmana, conduziu os Estados Unidos à 'armadilha diabólica' estendida por Bin Laden. O resultado foi que Washington continuou a ser o único aliado indispensável de Bin Laden, mesmo após a sua morte.
Noam Chomsky: Washington realizou os mais fervorosos desejos de Bin Laden. Foto de Andrew RuskLead: A resposta ao 11 de Setembro, um ataque maciço a uma população muçulmana, conduziu os Estados Unidos à 'armadilha diabólica' estendida por Bin Laden. O resultado foi que Washington continuou a ser o único aliado indispensável de Bin Laden, mesmo após a sua morte.
Estamos a aproximar-nos do 10º aniversário das horrendas atrocidades do 11 de Setembro de 2001, que, como se diz habitualmente, mudaram o mundo. No dia 1 de Maio deste ano, o presumível mentor do crime, Osama Bin Laden, foi assassinado no Paquistão por um comando militar de elite dos EUA, os SEALs da Marinha, depois de ter sido capturado, desarmado e indefeso, na Operação Geronimo.
Uma série de analistas observaram que Bin Laden, apesar de ter sido finalmente morto, obteve importantes sucessos na sua guerra contra os EUA. “Ele afirmou muitas vezes que a única maneira de expulsar os EUA do mundo muçulmano e derrotar os seus sátrapas era atrair os americanos para uma série de pequenas mas caras guerras, que acabariam por arruiná-los”, escreve Eric Margolis. “'Sangrar os EUA', nas suas próprias palavras. Os Estados Unidos, primeiro sob George W. Bush e depois sob Barack Obama, correram directamente para a armadilha de Bin Laden... Gastos militares grotescamente aumentados e dependência da dívida... pode ser o mais pernicioso legado do homem que pensou que poderia derrotar os Estados Unidos” – particularmente quando a dívida está a ser cinicamente explorada pela extrema-direita, com a conivência do establishment democrata, para minar o que resta de programas sociais, de educação pública, de sindicatos, e, em geral, das restantes barreiras à tirania empresarial.
Logo se tornou evidente que Washington estava inclinado a realizar os mais fervorosos desejos de Bin Laden. Como discuti no meu livro “9-11”, escrito pouco depois da ocorrência dos ataques, qualquer um que conhecesse a região poderia reconhecer “que um ataque maciço a uma população muçulmana era a resposta às orações de Bin Laden e dos seus seguidores, e conduziria os Estados Unidos e os seus aliados a uma 'armadilha diabólica', nas palavras do ministro dos Negócios Estrangeiros francês”.
O analista sénior da CIA responsável por perseguir Osama Bin Laden desde 1996, Michael Scheuer, escreveu pouco depois que “Bin Laden tem dito com precisão as razões que o levaram a desencadear a guerra contra nós. [Ele] pretende mudar de forma drástica as políticas dos EUA e do Ocidente em relação ao mundo islâmico”, e com um amplo sucesso: “As forças e as políticas dos EUA estão a provocar a radicalização do mundo islâmico, algo que Osama Bin Laden vem tentando fazer com sucesso substancial, mas incompleto, desde o início dos anos 90. O resultado, parece-me justo concluir, é que os Estados Unidos da América continuam a ser o único aliado indispensável de Bin Laden.” E possivelmente continuam a sê-lo, mesmo após a sua morte.
O primeiro 11/9
Havia uma alternativa? Há todas as probabilidades de que o movimento jihadista, muito do qual altamente crítico a Bin Laden, pudesse ter sido dividido e minado após o 11/9. O “crime contra a humanidade”, como era correctamente chamado, poderia ter sido abordado como um crime, com uma operação internacional para deter os presumíveis suspeitos. Na época esta ideia foi reconhecida, mas a sua execução sequer foi considerada.
