domingo, 28 de fevereiro de 2010

Jobim, Vannuchi e a memória brasileira: anistia não é amnésia


Indignados com o PNDH (Programa Nacional de Direitos Humanos), lançado em solenidade oficial presidida por Lula, em dezembro, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e os comandantes das Forças Armadas teriam apresentado suas renúncias, recusadas pelo presidente da República.

Lula teria prometido rever três ou quatro pontos do programa, como os que exigem a instalação de uma Comissão da Verdade, a abertura dos arquivos militares e a retirada, de vias públicas, de nomes de pessoas notoriamente coniventes com a repressão da ditadura.

O ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial de Direitos Humanos, cumpre honradamente seu dever de cidadão e autoridade pública: empenha-se para que a verdade venha à tona. O Brasil é o único país da América Latina, assolado no passado por ditadura militar, que prefere manter debaixo do tapete crimes cometidos por agentes públicos.

A lei da anistia, aprovada pelo governo do general João Figueiredo, é uma aberração jurídica. Anistia se aplica a quem foi investigado, julgado e punido - o que jamais ocorreu, no Brasil, com os responsáveis por torturas, assassinatos e desaparecimentos. Aqueles que lutaram contra o regime militar e pela redemocratização do país foram, sim, severamente castigados. Que o digam Vladimir Herzog e Frei Tito de Alencar Lima.

Tortura é crime hediondo, inafiançável e imprescritível. Ao exigir que se apure a verdade sobre o período ditatorial, o ministro Vannuchi e todos nós que o apoiamos não somos movidos por revanchismo. Jamais pretendemos fazer com eles o que eles fizeram conosco. Trata-se de justiça: descobrir o paradeiro dos desaparecidos; entregar às suas famílias os restos mortais dos que foram assassinados e enterrados clandestinamente; comprovar que nem todos os militares foram coniventes com as atrocidades cometidas pelo regime, em nome da "Segurança Nacional"; livrar as forças armadas da influência de figuras antidemocráticas que exaltam a ditadura e acobertam a memória de seus criminosos.

O presidente Lula não merece tornar-se refém dos saudosistas da ditadura. É a impunidade que favorece, hoje, a prática de torturas por parte de policiais civis e militares, como ocorre em blitzen, delegacias e cadeias Brasil afora.

Direito à verdade

É inútil os militares tentarem encobrir a verdade sobre o nosso passado. Até no filme de Fábio Barreto, Lula, o filho do Brasil, a truculência da ditadura é exposta em cenas reais e fictícias. Batismo de Sangue, de Helvécio Ratton - o filme mais realista sobre o período militar - revela como jovens estudantes idealistas eram tratados com uma crueldade de fazer inveja aos nazistas.

Participei, junto com Paulo Vannuchi, do projeto que resultou no livro Brasil, Nunca Mais (Vozes, 1985), assinado por Dom Paulo Evaristo Arns e o pastor Jaime Wright. Todas as informações contidas na obra foram obtidas na documentação encontrada no Superior Tribunal Militar. E, recentemente, o major Curió, que comandou a repressão à Guerrilha do Araguaia, abriu uma mala de documentos.

Anistia não é amnésia. O Brasil tem o direito de conhecer a verdade sobre a Guerra do Paraguai, Canudos e a ditadura instalada em 1964. Bisneto e neto de militares, sobrinho de general e filho de juiz de tribunal militar (anterior ao golpe), eu gostaria que os nossos Exército, Marinha e Aeronáutica fossem forças mais amadas que armadas.

Frei Betto é escritor e assessor de movimentos sociais, autor de Diário de Fernando - nos cárceres da ditadura militar brasileira (Rocco), entre outros livros. Artigo publicado pela agência Adital.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

OS RUSSOS INVESTEM PESADO EM TECNOLOGIA BÉLICA

Não há dúvida de que militarmente os russos querem colocar-se na dianteira da China. Economicamente eles sabem que não têm como disputar com a segunda maior potência do planeta, porém, em questões militares e de geopolítica, os russos até o momento vêm se saindo melhor. Enquanto os chineses não decidem se participarão de base militar na América do Sul, os russos já firmaram pactos com os venezuelanos e agora investem pesado em armamentos caríssimos que exigem um sofisticado desenvolvimento tecnológico. O caça russo Sukhoi PAK FA T-50, ainda em fase de testes, é prova do investimento na indústria bélica da ex-União Soviética.

Veja abaixo, em espanhol, a matéria publicada no jornal EL PAIS (ou clique aqui para acessar a matéria diretamente na página do diário europeu).

La nueva arma rusa para surcar los cielos

Moscú realiza con éxito el vuelo de prueba de su caza 'stealth' de quinta generación, la competencia del caza estadounidense F-22 Raptor

El nuevo caza 'stealth' desarrollado por Rusia aterriza tras su exitoso vuelo de prueba- AP

El caza ruso Sukhoi PAK FA T-50 ha realizado este viernes su primer vuelo de prueba, según ha informado una portavoz de la compañía. Se trata del primer caza completamente desarrollado en Rusia desde el colapso de la antigua URSS, con el que pretende plantar cara a la superioridad tecnológica y militar de Estados Unidos en los cielos.

El caza está dotado con tecnología stealth (avión furtivo), lo que le hace invisible a los radares, y cuenta con avanzados sistemas de control de vuelo y de armamento. El aparato es capaz de despegar y aterrizar en pistas de entre 300 y 400 metros de longitud. De acuerdo con algunos expertos, el aparato será capaz efectuar vuelos supersónicos de larga duración y repostar combustible en el aire. Sus sistemas de armamentos le permiten atacar simultáneamente varios blancos tanto en tierra como en el aire.

El primer vuelo de este Sukhoi ha durado 47 minutos. "El avión se desempeñó bien. Todas nuestras expectativas para el primer vuelo se cumplieron", ha dicho la portavoz de Sukhoi, Olga Kayukova, al canal de televisión Rossiya 24. "El debut fue un éxito", ha agregado.

El nuevo caza es la respuesta de Moscú al F-22 Raptor, hasta el momento la única nave de quinta generación en servicio del mundo, que empezó a desarrollarse a principios de los años noventa, y que voló primera vez en 1997. El alto coste del F-22 (operativo solo en ese país, ya que el Gobierno federal tiene limitada su venta a otros países) ha hecho que la administración Obama quiera limitar el presupuesto que le dedica a la construcción de estos aeronaves, ya que dispone de otros modelos ya de por si superiores en el aire.

El desarrollo del Sukhoi PAK FA tardará entre cinco y siete años para poder ser usado por el Ejército ruso. El futuro de esta aeronave es crucial para que Rusia demuestre que puede desafiar a la tecnología estadounidense.
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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Blowback: o legado da CIA no Irã, Afeganistão e Paquistão

O mínimo que se pode dizer é que no Irã, Afeganistão e Paquistão os EUA colhem hoje o que a CIA plantou com a colaboração de gente como o deputado Charlie Wilson. Osama Bin Laden foi treinado pela CIA para atacar os russos; gostou e atacou depois o World Trade Center em Nova York. E as bombas atômicas do Paquistão (real) e do Irã (hipotética) devem-se, ao menos em parte, à igual cortesia da CIA. A situação atual destes três países reflete o passado irresponsável da espionagem dos EUA. O artigo é de Argemiro Ferreira.

Argemiro Ferreira

A imagem do herói no cavalo branco a salvar a mocinha das garras do vilão, seja este assaltante de banco ou índio em defesa de suas terras invadidas, é recorrente na ficção de Hollywood. O deputado Charlie Wilson morreu, aos 76 anos, no dia 10 de fevereiro, certo de que era herói na vida real. Motivo: no Congresso injetou bilhões de dólares para financiar os que lutavam contra os russos no Afeganistão.

Ao morrer do coração Wilson já estava aposentado. Mas ele representou o Texas por 14 mandatos sucessivos na Câmara. Um livro (“Charlie Wilson’s War - The Extraordinary Story of the Largest Covert Operation in History”, de George Crile) e um filme (“Charlie Wilson’s War”, de Mike Nichols, com Tom Hanks no papel-título) o retrataram como herói.

A semana marcou ainda o 31° aniversário da revolução dos aiatolás do Irã, ocorrida apenas alguns meses antes da invasão do Afeganistão. Os iranianos derrubaram o regime do xá Reza Pahlevi, instalado em 1953 graças a golpe planejado pela mesma CIA que usou as verbas secretas do deputado Wilson para recrutar e armar os radicais islâmicos do lado paquistanês da fronteira com o Afeganistão.

O mínimo que se pode dizer é que no Irã, Afeganistão e Paquistão os EUA colhem hoje o que a CIA plantou com a colaboração de gente como o deputado Wilson. Osama Bin Laden foi treinado pela CIA para atacar os russos; gostou e atacou depois o World Trade Center em Nova York. E as bombas atômicas do Paquistão (real) e do Irã (hipotética) devem-se, ao menos em parte, à igual cortesia da CIA.

A lambança atual no Afeganistão (largamente nas mãos dos radicais islâmicos usados pela CIA a partir de 1979), no Paquistão (onde a CIA instalou acampamentos para os ataques aos russos no país vizinho e encorajou o sonho paquistanês da bomba nuclear islâmica) e no Irã (que se nega hoje a abandonar o enriquecimento de urânio) reflete o passado irresponsável da espionagem dos EUA.

No Irã o golpe da CIA instalou o xá no lugar do premier nacionalista Mohamed Mossadegh, anulou a nacionalização do petróleo e com faustosa coroação em 1967 impôs a ficção do “trono de 2.500 anos”. As corporações anglo-americanas ganharam mais um quarto de século para explorar o petróleo do Irã, já que a CIA ainda concebeu a tenebrosa Savak, serviço secreto celebrizado pelas câmaras de tortura.

Ainda naquela década de 1950 o Irã foi premiado pelo governo do presidente Eisenhower com relações muito especiais - que incluiram “acordo de cooperação nuclear para fins pacíficos”, deixando o país com alguma base para, em seguida à revolução dos aiatolás, assustar os EUA com a disposição de ampliar o programa nuclear e rumar para o enriquecimento de urânio.

Para o Irã submisso de Reza Pahlevi, nada era bom demais: além de favorecer o desenvolvimento nuclear, Washington ainda dotou o país de armas sofisticadas e modernizou a máquina da repressão - tudo pago com a receita do petróleo, que regalou nos EUA as indústrias bélica, aeronáutica, nuclear e de segurança. Só que hoje, tomado pelos rebeldes radicalizados nas câmaras de tortura, o Irã é outro.

De tal forma o Irã do xá era criatura da CIA que, no final de 1973, o presidente Nixon concluiu que ninguém melhor para ser embaixador em Teerã do que o próprio diretor da central de espionagem, Richard Helms - “dada a intimidade dele com o xá”, explicou. Como se fosse o posto final de uma carreira de sucesso na CIA, dirigida por Helms durante quase sete anos, antes dos três que passou no Irã.

Com a contribuição do deputado Charlie Wilson, anticomunista meio fanático, o capítulo Afeganistão-Paquistão foi ainda mais vivo, excitante e insólito - ou “colorful”, para usar adjetivo talvez mais apropriado à conduta do parlamentar excêntrico que quando não estava “salvando o mundo” da suposta “ameaça vermelha” dedicava-se ao consumo de álcool e drogas com prostitutas de luxo.

Ele ficou obviamente encantado com os relatos do livro e do filme que o tornaram celebridade. Seu papel pode ter sido singular pelo conhecimento de sutilezas do processo legislativo na Câmara, onde integrava a comissão de verbas (appropriations) e sua subcomissão sobre operações no exterior - além de cultivar contatos na comissão que supervisiona a espionagem.

Não só estava familiarizado com mecanismos e artifícios para ocultar a destinação de recursos. Também revelara-se mestre na troca de favores com colegas interessados em abocanhar verbas para projetos de seus distritos eleitorais. Certos especialistas acham que hoje teria mais dificuldades: o processo legislativo sofreu reformas depois, reduzindo - em nome da transparência - a prática do sigilo.

O fato é que Wilson começou por canalizar uma verba de US$ 5 milhões para os radicais do Afeganistão. E, no fim da década de 1980, aqueles recursos elevavam-se a nada menos de US$ 750 milhões por ano. Pode ter sido ajudado por pertencer ao partido da oposição (Democrata) numa década dominada por governos republicanos (Reagan e Bush I) obstinados em estender ainda mais as ações militares dos EUA pelo mundo.

No Afeganistão e Paquistão, sabe-se hoje, a lambança foi bipartidária - devido a uma armadilha do governo do presidente democrata Jimmy Carter. Seu assessor de segurança nacional na Casa Branca, Zbigniew Brzezinski, confessaria 20 anos depois ter atraído a URSS para a idéia de invadir o Afeganistão. A invasão veio a 24 de dezembro de 1979, após seis meses de ajuda crescente da CIA aos rebeldes radicais.

Em entrevista à revista francesa “Nouvel Observateur”, em 1998, Brzezinski vangloriou-se de seu papel: “Carter assinou a 3 de julho de 1979 a primeira diretiva (à CIA) para a ajuda secreta aos opositores do regime pro-soviético de Kabul. Naquele dia eu tinha enviado nota ao presidente na qual expliquei que, na minha opinião, tal ajuda americana iria levar a uma intervenção militar soviética”.

Quando o jornalista perguntou se a ação clandestina dos EUA tivera a intenção de provocar a invasão russa, Brzezinski amenizou: “Não provocamos os russos para que invadissem, mas ampliamos conscientemente a probabilidade de que isso viesse a ocorrer”. No dia em que os russos cruzaram a fronteira, disse, escreveu de novo a Carter: “Agora temos a oportunidade de dar aos soviéticos o Vietnã deles”.

Brzezinski contestou, assim, a tese republicana que atribui a Reagan a glória pelo fim da URSS. “Durante quase 10 anos a URSS amargou guerra insuportável - um conflito que trouxe a desmoralização e, afinal, a dissolução do império soviético”, alegou. Mas o exagero é comparável ao do mérito republicano. O desfecho, após meio século, deveu-se aos dois partidos e muita gente mais - inclusive os que erraram na própria URSS.

As avaliações atuais tentam ignorar os efeitos negativos das ações da espionagem. Ao financiar, treinar e armar (até com mísseis Stinger, capazes de destruir aviões em vôo) os radicais que batizou de “combatentes da liberdade” a CIA extremou as ambições deles. Hoje ela os repudia como “terroristas”, indiferente ao fato de que aprenderam na CIA a pensar o impensável - como atacar o coração do império americano.

Com os russos fora do Afeganistão os EUA deixaram o país para os radicais que a CIA diplomou em terrorismo. Com armas como o Stinger, os talibãs tomaram o poder e ficaram até 2001. Bin Laden, saudita de nascimento, ainda dirige de lá a rede al-Qaeda, que opera no mundo a partir do território afegão. E a CIA ainda tenta “recomprar” Stinger mas nem sabe quantos distribuiu - a estimativa vai de 500 a 2.000.

O deputado Wilson, ao invés de herói, foi cúmplice das trapalhadas. Livro e filme dizem que atuava com assistência da CIA. A culpa dos EUA e sua agência ia mais longe na relação promíscua com o general-ditador paquistanês Zia-ul-Haq, que em troca do apoio à operação na fronteira afegã obteve luz verde e deu carta branca ao construtor da bomba atômica islâmica, o cientista Abdul Qadeer Khan.

No desdobramento, a receita da bomba-A do Paquistão foi parar no Irã, Coréia do Norte, Líbia e talvez outros. Assim, além de fazer a “guerra (sem fronteiras) ao terrorismo” e lutar no Afeganistão contra os que antes chamava de “combatentes da liberdade”, os EUA hoje têm de vigiar o Dr. Khan, o serviço secreto (ISI) do Paquistão, os progressos nucleares do Irã e da Coréia do Norte e sabe-se-lá-mais-o-que.

A própria CIA adotou a expressão “blowback” para designar os efeitos opostos ao que pretendia em cada uma de suas operações clandestinas. A palavra apareceu pela primeira vez em relatório secreto de 1954 sobre o golpe da CIA no Irã. O “blowback” da derrubada de Mossadegh foi a tirania de 25 anos e a revolução (antiamericana) dos aiatolás. Já no Afeganistão os ataques do 11/9 nos EUA tendem a ficar como exemplo maior.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

QUANDO O RELATÓRIO DA CIA DIZ UMA COISA E A REAÇÃO AMERICANA É OUTRA

Recentemente li um livro que retrata um relatório da CIA de como será o mundo daqui 20 ou 30 anos. O relatório é do final da era Bush.

Eles não têm dúvida em afirmar que a China e a Índia serão grandes potências, embora tenham problemas internos a serem resolvidos. Falam que próxima delas está a Rússia, que, como todo mundo já sabe, precisa barrar o crime organizado. Mais distante está o ... sim, o nosso país. Falam que o Brasil só foi incluído na lista dos BRICs porque faltava país com a letra B. Ironia ou não da CIA, eles se reportam ao nosso país como futura potência REGIONAL. Dizem que temos que deter a criminalidade, dentre outras "recomendações".

O mais engraçado é que o relatório cita muitas vezes o Irã como futura potência e recomenda que os países não dependam só do petróleo, mas invistam em tecnologia nuclear, para que possam avançar economicamente. E agora que o Irã investe em energia nuclear lá vem os EUA ameaçando retaliá-lo. Brincadeira? Não. São palavras da CIA. Se essas palavras são confiáveis ou não, aí já é outra história.

Quanto à América do Sul, o relatório diz que ainda haverá muitos governos representando as maiorias indígenas, chamando-os de populistas. Bem, não é aprimeira vez que os estadunidenses demonstram que não sabem diferenciar popular de populista, coisas diametralmente diferentes. Já ouvi de uma americana que o Bush era carismático, ou seja, populista, o que penso que o igualaria ao Hugo Chavez. Porém, nós já sabemos no que deu o governo "populista" de Bush. O maior desastre econômico, bélico e de liderança nas últimas décadas para os Estados Unidos. Enquanto isso, Chavez mantém-se no poder há mais de uma década, através das urnas, enfrentando tentativas de golpes orquestradas por forças internas e pela própria CIA estadunidense.

Como todo relatório aberto de uma agência de inteligência, devemos ler nas entrelinhas. Obviamente, nem tudo o que é escrito corresponde à verdade. Manipulações sempre existiram e existirão nesse meio, tanto que as contra-informações são velhas exitosas armas para confundir.

Falar mal dos governos populares é uma tática. Falar da criminalidade exacerbada na Rússia, que ameaça a própria democracia de lá, também parece ser uma, afinal, a Rússia, hoje, é o segundo país em força bélica, embora conte com menos de 200 milhões de habitantes. 