Em “9-11”, citei a conclusão de Robert Fisk de que “o crime horrendo” de 11/9 foi cometido “com maldade e crueldade impressionante,” um juízo exacto. É útil ter em mente que os crimes poderiam ter sido ainda piores. Suponham, por exemplo, que o ataque tivesse ido tão longe ao ponto de bombardear a Casa Branca, matando o presidente, de impor uma ditadura militar brutal que matasse milhares e torturasse dezenas de milhares, instalando ao mesmo tempo um centro de terror internacional que ajudasse a impor estados similares de tortura-e-terror noutros países, e executando uma campanha internacional de assassinato; e como um incentivo suplementar, tivesse trazido uma equipa de economistas – chamemos-lhes de “os Kandahar boys” – que rapidamente conduzissem a economia a uma das piores depressões da sua história. Claramente, teria sido muito pior do que o 11/9.
Infelizmente, nada disto é especulação. Aconteceu. A única inexactidão neste breve relato é que os números devem ser multiplicados por 25 para produzir equivalentes per capita, a medida apropriada. Refiro-me, naturalmente, àquilo que na América Latina é frequentemente chamado de “o primeiro 11/9”: o 11 de Setembro de 1973, quando os Estados Unidos culminaram com sucesso os seus esforços para derrubar o governo democrático de Salvador Allende, no Chile, com um golpe militar que levou ao poder o regime brutal do general Pinochet. O objectivo, nas palavras da administração Nixon, era matar o “vírus” que poderia estimular todos esses “estrangeiros [que] andam a querer tramar-nos” e que queriam assumir o controlo dos seus próprios recursos e aplicar uma política intolerável de desenvolvimento independente. A apoiar esta política estava a conclusão do Conselho de Segurança Nacional que, se os EUA não conseguiam controlar a América Latina, não se podia esperar que conseguissem realizar a sua Ordem “em qualquer outro lugar no mundo.”
O primeiro 11/9, ao contrário do segundo, não mudou o mundo. Não era “nada de grandes consequências”, como garantiu Henry Kissinger ao seu chefe poucos dias depois.
Estes eventos de poucas consequências não se limitaram ao golpe militar que destruiu a democracia chilena e pôs em movimento a história de horror que se seguiu. O primeiro 11/9 foi apenas um acto de um drama que começou em 1962, quando John F. Kennedy alterou a missão dos militares latino-americanos de “defesa hemisférica” – um resquício anacrónico da Segunda Guerra Mundial – para a “segurança interna”, um conceito com uma interpretação arrepiante nos círculos latino-americanos dominados pelos EUA.
Na “História da Guerra Fria”, recentemente publicada pela Universidade de Cambridge, o académico latino-americano John Coatsworth escreve que daquele tempo até “ao colapso soviético em 1990, o número de presos políticos, de vítimas de tortura, e de execuções de dissidentes políticos não violentos na América Latina excedeu amplamente os da União Soviética e seus satélites europeus do Leste,” incluindo também muitos mártires religiosos e massacres em massa, sempre apoiados ou iniciado em Washington. O último grande acto violento foi o assassinato brutal de seis importantes intelectuais latino-americanos, sacerdotes jesuítas, poucos dias depois da queda do Muro de Berlim. Os criminosos foram um batalhão de elite salvadorenho, que já tinha deixado um chocante rasto de sangue, recém saído de um treinamento na Escola de Guerra Especial JFK, que actua sob as ordens directas do Alto Comando do estado cliente dos Estados Unidos.
Evidentemente, as consequências desta praga hemisférica ainda ecoam.
Dos raptos à tortura e ao assassinato
Tudo isto, e muitas coisas semelhantes, são desvalorizadas como sendo de pouca importância, e esquecidas. Aqueles cuja missão é governar o mundo desfrutam de uma imagem mais reconfortante, muito bem articulada na actual edição do prestigiado (e valioso) jornal do Royal Institute of International Affairs, em Londres. O artigo principal discute “a ordem internacional visionária” da “segunda metade do século XX” marcada pela “universalização de uma visão americana da prosperidade comercial”. Eis uma visão que não chega a exprimir a percepção daqueles que estão do lado errado das armas.
O mesmo vale para o assassinato de Osama Bin Laden, que põe fim, pelo menos, a uma fase da “guerra contra o terror” re-declarada pelo presidente George W. Bush no segundo 11/9. Façamos algumas reflexões sobre esse evento e o seu significado.