Se o recado da CIA era que as grandes potências seriam aquelas que não dependeriam apenas da exploração dos combustíveis fósseis, o Irã o compreendeu adequadamente, sendo manipulado ou não, não se sabe. O resultado da reação, porém, nós já podemos perceber.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

MIL E UMA INVENÇÕES


Abbas Ibn Firnas foi o primeiro a projetar um possível planador no século IX

Da Redação Arabesq

A capital britânica Londres hospeda atualmente a exposição sobre invenções e descobertas islâmicas que contribuíram para a civilização contemporânea. Desde escovas de dentes, hospitais, ciências e matemática até aeronaves.

A exposição do Museu de Ciência em Londres, usa como referencia o livro "Mil e Uma Invenções” do professor Hassani al-Salim que afirma existir uma "lacuna em nosso conhecimento (ocidental), pois saltamos da época da Renascença para a Grécia."

Ele garante que muitas das invenções e descobertas que contribuíram para a linha da civilização contemporânea vem da civilização islâmica, que difundiu-se para Portugal, Espanha e sul da Itália até a China. Salim deseja que esta exposição contribua para iluminar as contribuições de culturas não-ocidentais na produção da civilização contemporânea.

Hassani ressaltou que a cirurgia começou no ano Mil com o médico Alzarawi que escreveu mais de 1500 páginas sobre cirurgia e sua obra foi usada como referência na Europa por quase 500 anos. Al Zarawi realizou a primeira cesariana e criou o primeiro fórceps que se tem conhecimento.

O livro explica que o povo do Iêmen foi o primeiro a descobrir o café, no século IX, usando-o para ajudá-los a madrugar buscando a adoração espiritual. A bebida só chegou à Turquia no século 13 e, em seguida, foi para a Itália no século 16.

Abbas Ibn Firnas foi o primeiro a projetar um possível planador, no século IX, construiu um objeto parecendo um pássaro e tentou sobrevoar a cidade de Córdoba, na Espanha. Segundo Hassni, Abbas teria planado por diversos minutos antes de cair e ferir a coluna. Esses projetos teriam servido de inspiração séculos depois para o famoso inventor italiano Leonardo da Vinci.

A Princesa Fátima Alfarhi fundou a primeira universidade na cidade de Fez, no Marrocos, e sua irmã Maria construiu uma mesquita ao lado. Ambas ficaram conhecidas por a universidade e a mesquita de Al Koruiin que ainda estão abertas depois de 1200 anos. Hasani acredita que a história das duas irmãs lembra que a educação está no centro da tradição islâmica.

Na oftalmologia, Ibn al-Haytham foi o primeiro a provar que a percepção visual é resultante da reflexão da luz dos objetos. Já a álgebra teve seus fundamentos desenvolvidos pelo cientista persa Al-Kharazmi. Na música, os muçulmanos fizeram contribuições significativas, como a criação do alaúde, da rabeca, que são os ancestrais do violão e do violino.

O Profeta Muhammad foi o primeiro a promover o uso da escova de dentes no ano 600, usando um pequeno ramo de uma árvore para limpar os dentes e se purificar.

O primeiro hospital surgiu no Egito no século IX e foi chamado de "Hospital Ahmad Ibn Tulun" que atendia gratuitamente, com base na tradição islâmica que exige cuidar dos doentes

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

EUA E ISRAEL FECHAM MAIS E MAIS O CERCO AO IRÃ

Na página do IG de ontem saiu uma matéria com o título: “Turquia prende 40 chefes militares acusados de conspiração”. Clique aqui para ler.

Segundo a notícia, baseada nos informes da agência BBC Brasil, 40 pessoas foram detidas, dentre elas militares de alta graduação, acusadas de conspirarem para derrubar o governo do primeiro-ministro Tayyip Erdogan, do partido o AKP, de orientação islâmica.
Muitos dos presos são acusados de explodir mesquitas, visando com isso criar instabilidade no meio social e político e instituir um golpe militar, que não seria o primeiro, já que entre 1960 e 1997, as Forças Armadas derrubaram 4 governos democráticos, simplesmente porque tinham “tendências islâmicas”, informa a BBC.
Os mandados de prisão não partiram do Poder Executivo ou legislativo, mas do Poder Judiciário, com base na acusação formulada pela promotoria turca, que diz que, além de existir gravações comprometedoras, os acusados ainda tinham um depósito clandestino de armas. E desde que o Ministério Público tomou conhecimento da conspiração para a prática do golpe militar, mais de 400 pessoas, nas quais se incluem jornalistas, políticos e militares, foram presas. É o que há de principal na reportagem, de forma muito sintetizada.

Vocês imaginam o que está por detrás disso? Não sei se a CIA tem ligação direta com os golpistas, mas penso que sim. Uma Turquia mais submissa aos Estados Unidos seria de grande valia para as pretensões estadunidenses. Além do mais, facilitaria a ação israelense de bombardear o Irã. Como se sabe, a Turquia, além de ter negado aos Estados Unidos o direito de usar o seu espaço aéreo para bombardear o Iraque, em 2003, é uma grande parceira econômica do Irã. Militares mais próximos aos Estados Unidos no poder da Turquia facilitariam a implantação do isolamento quase que total do Irã, tão sonhado pelo governo estadunidense. Isso parece significar que um ataque está sendo planejado, mas só será implementado quando houver condições prévias, como apaziguação dos ânimos dos EUA com a China, por conta de Taiwan e Tibete, e o afastamento ou aniquilamento das relações comerciais e bélicas da Síria, Turquia, China e Índia com o país persa. Os EUA não dão ponto sem nó nem Israel.
Israel promete comprar grande quantidade de equipamentos bélicos, para facilitar que a Rússia vote no Conselho de Segurança da ONU pela adoção de medidas de boicote ainda mais severas contra o Irã. Mas não é só essa a ação visível de Israel. Embora negue, há elementos que autorizam concluir que o Mossad israelense está por trás do assassinado do líder militar do Hamas, inclusive, segundo alguns, com apoio de autoridades de alguns governos europeus. Por quê agora? Por que o Hamas tem armas, ainda que não sejam consideradas pesadas, que poderiam ser utilizadas como retaliação direta a Israel, na hipótese de ataque ao Irã. Agora o Hezbolah libanês, que já havia dito que atacaria Israel caso houvesse uma invasão ao Irã, pode ser alvo novamente de outro ataque israelense, prévio à possível invasão iraniana.
Não pense que as forças de inteligência estadunidenses estão dormentes. Não estão, mesmo. E não pense que as ações de tentar derrubar Ahmadnejad do poder cessaram. Pequenos grupos terroristas, pequenos atentados e manifestações da dita oposição vão continuar ocorrendo com a intervenção direta ou indireta da CIA, como forma de criar instabilidades internas e problemas de logística militar.
Tentam a derrubada via boicotes, ações de inteligência, com confronto indireto interna e externamente, e até mesmo diretamente, através da guerra.

São cogitações, sim, mas baseadas em fatos geopolíticos.

Cyro Saadeh
(vocês devem se perguntar, porque às vezes eu assino as matérias e outras não. Puro esquecimento.)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

AS MÁCULAS DE UM TEMPO HEDIONDO

Ao contrário do que aduzem alguns jornalistas mal informados, as indenizações aos presos políticos torturados, desde que na forma das leis criadoras, sejam elas estaduais ou federal, não configuram trens da alegria. As reparações têm por fundamento previsões normativas que exigem a comprovação dos fatos tipificados para permitir-se o pagamento situado entre os patamares máximo e mínimo que elas mesmas estabeleceram. Não há ilegalidade, portanto, no caso da previsão normativa do Estado de S. Paulo.

Também não há imoralidade na reparação dos danos de quem não largou ideais e buscou trazer ao Brasil o regime democrático conhecido em tão poucos momentos de nossa história.
Nunca é demais relembrar que após a declaração da independência, o Brasil conviveu por 67 anos com o sistema imperial de governo, forma rompida apenas em 1889 por um golpe que instituiria uma breve ditadura militar. Após alguns anos do que se poderia chamar de democracia, o Brasil viria a sofrer outro processo ditatorial – civil - em 1937 e que perduraria até 1945. E, passados 19 anos de breve experiência democrática, em 1964 veio outro golpe militar, agora patrocinado por interesses políticos nacionais e externos, que perduraria até o início do ano de 1985. E foi justamente este último regime de exceção que implementou a ditadura mais atroz e cruel da qual o Brasil já teve conhecimento, resultando em várias centenas de mortos e milhares de torturados, além de inúmeras perseguições e cassações políticas até hoje não totalmente esclarecidas.
Não se pode olvidar do nível da crueldade praticada na escuridão do regime. A própria imprensa nacional cita, hoje, que alguns cidadãos estrangeiros, envolvidos em barbáries internacionais, como nas doentias e violentas torturas praticadas contra membros dos movimentos de independência da Argélia, foram os “mestres-instrutores” dos torturadores admitidos e instituídos pelo último regime de exceção do País.
Muitos personagens de nossa história foram torturados em prisões, outros foram assassinados em vias públicas, muitos também foram retirados de celas para serem mortos às escuras e um outro tanto desapareceu sem deixar vestígios. Mas as dores causadas pela ditadura à cidadania não terminam aí.
Muitos ex-presos políticos acabaram praticando suicídio, tamanha era a dor e o sofrimento mentais ocasionados pela agressão, pressão psicológica e ultrajes. Pode-se citar exemplificativamente os casos de Maria Auxiliadora Lara Barcellos, Massafumi Yoshinaga e Juan Antonio Carrasco Forrastal.
Mas as dores físicas e psicológicas dos resistentes cidadãos comuns são apenas uma faceta da ditadura que calou músicos, artistas, escritores, jornalistas, juízes, intelectuais e a oposição, chegando a abafar por completo a luta por justiça social e direitos humanos.
Em 1988 é que o Brasil começou a respirar efetivamente ares democráticos. A promulgação da Constituição Federal de 1988, chamada de a “Constituição Cidadã” pelo mestre das Diretas-Já, Ulysses Guimarães, passou a garantir direitos elementares mínimos e a primazia do respeito à tolerância e aos direitos humanos. Visava-se o restabelecimento da garantia mínima de cidadania e de respeito a valores fundamentais.
É conveniente lembrar que no Chile e na Argentina, militares e civis comprovadamente envolvidos em torturas ainda são presos.
Quem sofre tortura e vê o seu algoz em liberdade, ainda que receba um valor compensatório, como ocorre no Brasil, certamente não tem atendida a plena reparação moral. O reconhecimento dos Estados Federados de que houve práticas inaceitáveis ao dispor indenizações administrativas de natureza compensatória é confortante, mas não o suficiente, como já se disse, para atender totalmente à cidadania maculada.
Hoje, ainda se discute se a Lei da Anistia de 1979 protegeu ou não os torturadores. O Ministro da Justiça, Tarso Genro, em entrevista concedida ao jornal Folha de S. Paulo (edição do dia 16 de maio de 2008 – “Brasil – A7”) argumentou que:

“Para tratar dessa questão [punição criminal], não precisaria de mudança na lei. A Lei da Anistia é uma lei política. Ela incide sobre crimes políticos. A tortura não pode ser considerada um crime político”.

Dias atrás, o próprio Ministério Público Federal propôs Ação Civil Pública contra a União e dois militares que comandavam o DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna) até 1976, requerendo a responsabilização desses pela tortura, morte e desaparecimento de 64 pessoas (Folha de S. Paulo, 16 de maio de 2008, “Brasil – A7”).

Isso é tão somente uma breve introdução desse assunto tão árduo que serve apenas para esclarecer um tema que é polêmico para muitos, mas bem cristalino para aqueles que militam com os direitos humanos ou o próprio direito público: a tortura praticada por agentes públicos ou por particulares em nome do Estado é inaceitável, pois viola a dignidade da pessoa humana prevista como princípio fundamental da República Federativa do Brasil (art. 1º, III, da Constituição Federal).

domingo, 21 de fevereiro de 2010

SOLIDARIEDADE AO POVO DA ILHA DA MADEIRA

foto: publico.pt
Na noite de sexta-feira havia alguém de Funchal procurando ajuda e entrou no meu blog por algum motivo. Eu não sabia do desastre e só tomei conhecimento na tarde de sábado. Também não sabia aonde ficava Funchal, até ler em um site (que não me recordo qual) que se tratava da ilha da Madeira, a principal do arquipélago de mesmo nome, localizada no Oceano Atlântico, na altura de Marrocos, e pertencente à República de Portugal. 
Não sei se ajudará ou se ao menos consolará, mas posto aqui algo sobre o desastre e uma das formas de se ajudar o povo daquela região.

VEJA O MAPA E SAIBA AONDE FICA A ILHA DA MADEIRA

COMO AJUDAR
Entre em contato com o governo regional do arquipélago: http://www.gov-madeira.pt/
(o site pode estar sobrecarregado devido ao enorme número de acessos)
VEJA ABAIXO A MATÉRIA PUBLICADA NA IMPRENSA PORTUGUESA SOBRE O DESASTRE NA REGIÃO

A forte chuva que caiu na Madeira esta madrugada levou a que o caudal das duas principais ribeiras do Funchal subisse consideravelmente, dando origem a fortes correntes de água e lama que arrastaram e destruíram dezenas de veículos. A baixa da cidade ficou inundada.

O presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim, disse que está a preparar o envio a Bruxelas de “um pedido de apoio”, com “documentação fundamentada”. Jardim acrescentou ainda que já falou com o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, com o Presidente da República e com o primeiro-ministro.

O Governo pôs ao dispor os “meios de que a região precisasse, inclusivamente meios financeiros”, acrescentou ainda João Jardim. O Governo regional dos Açores também já mostrou disponibilidade para ajudar os madeirenses.

Dada a gravidade da situação, o primeiro-ministro José Sócrates viajou para a Madeira, para definir, com o Governo regional, o plano de ajudas para a região.

Com Sócrates viajou o ministro da Administração Interna, Rui Pereira, que esta tarde classificou o acidente como "uma situação que exige uma resposta nacional”.

Para além dos 32 mortos, foram contabilizados 68 feridos e há ainda centenas de desalojados na ilha da Madeira. O Exército está a acolher algumas das pessoas cujas casas ficaram destruídas.

O ministro da Administração Interna disse ainda que irá levar a Conselho de Ministros uma proposta para a declaração de calamidade na Madeira, de modo a que a região possa requisitar apoio da União Europeia para lidar com os danos das cheias.

Rui Pereira afirmou também que a Autoridade Nacional de Protecção Civil tem uma equipa de 100 pessoas a postos para seguir também para a Madeira. A Câmara Municipal de Lisboa também ofereceu a ajuda dos Sapadores Bombeiros.

As zonas litorais cidade do Funchal e a vila da Ribeira Brava são as localidades mais atingidas pela fúria das ondas e pelo aumento do caudal das ribeiras que inundaram a baixa da capital madeirense, completamente intransitáveis e com elevados prejuízos.

Dadas as dificuldades de comunicações, desconhecem-se os danos registados na povoação de Curral das Freiras, cuja população esta completamente isolada. Durante o dia, houve grandes problemas de comunicações em toda a ilha. As autoridades chegaram a fazer apelos nas rádios para que médicos e enfermeiros se dirigissem aos serviços de saúde. O aeroporto esteve fechado.

A GNR mobilizou entretanto 56 homens e dois cães, do Grupo de Intervenção de Protecção e Socorro, para embarcar ao início da manhã de domingo para a Madeira.

Este é o pior desastre na ilha nos últimos 100 anos.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

BRASIL, UMA POTÊNCIA?

Com o devido respeito, o Brasil está crescendo economicamente e em grau de importância geopolítica, mas está longe, e muito, de se tornar uma potência, o que inclui necessariamente um enorme e forte crescimento nas áreas política, militar e geopolítica.

A China, sem sombra de dúvida, será a grande potência que sucederá os Estados Unidos. A uma certa distância estará a Índia e mais distantes Rússia e Brasil, seguidos pelo Irã, África do Sul, México, Chile...

Digo isso pelos seguintes motivos. Hoje, a China detém tecnologia espacial avançada, possui armas atômicas, possui o maior exército mundial, produz seus próprios aviões de combate e armamentos, bem como submarinos e navios de guerra ou comerciais. Tem mísseis teleguiados capazes de derrubar satélites espiões, inclusive. E tem assento privilegiado e permanente no Conselho de Segurança da ONU. O Brasil pleiteia entrar, mas só conseguiu assentos temporários. A China já é uma potência, o Brasil não.

O Brasil tem muitos analfabetos, tem muitos miseráveis, mas não é só isso. Não investiu e não investe pesadamente na educação. Também não possui armas atômicas, tem um exército reduzido, se comparado proporcionalmente com países fronteiriços, inclusive. O Brasil não produz seus aviões de combate (com exceção aos tucanos e ao EMX, em parceria com a Itália), não produz seus navios de combate nem o submarino nuclear que pretende ter, não tem mísseis capazes de destruir satélites espiões, não conseguiu por si só colocar um astronauta no espaço além-terra, mas mesmo assim sonha com o capital estrangeiro como fonte de enriquecimento.Quanta diferença da China.

Se compararmo-nos com a Índia também estaremos bem atrás. Até da Rússia, que tem assento no Conselho de Segurança da ONU, possui grande arsenal atômico, produz seus aviões comerciais e de combate, inclusive armamentos, navios e tanques de guerra. Tem tecnologia espacial avançada. Tem mísseis capazes de derrubar satélites. O que nos fará ficar à frente da Rússia é que a economia brasileira é mais consolidade e, por incrível que pareça, aqui a corrupção é menor. Além disso, face à posição de tolerância adotada pelos seguidos governos brasileiros, o Brasil é visto como uma pátria interessante e de respeito, o que não acontece com a Rússia, vista sempre sob o prisma de uma nação que busca voltar a ser um grande império.

O que o Brasil precisa fazer com urgência para tornar-se uma potência econômica, militar e geopolítica de respeito, aproximando-se em grau de importância da China e da Índia? Não sou guru nem me julgo dono da verdade. Vou colocar apenas o que me parece óbvio.

Primeiramente investir em educação e não sou só eu que digo isso. Qualquer estudo sério aponta a falta de investimento de educação no Brasil como sendo um dos motivos de não termos voado alto economicamente.

O Brasil precisa fazer parcerias militares estratégicas, inclusive para produção de energia nuclear, não abrindo mão do conhecimento da tecnologia da bomba atômica, ainda que não a produza (como acho que não deve produzir).

É necessário investir pesado não só na educação de base, mas também na educação tecnológica e em pesquisa, favorecendo dessa maneira o desenvolvimento da indústria tecnológica e bélica brasileira.

O investimento maciço em saneamento básico e na construção de moradias populares, além de colaborar na qualidade de vida dos brasileiros mais pobres, diminuirá a miséria e a favelização até hoje persistente.

É necessário também criar uma forma de escoamento mais racional da produção, investindo no tráfego fluvial e marítimo, além das ferrovias, inclusive ligando ao pacífico e à América Central.

Há outras questões também importantíssimas e prioritárias, mas as mencionadas acima são as que considero mais estratégicas, embora todas sejam urgentes.