Em 1 maio de 2011, Osama Bin Laden foi morto na sua praticamente desprotegida residência por uma incursão de 79 SEALs da Marinha, que entraram no Paquistão de helicóptero. Depois de muitas histórias sensacionalistas fornecidas pelo governo e retiradas, os relatórios oficiais tornaram cada vez mais claro que a operação foi um assassinato planeado, violando multiplamente as normas elementares do direito internacional, começando com a invasão em si.
Não parece ter havido qualquer tentativa de deter a vítima desarmada, como presumivelmente poderia ter sido feito por 79 comandos que não enfrentaram oposição – excepto, relatam, da sua esposa, também desarmada, contra a qual dispararam em legítima defesa, quando ela “arremeteu” sobre eles, de acordo com a Casa Branca.
A reconstrução plausível dos acontecimentos foi feita pelo veterano correspondente no Médio Oriente Yochi Dreazen e colegas na revista Atlantic. Dreazen, ex-correspondente militar do Wall Street Journal, é correspondente sénior do Grupo National Journal, cobrindo assuntos militares e de segurança nacional. De acordo com a sua investigação, o planeamento da Casa Branca não parece ter considerado a opção de capturar Bin Laden vivo: “O governo deixou claro ao clandestino Comando Conjunto de Operações Especiais que queria Bin Laden morto, de acordo com uma autoridade sénior dos EUA que teve conhecimento das discussões. Um oficial de alta patente militar que foi informado do assalto disse que os SEALs sabiam que a sua missão não era levá-lo vivo.”
Os autores acrescentam: “Para muitos, no Pentágono e na CIA, que tinham passado quase uma década a caçar Bin Laden, matar o militante foi um acto necessário e justificado de vingança”. Além disso, “a captura de Bin Laden vivo teria também posto a administração diante de uma série de incómodos desafios jurídicos e políticos”. Melhor, então, assassiná-lo, deitar o corpo ao mar sem a autópsia considerada essencial depois de uma morte – um acto que previsivelmente provocou raiva e cepticismo em grande parte do mundo muçulmano.
Como observa a investigação da Atlantic: “A decisão de matar Bin Laden sem rodeios foi a ilustração mais clara até agora de um aspecto pouco notado da política de contra-terrorismo da administração Obama. O governo Bush capturou milhares de militantes suspeitos e enviou-os para campos de detenção no Afeganistão, no Iraque e na Baía de Guantánamo. A administração Obama, em contraste, tem-se concentrado em eliminar terroristas individuais em vez de tentar capurá-los vivos.” Trata-se de uma diferença significativa entre Bush e Obama. Os autores citam o ex-chanceler da Alemanha Ocidental Helmut Schmidt, que “disse à TV alemã que a invasão dos EUA foi 'muito claramente uma violação do direito internacional' e que Bin Laden deveria ter sido detido e levado a julgamento”, contrapondo Schmidt ao Procurador Geral dos EUA, Eric Holder, que “defendeu a decisão de matar Bin Laden, embora este não representasse uma ameaça imediata para os SEALs, dizendo a um painel da Câmara ... que o assalto tinha sido 'legal, legítimo e adequado em todos os sentidos'”.
A eliminação do corpo sem autópsia também foi criticada por aliados. O eminente advogado britânico Geoffrey Robertson, que apoiou a intervenção e se opôs à execução em grande parte por razões pragmáticas, considerou no entanto a afirmação de Obama de que “fora feita justiça” como um “absurdo”, o que deveria ser óbvio para um ex-professor de direito constitucional. A lei do Paquistão “exige um inquérito sobre a morte violenta e a legislação internacional de direitos humanos insiste que o 'direito à vida' obriga a um inquérito sempre que ocorre uma morte violenta por acção de um governo ou da polícia. Os EUA têm, portanto, o dever de realizar um inquérito que satisfaça o mundo quanto às verdadeiras circunstâncias desta morte.”
Robertson, a propósito, recorda-nos que “nem sempre foi assim. Quando chegou a hora de decidir o destino de homens muito mais mergulhados na maldade que Osama Bin Laden – a liderança nazi – o governo britânico queria que eles fossem enforcados seis horas após a captura. O presidente Truman hesitou, citando a conclusão de Robert Jackson, do Supremo Tribunal, que a execução sumária “não se sentaria facilmente na consciência americana nem seria lembrada pelos nossos filhos com orgulho... o único caminho é determinar a inocência ou culpa do acusado depois de uma audiência tão desapaixonada quanto os tempos permitam e após um registo que vai deixar claros as nossas razões e motivos”.