É, não será fácil sermos potência. Ainda está como projeto de um futuro remoto, embora tenhamos um presidente respeitado e admirado no mundo inteiro. Mas só isso não basta para entrarmos no cenário das potências. Precisamos planejar e investir pesado. O governo federal deu início, mas é só o primeiro passo de milhões que terão que ser dados por este e pelos próximos governantes. Em vinte anos poderemos ser potência, sim, mas se investimos pesado em tudo o que foi dito aqui e em mais aspectos importantes. Se ficarmos felizes com o que a mídia internacional diz: BRIC - potências emergentes, deixaremos de aproveitar este importante e estratégico momento para crescermos e aparecermos e estaremos fadados a sermos potência apenas nos nossos sonhos, uma potência imaginária, que nunca deixará de ser submissa. Acho que não é isso o que queremos e não é isso o que o povo brasileiro de hoje e de amanhã merece.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

ICArabe quer voar mais alto em 2010

por Ana Maria Barbour
para o ICARABE

Aula da professora Arlene Clemesha durante o curso
Reflexões sobre o Mundo Árabe Contemporâneo, em Curitiba
O Instituto da Cultura Árabe (ICArabe) vem evoluindo e expandindo cada vez mais sua visibilidade no país. Em apenas cinco anos de existência, conseguiu ampliar sensivelmente o número de atividades e se tornar referência na área, graças ao esforço coletivo de seus membros. Em 2009, realizou duas grandes mostras de cinema, já integradas ao calendário oficial da cidade de São Paulo, vários cursos, debates, exposições, inclusive em outros Estados do país, e esteve representado em eventos de peso, o que mostra o respeito conquistado em sua trajetória.

Para José Arbex Júnior, diretor de Relações Nacionais e Internacionais do Instituto, no ano que passou o ICArabe entrou em uma nova fase com a mudança da presidência da entidade e a renovação de sua diretoria. “A ‘primeira fase’ foi de estruturação, quando enfrentamos problemas fundamentais como o da criação de uma sede”, diz. Apesar de todas as dificuldades iniciais, Arbex acredita que o Instituto deu um grande salto no sentido de promover atividades realmente significativas. “Em 2009, senti que amadurecemos e nos consolidamos. Temos uma identidade própria, dialogamos com e somos reconhecidos por setores importantes da sociedade civil e do estado brasileiro”, ressalta.

Outro passo importante, destacado por Gabriel Sayegh, secretário-geral da entidade, foi o aumento da lista de parcerias firmadas pelo ICArabe com entidades públicas e particulares, criando sinergias que permitiram maior exposição das atividades e que, consequentemente, aumentaram e diversificaram o público atingido. “Sofremos com escassez de verba, pequena estrutura física e humana e com a falta de mais profissionais para a parte administrativa, mas a garra e persistência dos nossos membros voluntários garantiram o ótimo resultado obtido”, avalia.

Na opinião de Soraya Misleh, diretora de Imprensa e Divulgação do ICArabe, os desafios de levar conhecimento, difundir a cultura árabe no Brasil e desconstruir estereótipos ainda estão presentes, “mas já caminhamos bastante”. Segundo ela, a entidade tem para 2010 muitos projetos e planos, com boas perspectivas. “Na área de imprensa, estamos finalizando a reforma do nosso site, para torná-lo mais dinâmico, moderno e leve. Além disso, nosso correio eletrônico atinge cada vez mais pessoas, que passam a conhecer e a acompanhar nosso trabalho”, diz.

Resultados para contar e comemorar

De acordo com Soraya Smaili, diretora Cultural do ICArabe, em 2009 o número de atividades promovidas pela entidade dobrou. “Ganhamos mais visibilidade e diversas instituições brasileiras, ligadas ou não à colônia de descendentes árabes, nos procuraram solicitando parcerias para realizarem mostras de cinema, como entidades da Bahia, Ceará, Rio de Janeiro e Paraná”, afirma.

Ela conta que, em 2009, os eventos cinematográficos realizados pelo ICArabe cresceram muito. A Mostra Mundo Árabe de Cinema foi para quatro salas da cidade de São Paulo e a Mostra Imagens do Oriente, para três. Também houve boa repercussão na mídia e os espetáculos foram bem aceitos pelo público. Foram feitas ainda exibições de filmes, pertencentes ao acervo do Instituto, em Petrópolis (RJ), na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em Curitiba (PR), na Universidade Federal de Brasília (DF) e no Lar Druso Brasileiro (SP). “Vale destacar uma importante parceria que fizemos com a Casa de Espanha e que nos deu maior fôlego e possibilidades para a realização da Mostra Mundo Árabe de Cinema”, completa Smaili.

Na área educacional, Heloisa Dib, primeira-secretária do Instituto, conta que foram oferecidos quatro cursos ao longo do ano: três na capital paulista (História Oral, Panorama da Cultura Árabe II e A História da Palestina e os Desafios da Atualidade) e um em Curitiba, no Paraná (Reflexões sobre o Mundo Árabe Contemporâneo). Juntos, reuniram quase 600 alunos. “O curso em Curitiba configurou um grande desafio. Foi a primeira vez que realizamos algo do gênero fora de São Paulo. A atividade nos rendeu contatos muito importantes com entidades do comércio e da indústria locais”, salienta Heloisa.

Outra ação importante foi a contratação de uma assistente de secretaria que, além de facilitar o contato do público externo com a entidade e auxiliar em ações burocráticas, organizou o acervo do ICArabe de livros, materiais impressos e eletrônicos, CDs e DVDs.

Para 2010, além de aperfeiçoar e intensificar as atividades praticadas, Gabriel Sayegh acredita que é preciso concluir alguns projetos em andamento, como o Observatório da Mídia e o Centro de Estudos sobre a Imigração Árabe no Brasil – Al Máhjar. “Há também o projeto de termos uma sede própria”, diz o secretário-geral.

Na área cultural, Soraya Smaili prevê mais um salto de qualidade e tamanho nas mostras de cinema e também fotográficas. “Estamos trabalhando para conseguir patrocínio com o auxílio da Lei Rouanet e isso vai ajudar a concretizar esse objetivo”, explica. Ela lembra que, em março, o ICArabe celebrará cinco anos de existência e lançará uma publicação impressa comemorativa. “Além disso, vamos reforçar as parcerias já existentes, investir em outras e levar nosso trabalho para novos lugares.” Os cursos também continuarão. Para os próximos meses, estão nos planos um sobre história contemporânea e geopolítica do mundo árabe e outro sobre arte e arquitetura.

O grande desafio

Gabriel Sayegh faz questão de ressaltar que as ações do ICArabe têm colocado a entidade em um plano de destaque muito acima das limitadas condições financeiras e estruturais de que dispõe. Nesse sentido, o presidente do Instituto, Michel Sleiman, avalia que o momento é crucial para o recebimento de apoios mais significativos de grupos empresariais e de órgãos públicos. “Nossas atividades e projetos cresceram, mostraram bons resultados, somos reconhecidos. Agora, para aperfeiçoar e crescer mais, necessitamos profissionalizar os processos, ter suporte logístico e financiamentos constantes”, explica. Com a finalidade de facilitar o recebimento de apoios financeiros, o Instituto caminha para se tornar uma Instituição de Utilidade Pública.

Michel salienta que a equipe do ICArabe é composta inteiramente por voluntários, tendo como funcionárias remuneradas apenas uma assistente de secretaria e uma jornalista. “Agora gostaríamos de ter um profissional mais especializado em secretariado, além de alguém da área de biblioteconomia”, diz. Devido ao crescimento do acervo de livros, CDs e DVDs, a entidade também sofre com a falta de um local adequado para expor e guardar o material. “O ideal seria ter uma sede administrativa onde pudéssemos ter uma biblioteca adequada e espaço para a realização de encontros, pesquisas, cursos, exposições e palestras”, conclui Michel. Hoje, a maioria das atividades realizadas pelo ICArabe depende de parcerias para que possa ser alojada e efetivamente concretizada.

“O Instituto precisa ser acolhido por algo maior. A nova fase do ICArabe vai demandar um patamar superior de organização e outros grupos podem contribuir. É esse o nosso grande desafio em 2010”, ressalta o presidente.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

CAROS AMIGOS ENTREVISTA LETÍCIA SABATTELLA

 CAROS AMIGOS


Uma atriz comprometida com as lutas sociais

Participaram: Gabriela Moncau, Hamilton Octavio de Souza, Tatiana Merlino. Fotos Jesus Carlos

Conhecida por seu trabalho de atriz, no teatro, no cinema e nas novelas da TV Globo, Letícia Sabatella tem também uma sólidahistória de compromisso com os movimentos sociais, em especial o MST, e com as lutas em defesa do meio ambiente e dos direitos humanos. Em 2003 participou do lançamento do jornal Brasil de Fato, no Fórum Social Mundial realizado em Porto Alegre; em 2007 foi solidária com a luta de Dom Luíz Flávio Cappio contra a transposição do Rio São Francisco; em 2008 dirigiu o documentário “Hotxuá” sobre os índios krahôs, no Tocantins. Participa de várias entidades e do Movimento Humanos Direitos, que reúne artistas, jornalistas e outros profissionais comprometidos com as questões sociais.

Nesta entrevista exclusiva para a revista Caros Amigos, Letícia Sabatella fala sobre a sua carreira e o que pensa do Brasil. Vale a pena conhecer as suas posições.