Eric Margolis comenta que “Washington nunca publicou provas da sua afirmação de que Osama bin Laden esteve por trás dos ataques do 11 de Setembro”, presumivelmente uma razão pela qual “as sondagens mostram que pelo menos um terço dos americanos que responderam acredita que o governo de Estados Unidos e/ou Israel estiveram por trás do 11 de Setembro”, enquanto no mundo muçulmano o cepticismo é muito mais alto. “Um julgamento aberto nos Estados Unidos ou em Haia teria exposto essas afirmações à luz do dia”, continua, razão prática pela qual Washington deveria ter seguido a lei.
Em sociedades que professam algum respeito pela lei, os suspeitos são detidos e levados a um julgamento justo. Sublinho "suspeitos". Em Junho de 2002, o chefe do FBI Robert Mueller, no que o Washington Post descreveu como “entre os seus comentários públicos mais detalhados sobre a origem dos ataques”, pôde dizer apenas que “os investigadores crêem na ideia de que os ataques do 11 de Setembro ao World Trade Center e ao Pentágono vieram de líderes da Al Qaeda no Afeganistão, a maquinação efectiva foi feita na Alemanha, e o financiamento veio através dos Emirados Árabes Unidos a partir de fontes no Afeganistão.”
O que o FBI acreditou e pensou em Junho de 2002 não o sabia oito meses antes, quando Washington repeliu ofertas provisórias dos Taliban (quão sérias, não sabemos) para permitir um novo julgamento de Bin Laden se lhes fossem apresentadas provas. Assim, não é verdade, como o presidente Obama afirmou nas suas declarações da Casa Branca depois da morte de Bin Laden, que “rapidamente soubemos que os ataques do 11 de Setembro foram executados pela Al-Qaeda.”
Nunca houve alguma razão para duvidar do que o FBI acreditou em meados de 2002, mas isto deixa-nos longe da prova da culpa requerida em sociedades civilizadas – e quaisquer que as provas fossem, não justificam o assassinato de um suspeito que, parece, teria sido facilmente detido e levado a julgamento. O mesmo é mais ou menos verdade quanto às provas fornecidas desde então. Assim, a Comissão do 11 de Setembro forneceu provas circunstanciais extensas do papel de Bin Laden no 11 de Setembro, baseando-se principalmente no que lhe tinha sido dito sobre confissões de presos de Guantánamo. É duvidoso que muito disso se sustivesse num julgamento independente, tendo em conta as maneiras como as confissões foram extraídas. Mas, em qualquer caso, as conclusões de uma investigação autorizada pelo Congresso, por muito convincentes que se possam achar, claramente ficariam aquém de uma sentença por um tribunal credível, que é o que passa a categoria do acusado de suspeito para condenado.
Fala-se muito da "confissão" de Bin Laden, mas aquilo foi uma fanfarronice, não uma confissão, com tanta credibilidade quanto a minha "confissão" de que ganhei a maratona de Boston. A fanfarronice diz-nos muito do seu carácter, mas nada da sua responsabilidade pelo que ele considerou como um grande feito, do qual quis ficar com o crédito.
De novo, tudo isso é, de forma transparente, bastante independente do nosso juízo sobre a sua responsabilidade, que pareceu clara imediatamente, mesmo antes do inquérito do FBI, e que ainda parece.
Crimes de Agressão
Vale a pena acrescentar que a responsabilidade de Bin Laden foi reconhecida na maior parte do mundo muçulmano e condenada. Um exemplo significativo é o do eminente clérigo libanês, xeique Fadlallah, muito respeitado em geral pelo Hezbollah e por grupos xiitas, também fora do Líbano. Ele tinha alguma experiência com assassinatos. Tinha sido visado para assassínio: por um camião-bomba fora duma mesquita, numa operação organizada pela CIA em 1985. Escapou, mas 80 outros foram mortos, na maior parte mulheres e meninas ao saírem da mesquita – um daqueles crimes inumeráveis que não entram para os anais do terror por causa da falácia “da agência errada.” O xeique Fadlallah condenou marcadamente os ataques do 11 de Setembro.