Tatiana Merlino - Vamos começar por onde você nasceu.
Letícia Sabatella - Eu nasci em Belo Horizonte, e com dois anos fui morar em Volta Grande. Meu pai trabalhava lá ajudando a construir a usina de Foz do Areia. Meu avô também era engenheiro e ajudou a construir o teatro Guaíra, em Curitiba. Meu pai veio de lá e conheceu minha mãe no sul de Minas, em Itajubá. Ela vem de uma família muito ligada à fazenda.

Hamilton Octávio de Souza - A família toda é de Minas?
De Minas... E sempre tinha essa questão, da saudade de terra, de fazenda, de natureza e eu sempre gostei. Meu pai conta que ele passou a infância em um sítio, com música, plantando... A tia que o criou atendia os pobres da região com homeopatia. Eles eram kardecistas. Ainda tem essa tradição na família do meu pai, na da minha mãe é católica, mas com esses valores. Meus pais sempre me levaram muito para a natureza, a gente sempre recolhia muito bicho em casa. Minha mãe tem uma habilidade enorme com plantas. E eles criavam plantas, pesquisavam flores, meu pai viaja e trazia uma semente diferente de algum lugar e sempre com a memória das avós que ainda estão vivas e trazem essa tradição. Em Curitiba, o quintal da casa da minha avó é o teatro Guaíra e em Itajubá, quando a gente ia para Minas mesmo, era a fazenda da família.

Hamilton Octávio de Souza - Onde foi a tua infância?
A minha infância foi nesses universos, de Curitiba e sul de Minas. Muita música, dança...

Hamilton Octávio de Souza - Você estudou onde?
Em Curitiba. Fiz formação de teatro e dança lá.

Hamilton Octávio de Souza - Você fez ensino fundamental lá?
Tudo lá. Fiz um pouco em Belo Horizonte, até os 2 anos e em Volta Grande a gente estudou na vila com os operários. Minha mãe dava aula lá.

Tatiana Merlino - Você disse que tinha muita música e dança. Você estudou muita música e dança ou tinha na sua casa?
Tinha muita música em casa, minha mãe e meu pai sempre cantando. Minha mãe canta muito. Ela também dava aula para crianças da minha idade. Eles adoravam minha mãe porque era uma pessoa que sempre estimulava essa coisa de turma. Tinha esse colorido, em Itajubá a família também tinha um bloco de carnaval enorme, assim de rua. Cidade de interior, com muita coisa na rua, muita festa na rua.

Tatiana Merlino - E teatro, quando você começou a estudar?
Teatro foi em Curitiba, com 14 anos. Entrei em um grupo de teatro chamado “Alma Nua” que acontecia no colégio de uma tia minha, o Dom Bosco.

Hamilton Octávio de Souza - A tua carreira de atriz começa com este grupo de teatro?
A primeira peça que eu fiz foi com o grupo “Alma Nua”, o diretor era o Luiz Carlos Teixeira da Silva. Eu só cantava na peça. Foi em 85, eu tinha 14 anos, depois fui para o colégio para fazer teatro. Aí comecei a fazer aula no coral sinfônico do Paraná, depois a fazer faculdade de teatro e com dois anos de faculdade eu já sai de Curitiba para trabalhar.

Gabriela Moncau - Trabalhar onde?
Eu fui fazer “Os homens querem paz”, um especial da Globo.

Tatiana Merlino - E foi aí que você entrou para a Globo?
Foi. Primeiro a gente tinha um grupo também. A gente tocava em um bar e estava juntando dinheiro para tocar lá em Itapema. Aí me chamaram para fazer o teste para Teresa Batista, uma minissérie, que depois virou um especial. Depois eu tive que fazer uma novela, e tive que mudar para o Rio mesmo.

Tatina Merlino - Você sempre quis trabalhar na televisão?
Não era o que eu tinha como objetivo não. Como eu estava em Curitiba e havia uma distância, não é uma coisa que você pensava: “ah televisão é ali”. Para mim não era assim. Era bem distante. Mas a gente tinha influência de grandes artistas, de músicos, de escritores, de poetas, de teatro, de cantores de ópera. Então eu acho que a gente perseguia um pouco essa formação. Mas acho que antes de pensar em televisão, perseguíamos algumas pessoas que tinham lá mesmo, como atores bons e montagens que a gente via, trabalhos que tinham na assinatura um sotaque cultural de lá. Tinha uma coisa bastante universal, como as óperas que a gente fazia o coro, os balé, muita música clássica... Era impressionante o quanto lotava o Guaíra para assistir ópera.

Hamilton Octávio de Souza - Quem era a tua referência de atores?
Ah! A gente tinha montagens lindas, o Marcelo Marchioro é um diretor que fez coisas que influenciaram muita gente, o Raul Cruz, um artista plástico impressionante que também fazia teatro, a Laura Schneider já era musa lá e tinha as montagens do Dalton Trevisan, de textos dele. Tínhamos muitas cantoras de ópera...

Hamilton Octávio de Souza - E na televisão quando foi que você começou?
Em 90.

Tatiana Merlino - E a primeira novela que você fez qual foi?
Foi o “Dono do Mundo”, em 91.

Gabriela Moncau - E você tinha quantos anos na época?
20 anos.

Tatiana Merlino - E como é que foi entrar para Globo? Como era a sua relação com os outros artistas e com os autores das novelas?
Neófito, coisa de quem estava vendo pela primeira vez e descobrindo aquilo. Eu sei que quando eu comecei a fazer o especial, que a gente foi para o Nordeste por 12 dias. Eu achei bem difícil, mas achei muito mágica a linguagem. Comecei trabalhando com o Luiz Fernando Carvalho e ele tinha uma proposta séria com televisão, super exigente. A novela foi muito interessante de fazer, mas eu não queria fazer ela naquele momento porque exige uma agilidade, porque o ritmo é de indústria. Tem uma qualidade dramatúrgica interessante. Muitas vezes tem novelas que questionam coisas que movimentam de um jeito a cabeça do grande público, e você pensa: “Nossa, é uma arte”. Só que o ritmo de se fazer é muito acelerado, né? Eu comecei fazendo a novela, aí no começo eu fazia cinco cenas por semana. Depois, na segunda semana eram 20 cenas por dia, muda completamente.
Não existe aquilo que você pensava de: “vou fazer uma peça, estudar meses, ler todos os livros daquele autor, ver filmes, vou me inspirar, ouvir música, vou me alimentar de coisas para entrar nesta personagem, construir esta história junto”. Fazer televisão é outra mágica. E é muito Commedia dell’arte, eu brincava com isso. Algumas novelas foram assim. Em “O Clone”, a gente montou uma trupe de Commedia dell’arte no começo e aí o texto entrava e a gente só ia brincando e improvisando. Ás vezes você consegue aproveitar dessa agilidade para fazer alguma coisa com essa linguagem. O Amir Haddad até fala que tem certas personagens na televisão para as quais tem que se pagar taxa de insalubridade. Você adentra em uns universos em um ritmo e com um tratamento que fica às vezes até superficial em virtude do que exige de conhecimento.

Tatiana Merlino - Quantas novelas você já fez?
Não sei, tem que contar...

Tatiana Merlino - Mais ou menos, 15?
Não, deve chegar a 10.

Gabriela Moncau - Você disse que tinha o teatro muito mais como referência. Por quê você fez essa escolha de entrar para a TV?
Era uma situação de que para ter uma independência como ator você não recusa personagem. Surgiu um trabalho em uma minissérie, que é uma coisa legal. Então eu pensei: vou fazer uma minissérie e depois volto e continuo estudando, e aí outro dia eu vou lá e faço outra minissérie. Só que aí não foi assim, né? Eu acabei tendo um contrato, tive que cumpri-lo, e aí virou uma novela e não foi uma minissérie. Mas depois disso eu parei, fiquei com um contrato só com obras que eu fizesse e parava mesmo, por conta própria, para estudar. Claro, tem momentos legais fazendo a novela e eu tive condição de estudar com esse dinheiro.

Tatiana Merlino - O que você estudou nestes intervalos?
Ah, de tudo que eu pude. Todas as oficinas que apareciam que dava para fazer de pessoas legais de voz, de corpo, várias coisas, de palhaço. O próprio documentário foi um estudo, né? Ir até a tribo lá, terminar a faculdade que não tinha terminado. [Letícia dirigiu o documentário “Hotxuá”, filme sobre a tribo indígena Krahô, localizada no estado de Tocantins.
Gabriela Moncau - Que época você foi lá para Tocantins?
Quando eu fui lá pela primeira vez, a minha filha Clara tinha dois anos. Foi 95 ou 96, eu acho. Aí depois eu fui para filmar em 2000 e alguma coisa.

Gabriela Moncau - Você foi direto para a tribo dos índios krahô?
Dos índios krahô...

Gabriela Moncau - E por que você foi a primeira vez?
Para conhecer, e a gente foi fazer uma peça de teatro também. A gente ficou em um sítio trabalhando, estudando, trabalhando butô e fazendo estudos. E fomos estudar temas indígenas. Daí tivemos a oportunidade de conhecer esta tribo dos krahô. Passei por vários rituais. Foi uma experiência fascinante ver uma cultura milenar, que na época estava extremamente abandonada. Eles estavam perto de uma cidadezinha, Itacajá, e os índios eram muito malvistos como pedintes, mendigos... Eles não sabiam quem éramos, então passamos despercebidos até que as pessoas da cidade descobriram que estávamos lá e começaram a querer ir para a aldeia. Aí eles começaram a perguntar: “vocês aparecem na televisão, vocês são artistas?” Só que eu estava ali diante de uma cultura milenar, aquilo doía de ver. As coisas mais utilitárias deles têm bomgosto. Tudo é arte, o tempo inteiro é arte. Quando tem que fazer um ritual para comer uma comida em conjunto são três dias de cantoria seguida. Você vai até entrando em transe de ouvir aquilo.