Um dos especialistas principais do movimento jihadista, Fawaz Gerges, sugere que o movimento poderia ter-se dividido, tivessem os Estados Unidos explorado a oportunidade, em vez de mobilizar o movimento, em particular com o ataque ao Iraque, um grande benefício para Bin Laden, que levou a um aumento acentuado do terror, como as agências de espionagem tinham antecipado. Nas audições Chilcot, ao investigar o contexto da invasão do Iraque, por exemplo, o antigo chefe da agência de informações internas britânica MI5 declarou que tanto a agência britânica como a dos Estados Unidos estavam conscientes de que Saddam não representava qualquer ameaça séria, que a invasão provavelmente aumentaria o terror e que as invasões do Iraque e do Afeganistão tiveram partes de uma geração radicalizada de muçulmanos que viram as acções militares como “um ataque ao Islão”. Como acontece muitas vezes, a segurança não foi uma prioridade alta para a acção do estado.
Poderia ser instrutivo perguntarmo-nos como estaríamos a reagir se comandos iraquianos tivessem aterrado no complexo militar de George W. Bush, o assassinassem e lançassem o corpo no Atlântico (depois dos rituais fúnebres devidos, naturalmente). Sem sombra de controvérsia, ele não era um "suspeito" mas sim o "decisor" que deu as ordens para invadir o Iraque – isto é, cometer “o crime internacional supremo que só se diferencia de outros crimes de guerra por conter dentro de si a maldade acumulada da totalidade” pelo qual os criminosos nazis foram enforcados: as centenas de milhares de mortes, os milhões de refugiados, a destruição da maior parte do país e do seu património nacional e o conflito sectário assassino que agora se estendeu ao resto da região. Igualmente de forma incontroversa, esses crimes excederam vastamente tudo o atribuído a Bin Laden.
Dizer que tudo isso é incontroverso, conforme é, não quer dizer que não seja negado. A existência de aplanadores da Terra não muda o facto de que, de forma incontroversa, a terra não é plana. De forma semelhante, é incontroverso que Estaline e Hitler foram responsáveis por crimes horrendos, embora os seus partidários o neguem. Tudo isto deveria, de novo, ser demasiado óbvio para ser comentado, e sê-lo-ia, excepto numa atmosfera de histeria tão extrema que bloqueasse o pensamento racional.
De forma semelhante, é incontroverso que Bush e seus parceiros cometeram mesmo o “crime internacional supremo” – o crime da agressão. Aquele crime foi definido de forma suficientemente clara pelo magistrado Robert Jackson, o Chefe do Conselho dos Estados Unidos em Nuremberga. "Um agressor", propôs Jackson ao Tribunal na sua declaração de abertura, é um estado que é o primeiro a cometer tais ações como a “invasão pelas suas forças armadas, com ou sem declaração da guerra, do território de outro estado”. Ninguém, nem mesmo o apoiante mais extremo da agressão, nega que Bush e parceiros fizeram precisamente isso.
Também faríamos bem em lembrar as palavras eloquentes de Jackson em Nuremberga sobre o princípio da universalidade: “Se certos atos na violação de tratados são crimes, são crimes sejam os Estados Unidos ou seja a Alemanha fazê-los e não estamos preparados para estabelecer uma regra da conduta criminal contra outros que não estivéssemos dispostos a ter invocado contra nós”.
É também claro que intenções anunciadas são irrelevantes, mesmo se nelas se acreditar verdadeiramente. Registos internos revelam que os fascistas japoneses aparentemente acreditaram que, ao assolar a China, se esforçavam por a converter “num paraíso terrestre”. E embora possa ser difícil imaginar, é concebível que Bush e companhia acreditassem que protegiam o mundo da destruição pelas armas nucleares de Saddam. Tudo irrelevante, embora partidários ardentes em todos os lados possam tentar convencer-se de outra coisa.
Deixam-nos duas escolhas: ou Bush e seus parceiros são culpados do “crime internacional supremo” incluindo de todos os males que se seguem, ou então declaramos que os processos de Nuremberga foram uma farsa e que os aliados eram culpados de assassinato judicial.
A Mentalidade Imperial e o 11 de Setembro
Alguns dias antes do assassinato de Bin Laden, Orlando Bosch morreu pacificamente na Flórida, onde viveu juntamente com o seu cúmplice Luis Posada Carriles e muitos outros parceiros do terrorismo internacional. Depois de ter sido acusado de dúzias de crimes terroristas pelo FBI, Bosch recebeu um perdão presidencial de Bush I, passando por cima das objecções do Departamento de Justiça que considerou a conclusão “inevitável de que seria prejudicial para o interesse público dos Estados Unidos fornecer um porto seguro a Bosch”. A coincidência dessas mortes imediatamente traz a doutrina de Bush II à lembrança – “já … uma regra de facto das relações internacionais”, segundo o notável especialista de relações internacional de Harvard Graham Allison – que renega “a soberania de estados que fornecem santuário a terroristas”.
Allison refere-se à declaração oficial de Bush II, dirigida aos Taliban, de que “aqueles que abrigam terroristas são tão culpados como os próprios terroristas”. Tais estados, portanto, perderam a sua soberania e são objectivos prontos para bombardeamento e terror – por exemplo, o estado que abrigou Bosch e o seu parceiro. Quando Bush emitiu esta nova “ regra de facto das relações internacionais,” ninguém pareceu notar que ele apelava à invasão e destruição dos Estados Unidos e ao assassínio dos seus presidentes criminosos.
Nada disto é problemático, claro, se rejeitarmos o princípio da universalidade do magistrado Jackson, e adoptarmos antes o princípio de que os Estados Unidos são auto-imunes contra o direito internacional e as convenções – como, de facto, o governo tornou frequentemente muito claro.
Vale a pena também pensar no nome dado à operação de Bin Laden: Gerónimo. A mentalidade imperial é tão profunda que poucos parecem capazes de perceber que a Casa Branca está a glorificar Bin Laden chamando-lhe “Gerónimo” - o chefe índio apache que conduziu a resistência corajosa aos invasores das terras Apache.
A escolha descuidada do nome lembra a tranquilidade com que damos nomes às nossas armas de assassinato a partir das vítimas dos nossos crimes: Apache, Blackhawk [1]… Poderíamos reagir diferentemente se a Luftwaffe tivesse chamado aos seus aviões de combate "Judeu" e "Cigano".
Os exemplos mencionados caem dentro da categoria “excepcionalismo americano,” não fosse o facto de uma supressão fácil dos crimes próprios ser virtualmente ubíqua entre estados poderosos, pelo menos naqueles que não são derrotados e obrigados a reconhecer a realidade.
Talvez o assassinato tenha sido percebido pela administração como “um acto de vingança,” como Robertson conclui. E talvez a rejeição da opção legal de um julgamento reflicta uma diferença entre a cultura moral de 1945 e a de hoje, como ele sugere. Qualquer que fosse o motivo, dificilmente podia ter sido apenas a segurança. Como no caso de “crime internacional supremo” no Iraque, o assassinato de Bin Laden é outra ilustração do facto importante de que a segurança é muitas vezes não uma alta prioridade da acção do estado, ao contrário da doutrina que recebemos.
Noam Chomsky é Professor emérito do Instituto no Departamento de Linguística e Filosofia do MIT. É autor de numerosas obras políticas de topo de vendas, incluindo “9-11: Was There an Alternative?” (Seven Stories Press), uma versão actualizada do seu relato clássico, que acaba de ser publicada esta semana juntamente com um novo ensaio destacado – a partir do qual este post foi adaptado – levando em conta os 10 anos desde os ataques do 11 de Setembro.
Tradução de Luis Leiria e Paula Sequeiros para o Esquerda.net
[1] NT: Blackhawk, líder guerreiro dos nativos Norte-Americanos Sauk que demonstrou ser um poderoso opositor dos invasores colonizadores ingleses
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Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.
Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.
O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.
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Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.
O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
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