Hamilton Octávio de Souza – É um documentário, é isso?
É um documentário.

Hamilton Octávio de Souza - Qual é o nome do documentário?
“Hotxuá”, que é o palhaço sagrado da aldeia.

Gabriela Moncau - Você pode contar um pouco dessa experiência? Vocês foram para lá já para filmar o documentário com essa ideia?
Não, a primeira vez não. Fui para conhecer a aldeia e conhecer danças sagradas indígenas.

Hamilton Octávio de Souza - Isso foi iniciativa de quem?
Isso foi iniciativa minha. Eles me pediram ajuda para fazer registros.

Hamilton Octávio de Souza - Foi você quem dirigiu o documentário?
Eu e o Gringo Cardia.

Hamilton Octávio de Souza - E esse documentário passou em algum lugar?
Ele está percorrendo festivais em vários lugares fora do Brasil e aqui também já foi para alguns festivais. Foi até para um festival muito bacana agora, o de Cuiabá, que é um festival com indígenas. Fomos para a Bahia, para Tiradentes, agora eu estou indo para Porto Velho onde eu vou encontrar outras etnias.

Hamilton Octávio de Souza - E essa experiência, o que significa?
Até como atriz eu aprendi fazendo esse documentário. Você vai pesquisar o palhaço originário de uma tribo e ao mesmo tempo faz a edição disso. Você vai lidar com ilha de edição, tecnologia de HD que é alta definição. Então você junta dois pontos, consegue compreender e amplia horizontes também. Em uma experiência destas você aprende muito. Também é uma contrapartida social poder fazer isso. E para mim é um ganho. Fazer este documentário que é um estudo fantástico.

Tatiana Merlino - Você tem outros projetos paralelos ao seu trabalho como atriz na televisão?
Eu acho que sim. Existe vida em toda parte, fora da Globo. Mas tem várias coisas que de algum modo, ali eu tive a sorte de também ter um canal para explorar, como quando a gente fez o “Hoje é dia de Maria” que também tinha um trabalho de corpo, de voz, assim como o do teatro... Mas todos os projetos que eu tenho são relacionados a isso. Eu gosto muito de trabalhar com as comunidades, de juntar essa relação do trabalho da terra junto com o trabalho artístico, mas usar também para preparação para algum trabalho de canto, ou de corpo, ou de teatro. Então eu acho que no futuro eu tenho vontade de juntar essas coisas.
Tatiana Merlino - Qual você acha que é a função social do artista?
Ah, essa é uma pergunta superlegal. O palhaço da aldeia é tão importante quanto o cacique ou o pajé para a sobrevivência da aldeia. Eu gosto muito de usar o “Hotxuá” como referência. Ali a autoestima da aldeia se preserva graças à ação dele e é um espaço de transcendência das dificuldades, de transcender os limites que você acaba tendo que absorver na sua existência, assim como os limites de você conviver numa estrutura social. E o ator, mesmo com a proposta do entretenimento do palhaço, do humor, ele vai propor essa transcendência de muitas opressões também. Ele ter um senso crítico sobre várias autarquias e muitas posturas autoritárias podem ser quebradas ou bloqueadas. Eu acho que pode ser espaço para reflexão. Na Grécia Antiga eles receitavam até peças de teatro para os doentes. Na aldeia, o documentário mostra isso muito claro: ensinar você a absorver coisas difíceis para a sociedade. O palhaço às vezes ensina você a amar coisas que são muito diferentes. Muitas vezes ele é a figura que vai encarnar esse não tão bem visto, ensina o certo através do errado, acho que mantém a integridade em manter a auto estima.

Hamilton Octávio de Souza - Esse tipo de trabalho tem grandes contradições? Como você vê o papel da telenovela?
Agora eu fiz uma novela com uma autora que não vê sentindo em fazer novela que não tenha alguma campanha, alguma proposta social que é a Glória Perez. Nas duas novelas que eu fiz com ela, “O Clone” e essa de agora, em algum momento ela vai propor reflexão. Quando ela foi falar dos intocáveis da Índia, ela pensou em casos de esquizofrênicos que vê como casos de intocáveis também. Eu vejo ali um potencial conscientizador muito forte em uma novela, ou alienador. Eu acho que é como tudo na nossa sociedade, a gente tem as duas possibilidades.

Hamilton Octávio de Souza - Dos vários papéis que você fez, qual te agrada mais? Qual novela você acha que tem uma mensagem que combina mais contigo?
Quando eu fiz “O Clone” foi muito legal fazer humor. Eu tinha mais vontade de fazer comédia de costume também, e achei muito legal fazer. Nessa novela especificamente aumentaram o número de pessoas que procuraram se tratar de dependência química.

Hamilton Octávio de Souza - Eu não me lembro do “Clone”. Que personagem você fazia?
Eu fazia uma mulçumana que tinha uma identificação enorme com as donas de casa, com as mulheres brasileiras. Apesar dela ser mulçumana, vivia com problema com relação ao marido poder ter outras esposas.

Tatiana Merlino - E como foi fazer essa última personagem que era uma vilã?
Ah, deu trabalho.

Tatiana Merlino - É a primeira vilã da sua carreia?
De uma novela é. Recentemente eu fiz uma diaba sexual no “Hoje é dia de Maria”, mas era um papel muito pequeno.

Tatiana Merlino - Então foi muito trabalhoso?
Foi. Tinha que pensar demais, e eu não penso muito. A personagem pensava muito mais que eu para fazer as coisas, então eu tinha uma baita dor de cabeça. Acho que era um personagem para fazer em duas horas ali, como no teatro. Mas nesse ritmo assim de TV, ter que controlar as emoções para poder ter a frieza da personagem, isso era muito difícil, bem difícil.

Tatiana Merlino - Queria voltar a falar daquilo que conversávamos sobre o papel social do artista. Como é que você vê hoje a atuação social dos artistas no Brasil?
Bom. Eu acho que tem trabalhos incríveis. Os próprios movimentos sociais têm artistas fantásticos. Acho que o tempo inteiro você vê a arte de um jeito sutil, de um modo poético, metafórico que seja. Mas você vê a arte, você vê muitos artistas, muita música, transformando e fazendo os movimentos caminharem... Não sei se você está perguntando sobre...
Tatiana Merlino - Os artistas do “mainstream”.
Aí é uma faixa estreita do que é o artista.
Hamilton Octávio de Souza - O artista tem um papel bastante privilegiado, ele é reconhecido, é uma figura pública, alguém que pode, dependendo da posição, influenciar em um sentido ou no outro… Qual a tua visão dos artistas hoje na sociedade que a gente vive?
Eu acho que é reflexo da sociedade que a gente vive, que tem de tudo. Eu conheço vários artistas lá no Humanos Direitos que estão se formando, buscando conhecer as coisas não só pelo meio de comunicação mais imediato.

Para ler a reportagem completa e outras matérias confira a edição de janeiro da revista Caros Amigos, já nas bancas, ou clique aqui e compre a versão digital da Caros Amigos.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

NOS EUA, O NOVO MOVIMENTO CONSERVADOR CAMINHA PARA O FASCISMO

foto: anonymouspond.com
O díário espanhol EL PAIS publicou recentemente um artigo de ANTONIO CAÑO sobre o recente movimento conservador estadunidense. Alarmante! Bush parece um liberal pacifista se comparado a esses semi-fascistas. O articulista diz que só falta a violência encampada para que esses conservadores possam ser denominados de fascistas. Um assombro para o mundo. Lá também, como ocorre na europa, a classe média volta-se contra os estrangeiros.


El movimiento conservador en desarrollo en los últimos meses en Estados Unidos rompe los moldes del republicanismo tradicional y evoca el carácter racista, nacionalista y fanático del fascismo

ANTONIO CAÑO
EL PAIS 

Si alguien cree que el tándem Bush-Cheney es la versión más extrema del conservadurismo norteamericano, es posible que pronto compruebe que está en un error. El movimiento conservador en desarrollo en los últimos meses en Estados Unidos, alimentado por el rencor de una clase media empobrecida y por la ambición de una nueva clase política post-partidista, rompe los moldes del republicanismo tradicional y evoca el carácter racista, nacionalista y fanático del fascismo. Por ahora, sólo le falta el ingrediente de la violencia.

La última señal de alarma ha sido la reciente reunión de los Tea Party en Nashville (Tennessee) y el discurso de su líder más visible, Sarah Palin, que llevó el populismo hasta el grado de elogiar la ignorancia como muestra de autenticidad y de destacar como la mayor cualidad política de Scott Brown, el recientemente elegido senador por Massachusetts, el hecho de ser "simplemente un hombre con una camioneta".

Palin es aclamada por sus seguidores por la sencillez de su expediente académico, una simple graduación de periodismo por la modesta Universidad de Wyoming, frente a los títulos de Ivy League que acumula Barack Obama en Columbia y Harvard. El propio Brown ganó adeptos por la virilidad abiertamente exhibida en la revista Cosmopolitan, frente al refinamiento pudoroso de los políticos tradicionales.

La nación de los Tea Party se presenta, en efecto, convencida de haber puesto en marcha una revolución contra la oligarquía de Washington, similar a la que en el siglo XVIII expulsó a los colonialistas británicos. De repente, los republicanos con más pedigrí están en peligro ante esta oleada. El gobernador de Florida, Charlie Crist, un moderado que el año pasado gozaba de un 70% de popularidad, se ve hoy superado en las encuestas por un desconocido joven ultra religioso llamado Marco Rubio. Hasta John McCain, el indiscutible virrey de Arizona, está hoy seriamente amenazado por J. D. Hayworth, un charlatán de una radio local que, en definición de The New York Times, "cada día ataca, y no siempre por este orden, la inmigración ilegal, la pérdida de patriotismo en el país y todo lo que hace Obama".

Todas las mañanas surge entre las filas del Tea Party algún desconocido que en media hora de la demagogia más radical gana diez puntos en las encuestas. "El movimiento está madurando", afirma Judson Phillips, uno de los fundadores de este fenómeno, "las manifestaciones estaban bien para el año pasado, este año hay que cambiar las cosas, este año tenemos que ganar".

¿Ganar qué? ¿Para conducir al país hacia donde? Algunos conservadores moderados y cultos, como Peggy Noonan o David Brooks, aseguran que no hay nada que temer, que estos son grupos enraizados en las tradiciones libertarias de Estados Unidos y que su contribución servirá para dinamizar la vida política del país.

Es posible. Ciertamente, la hostilidad que este movimiento manifiesta hacia Obama no se aleja mucho de la que izquierda exhibió contra Bush -hay que recordar las menciones a su adicción al alcohol o su supuesta indigencia intelectual- y tiene cabida perfectamente, por tanto, en el juego de la democracia. Además, se trata aún de un movimiento muy incipiente. Una encuesta publicada hoy muestra que un 34% de los norteamericanos no ha oído hablar de los Tea Party y que sólo el 18% los apoya.

Pero, desde la óptica europea, ese 18% es mucho y lo que defienden suena peligrosamente excéntrico. Uno de los oradores en Nashville sostuvo con convicción que "está mejor documentado el nacimiento de Cristo que el de Obama". "Es africano", gritó una mujer entre la audiencia. Detrás de esta campaña que le niega a Obama su ciudadanía norteamericana se esconde el rechazo a su legitimidad como presidente.

Nadie habla en EE UU del ingrediente racista de esa campaña. Para los que apoyan a Obama puede parecer ventajista acudir al grito de ¡racismo! cada vez que se le critica. Sus enemigos, por supuesto, no reconocen ese pecado, por mucho que en la reunión de Nashville se escuchara sólo una voz negra, obviamente exhibida para ocultar el carácter puramente blanco del movimiento.

Este nuevo conservadurismo recoge mucha de la frustración del hombre blanco acumulada desde la liberación femenina, los derechos civiles, de todas las leyes para la igualdad que le han ido restando poder al sector de la sociedad eternamente dominante. Ese hombre blanco que tampoco se ha visto favorecido por los buenos contactos, las amistades útiles, el dinero fácil, y que ha ido engrosando durante las últimas décadas una clase media, que fue orgullo de la nación en los años cincuenta, pero que ha sido despiadadamente maltratada por la última revolución tecnológica y la reciente crisis económica.

Esa clase media blanca herida dispara contra lo que tiene más cerca: los inmigrantes, las minorías raciales, los dirigentes políticos. Intenta reducir la competencia, que considera injusta, y pretende que Estados Unidos sea sólo para los verdaderos americanos. Busca la salvación en nuevas doctrinas, y atiende la voz maternal de Palin y los alaridos patriotas de los locutores radiofónicos. Glenn Beck o Rush Limbaugh se convierten, así, en los Walter Cronkite de los nuevos tiempos.

Los conservadores norteamericanos no creen que haya ningún peligro. Confían ciegamente en la fuerza integradora de esta democracia y en su indestructible capacidad de contener cualquier amenaza. Pero desde una óptica europea, esa combinación de demagogia, racismo, nacionalismo y xenofobia, enarbolada por una clase media herida y agitada, es una receta muy conocida y todavía temida. Es verdad que el nuevo movimiento conservador norteamericano hace gala de su defensa de la libertad y no parece aún compatible con un Gobierno que no garantizase el respeto al individuo. Pero el aroma de Nashville siembra dudas, trae malas sensaciones, asusta.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

“É preciso descolonizar a globalização”

foto: BIA BARBOSA
Bia Barbosa

Em debate realizado sábado (30) em Salvador, durante do Fórum Social Mundial Temático da Bahia, pesquisadores e ativistas do movimento social afirmaram a urgência de se descolonizar o pensamento e o conhecimento na África e América Latina. Para o africano Samba Buri MBoup, é preciso descolonizar a globalização, recuperando o patrimônio intelectual deixado pelos africanos e a contribuição do continente no desenvolvimento da história e da economia o mundo.

Um dos principais desafios para construção de um outro mundo possível, na busca pela igualdade entre os seres humanos, é fazer aquilo que está simbolizado na própria logomarca do Fórum Social Mundial: tratar os continentes de forma igualitária. E um dos primeiros e mais estratégicos passos neste sentido é o desafio da descolonização do pensamento e do conhecimento produzido e distribuído nas duas regiões mais pobres do planeta: a África e a América Latina. Este foi um dos temas debatidos neste sábado (30), em Salvador, durante do Fórum Social Mundial Temático da Bahia, onde professores, pesquisadores e militantes do movimento social chegaram à conclusão de que a própria globalização também precisa ser descolonizada.

“Descolonizar o pensamento é enfrentar os desafios colocados pelo eurocentrismo e pelo etnocentrismo como modos de pensar dominantes. No quadro histórico marcado pelo colonialismo europeu, quando essa visão, centrada na Europa, é utilizada como grade de leitura e interpretação da realidade de todo o mundo, constrói-se uma visão distorcida dos padrões e da natureza dos povos”, explica o senegalês Sampa Buri Mboup, professor da Universidade da África do Sul.

Essência do pensamento colonial, o eurocentrismo foi, durante séculos, a base do projeto predatório e opressivo aplicado pelas elites e povos do continente Europeu, garantindo a manutenção de seus interesses. No Brasil, o colonialismo e o pensamento produzido no período estão diretamente relacionados à construção da sociedade brasileira. Era preciso construir um discurso que justificasse a escravidão e a opressão contra os povos indígenas e negros.

"Os dominadores se utilizaram de um discurso religioso, que dizia que os negros precisavam ser purificados através do batismo. Todos os que aqui chegavam eram batizados e catequizados. O discurso ideológico, aliado à força, foi um instrumento usado para manter o poder e construir a estabilidade para a classe dominante”, conta Edson França, coordenador da Unegro.
Com a crise provocada pela Reforma e a ascensão do Iluminismo, foi preciso encontrar uma justificativa racional para a supremacia do eurocentrismo e a conseqüente manutenção da escravidão no Brasil. Chega então ao país o discurso chamado de racismo científico, cuja base é a classificação racial, onde o branco está no alto da pirâmide, do ponto vista da sua superioridade biológica, e o negro abaixo de qualquer etnia.

“Esse discurso permitiu animalizar e fazer dele o uso necessário dele. Durante todo o processo de dominação ele não foi contestado na academia e acabou assimilado pelo senso comum. Quando o papa disse que negro não tinha alma, ninguém se contrapôs. Era preciso não apenas justificar a escravidão para as classes dominantes, mas fazer com que o próprio dominado também absorvesse o discurso. A baixa auto-estima da população negra permitiu, então, a intensificação na fragmentação, em vez da unidade para fazer o combate ao pensamento e à estrutura social vigente”, explica Edson França.
Quando o racismo deixou de servir aos interesses do capitalismo moderno – e veio a idéia de que era preciso libertar os escravos para aumentar a massa de consumidores –, o discurso colonizado apostou na miscigenação como forma de “branquear o Brasil”. E até hoje os efeitos provocados pelo pensamento colonial são estruturantes para a desigualdade entre brancos e não brancos em nosso país.
Descolonizar a globalização

Para os movimentos que se organizam em torno do Fórum Social Mundial, há um número de desafios e apostas estratégicas que se colocam pela frente na construção deste outro mundo possível no que diz respeito à descolonização do pensamento. Para o professor Samba Buri MBoup, é preciso começar descolonizando a compreensão do próprio conceito de globalização, já que o mundo global também tem sustentado essa desigualdade. São tarefas que vão da desconstrução do mito da África como um continente sem história ao combate à idéia da marginalidade do continente no comércio e na economia.

“Apesar do discurso dominante, há muitas provas de que a África foi palco de uma história e ciência tão antigas quanto os primórdios do mundo e central em todos os momentos da economia mundial: na fase de acumulação primitiva, na colonização, na revolução industrial, na era pós-colonial e até hoje. A realidade é apresentada de cabeça pra baixo, para que olhemos para nós mesmos como se fôssemos menores, enquanto nosso continente é o berço da civilização humana. É preciso reavaliar o potencial da herança africana”, cobra MBoup.

No continente mais esquecido do planeta, a alternativa ao discurso colonial da África é chamada de Renascimento Africano, um projeto global de sociedade e civilização construído na resposta coletiva e organizada da África aos desafios da globalização. O projeto, já encampado por 20 países, propõe o domínio do conhecimento científico e da tecnologia; a autonomia e rejuvenescimento da consciência política africana – como resposta à crise de lideranças no continente –; e a conscientização baseada na unidade dos povos africanos.

“Há estudos que demonstram de forma clara e irrefutável a profunda unidade cultural dos povos africanos. Hoje interceptam o potencial de desenvolvimento africano, a serviço de uma causa que não é nossa, ao imporem uma situação de monolitismo e intolerância religiosa, quando a historia africana é de pluralismo. Esta é uma tarefa que também temos que ensinar nas escolas”, conclui Samba Buri MBoup.

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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